40 CRÓNICA O Vespertino de Reading 26 de Outubro de 2004

Só mesmo em Portugal

Este fim-de-semana senti-me um verdadeiro inglês. Sexta-feira [22 de Outubro de 2004], tive a sensação que era um bife na terra do calor. Andei o dia todo de manga curta, a soar, e à minha volta as pessoas andavam de casaco, como se tratasse já do Inverno. Só faltava ter ficado vermelho...

Mas nem só por isso me senti um estrangeiro. Não vou para aqui dizer, como todos os portugueses que voltam a Portugal depois de estarem no estrangeiro, que certas coisas, quando são más, só são possíveis no nosso país, porque é o nosso país. Tipo aquela frase "Só mesmo em Portugal é que isto acontece". Não o digo, porque sei que todos os países têm coisas más. Mas que há coisas que acontecem só porque somos portugueses, há!

Cláudia e os Noivos - Fotografia de Frederico Costa

E uma delas foi a viagem de Heathrow para o Porto. Imaginem uma empresa de aviação portuguesa (que por aqui é conhecida como Take Another Plane) cujo check-in é feito por uma companhia de aviação italiana, quase na falência. Já imaginaram? Agora imaginem que essa companhia portuguesa até tem um site de reservas online que dá para escolher o lugar no avião. Fantástico! Agora imaginem que depois de reservarem o lugar online, com um mês de antecedência, vos dizem, quando chegam ao aeroporto, que não há lugares no avião. E que vocês vão em primeira classe, mas sem direito a refeição e os vossos companheiros de viagem vão lá atrás no fundo do Airbus 319. Agora imaginem que no entretanto ao vosso lado, ali no check-in, a um outro passageiro foi dado o lugar mesmo ao lado da vossa esposa. Imaginem que isto acontecia depois de 2 duas horas de tráfego intenso, antes de chegar ao aeroporto e que fez com que a tensão estivesse ao rubro. E quando tentam apresentar uma reclamação, o responsável português diz-vos "Desculpe mas de Internet eu não percebo nada!"

Já imaginaram? Pois! Agora imaginem que depois disto tudo, à chegada ao Porto, e depois de uma meia hora, numa fila, para mostrar o bilhete de identidade, encontram a vossa mala semi destruída pelos gorilas carregadores de malas. E que o interior da mala está exposto e de lá desapareceu um Leatherman (uma ferramenta tipo canivete suiço). Pois! Só mesmo em Portugal é que isto acontece!

Mas chegámos! Chegámos cansados e nem sequer fomos para Aveiro como estava previsto. E se chegámos cansados, devem imaginar como ficámos depois de três dias a visitar amigos e familiares, fazer centenas de quilómetros de carro e com um casamento de 12 horas pelo meio. Ainda estou a recuperar...

Mas compensou! Compensou ver os amigos alegres, os pais felizes, as sobrinhas, as montanhas e muito sol. Aqui está sol, mas a mínima de temperatura daí é a máxima de cá. E ver a minha casa, por instantes, fez-me ter saudades. Tudo me fez ter saudades. Sei que quando voltar, as saudades se matam num instante e volta tudo ao normal. Mas é impossível não sentir vontade de regressar.

Para aqueles que não estão em Portugal, o país está igual. Não mudou nada! Se não havia governo, agora não há professores. Toda a gente se ri do Castel-Branco e ninguém leva a sério o Santana Lopes. O Paulo Portas até diz que "O orçamento é bom, é bom, é, diz o avô e diz o bebé"... E é assim que se fala do futuro do país, como se de um pudim se tratasse. Continua tudo como sempre!

Porém há coisas que felizmente não mudam. A comida continua a ser demasiada, farta e cheia de carne. Ainda ando a recuperar das tripas em casa dos meus cunhados, do casamento e do cozido magnífico com que a minha mãe nos recebeu no domingo. O meu estômago já não está habituado àquelas coisas. E não havia farinheira...

Também não mudam as paisagens. Este país da Rainha é uma seca sem relevo. Deve ser por isso que eles têm tantas revistas de coscuvilhices. Mas a estrada da IP5 até Lamego e daí até Vila Real é algo que estes senhores nunca terão (Bem! Se calhar só lhes falta comprar mais umas quintas).

E não mudam os casamentos... Comida até fartar! Gente com os copos... E muita diversão! Mas há sempre umas variações, como o fogo de artifício ou actuação de um fadista emigrante na Inglaterra por 3 meses. Uma noite memorável!

Eu e a mãe do Noivo - Fotografia de Frederico Costa Sinfônia Catrovski - Fotografia de Frederico Costa

Mais fotos em http://www.muffley.plus.com (por gentileza de Frederico Costa)



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