Prefácio
Já por diversas vezes comecei a escrever as crónicas que faltam, mas depressa aparece algo que fazer e voltam a ser adiadas.
Já por diversas vezes comecei a escrever uma crónica sobre os acontecimentos actuais, mas depressa me apercebo que não há muito que contar, pois a maioria dos leitores das crónicas tem uma vida parecida com a minha. As Crónicas da Califórnia têm a sua mística porque se passavam noutro país onde a cultura e maneira de estar são diferentes. Mas, na verdade desde que voltei da Califórnia que já estive noutros países e aí comecei a escrever umas actualizações às crónicas, mas depressa aparece algo que fazer e voltam a ser adiadas.
Quando voltei em Setembro de 2000 não tive muito tempo para respirar e no início de Outubro estava a trabalhar no IEETA (Instituto de Engenharia Electrónica e Telemática de Aveiro) um instituto de desenvolvimento da Universidade de Aveiro. Andei uns tempos perdido sem saber bem o que estava ali a fazer e porque razão tinha voltado. Acho que só me encontrei no verão de 2001 e em Setembro do mesmo ano compreendi perfeitamente porque tinha retornado.
A euforia que trazia quando toquei em solo lusitano foi sendo extinguinda pela falta de objectivos e oportunidades que me rodeavam. Se vinha cheio de ideias logo foram sendo abandonadas pela inércia própria da nossa cultura e que teima em não mudar. Demorei a me resignar!!!
Como o meu amigo Jorge Simões diz "Se 2000 foi o melhor ano da minha vida, 2001 foi sem dúvida o pior". Desde Outubro de 2000 a Março de 2001 não parou de chover e a depressão generalizada culminou com a queda da ponte de Entre-Os-Rios. Se havia razões para estar deprimido porque tudo andava cinzento o facto de presenciar a desgraça alheia em directo em todos os canais da televisão, nas capas dos jornais e revistas e mesmo nas conversas de café ou de rua não ajudou em mesmo nada. Foi um período muito mau.
No início da Primavera as coisas começaram a clarear. Os raios de sol trouxeram alegrias que como tudo na vida parecem estar predistinadas para demorarem a aparecer e quando aparecem vêm todas em catadupa. Na altura os acontecimentos culturais em Aveiro não eram muitas, e na assistência de uma peça de teatro ("As obras completas de Shakespeare em 97 minutos") encontrei o meu amigo Sérgio "Pipa" Santiago que me avisou de uma oportunidade de emprego. Na mesma semana telefonaram-me de duas empresas de formação profissional para dar formação em horário pós-laboral. Fiquei dispensado de contribuir para a Segurança Social relativamente ao período que estive nos Estados Unidos e fui reembolsado do IRS.
De repente tinha mudado de emprego e tinha dinheiro no bolso. Conseguímos manter em nosso poder o jipe que em breve será definitivamente nosso. E, eu e a Cláudia, fomos de férias para a Finlândia!!!
Foram as férias de reencontro comigo mesmo. A experiência na Califórnia transformou-nos em pessoas destemidas e com capacidades para passar férias em sítios distantes e mais caros que Portugal sem ser preciso ter muito dinheiro. A Cláudia nas suas viagens aos Estados Unidos reuniu milhas suficientes para nos valer um bilhete dentro da Europa e que sítio mais desafiador e mais distante podiamos escolher para além da Finlândia. O país que considerado o mais caro da Europa e aquele que pertencendo à Comunidade Europeia é o mais distante de Portugal quer em termos de quilómetros, quer em termos culturais, revelou ser um país acolhedor e muito bonito.
Voámos para Helsinquia só com a primeira e última noite marcadas. Dormimos na pousada da Juventude do Estado Olimpico e no dia seguinte alugámos um carro e em 7 dias passeámo-nos pelo terço sul do país. Passeámo-nos pelas ilhas Ǻland de ferry em ferry, de ilha em ilha. Alugámos um barco a remos e fomos dormir no meio de um lago onde éramos as únicas pessoas num raio de quilómetros. Só não fizémos sauna e não fomos à Rússia e à Estónia, mas a Finlândia é um país a retornar.
Finalmente haviam razões para estar expectante. Quando voltei de férias iniciei um emprego novo na NEC (Nippon Electric Company, originalmente). O meu novo emprego consistia em desenvolver software para telemóveis da terceira geração... Uma coisa de que pouco percebia! Além disso tinha que trabalhar em estreita colaboração com Ingleses e Franceses.
A 11 de Setembro conformei-me com o facto de ter decidido voltar dos Estados Unidos. Se ainda tinha dúvidas acerca do que me tinha feito voltar, no dia do ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque tudo ficou claro. Se quando voltei, as oportunidades em Silicon Valley já começavam a escassear e as empresas a fechar, a partir do 11 de Setembro as notícias que recebia vindas lá do outro lado do mundo eram de tristeza e de incerteza no futuro.
