8 CRÓNICA O Vespertino de Reading 19 de Agosto de 2004

A perfeição inglesa

Já começo a subir as escadas pelo lado esquerdo, mas ainda não sou capaz de alinhar o meu carro com os outros no parque de estacionamento. A diversidade é tão bonita e estes ingleses são demasiado amantes da perfeição, mesmo para um perfeccionista como eu.

Mary Niker - Fotografia de Origem Desconhecida

Ainda ontem [18 de Agosto de 2004], num workshop de Iyengar Yoga, que eu e a Cláudia fomos, a dada altura da aula eu era único que não tinha o tapete na longitudinal da sala. Aliás o próprio sucesso do Iyengar em Inglaterra só pode ser explicado por esta procura pela perfeição da maioria dos ingleses, porque, e pelo que fiquei a perceber ontem, esta linha de yoga pretende atingir a perfeição em todas as posturas. Aliás o workshop foram duas horas de posturas de preparação e aperfeiçoamento com vista a fazer na perfeição a postura (que é conhecida por estes lados como) do cão-olhando-para-baixo (downward facing dog - Adho Mukha Svanasana, em sânscrito).

Foi um bom workshop e até nem muito caro - £10 (esqueci-me de dizer que a aula da Veronika Pena de la Jara na segunda [16 de Agosto de 2004] custou £5) – para os loucos preços que se praticam aqui pela terra da Elizabete Regina. E até engraçado que as pessoas são muito correctas no que toca a dinheiro e nunca exigem pré-pagamento. Paga-se sempre no fim da aula.

Mas voltando ao workshop da Mary Niker (é assim que se chama a professora - http://www.marynikeryoga.com/). Fiquei a saber que existem músculos na mão que nem sequer alguma vez pensei usar, como aquele monte entre o polegar e o indicador e que pode ser usado para fazer pressão no chão e ajudar na postura. Além disso usámos toda a forma de blocos, fitas e tapetes de modo a atingir os objectivos físicos nas posturas de uma maneira mais correcta e até confortável. Mas e a parte de concentração? Se calhar era por ser um workshop. Mas irei saber quando for a uma aula a sério lá para Setembro, porque gostei muito do ambiente amigável dos praticantes.

As coisas que mais me surpreenderam foi o facto de usarem obrigatoriamente blocos de esponja, tapetes ou cobertores para fazerem a invertida sobre os ombros (Sarvangasana) para não se magoarem e não deixarem fazer a invertida sobre a cabeça (Sirsasana) a quem não pratica yoga há menos de seis meses. E nenhuma mulher menstruada pode fazer qualquer uma das duas. Parece yoga para americanos. Nem sei porque não nos pediram para preencher um formulário, fazer exames médicos e assinar uma declaração a não responsabilizá-los por eventuais lesões. Aliás a primeira pergunta que a Mary Niker me fez ao telefone foi se tinha alguma lesão. Estranho?

Mas parte do workshop foi feito a pares e na primeira postura quem me ficou a ajudar foi a própria Mary Niker, que me calcou as mãos e me empurrou de maneira a chegar com os calcanhares ao chão. Depois mudei de par e fiquei com uma senhora nos seus 70s e que fez o Sirsasana como uma rapariga de 20s. Alguns dos meus colegas de yoga deviam de a ver para ver se ganhavam vergonha. Mas ela também faz yoga há 20 anos, disse-mo, mas sem grande empenho, porque com 20 anos de yoga poderia fazer muito mais.

Chega de yoga. Não? Ah! Deixem-me só dizer uma última coisa. As aulas não têm música. Nem esta da Mary Niker nem a outra da Veronika Pena de la Jara, que só teve na parte do relaxamento. E ainda me hão-de dizer porque se rola para o lado direito quando se acaba o relaxamento. Mas isso deixo para a minha Guru Cristina para explicar.

Por fim digo-vos que Windsor é pouco mais que o castelo (e já não é pouco) e que deve ser um sítio para japoneses de máquina em punho. Quando fomos lá na terça-feira [17 de Agosto de 2004] o castelo estava fechado (aqui fecha tudo às 17h) e quase só vi MacDonald, Häagen-Dazs e Burguer King, coisas típicas da realeza britânica. Depois está de tal maneira massificado que só apetece fugir, embora àquela hora já nem estivesse lá muito tempo.

Tirámos duas fotografias e voltámos a Reading para ir jantar a casa do David G. (lembram-se dele das crónicas do Japão?) um belo caril tailandês feito pela mulher – Sairung – que é tailandesa. Uma noite bem passada em companhia de pessoas simpáticas e que considero minhas amigas, apesar de serem algo mais velhos do que eu (e a Cláudia). Aliás têm dois filhos – Claire e Mark – que são o belo resultado de uma linda história de amor (dava umas dez crónicas para contar e não vos vou maçar mais, hoje).



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