De volta de ferias e antes que comece de novo
a rat race vou contar-vos os melhores momentos e as
coisas que me surpreenderam durante as mesmas. Não estou
muito inspirado, pelo que me desculpem, mas sei que em breve
não vou ter tempo para escrever e não queria
deixar de partilhar de novo convosco alguns dos melhores momentos.
Estas férias ao contrário das últimas,
foram menos aventurosas, porque foram passadas aqui perto de
casa, menos dispendiosas, porque o orçamento estava
reduzido devido a outras prioridades de que vos espero falar
em breve e muito menos programadas, porque depois da ronda
pela Europa no verão do ano passado ficámos "vacinados" em
relação a querer-ver-tudo e afinal, acabar-por-não-ver-nada.
A única coisa que estava programada era a visita à Cristina
Santos, que nos dava hospedagem em Barcelona, na segunda semana
de férias, e mesmo isso foi só combinado uns
dias antes da partida e a morada foi enviada por SMS quando
estávamos já em Vilar Formoso. Tirando isso queríamos
passar pelos Pirinéus e decidimos passar pelo Cañón
de Río Lobos, para não fazer a viagem num só dia.
Aliás, estas férias foram diferentes
em muita coisa em relação a todas as outras que
fizemos ultimamente. Queríamos que fossem muito calmas
e sem stresses, por isso na sexta-feira [8 de Agosto de 2003]
quando saí do trabalho, nem sequer os sacos tínhamos
feito e só pensávamos sair no dia seguinte quando
nos apetecesse.
Sábado [9 de Agosto de 2003] partimos
rumo a Espanha, ao Parque Natural del Cañón de
Río Lobos, em Castilla e León, na província
de Burgos, algures a meio caminho entre Aranda de Duero e Soria.
A viagem fez-se bem, tirando o calor que chegou aos 41º C
em Fornos de Algodres (daí o nome), as obras na IP5
perto da Guarda, as trovoadas que se repetiam de 100 em 100
kms e Vallodolid que além de ser uma seca de terra não
tem placas a indicar o caminho.
Chegámos já de noite, pois a viagem
pela região demarcada do vinho da Ribera del Duero é fantástica,
com paisagens muito bonitas e diferentes do que estamos habituados
por cá. Apesar de se ver vinha como em muitos sítios
em Portugal, a aridez do solo e as zonas inóspitas com
relevo tem umas cores e umas formas, que ao pôr-do-sol
ficam magníficas. Só espero que as fotos estejam à altura...
As adegas, que têm a particularidade de terem as caves
cavadas e debaixo do solo, são enormes e muito bonitas,...
por fora! Porque à hora que lá passámos
(saímos tarde e sem stresses, lembram-se?) já não
dava para visitar.
O parque de campismo de Ucero, embora ostente
a classificação de 1ª Categoria, deixa muito
a desejar, embora seja muito bom. Simplesmente os preços
são de primeira e nem sempre os serviços o são.
Pagámos cerca de 20 euros por noite o que se tornou
no o parque mais caro de todas as férias. Além
disso, o nosso vizinho ressonava... E na segunda noite um tipo
que estava a sete alvéolos do nosso, ressonava tanto
e tão alto que se conseguia ouvir da nossa tenda, nas
alturas mais calmas... Não sei como é que a mulher
aguentava... Se não fosse mesmo ela a ressonar em uníssono.
Mas, falemos do Canyon que é bem melhor
que falar dos vizinhos-ronca. Foi um bom começo e um
excelente ensaio para os Pirinéus. O Canyon de Rio Lobos é,
como o próprio nome diz, um vale escarpado (Canyon)
talhado pelas águas do Rio Lobos, onde habita uma fauna
abundante da qual se salienta o Grifo (buitre leonado para
os espanhóis). Existem cerca de uma centena de exemplares
destas aves de hábitos necrófagos numa extensão
de apenas 25 kms, que é extensão do Canyon protegido.
