11 de Agosto de 2004 O Vespertino de Reading CRÓNICA 3
Torre de St. Giles - Fotografia de Rui Gonçalves

O novo começa a ser o habitual

Hoje já dormi bem melhor (ao contrário da Cláudia). Sinto-me revigorado. Até comecei o dia com uma invertida sobre a cabeça (Sirsasana) de 3 minutos. Já nem precisei de um café tão forte.

Começo a sentir-me mais normal. A cabeça tem andado num rodopio com toda a informação que aflui a ele e a uma velocidade que não consegue acompanhar. O conhecimento começa a ser assimilado e arrumado nos compartimentos certos do meu cérebro. O novo começa a ser o habitual.

Já venho de carro sem problemas. Embora a ida ainda não esteja completamente assimilada, o que me fez ontem andar às voltas em rotundas e becos sem saída até encontrar o sítio certo da garagem, para estacionar o Besouro. O Besouro está quase controlado.
O facto de ser um carro a gasolina, e estar habituado a arrancar em segunda no meu jipe, ainda me faz perder algum tempo nos verdes. E ainda procuro o cinto de segurança do lado errado, mas é como diz a Antonia, isso vai ser sempre assim.

Até já percebo quando me dizem “Cheers. Me friend is a nice bloke. He’s going out with a gal that I donno. He’s a cheeky boy! He drives a lorry and he paid 1 quid 99 pi for a lager. Lovely!

Mas ainda não sou de cá (também em três dias). Hoje fui comprar uma sandes aqui no rés-do-chão, num quiosque que ali tem e que se dá pelo nome de ToGo (acho que não podia ser mais óbvio). A sandes era de
ontem, porque as de hoje ainda não tinham chegado, e a tipa (que é fanhosa) decidiu aquecê-la na tostadeira, que por sinal estava desligada (devo ter chegado mesmo cedo). E disse-me “Quer voltar ou senta-se ali à espera? São 4 minutos.” Uma coisa que sempre me surpreendeu nestes ingleses é usarem quantidades de tempo inferiores a 5, 10 ou 15 minutos como referência e acima de tudo, cumpri-las. Mas na verdade estive à espera cerca de 10 (sou português e não consigo memorizar quantidades que não sejam múltiplos de 5) minutos. Falhou!

Depois há coisas que só me habituo porque já estive nos Estados Unidos. Como, por exemplo, a bela da sandes como almoço. Para um povo que está habituado a comer desenfreadamente ao almoço, como o português, parece ridículo que se consiga sobreviver com uma simples sandes de almoço. Mas quem é que está errado? Nós ou eles? Eu penso que somos todos. Nem um almoço farto é bom nem tão pouco uma sandes serve de alimento. Porém temos que ter em conta que eles têm o hábito de tomar um bom pequeno-almoço, embora aí também eu acho que há algum exagero. Nem é pelo “bacon and eggs”, mas sim pelo feijão doce. Como é que alguém consegue comer aquilo ao pequeno-almoço? Mas ainda não tenho saudades da comida (esperem mais umas semanas).

Além disso aqui a escolha é muito maior. Eu gosto muito da comida portuguesa, mas também gosto da indiana (fui criado com fortes influências da comida praticada em Moçambique que tem bastantes influências indianas), da tailandesa, da chinesa, da japonesa, da espanhola e da italiana. E quem sabe da inglesa, se a encontrar em algum lado em que possa pagar (a que comi no The George and Dragon, com o David, era muito boa).

Eu gosto de comer e acho que começo a ficar com tempo para aceitar alguns convites para estar com alguns amigos das redondezas. Como o Miguel, que mal cheguei me convidou para ir jantar a Londres, mas que infelizmente não pude aceitar, porque era o meu primeiro dia aqui. O David que deve estar à espera que lhe telefone. Ou o Luís, ou o Paulo, ou o Prashant... Em breve!



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