44 CRÓNICA O Vespertino de Reading 3 de Novembro de 2004

Oxford

É bom sentirmo-nos realizados. E quando vamos pela rua e vemos um junkie a pedir na rua enquanto fuma um cachimbo de droga e ao seu lado está um telemóvel NEC. É uma verdadeira sensação de realização para a qual não há palavras. Aconteceu ontem [Terça-feira, 2 de Novembro de 2004] em Oxford.

Queen's Lane (Oxford) - Fotografia de Cláudia Fernandes e Rui Gonçalves

Não foi a primeira vez que vi alguém com um NEC, desde que estou no Reino Unido, mas é com alguma surpresa que vemos produtos que demoram anos a fazer e têm horas e horas de trabalho e acabam a preços de tal maneira ridículos que um toxicodependente que pede na rua pode adquiri-lo. E não estou a falar de um telemóvel qualquer, mas sim de um telemóvel de terceira geração com écran grande, câmara fotográfica rotativa, java e mais uma série de coisas. Uma coisa que nem existe ainda em Portugal e que aqui já se vende a menos de 12 contos.

Mas mudando de assunto e sem falar nas eleições americanas de ontem, vamos mas é falar de coisas boas. Oxford é uma cidade fantástica. E esperou quase três meses para que fosse visitada por nós, quando dista apenas 30 minutos de Reading. Na verdade sempre pensei que fosse mais uma cidade inglesa. Com uma universidade secular (quase milenar) mas que não haveria de diferir muito de Coimbra. Pois enganei-me redondamente. Não só é uma cidade monumental como é uma cidade bonita, ao contrário de muitas cidades inglesas e, de Coimbra.

A surpresa começou logo pela dimensão da cidade. É uma cidade relativamente pequena. Muito mais pequena que Reading e muito menos confusa. O único problema é mesmo estacionar e para resolver esse problema só há uma solução – pagar estacionamento. Depois estamos no centro de uma cidade que a cada esquina abre-se numa nova rua cheia de edifícios monumentais. O College de não sei o quê e o College de não sei que mais. 39 Colleges e muito, muito estudante. Dá vontade de voltar a estudar.

A cidade borbulha de vida. Há cafés em todas as esquinas. As livrarias multiplicam-se. E o principal meio de transporte são as bicicletas. Acho que era capaz de ser feliz em Oxford, mesmo a estudar medicina ou direito. Se calhar nunca acabaria os estudos, mas esse é outro problema. Acho que se, alguma vez, fizer outro destacamento no Reino Unido peço para viver em Oxford, mesmo que para isso tenha que guiar 30 minutos todos os dias até Reading.

As bicicletas são tantas que parece que toda a gente anda de bicicleta, desde o avô ao neto e desde o professor ao aluno. É engraçado ver as ruas cheias de bicicletas a andar e os passeios cheios de bicicletas paradas. Com as luzes do fim do dia, o movimento nas ruas e os edifícios iluminados, acho que jamais esquecerei Oxford. Temos que lá voltar a uma quinta-feira, porque acho que é noite mais concorrida.

Mas, esta noite fez parte de uma série de encontros e jantares que andamos a realizar por diversas freguesias e capelas. Começou com um magnífico jantar, num restaurante italiano, na passada quarta-feira [27 de Outubro de 2004] com o David G. e a Sairung, aqui mesmo em Reading. E só acabará, provavelmente, no último fim-de-semana algures em Londres. Pelo meio ficou o jantar com o Luís "de Boticas" em japonês, uma feijoada à brasileira com muita gente, e, este, com o Luís e a Cátia. Faz tudo parte de uma estratégia de despedida em que temos que viver o máximo no pouco tempo que nos falta.

Ontem foi a vez de visitar o Luís e a Cátia, de que já vos falei na Crónica 26 aquando de um jantar do Contacto em Londres num restaurante português. Já tínhamos estado com eles também numa churrasco em casa do Freddy algures no início de Outubro, mas agora era a vez de sermos nós a visitá-los. O Freddy e a Gisela também lá foram ter.

Foi uma noite divertida num restaurante espanhol de tapas, assim a modos de matar saudades e com um belo de um gelado no fim. Impressionante como às 11 da noite ainda há gelatarias abertas numa rua secundária de Oxford. Em Reading a essa hora estão os pubs a fechar e pedirem-nos para acabar as pints o mais depressa possível.

O Luís e a Cátia planeiam retornar em dezembro. Ver-nos-emos nessa altura, se não for antes...

Bridge of Sighs - Fotografia de Rui Gonçalves Luís e Cátia - Fotografia de Rui Gonçalves


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