O mais impressionante é que enquanto caminhávamos
ao longo do vale, no Domingo [10 de Agosto de 2003], tínhamos
sempre por companhia estas aves de grande envergadura (2, 3
metros) a sobrevoar-nos em grupos de meia-dúzia e em
círculos, como se esperassem por um vacilo para nos
comerem. E acreditem que vacilar num vale profundo como aquele,
sem vento e com temperaturas a mais de 35º, não
era assim tão difícil. O que vale é que
haviam sempre sombras, fontes de água fresca e alguns
pedaços de rio para nos refrescarmos, porque chegámos
a pensar servir de refeição aos Grifos.
Mas antes que nos tornássemos num pitéu
de Grifo, como uma ovelha que encontrámos pelo caminho,
resolvemos não fazer o vale todo até à Puente
de los Siete Ojos desde o Valdecea, e voltámos para
trás na fonte de El Perín, depois de nos saciarmos
de água fresca. Isto porque segundo umas tipas, dali
para a frente a paisagem deixava de ser tão bonita e
era só "piños" (pinheiros) e o tempo
estava a ficar "un poco raro" (estranho) com a
aproximação de umas nuvens um pouco escuras demais
para o nosso gosto. Voltámos à Ermita de S. Bartolomé,
uma ermida construída pelos monges-cavaleiros da Ordem
dos Templários, mesmo no meio do Canyon, numa elevação
de terreno, protegida das águas furiosas do rio (no
inverno) junto à Cueva Grande, uma gruta com marcas
de ocupação desde o início da humanidade.
O ambiente estava bem menos povoado de que quando resolvemos
nos aventurar pelo Canyon. O número de famílias
tinha diminuído e a luz estava a ficar porreira para
umas últimas fotos antes de voltar à tenda.
Com o calor que estava nem pensámos em
tomar banho de á gua quente e depois de umas cervejas
ao jantar e uma vista de olhos por umas linhas de um livro,
estávamos prontos para dormir... Mesmo com o ressonar
do tipo lá do fundo, junto às casas-de-banho.
Segunda-feira [11 de Agosto de 2003] levantámos
o acampamento depois do habitual pequeno-almoço e rumámos
até Calatañazor, uma sugestão de um percurso
todo-o-terreno que sacámos da net, mas que nem tínhamos
tido tempo de ler antes de começarem as férias.
Recomendo vivamente a quem passar perto de Soria a fazer um
desvio de 30 quilómetros e visitar esta aldeia perdida
e que mantém o aspecto medieval, embora por vezes roce
a ruína mantém um aspecto de parada no tempo.
Esta aldeia foi, aparentemente, um marco mozárabe (cristãos
que viviam sobre o domínio á rabe) importante.
Mas o que recomendo mesmo é uma refeição
no Hostal Restaurante Calatañazor (http://usuarios.lycos.es/calatanazor/index.htm),
mesmo no centro da aldeia. Provem os enchidos e as migas com
nomes tão sugestivos como migas pastoriles, chorizo
de la Abuela e especialmente a morcilla, uma morcela de arroz
que faz chorar por mais. A voltar!
Já saímos tarde, mas não
tínhamos pressa de chegar a lado nenhum. Já tínhamos
decidido deixar a ida para os Pirinéus para o dia seguinte
e resolvemos explorar a zona junto à nascente do rio
Douro. Mas, nada correu como queríamos e acabámos
o dia numa praia fluvial numa albufeira do Douro – Embalse
de la Cuerda Del Pozo – junto ao parque de campismo "El
Frontal", que também recomendo pela sua calma
e localização.
É impressionante como em férias,
quando menos esperamos e num dia que à partida parecia
já perdido, aparecem lugares que nos enchem por completo.
Parar, olhar e apreciar é tão bom, especialmente
se a companhia é boa. Haviam de ver o nascer da lua
reflectido nas águas calmas e límpidas do Douro,
numa bela noite de verão...
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