Desculpem não vos ter escrito ontem
[15 de Dezembro de 2003] mas acho que ainda estava a recuperar
do longo dia de domingo [14 de Dezembro de 2003] e do longo
jantar de despedida do David, que no entretanto já partiu.
Acho que estava um bocado amassado e com dor de cabeça,
além de que o cansaço acumulado começa
a dar frutos... Não muito doces!
Mas deixemos as lamentações e
desculpas para um outro dia e vou vos falar de Tokyo. De Ueno
a Shibuya passando por Ginza, de um parque em cores de outono
a lojas de nove andares passando por feiras de rua, de templos
dourados a paredes de néon passando por imenso tempo
dentro de comboios, Tokyo é uma cidade cheia de contrastes,
tentações, luz e muita gente.
O dia começou à hora do costume.
10:00 para o pequeno-almoço no hotel, mesmo quando se
acaba de jantar às 3:00 da manhã e se brinda
com Sakê à saúde de quem viaja no dia seguinte.
Só para terem ideia de como não é fácil
decorar as estações e as linhas de comboio fiquem
na ideia que a viagem começou em ShinYokohama na linha
verde (Sim! Tem um nome, mas acreditem que as cores são
mais fáceis de decorar), saí em Higashi-Kanagawa
e mudei de comboio para chegar a Yokohama. Aí mudei
para a linha laranja até Tokyo (passei em Kawasaki,
Shinagawa e Akihabara, sendo esta última a conhecida
zona do material electrónico mais barato) . Em Tokyo
mudei para a linha verde clara (que é a circular de
Tokyo) e saí em Ueno.
Sempre com o Fuji-san no horizonte. O magnífico
monte Fuji que surpreendentemente mal vi da primeira vez que
cá estive, mas que agora com as claras manhãs
de inverno, consigo ver quase todos os dias. Como diria o David
uma montanha é uma montanha, mas a magnificência
do monte Fuji está no facto de ser único e branco.
Lá no fundo um monte com uma perfeita forma de um cone,
com a ponta cortada e a escorrer neve, no fim de uma planície
infinita de casas é magnífico. Mas o David ainda
não o tinha visto, porque ontem depois de ter ganho
coragem e se ter aproximado da janela do seu quarto no quadragésimo
quinto andar do hotel, avistou-o e já admitia que o
Fuji-san é um Sr. Monte (Os japoneses tratam-no como
uma pessoa, por isso dizem Fuji-san e não Fujiyama que
significa Monte Fuji).
Mas voltando, numa hora estava em Ueno Kuen
(o parque de Ueno).
O parque de Ueno é assim como um pequeno
Central Park de Tokyo e à hora que cheguei, chegaram
também algumas largas centenas de pessoas. As flores
das árvores estão com as cores de Outono, amarelas,
castanhas, vermelhas e roxas e há performers em
todas as esquinas. A minha primeira paragem, depois de uma foto
a
uma árvore carregada de corvos, foi para ver um tipo
que estava todo vestido de licra preta, incluíndo a
cara, apenas com uns óculos de aros amarelos e que fazia
mímica, ao som da música do Michael Jackson.
Segui até ao santuário (se se
pode chamar isso numa religião onde não existem
santos) de Toshogu dedicado ao primeiro Shogun que estabeleceu
Edo (antigo nome de Tokyo) como capital do Japão. O
caminho que leva ao santuário é ladeado por enormes
lanternas de pedra, mais altas do que eu e com cerca de um
metro de diâmetro, ao fundo o vermelho e dourado das
paredes contrastam com o cinza da pedra que é colorido
pelas folhas amarelas e vermelhas que caem das árvores.
Do lado direito fica o Jardim Zoológico, onde a casa
dos pássaros é um edifício, género
pagode chinês, com cinco andares, todo vermelho e cheio
de branco das fezes das garças e demais habitantes.
Mas mesmo assim é bonito.
Não resisti e paguei os 200 yens para
entrar no santuário. Não é que haja muita
coisa para ver dentro (mesmo não sabendo antes de entrar)
mas senti-me atraído por aquela atmosfera de calma e beleza.
Não me arrependo de o ter feito, pelo contrário,
porque se da última vez que cá estive os templos
estavam sempre fechados, desta vez não queria ficar
de fora a vê-los.
O caminho leva à porta lateral do santuário,
depois de dar uma volta ao mesmo. Aí tive que me descalçar
par continuar a rodar o edifício mas por uma varada
a cerca de um metro do solo e com a largura suficiente para
eu caber. Felizmente o chão do varandim está coberto
com uma manta de palha, porque estava frio. Finalmente depois
de uma volta completa ao santuário entra-se para o seu
interior, directamente para a sala do altar que fica num nível
inferior. Sentei-me em lótus, como todos os presentes,
para que conseguisse apreciar a beleza da sala e do
momento. Sem dúvida esta última era maior, não
que a sala fosse feia, mas porque era um altar dourado e simples,
apenas com uns vasos e uma estrutura metálica com um
símbolo semelhante às divisas da tropa.
