Há quase dois meses que não vos escrevia.
Acreditem ou não, mas têm-me custado muito escrever
sobre estas memórias. Dias de sol, de férias e alegria
são sempre difíceis de não fazerem menos bem,
quando lá fora chove e temos tanto trabalho para fazer.
Além disso, as saudades da Califórnia
começaram a moer a alma e sempre é mais fácil
fugir...
Mas, algumas coisas obrigaram-me a retornar à escrita
das minhas crónicas. Se uma é uma boa razão,
outra nem por isso... A primeira foi o ânimo de voltar a
contar as minhas aventuras, porque fui reconhecido pelo meu desempenho
no estágio que me levou a vivê-las. Mas, a segunda
foi o facto de ter perdido as minhas notas das Crónicas.
Toda a gente me perguntou como é que eu me lembrava de todos
os pormenores... Pois agora estou a escrever "sem rede"...
Mas, vamos ao que me lembro... As minhas Crónicas.
Segunda-feira, 7 de Agosto de 2000
Se bem se lembram estávamos algures entre
San Luís Obispo e Santa Bárbara, algures na costa
da Califórnia, a caminho do sul, já quase em Los
Angeles... Num parque de campismo junto ao Lago Cachuma no parque
Los Padres National Forest.
O acordar foi suave e cedo. Os sons dos patos e
dos pássaros no lago tornam qualquer acordar numa delícia.
O único problema era que o parque era enorme e as casas
de banho estavam um bocado longe do nosso alvéolo. Nada
que um português desenrascado não resolvesse entre
dois arbustos com vista sobre o lago e a barragem lá ao
fundo entre as montanhas. Lá entre duas pedras usadas pelos
pescadores, numa ravina sobre a água resolvi a minha necessidade
bexigosa.
Lá consegui não cair, mas, por pouco
ia sendo apanhado por um grupo de pescadores que por ali passavam à procura
de um bom lugar e pelo Ranger que fazia a ronda... Possa! Não
se pode estar à vontade.
Desmontámos a tenda e fomos tomar banho.
A mania dos chuveiros cuja água é contada a moedas
de quarto de dólar, dá-me cá umas comichões...
O que vale é que se conseguia tomar um banho relativamente
bom sem ter que se recarregar o dispositivo. O que vale é que
a casa de banho tinha tomadas e deu para recarregar a bateria da
câmara de vídeo... Estávamos prontos para seguir
a caminho de LA...
Descemos das montanhas até Santa Bárbara,
uma agradável cidade já naquilo que se pode considerar
a grande LA. Parámos na Missão e fomos visitar a
loja de recordações, porque para visitar a missão
e a igreja pediram-nos mais uma série de dólares.
Igrejas espanholas vejo-as eu na terra delas, não vou ao
outro lado do mundo... Mas, ainda vimos algumas construções
que estavam ali à volta...
Porém o calor estava a apertar, assim como
a fome.
A caminho do centro de Santa Bárbara parámos
no Jack In A Box para o almoço. Nada como um verdadeiro
almoço à americana para nos sentirmos verdadeiramente
americanos... Porém, a língua oficial naquele "restaurante" (sim!
Os americanos chamam restaurante ao MacDonalds) era o espanhol.
As caras dos clientes eram de tudo menos de americanos e até a
comida era meio mexicana. Cada um comeu uma Chicken Fajita Pita
que deve ser uma mistura americo-mexicano-árabe ou coisa
parecida, uma espécie de galinha cortada em pedaços,
com legumes enfiados num pão (Pita) parecido com a bola
de azeite de Foz Côa e tudo com molho de Fajita... Por sinal
bem bom!
Já nos sentíamos no sul da Califórnia... É tudo
muito diferente!!! Até o calor. Estava bem abafado e húmido...
Também não era de admirar estava um leve nevoeiro,
que na minha opinião já fazia parte da poluição
de LA, a cerca de 100km do centro da grande cidade. Mas, como já estávamos
na baía e com o seu clima próprio, a poluição
não seria de admirar que chegasse ali, aliás porque
Santa Bárbara já era suficientemente grande.
