Acordei e fiz um Sirsasana. Tinha que experimentar a sala de meditação e yoga aqui desta casa (que não é a principal). Existe também, no primeiro andar, uma sala fechada que alberga uma colónia de morcegos. Não sei se sabem mas os budistas respeitam todas as formas de vida e existem mesmo alguns 'radicais' que usam um lenço para tapar a boca para não engolirem pequenos insectos involuntariamente.
Vou tomar banho para ir tomar o pequeno-almoço. Ontem 'jantámos' uma soupe de couves, grão e sementes de mostarda. Eles só comem sopa às 6h da tarde e almoçam. Não há jantar.
O monge [N.R. – Lama] e a freira budistas estão para uma missão de caridade na Mongólia. Gostava de os conhecer."
Passámos a manhã em Jampa Ling. Depois de um pequeno-almoço feito de flocos de aveia, mel e fruta, o Desmond, o responsável pelo centro na ausência do Lama, preparou o almoço enquanto nós remávamos no lago junto ao centro. O Desmond é uma personagem indescritível, por diversas razões, mas sobretudo porque é uma pessoa que não merece que pensem mal dele.
De Jampa Ling, de onde saímos por volta das 14:00, seguimos para norte para Sligo na costa Oeste da Irlanda. Nunca entrámos no Ulster mas estivemos mesmo muito perto da fronteira. Só parámos para tirar umas fotografias à montanha Benbulben, onde o escritor Yates quis ser enterrado. Uma meseta mesmo junto à costa e com uma beleza extraordinária. Daí seguimos pela costa até chegar à ilha Achill, que por causa de uma pequena ponte deixou de ser verdadeiramente uma ilha.
[20:50] Calvey's Restaurant, Keel, Achill Island
"(A ouvir 'What a wonderful world') Estamos numa ilha do Oeste da Irlanda. Possivelmente a maior ilha, logo a seguir à própria ilha da Irlanda. Porém esta está ligada à outra por uma ponte.
À frente ao restaurante fica uma bela baía, uma praia de areias finas. Ao fundo ficam uns montes que acabam no mar e de ambos os lados da baía.
Hoje comemoro com pompa e circunstância o meu aniversário de ontem. Por isso estamos num sítio idílico e o tempo melhorou."
[1h mais tarde]
"Idílico o lugar, porque o restaurante não recomendo. Idílico como o Jampa Ling. Idílico como Keel é.
Já estamos na tenda. São 10h da noite, mas temos dormido pouco desde que chegámos a Inglaterra e andamos cansados. Além disso hoje o dia foi cansativo com muitos quilómetros em estradas difíceis e com chuva e sol a alternarem e a tornarem a condução cansativa.
Desde uma povoação com um nome parecido com Gondarém (depois vejo no mapa) [N.R. – Bangor] que as vistas têm sido fenomenais. Pena que quando parámos para lanchar quase fomos comidos por mosquitos. A estrada segue entre um pântano e montanhas junto ao mar. No topo das montanhas com 400-600m as nuvens param como se fossem natas no cimo de um bolo. Uma vista que encheu os olhos até ao climax à chegada aqui em Keel na Ilha de Achill, onde estamos acampados."
Aquilo que achámos que eram pântanos é turfa e que cobre cerca de 1/3 do território de toda a Irlanda e que é usado como combustível nas lareiras e algumas indústrias. Durante toda a viagem era normal ver rectângulos enormes cavados naquilo que achávamos ser terreno pantanoso, assim como era normal ver grandes quantidades de sacos de 'adubo' a secar junto a esses rectângulos e até tractores cheios de porções de pedaços desse terreno pantanoso. Até que ao desfolhar um livro ficámos a saber que era turfa e que era retirado, secado e usado pelas populações.
"Já nos esquecemos que hoje de manhã, ainda em Jampa Ling, estivemos a remar no lago. Como de costume foi uma aventura de descoordenação motora. Demos mais peões com o barco do que andámos em linha recta. Eu não consigo remar de costas e por isso entreguei a tarefa à Cláudia.
Ainda andámos a comer amoras e a saltar cercas de arame farpado com medo dos cavalos. Almoçámos com os budistas, um almoço feito pelo Desmond. Nunca me hei-de esquecer daquele lugar. Espero voltar um dia e conhecer o Lama.
Vou ler um pouco agora, à espera que me venha o sono. Não me lembro o que sonhei ontem, mas sei que o fiz." |