12 de Outubro de 2004 O Vespertino de Reading CRÓNICA 33
Castelo  de Edimburgo - Fotografia de Rui Gonçalves

Escócia

Já devem estar com saudades de uma bela crónica da vida no país dos bifes e da chuva. Na verdade não me tem apetecido escrever muito, o que leva a que haja uma série de coisas para contar que se irão perder se continuar preguiçoso, pelo que tenho que me esforçar por fazê-lo. Este exercício de escrita também serve para mudar algumas coisas em mim.

Mas, como vos disse na última crónica, estávamos de saída para a Escócia. Não que tenhamos visitado muito do país, mas o que visitámos faz-nos pensar em voltar. Quão breve? A vida o dirá. Mas quase todos os países que visitei têm esse efeito em mim. Mal parto já tenho saudades e vontade de voltar.

Na verdade da Escócia pouco mais vimos que Edinburgh e as redondezas. A cidade em beleza pode ser comparável a Paris, em dimensão é pouco mais pequena que o Porto e em vida está muito próxima de Barcelona. O centro da cidade é um aglomerado de casas medievais que têm a fama de já terem sido a zona da Europa com maior densidade populacional. Segundo as descrições, quer do Museu das Pessoas de Edinburgh, quer de uma guia de uma visita que fizemos às catacumbas da cidade, as casas com 6 ou 7 andares na idade média poderiam acumular até 250 pessoas. As famílias viviam em habitações com uma divisão e algumas famílias tinham filhos como ratos. Estes povoavam as ruas, porque as águas eram despejadas pela janela (mas nunca antes das 22h) e o lixo e dejectos humanos desciam até aos lagos que circundavam a cidade.

A cidade, naquele tempo, estava cingida ao morro encimado pelo castelo e que resulta da erosão de um glaciar sobre um vulcão extinto. O monte está perfeitamente isolado e de cada lado existe um vale glaciar profundo, onde em tempos se criaram dois lagos artificiais para isolar a cidade das forças invasoras. Consta que mesmo assim os ingleses conseguiram conquistá-la, porque levaram a cabo o ataque numa noite festiva dos escoceses, e estes, bêbados, deixaram a porta da frente aberta.

Neste morro e desde o castelo, que está no topo, até à base, onde está o palácio real, existe uma rua, conhecida por Royal Mile (que como o nome diz tem uma milha), que é a zona turística da cidade. Porém, todas as transversais têm surpresas e existem dezenas de quelhas e recantos escondidos pela rua fora. Uma das ruas transversais a não perder é a Blackfriars, não porque seja alguma de especial, mas para comer qualquer coisa no Spoon. Foi o que fizemos! E ainda tivemos o prazer de apreciar um carro vermelho que tinha umas jantes que continuaram a rodar, mesmo depois do carro parar. Acho que toda a gente no café se riu do mesmo.

Mas o mais chato foi chegar e voltar de Edinburgh. Como escrevi no meu palmtop, na noite de sexta-feira [8 de Outubro de 2004] - "Chegámos! Demorou muito, mas valeu a pena. Demorámos quase 10h desde casa, em Reading, até ao hotel, em Edinburgh. Parámos, para almoçar numa estação de serviço logo depois de passarmos Manchester e Liverpool. E parámos à entrada da Escócia numa Outlet Village para uma compras. A viagem demora cerca de 7h. Nada mau para quase 650 quilómetros.

A cidade é muito bonita e cheia de vida. Mas o mais surpreendente é entrarmos num restaurante na Royal Mile, mesmo no centro turístico, e sermos atendidos por uma portuguesa de Mortágua. Aliás portugueses eram 6 só no Garfunkel's." A viagem de volta a Reading ainda foi mais chata, porque era domingo [10 de Outubro de 2004] à noite e o trânsito à passagem de Manchester era mesmo muito. Mas faz-se bem, como se faria numa ida de fim-de-semana prolongado ao Algarve.

Mas valeu a pena. Valeu a pena pela cidade, pelas pessoas, pela experiência, pelo susto, pelo frio, pela Rainha, que não vimos, e até pela manifestação que, sem crer, assistimos. Foi um fim-de-semana cheio de coisas para nunca mais esquecer.

Mas estou a dispersar. Desculpem-me, mas isto de passar uns dias sem escrever põem-me assim desorientado e com vontade de despachar a coisa em meia dúzia de linhas. Ok! Vamos com calma!

Saímos de Reading na sexta-feira [8 de Outubro de 2004] e como já disse acima, demorámos quase 10h a chegar a Edinburgh. Quando chegámos à cidade já era de noite, e encontrar o hotel foi relativamente fácil, mesmo para quem não tinha outro mapa para além de uma página do centro da cidade no Lonely Planet. A Cláudia está cada vez melhor como co-piloto.

Ficámos no The Cairn Hotel, na Windsor Street. A 10 minutos a pé da Royal Mile. Marcámos no LastMinute.com pelo que nem sequer sabíamos bem que hotel era. E pelos vistos o recepcionista também não sabia como se processava tal tipo de reserva. Ou à hora que chegámos e pelo bafo a álcool, ele já não sabia era muito de muita coisa. O hotel não é um luxo, mas pelo preço e para as horas que lá passámos foi mais que suficiente. E o pequeno-almoço ESCOCÊS (como fui emendado quando pedi um English Breakfast) estava incluído no preço. O Besouro dormiu na rua, mas dormiu bem e não pagou nada por isso.

Nessa noite e depois de 10h de carro, queria era esticar as pernas. Além disso o estômago pedia mais que ar e assim fomos até à Royal Mile. Depois de umas indecisões e uns sítios indicados que se goraram, acabámos por entrar num tasco qualquer da Royal Mile- o Garfunkel's. Quando nos sentámos e discutíamos o que havíamos de comer e beber, a empregada começa a falar-nos em português. Estamos mesmo em todo o lado!

Comemos muito! O cozinheiro era português e era generoso. O problema foi ir dormir com o estômago cheio, porque àquela hora e com duas cervejas, o cansaço começou a sentir-se. Na manhã seguinte [Sábado, 9 de Outubro de 2004], escrevi no meu palmtop – "Comer antes de dormir faz mal. Quero um café..." – pois não dormi muito e o que dormi foi agitado. Já não estou habituado a comer tanto à noite.

Sempre que saíamos do quarto apanhávamos um bafo de calor no corredor que quase nos fazia desmaiar. A janela do quarto ficava aberta o dia todo, e mesmo com temperaturas baixas lá fora o quarto estava sempre agradável. Mas nem foi por causa do calor que não dormi, porque nem ficou muito calor no quarto, mas por causa da digestão.

Sábado andámos a pé todo o centro da cidade. Da New Town à Old Town, da Princes Street ao Calton Hill, do Holyroodhouse Palace ao Castelo e da South Bridge a North Bridge. Mas isso deixo para a próxima crónica...

Royal Mile de Edimburgo - Fotografia de Cláudia Fernandes Cascata Grey Mare's Tail - Fotografia de Cláudia Fernandes


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