O centro de Santa Bárbara é muito
bonito. Fez-me sentir como se estivesse algures no Algarve. As
esplanadas eram como cogumelos e cada uma com melhor aspecto que
a anterior... Só que os preços subiam exponencialmente!
Mas, lá consegui estacionar mesmo ali ao lado, em frente
a uma casa típica americana, toda em madeira e com um balcão
com baloiço, com porta de rede para os mosquitos e cores
bizarras.
Porém, o centro chamava. As esplanadas e
as lojas de recordações apelavam ao consumismo e
quem é que não é amigo de ver coisas bonitas.
Parecia que estava já num filme americano!
Aqueles sítios que tanto vemos nos filmes existem realmente.
Parecia mesmo um cenário, com aquelas construções
típicas americanas em madeira, caiadas sem qualquer preocupação
em que saia perfeito e pintadas em tons de filme colorido. É impressionante
como todas as casas são de madeira... Aliás, não
vos contei que no castelo de Haerst, uns americanos que estavam
ao meu lado na sala de estar ficaram de boca aberta quando a guia
disse que toda a casa era em cimento... Olharam um para o outro
e exclamaram "Cimento?"... Mas, qual é o mal?
Voltando ao centro de Santa Bárbara... Pois
bem, de cada lado de uma rua, cuja o piso era vermelho, existiam
prédios em vários tons de amarelo torrado e cada
um, uma esplanada. Parámos naquele que mais se coadunava
com a nossa condição monetária e sentámo-nos
a tomar um expresso. Segundo choque cultural... O café em
São Francisco é muito melhor.
As pessoas são muito mais bonitas em Santa
Bárbara. Não têm pressa e sabem viver a vida.
Passeiam-se como se a vida não passasse, mas, também
não admira era Agosto, estavam de férias e estava
calor. Mas, ainda não tinha visto as Californianas dos filmes...
Nem as famosas praias do sul da Califórnia.
Mas, antes de chegarmos à praia, uma entrada
numa loja de beneficiencia, pois para além de ser sempre
um mar de surpresas, estávamos a precisar de talheres. Talheres
era coisa que não faltava... E, um belo forro polar Colombia,
por uns meros quatro dólares, para as noites frias do deserto
ou das montanhas que ainda nos esperavam.
E, finalmente a praia, depois de umas voltas por
um parque de campismo que alguém resolveu construir no areal
e que não permitia o acesso ao mar. Finalmente a primeira
praia do sul da Califórnia. Que desilusão!!! Nada
que nós não tenhamos em Portugal... A areia branca
e as águas verdes azuladas das praias do Algrave ou do Alentejo
são em tudo semelhantes às dali... Só têm
uma vantagem muito grande, pode-se tomar banho! Na Califórnia
não se pode... Pelo menos ali!
E, as mulheres dos filmes? Onde estão? Rumemos
para sul...
Seguimos para Malibu! A famosa Malibu... Passámos
Malibu! A famosa Malibu... Ninguém pode acreditar, mas Malibu é algo
que eu nunca pensei que fosse possível! Imaginem que eu
estava a conduzir na estrada e tinha casas de um lado e de outro
e depois a estrada continuou e as casas acabaram. Adeus Malibu!
Mas, e a famosa praia? Nem vê-la!!!! O acesso à praia
está vedada pelas casas dos coitados que vivem sobre o areal...
Isto tudo na berma de uma estrada com mais trânsito que a
IP5, num domingo à noite. Malibu deve ser bom para quem
gosta de dois metros de areia sob as estacas de sustentação
de uma casa na berma de um estrada, com água tão
poluída que por vezes é vedado o acesso a banhos
e com vista sobre uns belos poços petrolíferos.
Seguimos para Venice Beach a única praia
da região que, segundo os meus colegas da empresa, vale
a pena.
Pelo caminho deixámos as Montanhas de Santa Mónica
e um Canyon qualquer que se fazia cobrar para ser visitado. Ali
mesmo na berma da estrada e que não passava de um desfiladeiro
tão deslumbrante como qualquer fraga de qualquer montanha.
