SEGUNDA-FEIRA, 24 DE JANEIRO DE 2000 C9
Mission - Fotografia de Rui Gonçalves

Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000

Na sexta com as saudades de casa, da mulher, família, amigos e da terra, nem vos falei do eclipse da lua de quinta-feira. Quando voltava de End Haight a pé para a Pousada, achei algo estranho que andasse toda a gente na rua com a cabeça levantada aos céus. E reparei, por entre as nuvens muito normais nesta cidade, que a lua, que devia de estar cheia, estava quase completamente escura. Só nessa altura é que me lembrei que havia um eclipse lunar nessa noite. Nunca tinha visto nada assim, e quase que não o voltava a ver... ainda por cima com a ajuda das nuvens.

Mas voltando a sexta, saí daqui cedo. Logo depois do lanche que a empresa organiza todas as sextas-feiras e que serve de despedida para o fim de semana. No lanche estive a apreciar os outros tipos cá da empresa, enquanto comia as tretas que tinham para se comer e bebia um Cabornet Sauvignon daqui de Napa (ou seria Sonoma?). O vinho não era mau, mas aí na Bairrada existem alguns tão bons e se calhar bem mais baratos. Se calhar tive azar, mas eu também não aprecio muito os vinhos da Bairrada... mas espero vir a provar mais alguns cá da zona... se o dinheiro chegar. No fim do lanche ainda estive a assistir a um jogo de matrecos aqui dos mecos, mas como ninguém me convidou para jogar decidi ir embora... triste, amuado como uma criança. Mas senti-me um bocado à parte. Mas espero que seja próprio desta fase inicial. De qualquer maneira, quem é que quer jogar em matrecos de plástico? Maricas!!!

Voltei à Pousada com a mágoa no coração, como diria o nosso amigo Mello Marmelo dos Éna Pá 2000. Já quase toda a gente arranjou apartamento, estúdio ou whatsoever, e enviaram o trabalho (o APD) para o ICEP.

Decidimos ir jantar a um Tailandês que havia ali a dois quarteirões e que era barato. Subimos Geary e na esquina com Leavenworth, estava uma multidão à porta que nos fez desistir, mesmo depois de marcada a mesa para os oito. Vínhamos a descer Geary, e no sítio onde tínhamos visto um velho a pentear-se há um bocado, estava a decorrer um exposição de pintura, pelo que decidimos entrar. A cerveja era de borla e depressa estávamos a conversar com o tal velho que se penteava na rua, e que afinal se chama Rodney.

Numa galeria improvisada, estava a decorrer uma exposição de pintura de um par de autores, que afinal não eram mais que a mesma pessoa e que vestia uma linda camisa havaiana vermelha e calçava uns lindos chinelos de pele de leopardo ou imitação. A directora da tal galeria, que era mais baixa que a média portuguesa e usava mais brilhantes nos olhos que até parecia uma árvore de Natal. A sua secretária despia, queria dizer vestia, uma mini saia e uma camisa de alças azul de cetim justa... e era feia que nem um bode. O Rodney, que se dizia o responsável pela limpeza das janelas, era assim como o Thor mas mais baixo e sem ar de halterofilista. Era só mesmo o cabelo comprido e a barba ruiva aloirada além disso era Olsem, portanto de origem norueguesa... e depois soubemos irlandesa. Deu-nos a morada de casa dele para aparecermos na primeira semana do mês, que era quando ele recebia e que fazia lá um barbecue.

No entretanto, só estávamos 4 na galeria (eu, o Diogo, a Helena e a Patrícia) e os outros vieram-nos chamar porque tínhamos a mesa no tailandês. Pedimos e eu pedi um prato medianamente picante... até ver... porque se aquilo é o médio eu não quero saber o que é picante na Tailândia. O que vale é que o chá quente e a água era de borla. Saí do restaurante a arder da boca, mas nem foi muito caro... cerca de 1500$00.

Descíamos Geary, quando fomos interceptados pelo Rodney que já estava um bocado para o regado. No meio dos abraços mandou-me com o guarda-chuva na cara e quando me queixei até tive direito a um beijo na cara. Imaginem o que é ser beijado por um ser do tempo das cavernas.

Entramos na galeria, mas a cerveja já tinha acabado. No entretanto, sai uma tipa de trás de uma cortina com uns olhos de quem tinha acabado de snifar uma carreirinha e num acto de se salvar de estatelanço no chão agarrou-se à Rita de tal maneira, que esta julgou que estava a ser atacada pela tipa. O que vale é que a reacção foi de indignação e a outra nem se apercebeu do que fez.

Não havendo cerveja, fomos embora... e quando descíamos Geary. Ouve-se à distância "RUI, RUI". Era o Rodney a correr para nos fazer jurar que iríamos ao tal barbecue em casa dele. "You promise?" foi repetido para aí umas dez vezes, até que pudemos ir embora.

Fomos até um pub irlandês com música ao vivo. Eu estava tão cheio que nem conseguia beber cerveja ou o quer que fosse. A banda até que nem era má... até à sexta música, que era tocada como a primeira e que por coincidência era parecida com a segunda e com a terceira e que com um bocado de imaginação não era muito semelhante à quarta e à quinta. Mas eu estava num bar irlandês a ver um índio a tocar guitarra, numa banda que o outro guitarrista usava uma camisa branca às bolas pretas e o teclista parecia um dos Beach Boys depois de aposentado e tocavam tudo com o ritmo de country... a Irlanda já não é o que era... fui dormir.



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