Mas domingo [26 de Setembro de 2004] esteve um belo dia para passear em Londres. Um dia em que o sol espreitou por detrás das constantes nuvens da cidade e sorriu ao pôr-do-sol. Foi o momento mais lindo de um belo dia carregado de episódios inesquecíveis.
Tudo começou pelas 10h da manhã na feira de Spitalfields Market e quando acabou às 2h da manhã em Reading, esse episódio parecia tão longínquo que quase parecia pertencer a outro dia. Não que Spitalfields seja desinteressante, pelo contrário, mas porque no meio de tudo o que se passou dissolveu-se no universo de recordações que agora tento arrumar.
Spitalfields Market é se calhar o melhor mercado que já fui em Londres. Camden é grande demais, Portobello turístico demais e Petticoat pequeno demais. Spitalfields é qb. Nem grande, nem pequeno e turístico suficiente. Cheio de coisas interessantes e gente bonita. Desde roupa exclusiva, roupa usada, móveis retro, móveis modernos, joalharia, quadros, fotografias, couves, comida preparada, adornos corporais, pimentos e batatas, há de tudo num edifício antigo com pouco mais de 2000 metros quadrados. Vale a pena retornar.
Foi em Spitalfields que combinámos nos encontrar com o Miguel Monteiro. Já era a segunda vez que nos tentávamos encontrar desde que estou no Reino Unido, mas da primeira não foi possível porque estávamos em Dublin. O Miguel Braga era suposto encontrar-se connosco para almoçar, mas pelos vistos tinha se deitado tarde e como ele aproveita os fim-de-semana para dormir, ia ser difícil vê-lo antes do pôr-do-sol.
De Spitalfields fomos até casa do Miguel M., em Hampstead, de taxi. Um daqueles taxis londrinos, antigos e com alcatifa. Um raid pela cidade à superfície. Começo a gostar muito mais de viajar de autocarro do que de metro, dentro de Londres. Não é necessariamente mais lento e consegue-se ter uma ideia melhor da cidade. No metro tem- se uma melhor percepção das pessoas e da poluição. Morre-se sempre um bocado quando se anda de metro.
Almoçámos numa pizzaria cheia de miúdos ingleses barulhentos, mas com umas pizzas boas, algures perto da casa do Miguel M.. Ao que se seguiu um passeio pelo Hampstead Heath para fazer a digestão. Depois de uma noite mal dormida a fazer a digestão das massas japonesas, convinha não cometer o mesmo erro com umas simples pizzas. Além disso Hampstead Heath é um dos maiores de Londres, goza do facto de se encontrar numa posição elevada (o que é raro por ali) e permite ter uma visão única da cidade. A quantidade de aviões no ar é impressionante.
Dali foi um decorrer de diferentes tipos de transporte por diferentes zonas de Londres. Começámos num autocarro de dois andares de Hampstead para Oxford Circus, via Camden. A pé até à entrada de Soho e depois de riquexó por Regent Street, Picadilly Circus, Soho, Chinatown e Leicester Square. A pé até a Strand, via Trafalgar Square e depois de taxi de Charing Cross até St. Catherine's Docks, mesmo ao lado da Tower Bridge e da Tower of London.
Um verdadeiro passeio turístico londrino. Nunca pensaria em andar de riquexó em Londres, por pensar ser uma coisa muito turística e até por ser um abuso da condição humana. Mas na verdade é uma ajuda para muitos estudantes estrangeiros que usam o riquexó para ganhar uns dinheiros extras. E nem é assim tão caro e a sensação de andar pelas ruas movimentadas do centro de Londres num dos meios de transporte mais artesanais do mundo (uma carruagem puxada por uma bicicleta) é extraordinária. Aconselho vivamente a que o façam da próxima vez que visitarem a cidade.
A tarde foi passada numa esplanada junta uma marina de veleiros. Ali mesmo ao lado da Tower Bridge. Muito sossegada. A conversa foi rolando. Eu, a Cláudia e o Miguel M. a falar de coisas que a maioria dos gestores portugueses nem sabem que existe e que a maioria das pessoas que conheço iriam achar que era maluquice. Mas no fundo falámos de nós humanos, aquilo que às vezes temos dificuldade em assumir que somos.
Gostei muito daquela tarde e ainda gostei mais do fim dela. Debaixo da Tower Bridge ao pôr-do-sol Londres tornou-se uma cidade bonita. Nunca tinha olhado para Londres como uma cidade bonita. Acho que o facto de ser uma cidade com um tempo cinzento torna-a numa cidade sem luz. Mas naquele momento encheu-se de luz em tons laranjas que lhe deram uma aura de beleza que nunca tinha reparado. Londres é uma cidade bonita. E é mais bonita quando a companhia é boa!
E foi assim que dali passámos a Covent Garden para ir jantar com o Miguel Mira da Silva. O Miguel B. que no entretanto tinha acordado, juntar-se-ia connosco no restaurante, mas com o atraso do novato na cidade - Miguel S. - quase que chegou primeiro que o resto da trupe. Mas o restaurante combinado já estava fechado (domingo à noite em Londres é o deserto) e acabámos por ir ao Tutton mesmo nas traseiras de Covent Garden. Boa comida e um bom ambiente.
Os empregados é que já estavam a ficar fartos daqueles cinco portugueses que nunca mais se calavam e já estava a ficar tarde para eles. Para eles e para nós, porque a estação de Covent Garden já estava fechada e em Leicester Square apanhámos o último metro da linha Northern (via Embankment). Ainda eram 23:30, mas era domingo. Em Stockweel mudámos para a linha Victoria e o metro esteve uns 5 ou 10 minutos à espera do último metro da linha Northern (via Bank). Quando saímos em Brixton estava um grupo de trabalhadores de capacete e fato-macaco à espera que saíssemos para começarem a trabalhar. A estação fechou à nossa saída.
Chegámos a casa do Paulo, Edgar e Miguel, já passava da meia-noite. O Edgar era o único levantado, mas o Paulo ainda apareceu para um dedo de conversa.
Chegámos a Reading às 2h da manhã. |