Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000
Na sexta com as saudades de casa, da mulher, família,
amigos e da terra, nem vos falei do eclipse da lua de quinta-feira.
Quando voltava de End Haight a pé para a Pousada, achei
algo estranho que andasse toda a gente na rua com a cabeça
levantada aos céus. E reparei, por entre as nuvens muito
normais nesta cidade, que a lua, que devia de estar cheia, estava
quase completamente escura. Só nessa altura é que
me lembrei que havia um eclipse lunar nessa noite. Nunca tinha
visto nada assim, e quase que não o voltava a ver... ainda
por cima com a ajuda das nuvens.
Mas voltando a sexta, saí daqui cedo. Logo
depois do lanche que a empresa organiza todas as sextas-feiras
e que serve de despedida para o fim de semana. No lanche estive
a apreciar os outros tipos cá da empresa, enquanto comia
as tretas que tinham para se comer e bebia um Cabornet Sauvignon
daqui de Napa (ou seria Sonoma?). O vinho não era mau, mas
aí na Bairrada existem alguns tão bons e se calhar
bem mais baratos. Se calhar tive azar, mas eu também não
aprecio muito os vinhos da Bairrada... mas espero vir a provar
mais alguns cá da zona... se o dinheiro chegar. No fim do
lanche ainda estive a assistir a um jogo de matrecos aqui dos mecos,
mas como ninguém me convidou para jogar decidi ir embora...
triste, amuado como uma criança. Mas senti-me um bocado à parte.
Mas espero que seja próprio desta fase inicial. De qualquer
maneira, quem é que quer jogar em matrecos de plástico?
Maricas!!!
Voltei à Pousada com a mágoa no coração,
como diria o nosso amigo Mello Marmelo dos Éna Pá 2000.
Já quase toda a gente arranjou apartamento, estúdio
ou whatsoever, e enviaram o trabalho (o APD) para o ICEP.
Decidimos ir jantar a um Tailandês que havia
ali a dois quarteirões e que era barato. Subimos Geary e
na esquina com Leavenworth, estava uma multidão à porta
que nos fez desistir, mesmo depois de marcada a mesa para os oito.
Vínhamos a descer Geary, e no sítio onde tínhamos
visto um velho a pentear-se há um bocado, estava a decorrer
um exposição de pintura, pelo que decidimos entrar.
A cerveja era de borla e depressa estávamos a conversar
com o tal velho que se penteava na rua, e que afinal se chama Rodney.
Numa galeria improvisada, estava a decorrer uma
exposição de pintura de um par de autores, que afinal
não eram mais que a mesma pessoa e que vestia uma linda
camisa havaiana vermelha e calçava uns lindos chinelos de
pele de leopardo ou imitação. A directora da tal
galeria, que era mais baixa que a média portuguesa e usava
mais brilhantes nos olhos que até parecia uma árvore
de Natal. A sua secretária despia, queria dizer vestia,
uma mini saia e uma camisa de alças azul de cetim justa...
e era feia que nem um bode. O Rodney, que se dizia o responsável
pela limpeza das janelas, era assim como o Thor mas mais baixo
e sem ar de halterofilista. Era só mesmo o cabelo comprido
e a barba ruiva aloirada além disso era Olsem, portanto
de origem norueguesa... e depois soubemos irlandesa. Deu-nos a
morada de casa dele para aparecermos na primeira semana do mês,
que era quando ele recebia e que fazia lá um barbecue.
No entretanto, só estávamos 4 na galeria
(eu, o Diogo, a Helena e a Patrícia) e os outros vieram-nos
chamar porque tínhamos a mesa no tailandês. Pedimos
e eu pedi um prato medianamente picante... até ver... porque
se aquilo é o médio eu não quero saber o que é picante
na Tailândia. O que vale é que o chá quente
e a água era de borla. Saí do restaurante a arder
da boca, mas nem foi muito caro... cerca de 1500$00.
Descíamos Geary, quando fomos interceptados
pelo Rodney que já estava um bocado para o regado. No meio
dos abraços mandou-me com o guarda-chuva na cara e quando
me queixei até tive direito a um beijo na cara. Imaginem
o que é ser beijado por um ser do tempo das cavernas.
Entramos na galeria, mas a cerveja já tinha
acabado. No entretanto, sai uma tipa de trás de uma cortina
com uns olhos de quem tinha acabado de snifar uma carreirinha e
num acto de se salvar de estatelanço no chão agarrou-se à Rita
de tal maneira, que esta julgou que estava a ser atacada pela tipa.
O que vale é que a reacção foi de indignação
e a outra nem se apercebeu do que fez.
Não havendo cerveja, fomos embora... e quando
descíamos Geary. Ouve-se à distância "RUI,
RUI". Era o Rodney a correr para nos fazer jurar que iríamos
ao tal barbecue em casa dele. "You promise?" foi repetido para
aí umas dez vezes, até que pudemos ir embora.
Fomos até um pub irlandês com música
ao vivo. Eu estava tão cheio que nem conseguia beber cerveja
ou o quer que fosse. A banda até que nem era má...
até à sexta música, que era tocada como a
primeira e que por coincidência era parecida com a segunda
e com a terceira e que com um bocado de imaginação
não era muito semelhante à quarta e à quinta.
Mas eu estava num bar irlandês a ver um índio a tocar
guitarra, numa banda que o outro guitarrista usava uma camisa branca às
bolas pretas e o teclista parecia um dos Beach Boys depois de aposentado
e tocavam tudo com o ritmo de country... a Irlanda já não é o
que era... fui dormir.
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