De repente um homem, que estava ao meu lado, levantou-se colocou
umas moedas numa caixa, bateu as palmas duas vezes, colocou
as mãos como se estivesse a rezar (Sim! É semelhante
em muitas religiões) e fez uma vénia.
Prossegui a visita, subindo ao compartimento
um pouco acima e à frente do altar, onde estava uma
exposição que como devem imaginar não
percebi muito bem as legendas. Mas havia um tambor japonês
(Tayko) não muito grande, só com um metro de
diâmetro e um metro e meio de comprimento, mas com um
som espectacular (se eu tivesse espaço na mala levava
um...) e uma armadura de combate de um Samurai, não
muito rica em detalhes, pelo que não percebi se era
do Shogun, mas duvido. A um canto estavam três placas
de madeira com caracteres japoneses encimadas por uma suástica
invertida (o símbolo que representa o coração
de Buda, vejam só como um símbolo pode ser tão
denegrido quando mal usado) e alguns quadros de samurais nas
paredes. Nada de especial depois do magnífico momento
na sala do altar.
Do templo fui passear para perto do lago Shinobazu,
uma mistura de parque de diversões, Jardim de Lótus
(estavam secos, Cristina) e habitat de aves do Jardim Zoológico.
Do outro lado havia um prédio altíssimo e com
cerca de dez metros de largura, só na sua altura e que
impressionava, sabendo-se que estamos numa zona muito sísmica.
Imagino o abanão no último andar... Uma pessoa
até pode ser projectado da janela... Para o lago!
E voltei a Ueno. Às ruas de Ueno e ao
mercado. Vende-se de tudo, desde peixes com um metro a carteiras
Louis Vuitton. Não comprei nada, mas fiquei agradavelmente
surpreendido com o que vi. Vida! Muita vida nas ruas, para
quem apenas tinha andado às compras em estabelecimentos
fechados é bom ver um mercado a ferver de gente. Acho
que já me começo a habituar às multidões.
E por falar em multidões. Se em Shibuya
fiquei banzado com a quantidade de gente, não imagino
o que me teria acontecido se tivesse ido a Ginza no domingo
passado. Na verdade parece menos gente, porque as ruas são
mais largas, mas com o dinheiro que tem no bolso e as compras
que transportam de certeza que ocupam mais espaço. Ginza,
para onde fui depois de deixar Ueno, é com certeza a
zona das compras mais caras de Tokyo. Tudo quanto é marca
de alta costura francesa está lá. Os carros estacionados
vão desde Ferraris a Mercedes, passando pelo caríssimo
(?) Renault Scénic 4x4. Uma zona digna de Beverly Hills,
mas numa dimensão algumas vezes maior. Umas dez!
Estava a anoitecer quando cheguei a Ginza, uma
estação antes da central de Tokyo. Eram 16:30!
Como é possível não haver sol no país
do sol nascente... Só percorri duas ou três ruas.
Entrei num department store para tentar comprar algumas
prendas de Natal. Mas, nem parei nos andares de roupa. Pela amostra
não devo ganhar tão bem como alguns turistas
e japoneses que por lá andavam.
Mas o mais impressionante foi que nessa department
store havia uma zona dedicada aos sacos e carteiras Louis
Vuitton, com pelo menos dois andares de cerca de 12x12 metros,
e (vejam
só) com guarda à porta. Ainda há pouco
as vendiam por 15 ou 20 contos na rua e eram umas imitações
feitas por chineses e vendidas por israelitas, imagino quanto
custariam em Ginza na zona mais rica da cidade mais consumista
do mundo. E para terem guardas à porta da secção
Louis Vuitton...
Estava a ficar farto de compras e aquelas não
me diziam nada. Fugi para Shibuya, sem dúvida a melhor
zona de compras em Tokyo. Em meia-hora comprei quase todas
as prendas a que me tinha proposto, e ainda comprei umas coisas
para a minha casa. Comprei as prendas todas de Natal. Devem
imaginar que não consigo levar tudo comigo, por isso
algumas vão pelo correio. Esperem pela vossa...
No entretanto o David telefonou para combinar
o jantar de despedida dele. Quando voltei ao hotel, fomos jantar.
Os franceses viriam mais tarde, porque esses têm trabalho.
Começámos às 22:15 e acabámos muito
próximo das 2:00 da manhã...
Percebem agora porque não vos escrevi
ontem? Desculpem!
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