D12 SEXTA-FEIRA, 6 DE JUNHO DE 2003
Governo de Hokkaido - Fotografia de Rui Gonçalves

Como já vos disse aqui a vida é um pouco menos stressante que no complexo de Kamoi. Além disso o facto de vir a pé do hotel para o escritório da DNES (a sub-empresa da NEC a que eu estou a dar suporte) ajuda bastante a começar o dia com mais calma. Depois a chegada ao escritório é completamente diferente, porque aqui não há corredores imensos para atravessar, as pessoas são muito mais simpáticas e em muito menor número. As instalação são tão novas que ainda cheira a cola (estou me a repetir?).

Aqui até as casas de banho são novas e digo-vos que usar a casa-de-banho daqui do escritório ou as dos três hóteis que já estive, é sempre uma experiência inolvidável. Isto porque, antes de qualquer outra diferença que possa haver entre as nossas casas-de-banho e as japonesas, as sanitas têm os fantásticos tampos aquecidos e um chuveiro para lavar o respectivo depois do acto de defecação. Lindo! Mas no hotel ainda é melhor, pois como já vos disse, tem bidé.

Vou-vos contar a experiência de uso de uma Washlet (Wash-Toilet), sem entrar em grandes pormenores é claro, mas quem for mais susceptível é favor deixar a sala. Assim que nos sentamos na sanita, temos a sensação que alguém acabou agora mesmo de se levantar da mesma. Mas não! O tampo é aquecido! E no mesmo momento ouve-se um motor a funcionar, que apenas se deixará de ouvir no momento em que nos levantamos. Pois! É o ventilador perfumado/desodorizante que mantém o ar impecável mesmo naqueles dias mais difíceis, pois a sua potência pode ser aumentada para suportar os odores mais complicados.

Depois do acto completado existe a opção de lavar o nosso terminal de escape dos resíduos tóxicos sólidos, enquanto sentados na sanita. Assim, por meio do accionamento de um botão, um pequeno chuveiro é estendido até se encontrar no local debaixo do respectivo ponto focado acima, e começa a expelir um jacto de água. Obviamente que já estão a imaginar que tanto a pressão do jacto como a temperatura da água são reguláveis. Quando acharem que a lavagem foi efectuada com sucesso primem o botão para parar e podem se levantar. Obviamente com cuidado, porque a á gua é fluído de baixo índice de viscosidade e ninguém quer molhar as calças.

Existem ainda algumas com a opção bidé, que já devem imaginar como funciona. Aceitam-se encomendas!

Depois há os lavatórios, que nas casas de banho públicas são minúsculos, mas que a maioria das vezes já tem torneiras automáticas. O que eu ainda não tinha visto é o que há aqui na casa-de-banho do escritório, que é sabão em espuma. Quando se pressiona a alavanca do sabão sai espuma, como se de espuma de barbear se tratasse. Não dá muito jeito para lavar as mãos, mas pronto, são opções.

Para acabar a história das casas-de-banho há que salientar que não há toalhas nem local para secar as mãos. Já vi uma ou duas casas-de-banho que tem um dispositivo para secar as mãos, por sinal um bocado estranho, pois tem que se colocar as mãos dentro de um compartimento estreito e vertical, para que o ar (frio) comece a secar as mãos. Mas a verdade é que nunca se consegue secar as mãos convenientemente a não ser que sejamos japoneses e andemos de toalha na mão (ou limpemos ao lenço). A verdade é que aqui na empresa, e já em Kamoi, todos eles andam com uma toalha e passam a vida a limpar a suor com ela. Uma beleza de higiene! Não imagina que a primeira coisa que nos dão no restaurante é uma toalha húmida para limparmos as mãos.

Ah! No outro dia quando vos disse que às vezes existem guardanapos nos restaurantes, esqueci-me de vos dizer que em Kamoi na cantina, não haviam guardanapos e a bela da toalhita para limpar as mãos, existia uma para uma mesa onde se sentava uma vintena de pessoas. Mais um uso para a toalhita que eles carregam o dia todo e mais uma razão para aquilo ser um nojo.