Cobra-se tudo nesta terra.
Mais à frente, a primeira marca de que estávamos
na terra dos sonhos. Junto à estrada, na berma, multiplicavam-se
os camiões e carros da polícia, todos cercados por
cercas metálicas e um dístico que dizia "Zona Vedada"...
Estavam a filmar! Não deu para ver muito, nem se era algum
filme ou uma série de televisão. Mas, a Cláudia
queria voltar para trás para ver. Foi difícil conseguir
que ela se demovesse dessa ideia, mas, lá a fiz ver que
era impossível lá chegar, com tanta polícia...
Venice Beach. Um pouco a sul de Santa Mónica,
o sítio onde regularmente gravam o Bay Watch... E, é tudo
tão igual à série... Exceptuando as mulheres!
Elas não existem... Mas, existem os tipos musculados a exercitar
os seus bicipedes e tripedes na praia. As pessoas que se passeiam
de patins, de bicicleta ou mesmo a correr são imensas. As
palmeiras e as areias brancas... Está lá tudo! Menos
as mulheres!
As mulheres americanas na praia são como
as velhas portuguesas, que vão para a praia e que ficam
todo o dia vestidas. Sim! Aquelas coisas de fato de banho e a jogar
volley... Pois! Só nos filmes... As americanas tem tal vergonha
do seu corpo que até tomam banho de calções,
só porque tem umas marcas de celulite. E, como se não
chegasse são tão bonitas que até parecem tiradas
de um filme da idade média...
A praia era espectacular, não fossem os poços
de petróleo e o cheiro a poluição do ar. Mas,
o ambiente em redor fazia pensar que estava mesmo na terra dos
sonhos. E, já que ali estávamos, nada melhor que
sonhar e fomos para Beverly Hills.
Los Angeles é mesmo grande. De Venice Beach
a Beverly Hills demorámos algo como uma hora. É certo
que nos perdemos mas, nem foi muito... Mas, uma hora para fazer
algo como 12km? Ah! Esqueci-me de dizer que de Malibu a Venice
demorámos menos tempo, para fazer 24km.
Depois de duas voltas em Beverly Hills à procura
de Rodeo Dr., às voltas com um mapa pormenorizado de LA
que afinal tinha apenas um terço das ruas da cidade e em
formato gráfico duvidoso, lá conseguimos estacionar
o nosso jipaço, num parque acabadinho de construir, com
preços de promoção e a um quarteirão
do nosso objectivo actual.
Imaginem o que é ter uma rua povoada de carros
cuja média de preço passaria aquilo que eu poderia
ganhar em dez anos, com lojas de cada lado de todas as marcas de
roupa francesa, italiana e americana de qualidade e com polícias
em patrulha em bicicletas Mercedes-Benz (o que não admira
pois são feitas pela AMP Research in Laguna Hills, CA, mais
uma para a globalização).
Era impossível conter uma mulher naquele
ambiente. Mesmo eu estava fascinado. Era tudo muito bonito. Demais
até para se conseguir sobreviver num ambiente tão "hostil".
Mas, lá demos uma saltada à Diesel e à Tommy
Hilfiger só para entreter as vistas. Apaixonei-me por um
casaco da Tommy... E, não o comprei porque pensei fazê-lo
depois das férias e de saber quanto dinheiro sobrava...
Nunca mais o vi!
Na loja da Diesel estava um grupo de tipos, que
falavam um idioma eventualmente de leste e com uns grandes crachás
a dizer "Quer perder peso? Pergunte-me como". Estes tipos da Herbalife
andam por todo o lado... E, mais adiante mais uns...
Fugimos dali pois o ditado que diz "quem come com
os olhos já enche a barriga" nunca me disse muito...
Seguimos pela Sunset Boulevard em direcção
a Hollywood. As vivendas na boulevard são uma vez mais dignas
de um sonho. É difícil imaginar quanto dinheiro custará uma
vivenda ali e mais impressionante é que são tantas...
