6 CRÓNICA O Vespertino de Reading 17 de Agosto de 2004

Dorset

Acho que vos deixei ontem nas nossas aventuras pelas belas praias do sul de Inglaterra, algures antes de adormecer em Forest Edge, Ringwwod. Não vos vou maçar muito com a descrição do extraordinário fim-de-semana, mas queria vos deixar algumas dicas para se quiserem visitar a região.

Corfe Castle - Fotografia de Cláudia Fernandes

Quando se acampa acordar cedo é inevitável, mas também para quem se deitou cedo, erguer cedo só faz bem (eu sei que há quem não concorde). Assim, às 10 da manhã estávamos nos Sandbanks de Bournemouth, numa esplanada, a tomar um verdadeiro pequeno-almoço inglês com feijões doces e tudo. O Besouro estacionado mesmo em frente num estacionamento grátis de 20 minutos, mas que escusado será dizer foi usado por mais tempo. Até uma chuvinha nos fez companhia não estivéssemos nós na Inglaterra. O que vale havia toldo.

Não havia era paciência era para os empregados do café que por duas vezes se enganou e trouxe-nos White Coffee e Latte em vez de um Black Coffee. E claro que estas confusões todas não trouxe os talheres e os guardanapos, o que depois foi remediado. O sumo de laranja é que nunca veio, pelo menos para a mesa, porque na conta constava. E depois nós é que roubamos os turistas. Se forem a Bournemouth cuidado...

Àquela hora da manhã não havia quase ninguém na rua e na baía viam-se uns jovens de meia idade a aprender a fazer Windsurf. Uma linda figura que eu desejo fazer quando voltar a Portugal.

Dali rumámos a Corfe Castle. Com tanto café, feijão, bacon e ovos era normal que os intestinos quisessem fazer o seu trabalho e mais uma vez agradeço aqui ao povo britânico por não cobrar dinheiro para termos acesso a uma casa-de-banho pública. Digamos que Corfe Castle é bonito, mas naquele momento o interior da casa-de-banho era muito mais agradável que a exposição do centro de recepção, que estava muito bem organizado por sinal.

Demos a volta ao castelo, se se pode dar esse nome a uns muros em ruínas num topo de um monte, em que se cobram alguns £5.00 para entrar. Claro está que não entrámos. Acho que ainda vou comprar uma t-shirt com os dizeres "I don not trust the National Trust" (O National Trust é o organismo responsável pelo restauro e conservação da maioria dos monumentos aqui na Gran-Bretanha).

Porém mais bonito que o castelo é a própria aldeia com as casas de telhados de palha, placas de pubs e lojas penduradas, portas coloridas e janelas cheias de flores. Subimos a um monte para tirar umas fotografias e ainda vimos o comboio a vapor a chegar à estação. Sim! Aqui ainda andam a vapor! Pelo menos entre as aldeias turísticas. Muito bonito!

Ainda gozámos com o facto daqueles serem os primeiros montes dignos desse nome que vimos desde que chegámos a Inglaterra. Aliás subir 70 degraus para chegar ao alto daquele monte de para aí uns 50m de altitude fez-nos sentir com o mal de montanha. Acho que João Garcia ainda não subiu ao monte sobranceiro de Corfe Castle, mas tenho quase a certeza que fomos os primeiros portugueses a subi-lo com gases.

Dali fomos para Studland (“Terra dos Garanhões” traduzindo à letra). A Cláudia, a minha co-piloto vinha distraída e por pouco estávamos a entrar num ferry de volta a Bournemouth. O que vale é que nos apercebemos pela fila de carros que aquilo não era bem o que queríamos. O que queríamos era ir ver o mar. E foi o que fizemos, embora para isso tivéssemos que caminhar uma milha.

Na última duna antes da praia um sinal dizia “Beyond this point you can find naked people”. Já sabíamos que havia uma praia de naturistas, mas assim que chegámos à praia ficámos a saber que naturista é quase a mesma coisa que exibicionista, pois mesmo junto ao caminho e virado mesmo para quem chegava estava um “naturista” a exibir os seus atributos. Sem cerimónias resolvi dar um mergulho como os meus pais me fizeram vir ao mundo (um bocado mais gordo, é verdade!).

Nada como uma cervejinha para melhorar o ambiente e assim que voltámos a Studland deparámos com um Beer Festival. Mais de uma centena de cervejas para escolher e um belo cachorro quente. Convinha pois ainda nos esperava uma caminhada para ver as falésias brancas, património da humanidade. Escolhemos uma Indian Pale Ale (IPA) e uma Sussex Best, quentes e amargas. Souberam muito bem.

Dali ao Old Harry e às falésias foi um instante. Não vos vou descrevê-las porque vos mando as fotografias. E acho que neste caso uma imagem vale por mil palavras embora nada substitua a verdadeira presença no local para desfrutar do mesmo.

Já chegava para um dia e faltava voltar a Reading. Resolvemos vir por estradas secundárias para não apanhar trânsito e acho que valeu a pena. Ainda jantámos com o Freddy, um arroz e uns ovos mexidos com bacon (duas vezes no mesmo dia faz mal?) e vimos um filme antes de ir dormir. Estoirados mas com os olhos cheios de coisas boas.

Percurso - Uma gentileza Michelin Needles - Fotografia de Cláudia Fernandes


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