*50 CRÓNICA O Vespertino de Reading 22 de Novembro de 2004

Só mesmo no Reino Unido II

Hoje acordei a sonhar com São Francisco. Com os tempos que lá passei e como seria bom lá estar. Acordei com saudades! Há uns tempos, uma amiga, a Isabel, disse-me que segundo as palavras do Figo, este gostaria de acabar a sua carreira em Portugal, "o paraíso", como ele lhe chamou.

The new Devizes White Horse - Fotografia de Rui Gonçalves

Pois eu acho que não existe um paraíso, mas sim vários paraísos e Marin County foi um dos melhores paraísos que eu conheci. Além disso, acho que com o dinheiro que o Figo tem, Portugal pode ser um paraíso, mas para mim se não houver emprego, não há ordenado e sem dinheiro não há paraíso que aguente.

Por outro lado era suposto eu ter saudades de Inglaterra, pois ainda há pouco voltei de lá e ainda estou a habituar-me (de novo) à minha vida aqui em Aveiro. Mas não, foi da Califórnia que senti saudades. Eu já sentia que pertencia lá e nunca senti isso na Inglaterra. Talvez se tivesse ficado mais uns meses, mas em três meses não se consegue perder os laços com casa. Nem em nove, que estive nos Estados Unidos, consegui. Mas se voltar a Inglaterra é fácil, voltar à Califórnia não o é tão fácil. Na verdade nunca lá voltei desde Setembro de 2000, quando retornei a casa.

Mas se hoje [Segunda-feira, 22 de Novembro de 2004] foi um dia de recordações de memórias passadas, foi também um dia de começos. E, desde hoje, com a ajuda do meu grande pequeno amigo PP, que me desloco numa Vespa. Há uns tempos que coloquei no meu blog um post em que dizia querer comprar uma, mas se as vi à venda não tive ainda a coragem e o orçamento para o fazer. Primeiro porque não sei se será apenas um capricho e segundo porque a minha vida tem outras prioridades neste momento. Mas o PP tinha uma parada e precisava que alguém lhe desse uso. E, embora eu ache que saio a ganhar, eu faço-lhe o favor de a usar e ele faz o favor de ma emprestar. Os amigos são para as ocasiões.

Assim, o meu espectro de meios de transporte aumentou e agora posso me deslocar para o trabalho a pé, de bicicleta, motorizada, carro ou autocarro. O barco é o próximo passo, embora ainda não haja um ancoradouro aqui na rua... Mas pode ser que com o degelo das calotes polares em breve possa fazê-lo. Nessa altura tiro o brevet de avião também!

Mas voltemos a'O Vespertino de Reading e deixemos a minha vida em Aveiro um pouco de lado. Talvez ainda pense em fazer um Semanário de Aveiro, mas não sei se consigo ter paciência e muito menos vocês. Porém, e na verdade O Vespertino de Reading está a chegar ao fim. Com o meu retorno, um bocado antecipado em relação às minhas expectativas, há poucas razões para manter o jornal activo. Mas há umas coisas que deixei penduradas e que gostava, ainda, de partilhar convosco e gostava que vocês me respondessem a uma série de questões que ainda me intrigam sobre o povo que habita aquele grande ilha do outro lado do canal. Se não vejamos:

A unidade de peso do sistema imperial é a Libra. Simples! Ainda existe a Stone que são 14 Libras, mas que nem sequer interessa agora. Mas, uma libra são 0.4535 kg. E em inglês Libra diz-se ' Pound'. Tudo bem! Mas se se diz Pound porque é que o diminutivo é Lbs? Quando alguém, como eu, escreve o seu peso, escreve 11st 9lbs (74 kg, Sim! Perdi 4 kgs) e não 11st 9pds. Porquê?

E num país que se diz de gentlemans, porque é que o quarto-de-banho mais próximo é sempre os dos homens. Aliás na maioria dos pubs antigos o quarto-de-banho das ladies (não vi nenhuma) é sempre lá ao fundo no segundo corredor, depois da terceira porta, ao fundo das escadas por detrás das grades de cerveja. E depois admiram-se que as mulheres usem o quarto-de-banho dos Gentlemans. Sim! É assim que está escrito na porta. Bem! Às vezes diz Gents que deve incluir as mulheres. No Yoga Show incluía porque vi mais mulheres a usar as sanitas no quarto-de-banho dos homens que propriamente homens.

Eu não tenho nada contra, mas para um latino é estranho estar-se a fazer as suas necessidades no urinol, entrar uma horda de mulheres e, ao pedir desculpa, já estar a usar as sanitas. Lindo! Nada que eu não tenha já visto em terras de D. Afonso Henriques, mas ali é mesmo normal. Assim como é normal acabar-se uma aula de yoga e mudar de roupa ali mesmo à frente de toda a gente. Não se tem muita vergonha nem na Inglaterra, nem nas aulas de yoga.

