Se deste ponto em diante não visualizarem
acentos, cedilhas ou outros caracteres próprios da língua
portuguesa ou se de repente aparecer um caractere japonês
onde menos esperas, não é Impulse, é porque
neste momento vos escrevo num teclado japonês... No Japão!
Pois é acabei de chegar ao Japão e
depois de 2 horas de comboio desde Narita, mais 11 horas de voo
desde Paris, 5 horas no Charles de Gaulle e mais duas de voo desde
o Porto, cá estou eu na NEC em Shin-Yokohama, duas estações
de metro de Yokohama, alguns quilómetros a sudoeste de Tóquio
e muito longe de casa. Física e culturalmente longe de Portugal.
Não vos vou contar o que vim cá fazer,
porque isso não vos interessa (até é capaz
de interessar se forem viciados em telemóveis e estiverem
a sonhar com a prometida 3ª geração, mas não
conto) mas vou começar a tecer uns comentários à minha
estadia. Espero ter tempo de vos escrever mais vezes... Hoje tenho,
porque é sábado e o trabalho aqui está a meio
gás e o Victor esta a acabar umas coisas antes de me passar
a pasta (ele esta cá há duas semanas e eu venho tomar
o lugar por mais duas semanas).
Sim! Trabalha-se ao sábado! Sim! Estou a
trabalhar num sábado às 7:30 daí... Eu não
dormi a noite de quinta para quando entrasse no voo em Paris adormecesse
logo, pois assim estava já a habituar-me ao horário
japonês (8 horas a mais). Na Califórnia estava à mesma
distância horária de Portugal mas no sentido contrário.
Mas estou a dispersar! Vamos a falar do Japão!
Por incrível que pareça dos cerca
de meia dúzia de ocidentais que vinham no meu voo de
Paris para Tóquio-Narita, calhou-me um casal de franceses
ao meu lado. E o resto do voo estava de olhos em bico... Por
acaso é surpreendente
como estes gajos falam japonês com toda a gente mas quando
olham para mim vem logo que sou estrangeiro... Não sei,
mas deve ser do cabelo comprido! Ah! Mas não deixam
de me falar em japonês, como se eu fosse um estrangeiro
letrado em línguas orientais e falasse japonês
desde que saí do
berço. Parecem os franceses que acham que toda a gente
fala francês e nem se esforçam por se fazerem
perceber... Nós os portugueses ou menos tentamos aumentar
o volume da voz para nos fazermos entender e gesticulamos efusivamente
como
se fossemos umas barras em linguagem gestual para cegos (aquela
linguagem gestual que ninguém percebe, nem mesmo quem
vê).
Vi um filme francês ("Ni pour, ni contre
(Bien au Contraire)"), legendado em inglês, no meu
monitor particular, mas com alguma dificuldade pois o passageiro
do banco da frente passou o voo todo aos saltos, e chegou a ser
advertido para não empurrar o banco da frente do dele, pois
as pessoas tinham direito de se deitarem. A tipa atrás de
mim também me chamou a atenção quando eu me
deitei, mas eu estava de headphones e fiz de conta que
não ouvi e depois da advertência ao meu colega da
frente ela deve ter se apercebido que se quisesse mais espaço
teria que comprar um bilhete mais caro da próxima vez.
Só acordei para o pequeno-almoço que neste
ultimo dia era a terceira refeição de avião
e a quarta constituída por conteúdos algo ofensivos às
minhas entranhas. Acho que o Camembert era a única coisa
que se safava, porque o crepe de maçã deu-me a volta
ao estômago de tal maneira que quase 6 horas depois ainda
anda aqui a remoer-me por dentro. Parece um embrião do Alien.
Espero que ao sair não me rebente a barriga.
A chegada ao aeroporto de Narita foi calma. E apenas
tive que preencher um papelzeco com o meu nome, morada e período
de estadia para me porem mais um carimbo no passaporte. Posso ficar
cá 90 dias. Obrigado!
O pior veio depois, quando ao passar pelos serviços
alfandegários me perguntaram se eu tinha comigo algum tipo
de drogas. Extraordinário como estes tipos tem fotografias
de heroína e cocaína e acham que eu a olhar para
lá posso dizer a diferença daquilo para a farinha
de trigo. E haviam de ver a qualidade do fotografo. A verdade é que
(se calhar pelo cabelo) o gajo desconfiou e mandou-me abrir a mala
e vasculhou-a. Descobriu apenas cuecas, camisas, calças
e duas garrafas de vinho do Porto. Nada de grave... Mas quase que
fiquei de olhos em bico para voltar a arrumar tudo!
