SÁBADO, 13 DE DEZEMBRO DE 2003 D23
Jardim de Lótus (Secos) - Fotografia de Rui Gonçalves

Cá estou eu de novo numa bela noite de sábado [13 de Dezembro de 2003] a trabalhar. Já cá estou há quase 9h e ainda me esperam umas duas ou três. Uma pessoa habitua-se a isto... Mas na verdade quer é outras coisas.

Neste momento acabou-se-me o trabalho que tinha para fazer, em Portugal. Tenho que esperar que os meus colegas me mandem alguns dados para continuar o documento que estava a escrever. O trabalho aqui está na mesma, não faço muito, mas pode mudar a qualquer momento. Mas, se já fazia pouco aqui, com a chegada hoje do Fabrice (outro Fabrice) passei a fazer menos, porque os problemas que eu andava a acompanhar passaram para ele, porque são da área de competência dele. Esperam-lhe duas semanas de seca em Kamoi... Sim! Ele fica cá no Natal!

O outro Fabrice voltou para França na quinta [11 de Dezembro de 2003], assim como o Derick e o Tim. Já vos contei da "timidez" do Tim na quarta, pelo que devem perceber que não fiquei nada surpreendido quando eles se foram embora para o hotel sem dizerem nada. Não percebi porque é que o Derick tanto falou em irmos beber um copo e depois desaparece sem dizer nada. Mas para é que nós precisamos da companhia dos nossos chefes para ir beber um copo.

Nesse dia saímos tarde... Que novidade! Ainda mais tarde, perto da meia-noite e fomos jantar a Shin-Yokohama, como de costume num daqueles restaurantes franchisados que ficam em diferentes andares do mesmo prédio, entre as meninas que vendem massagens e o hotel. Entrámos numa Izakaya, descalçámo-nos e sentámo-nos numa mesa. Esperámos! Esperámos! E esperámos! Ninguém apareceu... Gritámos umas duas vezes "sumimasen" e ninguém... Calçámo-nos e descemos um andar... Era o mesmo restaurante e estava cheio! E nem precisámos de nos descalçar...

Começámos a comer por volta da 1:00 e só acabámos muito perto das 3:00. Mudámos de restaurante e fomos ter com o Chris, Stephan e Stéphanie que estavam no "My Pleasure", um restaurante Kareoke bar a comemorar a partida do Chris para Hong Kong no dia seguinte. Deitei-me às 4:00, isto porque nos recusámos a ir ao kareoke, porque da última vez que eles foram deitaram-se as 6:00.

Na verdade se não são estes momentos que é que nós vivemos do Japão? A fábrica saída do Blade Runner, que nesse dia ainda estava mais parecida, porque chovia e estava frio? Ou os domingos em que temos oportunidade de passear, mas que nem conseguimos abrir os olhos porque tivemos a semana toda fechados numa sala em que não há janelas? Na verdade, ando a dormir muito pouco para o que é normal, mas nem tenho tido sono, porque se não for beber um copo e conversar depois de sair daqui, o mair provável é que voltasse numa camisa de forças e a berrar em japonês.

Essa noite foi particularmente agradável, porque até então o dia foi muito desagradável. Se o nosso esforço não foi apreciado pelos nossos superiores, pelo menos a nossa companhia é apreciada pelos nossos colegas, sejam eles franceses, ingleses ou portugueses. E até japoneses, porque ontem [12 de Dezembro de 2003] fomos jantar com o Nakanai-san, um tipo muito divertido. Mas já lá vamos, estava sentado no chão da Izakaya "My Pleasure" com dois franceses e dois ingleses. Estava em minoria, mas pelo menos percebia toda a gente... Se estivesse outro português eles é que não nos percebiam. Também não é verdade porque a Stéphanie já aprendeu português, porque teve um namorado português e o David anda a aprender, mas com uma professora brasileira. Qualquer dia aparece-me para aí a dizer "Oh! Chapa me dá mais choupinho".

Mas, o pior foi acordar. Nada que já não devesse estar habituado, mas a meio da tarde a coisa complicou-se. Principalmente porque ao almoço fomos comer com outro Chris, este alemão, e com o Muto-San, um japonês de Sapporo que estava de chagada vindo de Shangai (não queiram saber). Foi um almoço curioso, imaginem na mesma mesa, um alemão, um inglês, um português e um japonês. Mas o mais curioso, foi quando o Chris soube que o Muto-san tinha estado uns anos na Suiça e falava alemão. E ainda mais curioso ficou quando o Muto-san soube que o David é casado com uma tailandesa. Devem estar a imaginar a surpresa de um alemão que fala japonês e vive no Japão há 4 anos, quando começou a falar em alemão com um japonês que até sabia falar umas coisas de tailandês com o um inglês que viveu uns anos na Tailândia. Se no dia anterior era eu quem percebia as línguas todas, naquele almoço era o único que não percebia nenhuma. Como se muda depressa de campo...

Comemos Ramen, ou coisa que o valha, num restaurante saído da ilha de Okinawa no Kill Bill vol. 1, do Quentin Tarantino. Só faltava mesmo a Uma Thurman, porque para diálogo esquisito já bastava o germo-tailando-inglês falado durante a refeição. O que comemos é tipo esparguete de arroz, grelhado numa chapa, misturado com vegetais grelhados na mesma chapa, com uma panqueca de ovo por cima e muito molho yaki por cima. O meu era com queijo e com massa muito grossa. Soba mas com alguns 8 milímetros de diâmetro, uma série de bichas solitárias. Fiquei cheio... Acho que já não estou habituado a almoçar!

À noite... Bem depois da meia-noite fomos jantar com o Nakanai-san, como já vos disse. É um tipo divertido! Esteve a trabalhar na China e casou-se com uma chinesa. Agora quer ir para a Europa. Estive a convencê-lo a ir para Portugal, sempre podia mudar algumas coisas! Mas não foi por isso que o estive a convencer, mas porque acho que ele ia gostar. Porém, o melhor da noite foi quando o David se lembrou de pedir às vizinhas da mesa ao lado para nos tirarem uma fotografia. Tira uma e tira outra, e de repente já estavam elas sentadas na nossa mesa a aparecerem nas fotografias. Fazem tudo para aparecerem e tirarem fotografias. Mas coitadinhas, nem andar sabem...

Mas, parece que pelos vistos só vos falo de comida, mas durante a semana é quase a única coisa que consigo falar para além dos tubos de aquecimento que passam por cima da minha cabeça ou das máquinas de café, que já aprendemos a mexer e já sabemos diminuir a quantidade de açucar e aumentar a dose de café, que é o que precisamos.

Hoje tenho um jantar de despedida da Stéphanie, amanhã vou passear para Ueno em Tokyo e à noite tenho um jantar de despedida do David que volta na segunda. Fico cá eu com o Fabrice... Não sei se terei muita pachorra para o aturar e ele a mim, mas logo veremos!

Até segunda.



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