Nem vergonha nem capacidade de apreender nomes estranhos. E Rui é estranho? Para mim não é. Conheço o nome desde os meus primeiros anos de idade, por isso não vejo porque é que a professora da aula de Bikram Yoga passou uma hora e meia a chamar-me Roy. E o engraçado é que tinha que estar atento ao que ela dizia porque quando dizia Roy eu não associava a mim. Estava de tal maneira concentrado nas minhas posturas que acho que deve ter havido alguma coisa que ela me disse que me escapou, porque me chamou Roy. Já me tinham chamado Troy no Japão, mas Roy foi a primeira vez.

E se a Inglaterra é um país, supostamente, mais organizado que o nosso, porque é que nos corredores das estações do metro em Londres umas vezes diz 'Keep Left' e outras vezes 'Keep Right'. Se para os ingleses tem lógica o 'Keep Left' porque eles conduzem desse lado da estrada, para a quantidade enorme de estrangeiros que usam o metro diariamente, o 'Keep Right' é que tem lógica. Depois é ver o pessoal aos encontrões nos túneis do metro em hora de ponta, porque uns acham que é para andar à esquerda, mas naquela estação diz que é para andar à direita ou vice-versa. Aqui em Portugal não há sinais... Tem muito mais lógica!

Outra coisa estranha que encontrei por lá foi o facto de nenhuma loja fazer embrulhos para prendas. Por essa razão é que as pequenas lojas de postais e embrulhos ganham a vida. Haja dinheiro, porque um saquinho para pôr uma prenda custa quase tanto como a prenda em si. Um saco para rasgar, lembram-se? Sim! O presenteado pega no saco e o que faz? Manda para o quarto-de-banho dos homens?

Mas há coisas a que me habituei e que me custou a perder o hábito. Como o semáforo amarelo que acende antes do verde e que servia de aviso para engrenar a velocidade e começar a andar no momento em que o verde caía. Pois aqui quando via o amarelo do semáforo do outro lado tinha tendência a arrancar... Felizmente voltava a mim rapidamente. E ainda só andei em contra-mão uma vez desde que voltei. De manhã cheio de sono.

E a Sky! Prefiro nem falar, mas quando os tipos da TV Cabo lá foram na sexta-feira [19 de Novembro de 2004] fazer a ligação estive a sintonizar os canais. Quando cheguei ao canal 40, só pensei "Já acabou? Onde estão os outros 360?". E a programação? Não é que eu veja muita televisão, pelo contrário, mas há momentos em que apetece... E nem vi o programa do John Lydon, o vocalista dos Sex Pistols, no canal Home & Leisure ao domingo à tarde. Porque imagino o que deve fazer um Punk a falar num canal de bricolage num domingo à tarde.

Sobra-me o consolo de que o Gato Fedorento tem uma nova série a sair.

* Originalmente e erradamente enviada como Crónica 51.

 

Resposta a este mail por parte de Frederico Costa:

"Boas Noites... Como nao tenho grande coisa para fazer aqui tens um resumo sobre o porque de Lbs ser Pounds: [...]

Usually POUND (when it refers to weight) is abbreviated "lb.", although I have sometimes seen "lbs." The Latin word for pound is LIBRA, and that word was once used in English when referring to money. Apparently our word "pound" comes from the Latin word "pondo" which means weight; the Latin expression seems to have been "libra pondo" for "a pound in weight" (as opposed to a pound in money). The Italian monetary unit, the lira, as well as the British pound were coins that were once equivalent to a pound of a precious metal. Both are abbreviated with a fancy capital L (not followed by a period).

"Lb." stands for libra, the basic unit of Roman weight, from which our present-day pound derives. The libra weighed a little under 12 ounces avoirdupois. "Oz." stands for the Italian onza, ounce. It came into use in the 15th century. Ounce comes from the Latin uncia, a 12th, which is also the source of the term "inch." At one time there were 12 ounces to the pound, a usage that still survives in the system of troy weight used by jewelers and goldsmiths. Sixteen oz. to the lb. didn't arrive on the scene until the 13th or 14th century. Pound derives from the Latin pondo, "by weight." You ask: why take pound from one Latin word but the abbreviation from a DIFFERENT Latin word? There is no rhyme or reason to it at all.

The origin is in the Latin word libra, which could mean both balance scales (hence the symbol for the astrological sign Libra, which was named after a constellation that was thought to resemble scales) and also a pound weight, for which the full expression was libra pondo, the second word being the origin of our pound. "



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