Que chegar a Hollywood se torna uma desilusão. Que decadência!
Como é que é possível falarem em Hollywood
e depois chegar ali e ficar de tal modo desiludido que a vontade é nunca
mais ver filmes posteriores a 1950. A indústria cinematográfica
deve ter parado nos anos 50 por aqueles lados... E, deu lugar a
bares de alterna!
Tentámos subir aos montes onde está escrito "Hollywood".
Mas, se ir de Venice Beach a Beverly Hills demorou tanto, mais
difícil era encontrar aquelas letras enormes. Andámos
lá perto, acredito, mas nunca lá chegamos. Porém,
a zona onde andámos era mais uma vez de sonho... Embora
acredite que em caso de terramoto fosse uma zona de calamidade.
Imaginem uma montanha, com ruas sinuosas, casas
de sonho de cada lado e com vista sobre a cidade. Bem! Vista sobre
a cidade é como diz... Sobre a poluição da
cidade. O nevoeiro e fumo era de tal forma denso que àquela
hora, quase ao pôr-do-sol, com o sol baixo, se tornava quase
impossível pouco mais que uns míseros prédios
do centro de LA.
Mas, não demos com as monstruosas letras.
Vimo-las de lá de baixo, mas, ali perto delas parecia impossível
encontrá-las. Resolvemos voltar, pois a gasolina estava
a acabar com tantas voltas pela grande cidade.
Estava a entrar em pânico, quando em Hollywood,
nuns semáforos, consegui a preciosa ajuda de um condutor
que me indicou uma bomba de gasolina. Que alívio... O primeiro
das férias!!! Muitos outros e mais graves virão,
fiquem atentos!
Rumámos a sul. Não tínhamos
ideia de onde íamos dormir, mas, também não
havia problema, pois queríamos era andar nas calmas... E,
jantar! Resolvi rumar a Aneheim, pois já lá tinha
estado uma semana (lembram-se? Numa feira com uns esraelitas...)
e sabia onde comer e, se fosse caso disso, onde dormir.
Atravessámos LA de Norte a Sul. Se virem
um mapa poderão ver que Hollywood fica na parte Norte da
grande cidade e Aneheim a sul, a cerca de 50 km, com Los Angeles
algures no centro. Los Angeles é sem dúvida uma grande
cidade...
Apanhámos a autoestrada número 5 e
aí fomos nós. Passámos junto ao centro de
Los Angeles, que perto do resto da cidade até é muito
pequeno. É fácil de ver, pois é o único
local onde existem prédios com mais de dez andares. É impressionante
ver uma cidade com cerca de 100 km de costa, com mais habitantes
que Portugal inteiro e com casas, na sua maioria, térreas.
Mas, isso não faz de LA uma cidade bonita, pelo contrário.
Aliás a área de autoestrada que cruza a cidade em
todas as direcções deve ser superior à implementada
em Portugal, incluindo as estradas nacionais, regionais e concelhias. É tipicamente
uma cidade orientada para os carros...
E, se Aneheim tem a Disneyland, pouco mais tem para
se ver e mal saímos da autoestrada, resolvemos logo sair
dali. Já nos estávamos a irritar com tanta selva
de betão e trânsito e resolvemos ir para a zona melhor
de Los Angeles - a costa.
Não sei se lembram mas, naquela semana em
que fiquei em Los Angeles, na tal feira a ajudar a empresa israelita,
fui dar uma volta no final do último dia. E, nessa altura
fui a Newport Beach, uma zona muito gira e que até me tinha
dado uma outra imagem de LA (tirando os poços de petróleo
na costa). Pois foi para Newport Beach que decidimos ir e porque
não, jantar.
Parámos o jipaço na península
de Balboa, uma língua de terra carregada de casas de praia
entre a foz de um rio infestada de veleiros e barcos e o Oceano
Pacífico. Andava tudo na rua e era a hora normal de jantar
para os povos do sul mediterrânico, pois para os americanos
essa já tinha passado à muito. Foi o que vimos quando
resolvemos entrar no Crab Cooker, "The finest Pacific caught Dungeness
crab" (http://www.crabcooker.com/).
