Kon'nichi wa. Watashi wa Nihon ni imasu.*
Pois é aqui estou eu de novo pelas país
do Sol Nascente, embora seja mais vezes de noite que de dia
no meu universo japonês. De volta ao peixe crú,
ao ar condicionado no máximo e às sanitas aquecidas
(vocês acreditam que aquelas coisas custam entre 60 a
150 contos? Só o tampo aquecido e com esguicho lava-rabos...).
De volta às salas de fumo e aos escritórios sem
janelas. De volta aos tremores de terra... Quem sabe?
De volta ao mundo estranho de um país
do outro lado do globo!
Foi uma decisão rápida, mas se
na quinta-feira [27 de Novembro de 2003] estava decidido, na
segunda-feira [1 de Dezembro de 2003] já podia viajar.
Nem tempo tive de trocar yenes no banco ou de pensar que roupa
trazer. Às vezes os acontecimentos são mais rápidos
que a nossa capacidade de nos adaptarmos a eles. É estranho
um dia estar em Portugal sentado na minha secretária
a fazer o meu trabalho normal e dois dias depois estar num país
no lado oposto do mundo com uma língua estranha, uma
comida esquisita e numa sala onde cabem centenas de empregados,
e onde me está reservada uma secretária de 100x80
cm e uma cadeira, numa fila de 6 e de caras com mais 6 programadores
que mudam conforme as horas vão passando. Não
sei se me estou a repetir, mas aqui não há lugares
marcados na maioria das vezes. As pessoas sentam-se numa secretária
vazia e ligam o seu portátil à rede e trabalham.
Quem sabe, quando eles se forem embora alguém não
ocupará a secretária vazia.
Pois é, enquanto vocês gozavam
um feriado, eu aproveitava para visitar aeroportos, Londres
e dormir numa cadeira de avião. É sempre bom...
E foi uma viagem fácil embora atribulada. Do Porto para
Heathrow apanhámos algum mau tempo sobre o canal e na
aterragem um meu vizinho decidiu mostrar a toda a gente que
não gostava da comida da TAP e fê-lo da pior maneira
possível, mostrando-a depois de mastigada. Não
foi muito agradável, principalmente para ele.
A mim esperavam-me umas 7h de seca. E como a
bagagem ia directa, dei um salto a Londres. Porém o
Tube não ajudou em nada, pois normalmente a viagem demora
0:45, mas como havia um comboio avariado estava a demorar 1:10.
2:20 de viagem e estar a tempo de fazer o check-in para o próximo
voo, fez com que apenas tivesse 0:45 para passear. Depois um
erro técnico da minha parte ainda me fez perder mais
tempo, pois saí em Picadilly Circus, quando queria ir
para Oxford Street e tive que fazer a Regent Stret até ao
Oxford Circus a pé. Estava frio, mas fiquei decepcionado
pois esperava que houvesse mais animação por
ser quase Natal, mas as luzes eram fracas e havia pouco mais
que a multidão normal às compras. Não
encontrei nada que me entusiasmasse e o pior foi que no Porto
levantei todo o dinheiro que os meus cartões deixaram
e depois em Londres não consegui levantar libras para
comer. O que vale é que aceitavam cartão de crédito.
Voltemos ao aeroporto. Ou aliás, à viagem.
O avião vinha quase vazio. Ainda vi o "Hulk",
parte do "Bruce, O Todo-Poderoso", parte do "O
Guarda-Fraldas" e ainda dormi umas 4h. Em 12h de voo é surpreendente
a quantidade de coisas que se consegue fazer... Principalmente
porque não podemos ir a lado nenhum, a não ser à casa-de-banho.
Mas o pior destas longas viagens é a porcaria de comida
que comemos durante 24h. Aliás 26, que foi o tempo que
eu demorei desde sair de casa em Aveiro até entrar no
hotel em Shin-Yokohama.