Mas mudando de assunto, hoje [6 de Junho de 2003] (que era o dia em que supostamente voltava a casa) acordei mais cedo que era costume para ter tempo de dar uma volta por Sapporo com a luz do sol, pois as vezes que me passeei pela cidade já o sol estava para aí para os vossos lados.

Então acordei (engraçado como para passear a gente se levanta mais depressa) às 7:30 (23:30 para vocês), tomei o pequeno almoço e fui ver o antigo edifício do governo de Hokkaido, a ilha onde me encontro. É um edifício em tijolo vermelho, com uma cúpula em verde (suponho que de bronze oxidado), rodeado por um pequeno jardim e um lagozito com patos. Nada de especial!

Àquela hora da manhã o movimento de pessoas a caminho do trabalho é impressionante. É bom olhar para elas com calma e sentirmo-nos longe, mas muito longe deles. Mas na verdade eles trabalham muitas mais horas e sofrem muito menos de stress que nós. Eles dizem que o facto de trabalharem mais horas os torna menos vulneráveis à pressão e que então por isso não sentem tanto o stress que nós sentimos nessas situações. São capazes de ter razão, mas acho que se eu continuo neste ritmo por muito mais tempo, vou numa camisa de forças para Portugal. Prefiro o meu stress sazonal.

Seguindo a rua Norte 2 fui até ao próximo nível turístico de Sapporo, a torre do relógio, o mais conhecido monumento de Sapporo. Ok! Mais um edifício tipicamente americano, ou não fosse esta cidade uma cópia das cidades americanas, mas em versão japonesa. A torre do relógio é uma casa em madeira igual a tantas igrejas americanas. E estava rodeada de meninas em uniforme escolar a tirarem fotografias uma de cada vez em cima de um pedestal ali posto de propósito para o efeito. Não para a visita das meninas, mas para se poder tirar fotografias. Só mesmo no Japão... Eles gostam tanto de tirar fotografias que até um pedestal puseram em frente à casa para facilitar a vida às pessoas. Agora compreendo porque é que todos os telemóveis tem que ter máquina fotográfica hoje em dia, porque as empresas europeias para entrar no mercado japonês tem que colocar câmaras nos seus modelos de telemóveis, como todos os que cá existem.

Próximo passo da visita relâmpago, a fábrica da Cerveja Sapporo. Não propriamente a fábrica actual, mas aquela onde inicialmente se começou a produzir esse, quase único, produto de Sapporo conhecido além fronteiras. A antiga fábrica criada em 1880 e qualquer coisa, foi remodelada há uns anos e agora um centro comercial onde alberga uns 11 cinemas. Claro que à hora que lá cheguei o Centro Comercial estava fechado (mais uma vez), mas deu para ver a fábrica, sobretudo o pátio e a grande chaminé de metal.

O símbolo da Sapporo é uma estrela, mas foi criada antes da revolução russa, porque se não ficaria a pensar que seria alguma influência do facto de estarmos tão perto de Vladivostok. Além de que nas latas aparece uma estrela preta ou amarela, mas na fábrica existem em vermelho. E é uma estrela de 5 pontas, que não tem a ver com a bandeira de Hokkaido que parece um asterisco branco e vermelho. Eles lá sabem a razão, ou então está explicado na fábrica, mas em japonês vai-me ser difícil descobrir a verdade.

Pronto e voltei ao escritório, onde os meus colegas de trabalho andam descalços. Descalços não, de chinelos! Acho que é por isso que andam sempre a arrastar os pés. Ah! E é sempre um luxo chegar do almoço e vê-los deitados sobre as secretárias com um casaco por cima da cabeça a dormitarem. Lindo! Eu com o sono que estou, por me ter levantado cedo, acho que vou experimentar hoje! Logo vos digo da experiência! "Em Roma sê romano!"



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