[Sábado, 28 de Agosto de 2004 – 21:45] Miso Restaurant, Dublin
"Hoje atravessámos a Irlanda de Oeste a Leste. De Killarney para Dublin. Tentámos marcar um hotel para hoje, mas se vierem cá marquem com bastante antecedência porque em cima da hora não se arranja nada. Pelo que acabámos no Camac Valley Camping Park.
Estamos a começar a jantar no centro de Dublin num restaurante oriental. Já bebemos um pint de Murphy's e Kilkany no bar em frente, enquanto esperávamos por mesa.
O ambiente de Dublin não tem nada a ver com o resto do país, mas também aqui vive 40% da população da República da Irlanda. No início achei a cidade suja e perigosa. Acho que estacionei o Besouro na pior parte da cidade. Mas depois de entrar no quarteirão do Temple Bar tudo mudou. Dublin transpira vida e boa disposição. E a quantidade de estrangeiros é mínima, ao contrário de Killarney. A Irlanda talvez fique marcada por ter o país onde passei as piores férias (principalmente quando chove) e talvez o país pague (por factores pessoais) a factura de não ter sido o melhor sítio (agora) para fazer férias (para nós), mas há coisas que não me esquecerei. Dublin (obviamente) é um sítio que não esquecerei.
Só não consigo perceber porque é que as distâncias estão todas em quilómetros e os sinais de limite de velocidade estão todos em milhas por hora [N.R. – Parece ridículo mas é verdade. Não vi uma distância em milhas e nem um sinal de limite de velocidade em quilómetros por hora. Mas o melhor é que os sinais de limite de velocidade não especificam se são em Km/h ou mph, pelo que no início cheguei a andar a 30 km/h em algumas localidades].
Lá fora parqueada está uma bicicleta Órbita. Hoje já vi Madeira Cake e fartei-me de ver Vinho do Porto, mas ver uma bicicleta Órbita? Nunca esperei [N.R. - Depois disto ainda vi mais duas. Deve ser um bom mercado da marca. Tenho que perguntar ao meu primo].
Começou a choviscar. A alegria das pessoas que passam debaixo dos pingos de chuva contrasta com a tristeza que assola todo o meu ser. Ontem debatia-me com as decisões da minha vida [N.R. – Outra vez?]. Se tenho percorrido o melhor caminho ou se apenas deixo-me levar pelo curso normal dos acontecimentos. Será que as decisões que tomei foram as mais acertadas? Que teria acontecido se tivesse tomado outra em dada ocasião?
Será que estaria aqui se tivesse decidido não estudar? Acho que era inevitável estudar [N.R. – O meu pai expulsava-me de casa]. Será que era mais feliz se tivesse tirado o curso de física? [N.R. – Provavelmente estava numa situação idêntica] Era mais feliz se...
Depois li uma história sobre o facto de escolher fazer algo ou não o fazer, num livro que estou a ler (Matrix [N.R. – Banda desenhada e muito pobre]). Mais vale fazer do que viver a pensar o que teria acontecido se não o fizesse [N.R. – Eu afirmo]. Mas quando há duas hipóteses e escolhemos uma, não pensamos inevitavelmente como seria a outra?
Vou comer!"
Comemos muito bem! Pagámos bem, mas nem consegui acabar a comida tal era a quantidade, uma coisa rara aqui por estes lados da Europa (não continental). Eu comi uma espécie de Ramen (uma massa japonesa muito fina e semi doce) com pato e a Cláudia comeu uma massa vegetariana, também muito boa.
Mas esqueci-me de dizer que a caminho de Dublin, e mais ou menos a meio do caminho parámos em Cashel para ver o famosos castelo Rock of Cashel. Bem! Eu acho que quem vai à Irlanda não espere ver grandes monumentos, porque a Rock of Cashel é provavelmente o maior e digo- vos que procurem conhecer os monumentos da vossa terra e ficam muito mais bem servidos. O Cromwell destrui tudo à passagem. Nós não entrámos porque achámos mesmo que era perda de tempo, mas à entrada estavam a sair uns espanhóis e comentaram "Nada de especial". Também não admira, com tanta coisa para ver em Espanha, aquelas quatro paredes ao alto parecem um qualquer monumento abandonado na Galiza ou Astúrias. E ainda cobram entrada. E o parque de estacionamento, mas ao chegar um irlandês deu-me o ticket dele e ficou à borla.
Mas o melhor de Cashel foi o almoço que comemos num tipo de snack- bar/pastelaria, numas casas antigas que ficam entre o parque de estacionamento e o centro cultural Brú Ború (que infelizmente estava fechado). Muito aconchegante.
Ainda vimos uma abadia (Quin Abbey) abandonada mas com vistas muito bonitas sobre o castelo. |