Como já vos disse aqui a vida é um
pouco menos stressante que no complexo de Kamoi. Além disso
o facto de vir a pé do hotel para o escritório da
DNES (a sub-empresa da NEC a que eu estou a dar suporte) ajuda
bastante a começar o dia com mais calma. Depois a chegada
ao escritório é completamente diferente, porque aqui
não há corredores imensos para atravessar, as pessoas
são muito mais simpáticas e em muito menor número.
As instalação são tão novas que ainda
cheira a cola (estou me a repetir?).
Aqui até as casas de banho são novas
e digo-vos que usar a casa-de-banho daqui do escritório
ou as dos três hóteis que já estive, é sempre
uma experiência inolvidável. Isto porque, antes de
qualquer outra diferença que possa haver entre as nossas
casas-de-banho e as japonesas, as sanitas têm os fantásticos
tampos aquecidos e um chuveiro para lavar o respectivo depois do
acto de defecação. Lindo! Mas no hotel ainda é melhor,
pois como já vos disse, tem bidé.
Vou-vos contar a experiência de uso de uma
Washlet (Wash-Toilet), sem entrar em grandes pormenores é claro,
mas quem for mais susceptível é favor deixar a sala.
Assim que nos sentamos na sanita, temos a sensação
que alguém acabou agora mesmo de se levantar da mesma. Mas
não! O tampo é aquecido! E no mesmo momento ouve-se
um motor a funcionar, que apenas se deixará de ouvir no
momento em que nos levantamos. Pois! É o ventilador perfumado/desodorizante
que mantém o ar impecável mesmo naqueles dias mais
difíceis, pois a sua potência pode ser aumentada para
suportar os odores mais complicados.
Depois do acto completado existe a opção
de lavar o nosso terminal de escape dos resíduos tóxicos
sólidos, enquanto sentados na sanita. Assim, por meio do
accionamento de um botão, um pequeno chuveiro é estendido
até se encontrar no local debaixo do respectivo ponto focado
acima, e começa a expelir um jacto de água. Obviamente
que já estão a imaginar que tanto a pressão
do jacto como a temperatura da água são reguláveis.
Quando acharem que a lavagem foi efectuada com sucesso primem o
botão para parar e podem se levantar. Obviamente com cuidado,
porque a á gua é fluído de baixo índice
de viscosidade e ninguém quer molhar as calças.
Existem ainda algumas com a opção
bidé, que já devem imaginar como funciona. Aceitam-se
encomendas!
Depois há os lavatórios, que nas casas
de banho públicas são minúsculos, mas que
a maioria das vezes já tem torneiras automáticas.
O que eu ainda não tinha visto é o que há aqui
na casa-de-banho do escritório, que é sabão
em espuma. Quando se pressiona a alavanca do sabão sai espuma,
como se de espuma de barbear se tratasse. Não dá muito
jeito para lavar as mãos, mas pronto, são opções.
Para acabar a história das casas-de-banho
há que salientar que não há toalhas nem local
para secar as mãos. Já vi uma ou duas casas-de-banho
que tem um dispositivo para secar as mãos, por sinal um
bocado estranho, pois tem que se colocar as mãos dentro
de um compartimento estreito e vertical, para que o ar (frio) comece
a secar as mãos. Mas a verdade é que nunca se consegue
secar as mãos convenientemente a não ser que sejamos
japoneses e andemos de toalha na mão (ou limpemos ao lenço).
A verdade é que aqui na empresa, e já em Kamoi, todos
eles andam com uma toalha e passam a vida a limpar a suor com ela.
Uma beleza de higiene! Não imagina que a primeira coisa
que nos dão no restaurante é uma toalha húmida
para limparmos as mãos.
Ah! No outro dia quando vos disse que às
vezes existem guardanapos nos restaurantes, esqueci-me de vos dizer
que em Kamoi na cantina, não haviam guardanapos e a bela
da toalhita para limpar as mãos, existia uma para uma mesa
onde se sentava uma vintena de pessoas. Mais um uso para a toalhita
que eles carregam o dia todo e mais uma razão para aquilo
ser um nojo.
