42 CRÓNICA O Vespertino de Reading 1 de Novembro de 2004

Bikram Yoga

Acabei de chegar de uma aula de Pilates. E acreditem que serviu os propósitos que o alemão Joseph H. Pilates tinha em mente, nos anos 20 do século passado, quando criou este método de exercício. Ele criou o método, que hoje tem o seu nome, com o objectivo de recuperar lesões mais rapidamente. Para isso adoptou uma série de exercícios e máquinas que esticam os músculos de modo que estes se recuperem sem muito esforço. Por outras palavras, é um tipo de fisioterapia, que pode ser feita como actividade física normal, mas que hoje, para mim e para a Cláudia, serviu mesmo de fisioterapia. Tudo porque no sábado [30 de Outubro de 2004] fomos a uma aula de Bikram Yoga e desde ontem [31 de Outubro de 2004] que há uma série de músculos e tendões que tendem a ressentir-se desse esforço. Mas já lá vamos...

Sirsasana na Baía dos Cães - Fotografia de Cláudia Fernandes e Cláudia Fernandes

Esta é a última semana de trabalho no Reino Unido, como parte deste deslocamento que fiz, por três meses. Em termos de trabalho não posso dizer que vá sair daqui muito satisfeito. Fiz o meu trabalho, mas uma série de acontecimentos internos da empresa fizeram com que esse não tenha sido usado para nada. É normal quando se está na área de Investigação e Desenvolvimento que muito do nosso trabalho sirva apenas para demonstração, mas pareceu-me que este só vai produzir efeitos, se o fizer, daqui a uns largos meses. É frustrante, mas algo que me começo a habituar.

Mas em termos pessoais posso dizer que esta estadia no Reino Unido, apesar de muito curta, foi com certeza muito inspiradora e, espero, muito importante para o resto da minha vida. Convivi com pessoas extraordinárias que me ensinaram muito, vivi momentos que jamais esquecerei e vou cheio de histórias para contar. Mas só volto daqui a duas semanas e nessas duas semanas há muito mais para viver.

Foi com esse espírito que decidimos ir à aula de Bikram Yoga. É um tipo de yoga em que se repete, duas vezes, uma sequência de 26 posturas, numa sala aquecida a 38 (Sim! Trinta e Oito) graus Celsius (100° fahrenheit). A sala onde fizemos estava mais fresca, porque os aquecedores não aguentam estar a trabalhar aos 110° fahrenheit (43°3 C) que eles gostavam, pelo que estava apenas a 95° fahrenheit (35° C).

Mas não foi fresco que senti quando entrei na sala. Aliás, eles aconselham os homens a irem de calções e camisa caviada, mas eu mal entrei estava de trono nú. E a humidade a cerca de 80% faz com que a respiração comece a ser mais profunda, o coração dispare e a pele comece a abrir, largando suor como se de uma fonte se tratasse. A ideia é mesmo essa, que os poros da pele abram e as toxinas sejam expelidas. Além disso depois de cerca de meia-hora nesse ambiente o nosso corpo consegue flectir a níveis que nunca achávamos possível, tipo borracha aquecida. Por isso me doem uma série de tendões e músculos. E por isso o Pilates, hoje [1 de Novembro de 2004] foi fixe.

Lindo foi ver a cara da Cláudia, e a minha ao espelho, quando saímos do Bikram. Parecia que alguém tinha dito algo que nos tinha embaraçado e estávamos corados de vergonha. Foi assim desde Chalk Farm a Camden, todo a caminho a pé a apanhar uma brisa fresca na cara. Mas não sei se essa é a cara de quem quer comprar droga, porque desde que passámos a ponte sobre o canal, em Camden Lock, quatro ou cinco tipos nos perguntaram se queríamos erva, haxixe ou marijuana.

Depois de almoçar no Tate Modern, umas duas horas antes da aula de Bikram e da comida ter andado a fazer das suas no estômago durante a aula, a vontade de voltar a comer não era muita. Mas tinha combinado com o Luís "de Boticas" para jantarmos no Misato e teve de ser. O que vale é que fomos pondo a conversa em dia, depois de mais de dez anos sem o ver, enquanto esperávamos por uma mesa e quando finalmente nos sentámos o Sushi, Tempura Soba e Tonkotsu entraram para estômago como guloseimas empurradas por uma Sapporo. Enquanto falávamos de tudo o que se pode falar quando já não se vê uma pessoa há quase 15 anos.

O Luís era meu colega de curso, quando eu estudei Física, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, entre 1987 e 1989. E desde 1990 que não nos devíamos de ver. Temos trocados uns e-mails, porque no entretanto decidi juntar esses meus colegas todos numa mailing list. Como muitos outros, ele não conseguia arranjar trabalho em Portugal a não ser como professor e optou por emigrar. Ainda não arranjou um trabalho relacionado com a sua formação, mas isso não o preocupa. De momento é jardineiro de gente rica de Chelsea e Kensington. Está feliz por estar cá!

Foi bom, poder estar ali sentado a comer e a falar, com um tipo interessante, depois de um dia passado a correr. Primeiro, no Besouro para chegar a Londres e depois no metro e autocarro para chegar ao Tate (as linhas Disctrict e Central do metro estavam fechadas este fim-de-semana, imaginem o caos). Chegámos ao Tate Modern e nem vimos nada, entrámos, subimos ao sétimo andar, gozámos a vista e um fantástico almoço (aconselho vivamente) e saímos para conseguir chegar à outra ponta da cidade a tempo de suarmos no Bikram. Ali no Misato esquecemo-nos que havia gente à espera de mesa... E que havia gente à nossa espera em casa do PEM para nos abrir a porta.

E foi para lá que fomos de seguida, onde chegámos já depois da meia- noite para dois dedos de conversa com Edgar e tentar dormir com tanto calor dentro do saco-cama.



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