Eu não podia dizer o mesmo! Estava a fazer uma coisa aliciante em Aveiro. E tinha qualidade de vida!!!
Em outubro fui pela primeira vez ao centro de desenvolvimento da NEC em Reading a uns quilómetros de Londres. No dia 18 de Outubro, dia do meu (e da Cláudia) aniversário de casamento e dia de inauguração do escritório em Portugal, fui beber um copo a Londres. Há tantos sítios no mundo e tão pouco tempo para os conhecer... Já tinha estado uma semana em Londres, quatro anos atrás, na nossa lua-de-mel, mas naquele dia fiquei com a sensação de que não tínhamos visto nada da cidade. Em 1997, éramos mais novos, tínhamos medo de sítios como Londres e tínhamos muito menos dinheiro. Tinha que voltar com a Cláudia a Londres, coisa que conseguimos fazer este ano na altura em que comemorávamos 5 anos de casados e 5 anos depois da lua-de-mel. Uma boa maneira de comemorar as bodas-de-qualquer-coisa.
Já voltei a Reading três vezes desde aí e sempre com vontade de ficar mais que uns dias. Talvez um dia destes fique mais uns tempos e inicie umas Reading Chronicles ou coisa parecida...
Desde que comecei na NEC que têm havido altos e baixos, trabalhos mais interessantes e outros menos. Mas não vos vou maçar com essas coisas. Tem sido uma experiência extraordinária trabalhar diariamente com colegas ingleses e franceses, apesar de por vezes razões culturais se manifestem em guerrinhas entre as partes, porém no fim nós portugueses conseguímos mostrar que à mesa com boa comida e bom vinho as diferenças são minímas. Na verdade, somos um povo muito tolerante e conseguímos apaziguar diferenças que entre ingleses e franceses por vezes são muito difíceis de gerir.
Mas, deixo essas coisas para quando um dia destes enviar uma Reading Mirror!!!!
Em Junho do ano passado tive a visita do Jesse, o meu amigo da Califórnia. Mostrei-lhe Portugal! Ele e a Melody, a namorada, adoraram a comida e prometeram voltar, antes de irem para Ibiza!!! Ibiza!!! O paraíso aqui mesmo ao lado...
Em Junho fomos passar uma semana a Valência e Ibiza. Ganhei uma viagem a Valência num concurso fotográfico da netviagens.com (depois de ter ganho uma máquina fotográfica digital noutro da exit.pt). De Valência a Ibiza é um salto e de repente estava rodeado de água mediterrânica, sol e muita paz. Ibiza é aquilo que quisermos e se forem antes das enchentes acreditem que é um luxo! Quando lá estive toda a gente dizia que estava mau tempo... Espero não ir com bom tempo, porque deve ser insuportável! Não posso descrever, mas Ibiza e principalmente Formentera, uma ilha mais pequena a sul, são sítios muito próximos do paraíso. Cheias de praias desertas, um mar azul e um sol maravilhoso. Eu depois mando as fotos!
Nas férias de verão, alugámos um carro e partimos à descoberta da Europa. Não fazia sentido conhecer melhor os Estados Unidos e ser europeu! Fízemos 5800 quilómetros em 17 dias. Atravessámos Espanha, parámos em Bilbao para ver o Guggenheim uma semana antes da proibição das actividades do Batasuna. Entrámos em França por Biarritz, subimos a costa oeste, passando pela Duna de Pyla, Arcachon, Bordéus, La Rochelle e Sables D'Olonne. Fomos visitar o nosso amigo Benoit a Vitré na Bretanha e os pais dele a Alonçon (St. Céneri de Géari) na Normandia. No caminho fomos a St. Malo e St. Michel, uma das maravilhas do mundo e mais um sonho de criança que consegui realizar (será que o próximo é Petra na Josrdánia?). Ficámos dois dias em Paris em casa da Betty, uma amiga fruto do espírito Contacto, que não nos conhecendo, nos recebeu como se fossemos velhos amigos. Subimos à Bélgica, via Brugges e entrámos na Holanda junto à costa. Tomámos banho no mar do norte e descemos. Atravessámos a Bélgica, via Bruxelas, Namur e Dynant. Entrámos no Luxemburgo, onde visitámos a cidade e voltámos para França. Lyon, Avignon e Perpignon ficaram pelo caminho, sem que a vontade de ver mais coisas fosse muita. Atrevessámos os Pirinéus passando por Andorra e voltámos a casa.
Quando chegámos estávamos cansados, mas cheios de coisas para recordar e contar. Eventualmente não voltaremos a fazer uma viagem tão longa em tão curto espaço de tempo, mas impunha-se um banho cultural europeu!
Depois de São Francisco em 2000, Helsinquia em 2001, Paris foi a cidade escolhida este ano para comemorar o meu aniversário. Obrigado a todos pelas mensagens de parabéns!
Já andamos a pensar na próxima viagem... |