Cá estou eu de novo numa bela noite de
sábado [13 de Dezembro de 2003] a trabalhar. Já cá estou
há quase 9h e ainda me esperam umas duas ou três.
Uma pessoa habitua-se a isto... Mas na verdade quer é outras
coisas.
Neste momento acabou-se-me o trabalho que tinha
para fazer, em Portugal. Tenho que esperar que os meus colegas
me mandem alguns dados para continuar o documento que estava
a escrever. O trabalho aqui está na mesma, não
faço muito, mas pode mudar a qualquer momento. Mas,
se já fazia pouco aqui, com a chegada hoje do Fabrice
(outro Fabrice) passei a fazer menos, porque os problemas que
eu andava a acompanhar passaram para ele, porque são
da área de competência dele. Esperam-lhe duas
semanas de seca em Kamoi... Sim! Ele fica cá no Natal!
O outro Fabrice voltou para França na
quinta [11 de Dezembro de 2003], assim como o Derick e o Tim.
Já vos contei da "timidez" do Tim na quarta,
pelo que devem perceber que não fiquei nada surpreendido
quando eles se foram embora para o hotel sem dizerem nada.
Não percebi porque é que o Derick tanto falou
em irmos beber um copo e depois desaparece sem dizer nada.
Mas para é que nós precisamos da companhia dos
nossos chefes para ir beber um copo.
Nesse dia saímos tarde... Que novidade!
Ainda mais tarde, perto da meia-noite e fomos jantar a Shin-Yokohama,
como de costume num daqueles restaurantes franchisados que
ficam em diferentes andares do mesmo prédio, entre as
meninas que vendem massagens e o hotel. Entrámos numa
Izakaya, descalçámo-nos e sentámo-nos
numa mesa. Esperámos! Esperámos! E esperámos!
Ninguém apareceu... Gritámos umas duas vezes "sumimasen" e
ninguém... Calçámo-nos e descemos um andar...
Era o mesmo restaurante e estava cheio! E nem precisámos
de nos descalçar...
Começámos a comer por volta da
1:00 e só acabámos muito perto das 3:00. Mudámos
de restaurante e fomos ter com o Chris, Stephan e Stéphanie
que estavam no "My Pleasure", um restaurante Kareoke
bar a comemorar a partida do Chris para Hong Kong no dia seguinte.
Deitei-me às 4:00, isto porque nos recusámos
a ir ao kareoke, porque da última vez que eles foram
deitaram-se as 6:00.
Na verdade se não são estes momentos
que é que nós vivemos do Japão? A fábrica
saída do Blade Runner, que nesse dia ainda estava mais
parecida, porque chovia e estava frio? Ou os domingos em que
temos oportunidade de passear, mas que nem conseguimos
abrir os olhos porque tivemos a semana toda fechados
numa sala em que não há janelas? Na verdade,
ando a dormir muito pouco para o que é normal, mas nem
tenho tido sono, porque se não for beber um copo e conversar
depois de sair daqui, o mair provável é que voltasse
numa camisa de forças e a berrar em japonês.
Essa noite foi particularmente agradável,
porque até então o dia foi muito desagradável.
Se o nosso esforço não foi apreciado pelos nossos
superiores, pelo menos a nossa companhia é apreciada
pelos nossos colegas, sejam eles franceses, ingleses ou portugueses.
E até japoneses, porque ontem [12 de Dezembro de 2003]
fomos jantar com o Nakanai-san, um tipo muito divertido. Mas
já lá vamos, estava sentado no chão da
Izakaya "My Pleasure" com dois franceses e dois ingleses.
Estava em minoria, mas pelo menos percebia toda a gente...
Se estivesse outro português eles é que não
nos percebiam. Também não é verdade porque
a Stéphanie já aprendeu português, porque
teve um namorado português e o David anda a aprender,
mas com uma professora brasileira. Qualquer dia aparece-me
para aí a dizer "Oh! Chapa me dá mais choupinho".
Mas, o pior foi acordar. Nada que já não
devesse estar habituado, mas a meio da tarde a coisa complicou-se.
Principalmente porque ao almoço fomos comer com outro
Chris, este alemão, e com o Muto-San, um japonês
de Sapporo que estava de chagada vindo de Shangai (não
queiram saber). Foi um almoço curioso, imaginem na mesma
mesa, um alemão, um inglês, um português
e um japonês. Mas o mais curioso, foi quando o Chris
soube que o Muto-san tinha estado uns anos na Suiça
e falava alemão. E ainda mais curioso ficou quando o
Muto-san soube que o David é casado com uma tailandesa.
Devem estar a imaginar a surpresa de um alemão que fala
japonês e vive no Japão há 4 anos, quando
começou a falar em alemão com um japonês
que até sabia falar umas coisas de tailandês com
o um inglês que viveu uns anos na Tailândia. Se
no dia anterior era eu quem percebia as línguas todas,
naquele almoço era o único que não percebia
nenhuma. Como se muda depressa de campo...
Comemos Ramen, ou coisa que o valha, num restaurante
saído da ilha de Okinawa no Kill Bill vol. 1, do Quentin
Tarantino. Só faltava mesmo a Uma Thurman, porque para
diálogo esquisito já bastava o germo-tailando-inglês
falado durante a refeição. O que comemos é tipo
esparguete de arroz, grelhado numa chapa, misturado com vegetais
grelhados na mesma chapa, com uma panqueca de ovo por cima
e muito molho yaki por cima. O meu era com queijo e com massa
muito grossa. Soba mas com alguns 8 milímetros de diâmetro,
uma série de bichas solitárias. Fiquei cheio...
Acho que já não estou habituado a almoçar!
À noite... Bem depois da meia-noite fomos
jantar com o Nakanai-san, como já vos disse. É um
tipo divertido! Esteve a trabalhar na China e casou-se com
uma chinesa. Agora quer ir para a Europa. Estive a convencê-lo
a ir para Portugal, sempre podia mudar algumas coisas! Mas
não foi por isso que o estive a convencer, mas porque
acho que ele ia gostar. Porém, o melhor da noite foi
quando o David se lembrou de pedir às vizinhas da mesa
ao lado para nos tirarem uma fotografia. Tira uma e tira outra,
e de repente já estavam elas sentadas na nossa mesa
a aparecerem nas fotografias. Fazem tudo para aparecerem e
tirarem fotografias. Mas coitadinhas, nem andar sabem...
Mas, parece que pelos vistos só vos falo
de comida, mas durante a semana é quase a única
coisa que consigo falar para além dos tubos de aquecimento
que passam por cima da minha cabeça ou das máquinas
de café, que já aprendemos a mexer e já sabemos
diminuir a quantidade de açucar e aumentar a dose de
café, que é o que precisamos.
Hoje tenho um jantar de despedida da Stéphanie,
amanhã vou passear para Ueno em Tokyo e à noite
tenho um jantar de despedida do David que volta na segunda.
Fico cá eu com o Fabrice... Não sei se terei
muita pachorra para o aturar e ele a mim, mas logo veremos!
Até segunda.
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