Quinta-feira, 3 de Fevereiro de 2000
Não dormi muito pois deitei-me já depois
da uma para acordar pouco depois das sete. Mas apesar da idade
já pesar nestas coisas, há que não ser atado
e mostrar que nada se passa. Apanhei o autocarro em Sansome directo
para Manzanita, Tamalpais Valley, Mill Valley. Depois de uma meia
hora de viagem cheguei ao escritório.
O dia passou-se como de costume. Não vos
vou falar dos meus progressos profissionais, porque se não
morreriam de tédio. Mas começo a perceber mais de
polígonos, formas, geometrias, nós e coisas do género.
A meio da tarde deram-me as saudades, depois de
ter falado com a Cláudia ao telefone, pelo que decidi sair
um bocado para espairecer. Agarrei na Vaynessa e fui ali ao centro
comercial (mall) de Tamalpais Valley, tentar revelar o rolo de
fotografia que me persegue há quase uma semana. Não
encontrei nada que não demorasse pelo menos um dia e custasse
o mesmo que revelar em uma hora em SF.
A saída do Supermercado um tipo com ar de
bêbado, mirava-me a bicicleta... coisa que eu não
gosto. Quando me aproximei, disse-me que estava a apreciar os travões
estranhos que eu tinha. Disse-lhe que eram hidráulicos,
ao que o tipo ficou surpreendido e disse que finalmente estão
a aplicar a tecnologia dos automóveis às bicicletas.
E as motos? Não entram aí? O tipo disse que há uns
dez anos costumava descer o Mt. Tamalpais, que para quem não
sabe foi onde nasceu o BTT (quantas vezes é que eu já disse
isto?) e que não conseguia fazer lá umas curvas por
causa da bolina e com aqueles travões se calhar conseguia.
Não sei se queria andar na bicicleta, mas ele tinha ar de
quem não ia muito longe... não me pareceu estar bêbado
naquela altura, mas se calhar é porque estava a acordar...
Voltei para o trabalho. Descobri a Radio Comercial
via Internet (chamem-me nomes, aqueles que julgam que sabem tudo)
e estive a ouvir o programa do António Sérgio - A
Hora do Lobo. Já não ouvia o António Sérgio
de dia desde os tempos da saudosa XFM e quando estava a trabalhar
no Porto. Trouxe-me boas recordações de tempos difíceis,
em que me deslocava entre dois empregos e estava separado da minha
namorada na altura e agora minha esposa, a Claudia, que estava
em Aveiro a trabalhar.
As saudades aumentaram, mas o vento fresco na cara
e a viagem de volta de bicicleta até casa melhoraram o espirito.
Isto também era o sono.
Cheguei a casa e liguei-me ao ICQ e ouvi a Comercial,
enquanto estive à conversa com o meu colega de casa indiano.
Dava um filme de porrada do Chuck Norris.
Tirei a roupa da mala, onde estava desde que cheguei
e arrumei o quarto, mais ou menos... e fui dormir.
Sexta-feira, 4 de Fevereiro de 2000
Levantei-me e estive à conversa com a Claudia
no ICQ até às 9h...
Fui para o escritório na Vaynessa. É sempre
bom começar o dia com 7 km de bicicleta. Vou ver se quando
começar a ficar bom tempo, começo a pedir a chave
do balneário e vou andar pelos caminhos antes de chegar
ao escritório... isso é que deve ser uma maneira
fantástica de começar um dia de trabalho. Deve não é,
porque já o fiz ai... a energia é outra.
Uma coisa porreira no escritório é que
podemos sair a meio do trabalho e ir dar uma volta de bicicleta
para desanuviar, e ninguém nos diz nada. Ninguém
tem nada a ver com isso, desde que façamos o nosso trabalho.
A dada altura saiu do escritório uma tipa com um Kayak e
foi remar ali para a baia. Deve ser fantástico... tenho
que lhe pedir para dar uma volta naquilo.
Quando ela estava a colocar o kayak na agua passou
uma hidroavioneta e aterrou aqui mesmo em frente. Parecia um daqueles
documentários em que se vê o avião a aterrar
na agua e os patos todos a levantar voo. Lindo! Não há nada
como um dia mais bonito para mudar o modo como se vê o ambiente à nossa
volta.
Quando chegaram as 4h da tarde era hora do lanche.
Achei estranho que ninguém disse-se nada, mas como eu tinha
saído por um bocado podia ter havido algum desencontro.
Decidi tomar a iniciativa de ir até lá... Assim, que
cheguei, o Jesse, o Office Manager, que é como quem diz
o secretário responsável pelo atendimento, compras
e manutenção do escritório, logo me perguntou
se não me tinha enviado um mail a avisar do lanche. Eu com
toda a minha simpatia agradeci-lhe a gentileza de não me
ter incluído. Eu e o Jesse temos uma relação
algo conflituosa, no bom sentido.
Esta semana tínhamos um lanche francês,
depois da versão nipo-australiana da semana passada, esta
comiam-se uns Bries esquisitos, com ervas e cogumelos e bebia-se
um novo Cabernet Sauvignon, agora de Sonoma 1997. Não era
mau, mas era pouco e eu tive que compensar com uma cerveja Boddington porque
a outra escolha, para além das normais sodas (estes tipos
chamam sodas a tudo o que é sem álcool) era uma cerveja
de Sonoma também, cuja cervejaria honrosamente se gloriava
de ter sido criada em 1997, uma verdadeira marca de credibilidade.
