Foi um dia muito cansativo
e hoje [Terça-feira, 16 de Novembro de 2004] ainda sinto
no corpo as horas de sono em falta desta última aventura
no Reino de Sua Majestade. Além disso sinto, também,
no corpo o retorno ao trabalho depois de uma semana de
férias e o retorno à minha equipa e ao meu antigo ambiente
de trabalho depois de ter estado ausente por 3 meses.
Mas voltemos atrás...
Na segunda-feira [8 de Novembro de 2004]
eu e a Cláudia fomos passear até Cotswolds, que como
eu disse na última crónica, em tom de brincadeira, é "uma
zona muito parecida com a nossa Beira, mas com mais casas
de chá e de antiguidades". Na verdade é uma zona entre
Oxford e Bath que se assemelha em muito à nossa beira,
com casas de pedra e cuja principal fonte de riqueza
era a lã. Porém, com o aumento do interesse turístico
da região, os pequenos hotéis começaram a multiplicar-se,
os salões de chá foram abrindo e as lojas de antiguidades
começaram a parecer cogumelos. Mas sem estragar a fisionomia
original das aldeias e mantendo o ar rústico das casas,
de uma maneira sustentada e de uma forma muito agradável.
Visitámos as aldeias de Burford, Stow-on-Wold
e Chipping Norton. Bem! Esta última já é grande demais
para ser chamada de aldeia, mas as duas primeiras são
mesmo saídas de um filme inglês do século passado. Já cheiravam
a lareira acesa! Em Burford bebemos um chá e comemos
um bolo no Copper Cattle que vai ser difícil esquecer.
Mandámos um postal ao Freddy e à Gisela e se lá forem
mandem-me um também. Em Stow-on-Wold andámos pela praça
do mercado a descobrir lojas de decoração e comida biológica.
Quando chegámos a Chipping Norton nem parámos, pois já chovia
e queríamos ir à Outlet Village de Bicester, que não
aconselho se não tiverem um cartão de crédito recheado.
Na terça-feira [9 de Novembro de 2004]
fomos tentar ver o cavalo branco de Uffington, que por
causa do nevoeiro e a chuva mal vimos, porque de perto é difícil
de ver devido à sua dimensão. Este cavalo branco é uma
daquelas figuras pintadas nos montes que não sabe a origem
nem tão pouco a data, mas que se pensa que terá mais
de 3000 anos. O de Uffington é o mais antigo e estilizado
de todos e depois desse já vi mais dois entre Stonehendge
e Avebury, perto de Marlbourough (aquilo que os americanos
chamaram de Marlboro). Mas em Uffington fiquei mais impressionado
com o Dragon Hill, um monte de terra feito pelo homem
e plano no topo onde se diz que o Rei George matou o
dragão (a lenda). O sangue do dragão espalhou-se pelo
topo do monte e ainda hoje não cresce erva lá.
Nesse dia fomos almoçar com os meus colegas
ingleses numa de despedida e à noite fomos andar de patins
no gelo com o Freddy, a Gisela e o Carlos, o meu colega
que vai ficar em Reading por 6 meses num esquema semelhante
ao meu. Eu já fiz ski em neve fofa, mas digo- vos que
andar de patins numa camada dura de gelo é um bocado
constrangedor, principalmente porque se a neve é escorregadia
e os skis largos, o gelo é muito mais escorregadio e
os patins são finos como o fio de uma faca. E sabem uma
coisa? Dói cair... E sabem que mais? Finalmente compreendi
aquelas palhaçadas dos filmes cómicos em pistas de gelo.
Eu parecia um palhaço a fazer de conta que estava a cair
e a tentar equilibrar-me. Senti-me verdadeiramente impotente
com aquilo calçado sobre o gelo. Mas no fim da noite
já conseguia dar a volta ao ringue sem me agarrar às
paredes... E até tive direito a uma dedicatória por parte
do Disk Jockey, a pedido da Gisela, e a ouvir "I Will
Survive" da Gloria Gaynor. Sobrevivi! A Cláudia ficou
pior, com um pulso negro de uma das quedas.
Na quarta-feira [10 de Novembro de 2004]
fomos a Gatwick buscar a Cristina, a nossa Guru e professora
de Yoga. Ficou connosco lá, até voltarmos ontem [Segunda-feira,
15 de Novembro de 2004], primeiro em casa do Freddy e
da Gisela, em Reading e durante o fim-de-semana em casa
do Paulo, Edgar e Miguel em Londres. Uma companheira
de aventuras e de muitas situações cómicas que nos foram
acontecendo durante estes últimos dias das férias e da
deslocação.
Nessa noite fomos à nossa última aula
de Yoga em Inglaterra. Depois de nos termos despedido
das aulas da Elena na sexta-feira [5 de Novembro de 2004]
anterior (mesmo sem ser com a Elena que estava doente),
das da Deidre na segunda-feira [8 de Novembro de 2004],
chegou a vez de nos despedirmos das da Mary Niker. Vou
ter saudades de todas elas, pois acho que tivemos muita
sorte em encontrarmos professoras de Yoga tão boas, simpáticas
e gentis.
A quinta-feira [11 de Novembro de 2004]
foi dedicada a mostrar o campo de Inglaterra à Cristina.
Começámos por Micheldever, passámos em Stonehenge, almoçámos
em Avebury e jantámos em Oxford. Sem pressas, porque
ficam todos muito perto, entre si e de Reading. No fim
do dia estávamos cansados e ansiosos pelo fim-de-semana
que se avizinhava e que iríamos passar em Londres. Um
fim-de-semana dedicado quase em exclusividade ao Yoga.
Um fim-de-semana que vos contarei na próxima crónica.
Por agora deixo-vos com a ideia que Stonehenge
foi uma desilusão. Um sonho de criança que consegui realizar,
quase no fim da minha viagem, e que me deixou com pouca
vontade de lá voltar. Talvez no solstício! Mas numa visita
normal em que as pilhas do áudio se acabam a meio e andamos
ali a quase 20m das pedras pouca energia se sente do
sítio. A mística do sítio está mais bem documentada nas
fotos que se vendem na loja, pois ali ao lado dos megalíticos
calhaus sente-se e ouve-se apenas os carros que passam
nas estradas que entroncam uma centena de metros atrás.
* Originalmente e erradamente
enviada como Crónica 49.
|