À chegada ao aeroporto de Narita [2 de
Dezembro de 2003] fiquei alegremente surpreso por ver a minha
mala chegar no tapete rolante. Estava à espera de não
a ver, pois o meu voo da TAP do Porto para Heathrow não
tinha nada a ver com o meu voo da JAL de Heathrow para
Narita, mas no entanto fiz check-in no Porto e só levantei
a mala em Narita. Excelente! Estas companhias aéreas
estão a ficar mais espertas. Isto do sector andar em
crise tem as suas vantagens, pois faz com que as companhias
procurem maneiras de atrair os clientes e isso torna a nossa
vida melhor.
Já vos contei a minha aventura desde
o aeroporto até ao hotel numa crónica anterior
(N.R.: Crónica depois da Califórnia pt. 6 em
breve disponível em http://www.ruigo.net/sf/),
porém
desta vez decidi variar e apanhar o Shinkansen de Tóquio
até Shin-Yokohama. Só tinha que mudar uma vez
de comboio e assim experimentava o tão famoso comboio-bala
japonês (não é o mono-carril). Eh! Nada
de especial... Aliás, fiquei na carruagem de fumadores
e pouco mais vi que fumo, pois em 20 minutos estava a chegar.
Além disso à s 5:00 da tarde já era noite
e lá fora só se viam as luzes da cidade. Que
no caso de Tóquio são mesmo muitas.
Depois de 80km de carro, 1000milhas num avião,
2 vezes 20 milhas de metro, 3km a pé, 7000milhas noutro
avião, 60km num comboio, 20km no bala e 100m a pé lá cheguei
ao hotel.
Telefonei ao David (o meu chefe inglês
que vai estar aqui comigo), tomei um banho, dei uma volta pelo
supermercado do Hotel (vocês nem imaginam o que se vê aqui
num sítio desses) e quando ele chegou fomos jantar.
Até às 2h da manhã (que aí eram
5 da tarde do dia anterior, pois aqui são 9h mais tarde).
O sono não vinha... E a cerveja estava fresca!
O problema foi acordar no dia seguinte [3 de
Dezembro de 2003]. E chegar aqui a este forno. O ar condicionado
deve estar nos 28º C e mesmo que não esteja muito
frio lá fora o choque é impressionante. Passo
o dia a soar e a beber chá gelado. Parece que estou
em São Tomé, só que aqui não há sol
nem praia, só tipos de olho em bico a falar por silabas.
Está aqui também um francês,
que é chinês, chamado Olivier. Já devem
estar a imaginar como deve andar aqui a minha cabecita. A ouvir
japonês, francês e inglês ainda não
sei como consigo estar a escrever em português. Aliás
hoje já ouvi russo no hotel e até já me
lembrei de dizer "Spassiva" assim como ontem disse " Ché Ché" ao
Olivier (N.R.: Ambas querem dizer " obrigado", a
primeira em russo e a segunda em chinês). É um
mundo muito intercultural... Ainda está aqui um alemão,
mas só fala inglês.
Portanto estou aqui há dois dias (hoje
[5 de Dezembro de 2003] é o terceiro) completos e pouco
mais vi que o hotel, a fábrica de Kamoi, o comboio de
Shin-Yokohama e um ou dois restaurantes manhosos. Tenho me
deitado quase sempre depois das 2h da manhã, pois só saio
daqui à meia-noite (ontem saímos à 1h)
e o David insiste em ir beber um copo. Na verdade ele anda
completamente de rastos ao fim de três dias, pois já não
tem 34 anos... Tem 48!
Tenho trabalhado cerca de 12h por dia, mas pouco
fiz de trabalho aqui. Basicamente tenho feito o meu trabalho
normal em Portugal, pois ligo-me daqui ao escritório
e vou fazendo alguns documentos à distância. A
tecnologia é uma maravilha não é? Estou
a mais de 11000km de casa e consigo estar a trabalhar em Aveiro.
Não fosse o ar condicionar a bombar calor e pensava
que estava mesmo...
Vou vos deixar os comentários e histórias
para as próximas crónicas, pois ainda estou meio
abananado com a diferença horária. Fiquei atentos,
pois aqui fala-se desde sanitas aquecidas, anda-se descalço
e come-se polvo cru...
Jaa Ne. (N.R.: Uma maneira menos formal de dizer " Adeus" ou "Até logo")
* N.R.: Qualquer coisa como "Boa Tarde!
Eu estou no Japão!"
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