Acabado o lanche, com o grão na asa, peguei
na Vaynessa, fui a casa pousa-la, apanhei a mochila e o saco-cama
e fui para SF no autocarro da Golden
Gate Transit. A ideia de levar a Vaynessa para casa era de
que no domingo poderia dar uma voltita de bicicleta se voltasse
a tempo, mas agora o importante era ir para SF ver se havia o barbecue
em casa do Rodney (lembram-se da história da exposição
de pintura? Ver crónica
parte 9).
Cheguei a casa do Diogo às 19h e fomos os
dois a casa do Rodney, mas ninguém nos atendeu... A solução
agora era ir comprar alguma coisa para comer e beber, pois quando
chegámos a casa delas soubemos que vinha toda a gente (quase)
do contacto na zona.
E assim foi, o Tiago, a Joana e o Nuno, as Helenas,
o Carlos e um amigo da Costa Rica, vinham jantar a SF e depois
de jantar a São, a Ana e o André foram lá ter.
A mulher do Mário, chegava nesse dia e para além
de o voo chegar três horas atrasado, a diferença horária
devia de lhe fazer alguma confusão.
Depois de alguma cerveja, muita cuba livre e pouca
vodka, decidimos dar um salto até à noite de SF.
Rumámos a Folsom ao 1015,
a cantar o 10:15 Saturday Night dos Cure. Ah! Os Cure estão
em SF dia 17, mas a entrada é limitada a 1000 pessoas e
os bilhetes devem esgotar assim que chegarem às bilheteiras,
como o concerto dos Smashing Pumpkins este fim de semana em Palo
Alto que era para 100 pessoas. Acho que foi uma enchente, a sala
estava cheia... pudera!!!
Depois de duas voltas ao quarteirão para
encontrar sítio para estacionar, deparamos com uma fila
para entrar na tal discoteca que dava a volta à esquina.
Os seguranças eram pelo menos 7, desde a esquina até à porta,
e as pessoas passavam por um verdadeira secessão de apalpanço
para entrar na discoteca... porque é que me calham sempre
homens? Os seguranças eram do género frigorífico
de duas portas com dispositivo para gelo, mas vestidos com um lindo
casaco amarelo impermeável que deve ser a ruína da
discoteca. O que se gasta em pano para se vestir aquela gente... Mas
lá dentro ainda havia mais seguranças que cá fora.
A entrada foi rápida, mas também foi
cara. Depois de entrados, o Juan, o tal amigo da Costa Rica, levou-nos
a uma visita turística ao sítio. Entramos numa pista
em que tocava música dos anos 70, disco e afins, passamos à pista
grande onde a onda era mais moderna e de dança, subimos
ao primeiro andar e na primeira das salas desse piso, encontramos
uma música mais experimentalista, mas de dança, passámos
por bar enorme com música hip-hop e soul de dança
e descemos à cave onde se ouvia um drum and bass e coisas
de dança mais pesadas. Quantas salas é que foram?
5 a dançar.
A população que habitava os diferentes
micro climas, eram diferentes como devem imaginar, mas como nós
ficámos quase sempre na primeira das salas (somos uns fuleiros)
foi essa a que mais deu para apreciar. Mas, lembro-me de ver na
cave um ser parecido com o monstro da Guerra das Estrelas que congelou
o Harrison Ford, ou seria uma baleia em época de migração?
Ainda bem que estava na cave, porque o solo dos outros pisos eram
de madeira e não sei se aguentariam o peso da coisa. Mas
deviam de haver cerca de 60% de orientais, 20% de negros, 10% de
Mexicanos e 10% de ocidentais. Não me lembra de ver índios,
embora em alguns sectores parecesse uma cowboiada.
Mas a melhor cena da noite, foi quando uma tipa
despindo um vestido de saía que lhe dava sensivelmente um
bocadinho abaixo da cintura resolveu dançar com um dos pilares
da pista. Tudo bem, não fosse o facto das poses dela suscitarem
que o pessoal do sexo masculino e algum do sexo feminino, parasse
de dançar para de alguma maneira apreciar aquilo que normalmente
se paga para ver numa boite. O jovem negro que a acompanhava, mantinha-se à distância
como um animal que defende a cria, mas que a deixa brincar. A dada
altura, a tipa decide subir a saia sensivelmente até à altura
do umbigo, ou seja cerca de uns dedos acima do que já estava
e começa a esfregar-se na parede junto à porta da
entrada e aí os seguranças, que não podiam
estar a olhar porque estavam a trabalhar, resolveram estragar o
espectáculo e mandaram a tipa para outra sala. Tanto quanto
sei, a performance continuou, nós é que não
vimos.
A noite foi durando até que às 2h
deixaram de vender bebidas alcoólicas. E lendo um placar
na parede descobri porquê tanto apalpão à entrada... A
discoteca gabava-se de ser um sítio Drug Free... Inocentes!
Fui-me deitar às 3h e qualquer coisa, para
aproveitar a boleia da Joana, do Tiago e da Ana, e porque tinha
deixado a máquina no carro deles. O resto do pessoal chegou
três quartos de hora depois.
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