Como se eu fosse normal,
porque como já disse uma vez em "O
freak que eu sou..." no blog "às
vezes tenho a sensação que sou um freak e que à minha
volta não encontro muitos que pensem como eu".
Pois no fim-de-semana passado senti o
contrário. Aliás sinto muitas vezes quando saio do nosso
país, não só porque somos um país diferente culturalmente
mas porque somos um povo retrógrado, tacanho e conservador.
Mas no fim-de-semana passado a dimensão foi muito maior
e por momentos até me senti em Portugal. No Yoga Show
em Londres.
Tudo começou na sexta-feira [12 de Novembro
de 2004] com o concerto de um tal Lex van Someren. Bem,
se eu sou um freak, este alemão está para além do fenómeno.
O homem caiu de um planeta qualquer e ainda não sabe
bem o que anda a fazer neste mundo. E nós (eu, a Cláudia
e a Cristina) por momentos perguntámos a nós próprios
o que estávamos ali a fazer e porque gastámos o dinheiro
no bilhete. A Cristina fez melhor e adormeceu, só acordando
na última música, quando, o tal Lex, começou a cantar
numa língua inventada por ele e o CD não arrancou. Parou
de cantar, falou para o público na tal língua inventada
(não era alemão), sacou o comando à distância do bolso
e ligou o CD. Foi um momento único na minha história
de espectador de concertos.
Mas voltando à música. Sabem aqueles CDs
de música relaxante com sons de golfinhos e que se vendem
nos hipermercados? Pois ele já gravou 20 deles e foi
ali tocar alguns temas (um deles em brasileiro), mas
não levou os golfinhos. Suponho que estes devem ter fugido,
porque 20 CDs é muita coisa. Em vez dos golfinhos, o
Lex levou uma tipa que era professora de dança e que
se ensina aos seus pupilos aquilo que nos mostrou no
palco, prefiro nunca os ver a dançar. Principalmente
de plumas de pavão!
Porém, muita coisa ficou explicada quando
no intervalo antes do segundo concerto (o grupo Bliss)
descobri que o homem, para além de músico, era palhaço.
Ainda hoje me riu ao escrever isto... E depois eu é que
sou freak!
No sábado [13 de Novembro de 2004] é que
começava a verdadeira exposição e os workshops que tanto
queríamos assistir. Mas assim que chegámos à porta do
Olympia 2 ficámos com muito poucas esperanças de que
pudéssemos assistir a alguma coisa. Como é normal nos
ingleses a fila à porta já chegava à esquina. Ao contrário
do que se pensa, a pontualidade inglesa anda nas ruas
da amargura e às 10:10 as portas ainda não estavam abertas,
quando estava marcada a abertura para as 10h.
Nós atravessámos a rua, ainda a ver como é que
iríamos aguentar estar naquela fila, quando as portas
abriram e a fila degenerou numa bolha. Foi o caos à portuguesa.
Tinha que se trocar os bilhetes por uma pulseira, como
nos festivais, mas ninguém sabia onde e além disso ninguém
queria muito saber. Era a chamada situação "desculpe,
tem o seu pé na minha boca".
Depois foi o ver-se-te-avias para arranjar
entradas para os workshops gratuitos. Para os que eu
queria não consegui arranjar e acabei por apenas fazer
um que não estava interessado. Comprei outro que nem
sequer estava a pensar ir fazer e já tinha comprado com
antecedência mais alguns, se não passava o dia a ver
pessoas, porque a ânsia das compras dos ingleses fazia
com que fosse quase impossível chegar aos stands.
Mas depois as coisas foram acalmando e
ao fim da tarde já se conseguia respirar no Olympia 2.
Até fui a um workshop de Thai Yoga Massage, para o qual
não tinha bilhete, mas que como quem o tinha não apareceu,
deixaram-me entrar. Ainda fiz muita coisa nesse dia, "The
7 Goals to Success" da Siri Data, "Yoga to Transform
your Everyday Life" e "Traditional Thai Yoga
Massage".
No fim do dia fomos falar com uma tipa
da organização que quase chorou quando nos pedia desculpas
pelo facto de termos ido de Portugal e nem sequer tínhamos
conseguido ver o que queríamos. A mulher estava quase
arrependida de alguma vez ter nascido e deve ter ouvido
tantas ou tão poucas nesse dia que nem era capaz de conter
as lágrimas. Num stand disseram-me que nem eram capazes
de prenunciar uma frase como deve ser, tal era o nível
de cansaço, depois de aturar uma horda de ingleses ávidos
por compras.
