16 de Agosto de 2004 O Vespertino de Reading CRÓNICA 5
Tacões na Gravilha - Fotografia de Rui Gonçalves

New Forest

Foi um belo fim-de-semana! O tempo esteve bom e fomos passear. Foi tudo decidido à última da hora, mas correu tudo bem.

Na sexta-feira [13 de Agosto de 2004] telefonámos para um parque de campismo, marcámos uma noite e comprámos uns colchões e umas (há muito sonhadas) cadeiras. Mas não são umas cadeiras quaisquer. Não! Estas têm um local para pôr a lata de cerveja. Nessa noite, ainda saímos com o Freddy, fomos jantar ao restaurante Thai Corner (preciso de dizer que é tailandês?) e bebemos uma pint no pub The Horn. Deitámo-nos cedo, pois às onze o sino toca no pub e já não há mais bebidas para ninguém.

Sábado [14 de Agosto de 2004] saímos tarde. Não porque tivéssemos acordado tarde, mas porque moro mesmo no centro de Reading e para conseguir chegar com o carro a casa é obra, com as ruas todas bloqueadas e só de acesso a autocarros. Assim tivemos que transportar os sacos até ao carro.

Saímos em direcção a Southampton, via Basingstoke (Ken e Sue, agora compreendo porque se mudaram para Portugal!). No caminho, por engano, saí da M3 e fui parar uma aldeia muito castiça, de seu nome Micheldever. Foi o nosso primeiro contacto com a Inglaterra rural, as casas brancas com telhado de palha e portas coloridas. A verdadeira Inglaterra.

Nem entrámos em Southampton, seguimos directos para a New Forest, uma antiga coutada real de caça que se pretende que continue uma zona de preservação da natureza. Apanhámos um bocado de trânsito, porque estava sol e os ingleses decidiram rumar às belas praias do sul, mas assim que entrámos na New Forest já poucos eram os carros. E em vez dos carros eram cavalos por todo o lado. E veados! Vimos uma manada de veados logo à saída de Lyndhurst.

Daí para a frente a estrada encolheu e voltou a encolher, de tal maneira que por vezes tinha receio de estar em contra-mão. Havia sítios que a estrada era tão estreita e com as árvores cobrir o caminho que tinha a sensação de estar num túnel. Verde! Muito verde. E violeta, pois havia alfazema por todo o lado.

Parámos em Bucklers Hard, onde supostamente os barcos de Lord Nelson foram construídos, mas eram £5.00 por cabeça para entrar e ver um edifício em tijolo vermelho. Para isso vou ver a fábrica Campos em Aveiro e ainda janto no Olaria, e à saída ainda vejo uns moliceiros. Aqui paga-se tudo! Menos as casas-de-banho, ao contrário de França que até isso se paga. Já estão a ganhar aos franceses.

Entre Bucklers Hard e Lymington fomos até mesmo perto da água. Nada demais, a não ser a quantidade de barcos a velejar. Aqui se vê a diferença com Portugal, pois nós que nos dizemos com longa tradição no mar não temos poder económico para ter um veleiro, mas aqui (e em França) são capazes de não comprar uma casa para poder viver um veleiro. Nós somos muito dependentes da casa e do carro.

Do outro lado vê-se a Ilha de Wight, cujas falésias brancas vimos perfeitamente do Hurst Castle, já em Milford-on-Sea, uns quilómetros (ou milhas) à frente. Aí parámos o Besouro, junto a um riacho com cisnes e fomos a pé por uma estreita franja de gravilha até ao tal forte. Mais uma vez, £3.50 para ver um forte a dar as últimas.

O Castelo até nem é nada de especial, mas o interessante foi ver uma típica rapariga inglesa a fazer aquela milha em gravilha, de sandálias de salto alto. Eu gostava de saber como é possível levar a cabo tamanha façanha atendendo que também estava a ficar fresco e a rapariga apresentava vestimenta própria para um bom dia de verão numa qualquer estância balnear mediterrânica. Acho que dava um belo quadro para um filme – Tacões na Gravilha.

Ainda fomos a Bournemouth ver as famosas praias de areia branca do sul de Inglaterra. Uma espécie de Biarritz inglês, mas mais frio, embora a água estivesse agradavelmente morna (ou seria o exterior que estaria desagradavelmente frio? Não!). Pena que a rua da praia esteja fechada ao trânsito e só mediante o pagamento de um estacionamento (mais uma vez) se possa lá entrar de carro. Parámos na falésia e admirámos a praia do ar. O local estava repleto de judeus vestidos a rigor, provavelmente provenientes de um qualquer casamento com mais de 300 convidados.

Fomos para o nosso parque de campismo - Forest Edge – e, por hoje, deixo-vos com o que escrevi no meu Moleskine antes de me deitar às 10 da noite, depois de umas San Miguel (que me custaram os olhos da cara), morto de cansaço e de sono. Foi escrito às escuras e se vocês vissem a quantidade de erros que tem. Fiquem atentos!

Forest Edge – Ringwood 14 de Agosto de 2004

O sol já se pôs. Ouvem-se os carros na estrada ao lado, os vizinhos na conversa e os miúdos na brincadeira. Estes ingleses fazem filhos como os ratos (desculpem-me Ken e Sue). A humanidade está salva no que toca a quantidade mas está muito mal no que toca à qualidade.

Já não via um parque tão cheio, barulhento e sui-generis desde que estive no sul de Espanha, antes de nos casarmos. Há gambiarras em tendas, roulottes por todo o lado e o nosso iglô é a tenda mais pequena das 500 que aqui devem estar (estou a exagerar, tem 500 lugares, o parque, e alguns têm roulottes). Mas uma coisa tenho que escrever, a verdade é que está organizado. As pessoas acampam em alvéolos e há caminhos entre eles. Mas a organização chega a ver-se no pub [n.r. o parque tem um pub. Sim!], pois £7.95 por 3 cervejas é crime organizado. Assim como os £22.00 para acampar.

O nosso vizinho acendeu umas tochas e decidiu tocar guitarra. Porque é que não incendiou a guitarra e tocou tochas? Tinha mais jeito.

Comemos um Chow Mein daqueles misture-água-mexa-deixe-ferver-e-coma. Já não comia nada tão bom desde que na Finlândia comi uma pasta de rim que o meu corpo rejeitava por todos os seus poros. O gengibre que se põe por aqui na comida não é muito do meu agrado.

Mas falemos das coisas boas do dia (embora eu esteja a adorar estar aqui se comparado com a barulheira de Reading). A Inglaterra afinal tem praias. Mas com os preços que aqui se praticam já sei porque vão todos para o Algarve, Ibiza ou Chipre. E o tempo esteve bom. Não choveu nem uma pinga até agora. Esteve tão bom que apanhámos filas em todo o lado, na estrada. Sim porque nos monumentos, com preços entre os £3.00 e £5.00 é impossível haver filas. Nem nós fomos lá.

Acho que vou dormir cedo. Se não adormecer nestas maravilhosas cadeiras.



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