Pois eu acho que não existe
um paraíso, mas sim vários paraísos e Marin County foi
um dos melhores paraísos que eu conheci. Além disso,
acho que com o dinheiro que o Figo tem, Portugal pode
ser um paraíso, mas para mim se não houver emprego, não
há ordenado e sem dinheiro não há paraíso que aguente.
Por outro lado era suposto eu ter saudades
de Inglaterra, pois ainda há pouco voltei de lá e ainda
estou a habituar-me (de novo) à minha vida aqui em Aveiro.
Mas não, foi da Califórnia que senti saudades. Eu já sentia
que pertencia lá e nunca senti isso na Inglaterra. Talvez
se tivesse ficado mais uns meses, mas em três meses não
se consegue perder os laços com casa. Nem em nove, que
estive nos Estados Unidos, consegui. Mas se voltar a
Inglaterra é fácil, voltar à Califórnia não o é tão fácil.
Na verdade nunca lá voltei desde Setembro de 2000, quando
retornei a casa.
Mas se hoje [Segunda-feira, 22 de Novembro
de 2004] foi um dia de recordações de memórias passadas,
foi também um dia de começos. E, desde hoje, com a ajuda
do meu grande pequeno amigo PP, que me desloco numa Vespa.
Há uns tempos que coloquei no meu blog um post em
que dizia querer comprar uma, mas se as vi à venda não
tive ainda a coragem e o orçamento para o fazer. Primeiro
porque não sei se será apenas um capricho e segundo porque
a minha vida tem outras prioridades neste momento. Mas
o PP tinha uma parada e precisava que alguém lhe desse
uso. E, embora eu ache que saio a ganhar, eu faço-lhe
o favor de a usar e ele faz o favor de ma emprestar.
Os amigos são para as ocasiões.
Assim, o meu espectro de meios de transporte
aumentou e agora posso me deslocar para o trabalho a
pé, de bicicleta, motorizada, carro ou autocarro. O barco é o
próximo passo, embora ainda não haja um ancoradouro aqui
na rua... Mas pode ser que com o degelo das calotes polares
em breve possa fazê-lo. Nessa altura tiro o brevet de
avião também!
Mas voltemos a'O Vespertino de Reading
e deixemos a minha vida em Aveiro um pouco de lado. Talvez
ainda pense em fazer um Semanário de Aveiro, mas não
sei se consigo ter paciência e muito menos vocês. Porém,
e na verdade O Vespertino de Reading está a chegar ao
fim. Com o meu retorno, um bocado antecipado em relação às
minhas expectativas, há poucas razões para manter o jornal
activo. Mas há umas coisas que deixei penduradas e que
gostava, ainda, de partilhar convosco e gostava que vocês
me respondessem a uma série de questões que ainda me
intrigam sobre o povo que habita aquele grande ilha do
outro lado do canal. Se não vejamos:
A unidade de peso do sistema imperial é a
Libra. Simples! Ainda existe a Stone que são 14 Libras,
mas que nem sequer interessa agora. Mas, uma libra são
0.4535 kg. E em inglês Libra diz-se ' Pound'. Tudo bem!
Mas se se diz Pound porque é que o diminutivo é Lbs?
Quando alguém, como eu, escreve o seu peso, escreve 11st
9lbs (74 kg, Sim! Perdi 4 kgs) e não 11st 9pds. Porquê?
E num país que se diz de gentlemans,
porque é que o quarto-de-banho mais próximo é sempre
os dos homens. Aliás na maioria dos pubs antigos o quarto-de-banho
das ladies (não vi nenhuma) é sempre lá ao fundo no segundo
corredor, depois da terceira porta, ao fundo das escadas
por detrás das grades de cerveja. E depois admiram-se
que as mulheres usem o quarto-de-banho dos Gentlemans.
Sim! É assim que está escrito na porta. Bem! Às vezes
diz Gents que deve incluir as mulheres. No Yoga
Show incluía porque vi mais mulheres a usar as sanitas
no quarto-de-banho dos homens que propriamente homens.
Eu não tenho nada contra, mas para um
latino é estranho estar-se a fazer as suas necessidades
no urinol, entrar uma horda de mulheres e, ao pedir desculpa,
já estar a usar as sanitas. Lindo! Nada que eu não tenha
já visto em terras de D. Afonso Henriques, mas ali é mesmo
normal. Assim como é normal acabar-se uma aula de yoga
e mudar de roupa ali mesmo à frente de toda a gente.
Não se tem muita vergonha nem na Inglaterra, nem nas
aulas de yoga.
Nem vergonha nem capacidade de apreender
nomes estranhos. E Rui é estranho? Para mim não é. Conheço
o nome desde os meus primeiros anos de idade, por isso
não vejo porque é que a professora da aula de Bikram
Yoga passou uma hora e meia a chamar-me Roy. E o engraçado é que
tinha que estar atento ao que ela dizia porque quando
dizia Roy eu não associava a mim. Estava de tal maneira
concentrado nas minhas posturas que acho que deve ter
havido alguma coisa que ela me disse que me escapou,
porque me chamou Roy. Já me tinham chamado Troy no Japão,
mas Roy foi a primeira vez.
E se a Inglaterra é um país, supostamente,
mais organizado que o nosso, porque é que nos corredores
das estações do metro em Londres umas vezes diz 'Keep
Left' e outras vezes 'Keep Right'. Se para
os ingleses tem lógica o 'Keep Left' porque
eles conduzem desse lado da estrada, para a quantidade
enorme de estrangeiros que usam o metro diariamente,
o 'Keep Right' é que tem lógica. Depois é ver
o pessoal aos encontrões nos túneis do metro em hora
de ponta, porque uns acham que é para andar à esquerda,
mas naquela estação diz que é para andar à direita ou
vice-versa. Aqui em Portugal não há sinais... Tem muito
mais lógica!
Outra coisa estranha que encontrei por
lá foi o facto de nenhuma loja fazer embrulhos para prendas.
Por essa razão é que as pequenas lojas de postais e embrulhos
ganham a vida. Haja dinheiro, porque um saquinho para
pôr uma prenda custa quase tanto como a prenda em si.
Um saco para rasgar, lembram-se? Sim! O presenteado pega
no saco e o que faz? Manda para o quarto-de-banho dos
homens?
Mas há coisas a que me habituei e que
me custou a perder o hábito. Como o semáforo amarelo
que acende antes do verde e que servia de aviso para
engrenar a velocidade e começar a andar no momento em
que o verde caía. Pois aqui quando via o amarelo do semáforo
do outro lado tinha tendência a arrancar... Felizmente
voltava a mim rapidamente. E ainda só andei em contra-mão
uma vez desde que voltei. De manhã cheio de sono.
E a Sky! Prefiro nem falar, mas quando
os tipos da TV Cabo lá foram na sexta-feira [19 de Novembro
de 2004] fazer a ligação estive a sintonizar os canais.
Quando cheguei ao canal 40, só pensei "Já acabou? Onde
estão os outros 360?". E a programação? Não é que eu
veja muita televisão, pelo contrário, mas há momentos
em que apetece... E nem vi o programa do John Lydon,
o vocalista dos Sex Pistols, no canal Home & Leisure
ao domingo à tarde. Porque imagino o que deve fazer um
Punk a falar num canal de bricolage num domingo à tarde.
Sobra-me o consolo de que o Gato Fedorento
tem uma nova série a sair.
* Originalmente e erradamente
enviada como Crónica 51.
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