Nós sobrevivemos! E como tínhamos bilhetes
para o concerto, descansámos um pouco e fomos, apreensivos,
depois da noite anterior, mas esperançados que fosse
muito melhor que o palhaço-dos-golfinhos com a bailarina-das-plumas.
E foi! Nem muito pela primeira parte em que tocaram as
Anjali Sisters a cantarem mantras em versão euro-dance-
ibiza-mix, mas pela segunda parte com a freak da Wah!
Uma americana de Los Angeles que esteve em Lótus mais
de uma hora a tocar baixo e guitarra, enquanto era acompanhada
por um tipo que usava uma caixa de uma coluna de som
para a percussão e outro que tocava aqueles órgãos indianos
de fole. E nos coros uma miúda, linda, que devia de ser
filha da Wah!
A Wah!, começou com menos bem, com um
ar arrogante e acabou em grande com todos os freaks da
sala a cantarem em uníssono e em modo kirtan a mantra "Om
Namah Shivaya". Fez-nos esquecer completamente o fiasco
da noite anterior e a confusão dessa manhã! Foi um momento único
que repetimos esta terça-feira [16 de Novembro de 2004]
quando cantámos na aula esse mesmo mantra.
Domingo [14 de Novembro de 2004] as coisas
foram muito mais suaves. Depois da confusão do dia anterior
a organização decidiu que quem estava interessado nos
workshops gratuitos devia de marcar a sua presença, nas
normais filas inglesas, à porta da sala. E os primeiros
a chegar seriam os primeiros a serem servidos. Isto só fez
com que a horda que no dia anterior andou às compras
se colocasse estrategicamente posicionada em pelotões à porta
das quatro salas de workshops. Até que nos apercebêssemos
da táctica do inimigo perdemos a oportunidade de assistir à aula
de Kundalini Yoga. Mas depois de assimilada a estratégia
consegui entrar no "Detoxification and Purification – the
natural way" do Yogi Dr Malik.
E aí foi quando eu senti que afinal há freaks maiores
que eu. A sessão era sobre kriyas ou seja técnicas
de limpeza e desintoxicação. A primeira foi o Jala
Neti que consiste em meter água salgada por uma
narina, com a ajuda de um recipiente chamado Lota,
e deixar que a água saia pela outra narina. Limpa tudo...
O segundo Sutra Neti (acho) consiste em passar
um fio de algodão por uma narina e fazer saí-lo pela
boca. O primeiro já tinha, e tenho, feito o segundo experimentei
mas não consegui que fio saísse da garganta para a boca,
quase me provocando o vómito.
Uma tipa que estava atrás de mim só dizia: "Quando
chegar a casa e disser que estive meia-hora à espera
para ver um tipo meter água e fios pelo nariz vão achar
que fui a um freakshow". Um brasileiro que deu o golpe
na fila (ou não fosse de origem portuguesa) mesmo atrás
de mim tentou o segundo processo, também sem sucesso.
Apenas uma tipa foi capaz de o fazer, para além do Dr.
Malik.
Seguiu-se um workshop de "Introduction
to Tantra" e para acabar o dia, o show e o fim-de-semana
um de "Yoga Beats". O primeiro foi engraçado
(não foi sexo tântrico) e o segundo foi mais
um momento de freaks, com um tipo todo tatuado
de cabelos compridos a ensinar-nos a mexer ao som da
música em posições de yoga.
Saí do Olympia com os olhos cheios, o
corpo moído e a barriga vazia. Fomos directos ao Misato
comer um Sushi antes de nos despedirmos do Paulo e do
Edgar e voltarmos a Reading, para fazer as malas. O difícil
processo de meter tudo nas malas acabou por volta da
1h da manhã. Deitei-me no sofá e nem me cobri. Acordei às
3h30m! Metemos todas as malas e mais 4 pessoas no Besouro,
porque o Freddy acordou para nos levar à estação. Chegámos
a Portugal às 11h da manhã, mais freaks do que
fomos!
* Originalmente e erradamente
enviada como Crónica 50.
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