O passo seguinte consistia em apanhar o comboio
- Narita Express - até Shin Yokohama e encontrar o hotel
Prince. Para esta etapa da aventura possuía um apontamento
em inglês sobre o trajecto a tomar. Segui os primeiros pontos
ate à bilheteira onde fui recebido por uma rapariga que
felizmente falava pelo menos 2 palavras em inglês - train e ticket.
Prova superada! Passo seguinte - encontrar o cais de embarque.
Nada de muito grave se se olhar para as letras pequeninas debaixo
dos caracteres japoneses nos letreiros luminosos. O problema foi
perceber o bilhete onde os únicos caracteres perceptíveis
eram os números. Mas quais indicavam a carruagem e o lugar?
Nesta etapa beneficiei da ajuda de um alemão
gordo que deixei passar numa passagem mais estreita à entrada
de uma escada rolante. Há uns dias tinha "morrido" se
não tivesse já acabado o Medal of Honor (para quem
não sabe é um jogo de computador passado na Segunda
Guerra Mundial em que se joga pelo lado dos aliados).
Depois de duas corridas no cais para tentar perceber
qual a carruagem em que devia de entrar, enquanto o comboio recentemente
chegado era limpo por um exercito de mulheres de limpeza, o alemão
lá me explicou que o 9 era o número da carruagem
e 5A era o número do lugar. Ainda bem que não o "matei"...
A prova seguinte consistia em mudar do Narita Express
para a Yokohama line em direcção a Hachioji na estacão
de Yokohama.
Pelo caminho ficavam os campos de arroz às
centenas, casas de madeira aos milhares e pessoas aos milhões.
As casas são em tudo semelhantes às casas de Los
Angeles, tirando o facto de aqui o caos é muito maior. Não
há duas casas iguais! Há telhados em telha azul,
laranja, amarela, castanha e verde e há terraços,
casas de 1, 2, 3, 4, 5 e 6 andares lado a lado com campos de arroz,
mono-carril, comboios, parques de estacionamentos, pontes e hotéis
de 40 andares. E muitos, mas mesmo muitos letreiros com caracteres
japoneses. Se não fosse o "M" nem se reconhecia
o MacDonalds.
Cheguei à estacão de Yokohama com
a ideia de que tinha que apanhar a Shinjuku Line sair em Higashi-Kanagawa
e aí apanhar a Yokohama Line ate Shin Yokohama. Mas fiquei
surpreendido que haviam letreiros a indicar a Yokohama Line, por
sinal no mesmo cais que a Shinjuku Line e fiquei ainda mais satisfeito
quando vi no visor a anunciar a chegada de um comboio da Yokohama
Line em direcção a Hachioji. Prova superada!
Por mais incrível que pareça, o mais
difícil foi encontrar a recepção do Prince
Hotel, porque este fica mesmo à saída da estação
de Shin Yokohama, apesar do meu amigo Sérgio ter apanhado
um taxi para ir dum sítio ao outro, quando cá esteve.
Claro que andou cerca de 100m de taxi.
A recepção é que é difícil
de encontrar porque está precisamente no sítio menos
previsível... À entrada! Mas do lado de quem entra
se vier de taxi, porque quem vem de comboio entra pelo centro comercial
e nunca mais dá com a recepção se não
perceber japonês.
Fiz check-in e fui informado de que tenho que avisar
a recepção se aparentar ter Pneumonia Atípica
para desinfectarem o meu quarto. Lindo! Sá faltava esta
mesmo...
O Victor deixou recado a dizer que foi trabalhar.
Nem esperava outra coisa.
O hotel tem 47 andares. É uma torre redonda
e os quartos são na parte exterior do cilindro. As casas-de-banho
são quase tão boas como as do avião. Toda
em plástico e com sanita aquecida e que funciona como bidé.
Lindo! Um gajo lava-se onde faz as necessidades.
Tomei banho! Experimentei o robe/kimono que me deixaram
no quarto com uns chinelos. Mas no entretanto o Victor telefonou-me
e eu combinei com ele aqui em Kamoi (onde estou aqui na NEC).
Mais uma prova para realizar, mas nada de muito
difícil tendo em conta a aventura anterior.
E, com a ajuda das indicações inglesas,
cá vim ter. Mas se o Victor não me fosse buscar à porta
tinha-me perdido neste labirinto que são as instalações
da NEC. Acho que atravessei três pátios e 12 portas
para chegar aqui a esta sala. E passei por cerca de 20 maquinas
de bebidas... Mas fui logo fotografado à entrada pelo Wake-san.
Mas cheguei a tempo... De vos escrever!
Até amanha!
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