Mas mudando de assunto, hoje [6 de Junho de 2003]
(que era o dia em que supostamente voltava a casa) acordei mais
cedo que era costume para ter tempo de dar uma volta por Sapporo
com a luz do sol, pois as vezes que me passeei pela cidade já o
sol estava para aí para os vossos lados.
Então acordei (engraçado como para
passear a gente se levanta mais depressa) às 7:30 (23:30
para vocês), tomei o pequeno almoço e fui ver o antigo
edifício do governo de Hokkaido, a ilha onde me encontro. É um
edifício em tijolo vermelho, com uma cúpula em verde
(suponho que de bronze oxidado), rodeado por um pequeno jardim
e um lagozito com patos. Nada de especial!
Àquela hora da manhã o movimento de
pessoas a caminho do trabalho é impressionante. É bom
olhar para elas com calma e sentirmo-nos longe, mas muito longe
deles. Mas na verdade eles trabalham muitas mais horas e sofrem
muito menos de stress que nós. Eles dizem que o facto de
trabalharem mais horas os torna menos vulneráveis à pressão
e que então por isso não sentem tanto o stress que
nós sentimos nessas situações. São
capazes de ter razão, mas acho que se eu continuo neste
ritmo por muito mais tempo, vou numa camisa de forças para
Portugal. Prefiro o meu stress sazonal.
Seguindo a rua Norte 2 fui até ao próximo
nível turístico de Sapporo, a torre do relógio,
o mais conhecido monumento de Sapporo. Ok! Mais um edifício
tipicamente americano, ou não fosse esta cidade uma cópia
das cidades americanas, mas em versão japonesa. A torre
do relógio é uma casa em madeira igual a tantas igrejas
americanas. E estava rodeada de meninas em uniforme escolar a tirarem
fotografias uma de cada vez em cima de um pedestal ali posto de
propósito para o efeito. Não para a visita das meninas,
mas para se poder tirar fotografias. Só mesmo no Japão...
Eles gostam tanto de tirar fotografias que até um pedestal
puseram em frente à casa para facilitar a vida às
pessoas. Agora compreendo porque é que todos os telemóveis
tem que ter máquina fotográfica hoje em dia, porque
as empresas europeias para entrar no mercado japonês tem
que colocar câmaras nos seus modelos de telemóveis,
como todos os que cá existem.
Próximo passo da visita relâmpago,
a fábrica da Cerveja Sapporo. Não propriamente a
fábrica actual, mas aquela onde inicialmente se começou
a produzir esse, quase único, produto de Sapporo conhecido
além fronteiras. A antiga fábrica criada em 1880
e qualquer coisa, foi remodelada há uns anos e agora um
centro comercial onde alberga uns 11 cinemas. Claro que à hora
que lá cheguei o Centro Comercial estava fechado (mais uma
vez), mas deu para ver a fábrica, sobretudo o pátio
e a grande chaminé de metal.
O símbolo da Sapporo é uma estrela,
mas foi criada antes da revolução russa, porque se
não ficaria a pensar que seria alguma influência do
facto de estarmos tão perto de Vladivostok. Além
de que nas latas aparece uma estrela preta ou amarela, mas na fábrica
existem em vermelho. E é uma estrela de 5 pontas, que não
tem a ver com a bandeira de Hokkaido que parece um asterisco branco
e vermelho. Eles lá sabem a razão, ou então
está explicado na fábrica, mas em japonês vai-me
ser difícil descobrir a verdade.
Pronto e voltei ao escritório, onde os meus
colegas de trabalho andam descalços. Descalços não,
de chinelos! Acho que é por isso que andam sempre a arrastar
os pés. Ah! E é sempre um luxo chegar do almoço
e vê-los deitados sobre as secretárias com um casaco
por cima da cabeça a dormitarem. Lindo! Eu com o sono que
estou, por me ter levantado cedo, acho que vou experimentar hoje!
Logo vos digo da experiência! "Em Roma sê romano!"
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