*48 CRÓNICA O Vespertino de Reading 17 de Novembro de 2004

I Will Survive

Voltei! Demorou a chegar, mas cheguei... Depois de nos deitarmos à 1:30, depois de conseguirmos pôr nas malas tudo o que tínhamos mais o que comprámos no Yoga Show, no fim-de-semana, acordámos às 3:30 da manhã, para apanhar o comboio das 4:30 para Gatwick. Às 6:30 fizemos o check-in e às 8:30 o avião levantou voo. Às 11:30 saímos do aeroporto Sá Carneiro de óculos de sol...

Gisela e Cláudia no ring - Fotografia de Rui Gonçalves

Foi um dia muito cansativo e hoje [Terça-feira, 16 de Novembro de 2004] ainda sinto no corpo as horas de sono em falta desta última aventura no Reino de Sua Majestade. Além disso sinto, também, no corpo o retorno ao trabalho depois de uma semana de férias e o retorno à minha equipa e ao meu antigo ambiente de trabalho depois de ter estado ausente por 3 meses. Mas voltemos atrás...

Na segunda-feira [8 de Novembro de 2004] eu e a Cláudia fomos passear até Cotswolds, que como eu disse na última crónica, em tom de brincadeira, é "uma zona muito parecida com a nossa Beira, mas com mais casas de chá e de antiguidades". Na verdade é uma zona entre Oxford e Bath que se assemelha em muito à nossa beira, com casas de pedra e cuja principal fonte de riqueza era a lã. Porém, com o aumento do interesse turístico da região, os pequenos hotéis começaram a multiplicar-se, os salões de chá foram abrindo e as lojas de antiguidades começaram a parecer cogumelos. Mas sem estragar a fisionomia original das aldeias e mantendo o ar rústico das casas, de uma maneira sustentada e de uma forma muito agradável.

Visitámos as aldeias de Burford, Stow-on-Wold e Chipping Norton. Bem! Esta última já é grande demais para ser chamada de aldeia, mas as duas primeiras são mesmo saídas de um filme inglês do século passado. Já cheiravam a lareira acesa! Em Burford bebemos um chá e comemos um bolo no Copper Cattle que vai ser difícil esquecer. Mandámos um postal ao Freddy e à Gisela e se lá forem mandem-me um também. Em Stow-on-Wold andámos pela praça do mercado a descobrir lojas de decoração e comida biológica. Quando chegámos a Chipping Norton nem parámos, pois já chovia e queríamos ir à Outlet Village de Bicester, que não aconselho se não tiverem um cartão de crédito recheado.

Na terça-feira [9 de Novembro de 2004] fomos tentar ver o cavalo branco de Uffington, que por causa do nevoeiro e a chuva mal vimos, porque de perto é difícil de ver devido à sua dimensão. Este cavalo branco é uma daquelas figuras pintadas nos montes que não sabe a origem nem tão pouco a data, mas que se pensa que terá mais de 3000 anos. O de Uffington é o mais antigo e estilizado de todos e depois desse já vi mais dois entre Stonehendge e Avebury, perto de Marlbourough (aquilo que os americanos chamaram de Marlboro). Mas em Uffington fiquei mais impressionado com o Dragon Hill, um monte de terra feito pelo homem e plano no topo onde se diz que o Rei George matou o dragão (a lenda). O sangue do dragão espalhou-se pelo topo do monte e ainda hoje não cresce erva lá.

Nesse dia fomos almoçar com os meus colegas ingleses numa de despedida e à noite fomos andar de patins no gelo com o Freddy, a Gisela e o Carlos, o meu colega que vai ficar em Reading por 6 meses num esquema semelhante ao meu. Eu já fiz ski em neve fofa, mas digo- vos que andar de patins numa camada dura de gelo é um bocado constrangedor, principalmente porque se a neve é escorregadia e os skis largos, o gelo é muito mais escorregadio e os patins são finos como o fio de uma faca. E sabem uma coisa? Dói cair... E sabem que mais? Finalmente compreendi aquelas palhaçadas dos filmes cómicos em pistas de gelo. Eu parecia um palhaço a fazer de conta que estava a cair e a tentar equilibrar-me. Senti-me verdadeiramente impotente com aquilo calçado sobre o gelo. Mas no fim da noite já conseguia dar a volta ao ringue sem me agarrar às paredes... E até tive direito a uma dedicatória por parte do Disk Jockey, a pedido da Gisela, e a ouvir "I Will Survive" da Gloria Gaynor. Sobrevivi! A Cláudia ficou pior, com um pulso negro de uma das quedas.

Na quarta-feira [10 de Novembro de 2004] fomos a Gatwick buscar a Cristina, a nossa Guru e professora de Yoga. Ficou connosco lá, até voltarmos ontem [Segunda-feira, 15 de Novembro de 2004], primeiro em casa do Freddy e da Gisela, em Reading e durante o fim-de-semana em casa do Paulo, Edgar e Miguel em Londres. Uma companheira de aventuras e de muitas situações cómicas que nos foram acontecendo durante estes últimos dias das férias e da deslocação.

Nessa noite fomos à nossa última aula de Yoga em Inglaterra. Depois de nos termos despedido das aulas da Elena na sexta-feira [5 de Novembro de 2004] anterior (mesmo sem ser com a Elena que estava doente), das da Deidre na segunda-feira [8 de Novembro de 2004], chegou a vez de nos despedirmos das da Mary Niker. Vou ter saudades de todas elas, pois acho que tivemos muita sorte em encontrarmos professoras de Yoga tão boas, simpáticas e gentis.

A quinta-feira [11 de Novembro de 2004] foi dedicada a mostrar o campo de Inglaterra à Cristina. Começámos por Micheldever, passámos em Stonehenge, almoçámos em Avebury e jantámos em Oxford. Sem pressas, porque ficam todos muito perto, entre si e de Reading. No fim do dia estávamos cansados e ansiosos pelo fim-de-semana que se avizinhava e que iríamos passar em Londres. Um fim-de-semana dedicado quase em exclusividade ao Yoga. Um fim-de-semana que vos contarei na próxima crónica.

Por agora deixo-vos com a ideia que Stonehenge foi uma desilusão. Um sonho de criança que consegui realizar, quase no fim da minha viagem, e que me deixou com pouca vontade de lá voltar. Talvez no solstício! Mas numa visita normal em que as pilhas do áudio se acabam a meio e andamos ali a quase 20m das pedras pouca energia se sente do sítio. A mística do sítio está mais bem documentada nas fotos que se vendem na loja, pois ali ao lado dos megalíticos calhaus sente-se e ouve-se apenas os carros que passam nas estradas que entroncam uma centena de metros atrás.

* Originalmente e erradamente enviada como Crónica 49.

Dragon Hill - Fotografia de Rui Gonçalves Micheldever - Fotografia de Rui Gonçalves


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