Por sorte éramos só dois e entrámos
depressa para uma mesa, porque à porta ficou um grupo de,
pelo menos, dez italianos e italianas, todos de crachá do
Herbalife ao peito... Estes tipos andam, mesmo, por todo o lado.
Comecei a perceber que afinal havia um encontro mundial da Herbalife
ou então estávamos na Meca da empresa... Se calhar
até haveria um templo enorme como o Morman em Salt Lake
City e tudo rodaria em torno disso...
Mas, acordei para o melhor caranguejo do pacífico.
Bem! Se aquilo é o melhor caranguejo do pacífico,
o do Atlântico é muito melhor e até o lagostim
da ria de Aveiro bate aquilo aos pontos. É impressionante
como até do caranguejo se consegue fazer fast-food. Sim!
Imaginem sopa de delícias do mar (ou aglomerado de caranguejo)
e depois juntem-lhe umas batatas fritas e mais umas delícias
panadas e um bocado de salada, tudo em pratos de plástico,
assimo como uma cerveja (uma verdadeira excepção)
Heinenken em copos de plástico e talheres de plástico,
numa sala carregada de gente a falarem alto e uma empregada simpática
(se não era despedida) e o que dá? Um MacDonalds
do Caranguejo. É o futuro meus caros... Um fast-food de
couratos e vinho a martelo e Portugal mudava radicalmente. Imaginem
sandes de aglomerado de presunto... Bem, os chouriços o
que são?
Mas, nem foi muito mau. Até foi divertido,
ver como é que funciona a restauração nos
Estados Unidos. Felizmente ainda existem restaurantes indianos,
tailandeses, chineses e afins, porque se fosse tudo assim eu não
tinha sobrevivido.
Acabado o jantar estava na hora de começar
a pensar onde dormir. Afinal de contas já eram 11h. Resolvemos
ir até San Juan Capristano, a 30 km a sul, pois o Mário
tinha dito que era muito bonita e pelas fotografias que vimos em
panfletos não deveria desiludir.
Porém, andar à procura de dormida
quase à meia-noite numa terrinha onde para além da
estrada e dos carros que por lá passavam, pouco mais tinha.
Nem gente na rua... No Verão, numa vila turística
era impressionante como não se via quase ninguém
nas ruas.
E, para ajudar quase todos os Móteis apresentavam
o belo dístico "Full". Excepto um, que aliás ostentava
um dístico "Desde $29"... Mas, um Mótel que não
estava cheio e ainda por cima era tão barato, cheirava a
esturro. Entrámos...
Toquei na campainha da recepção e
de repente aparece-me uma mulher indiana. Com um "piercing" na
narina e vestida com um lindo vestido indiano. Eu não sei
se estava a dormir, mas, se não estava é porque tinha
estado a fumar algo ilegal. Aliás o modo como falava e se
ria dava todo o ar disso.
"Quanto custa um quarto duplo?" perguntei. Não é que
afinal o quarto custava $49, quase o dobro do que estava anunciado.
Ela lá explicou, enquanto se mexia toda em todas as direcções,
que esses quartos baratos não tinham ar condicionado e eram
individuais.
A Cláudia estava a ficar fula com aquela
aldrabice, coisa a que eu já me tinha habituado nos Estados
Unidos. Eu estava cansado de estar a conduzir em cidade há tanto
tempo. Estava pronto a ficar, mas, a Cláudia não
quis ficar... Dissemos que não à mulher e íamos
a virar costas quando... O preço baixou para $45. Voltámos
a repetir que não estávamos interessados. O preço
baixou para $40. Abrimos a porta para sair e... O preço
era o que queríamos. E, quando pusemos um pé de fora
da porta, o preço tinha chegado aos $25, com uma passagem
esporádica pelos $35 e $30. Mas, já tínhamos
decidido não ficar...
Haviam dois parques de campismo a cerca de 10 milhas
dali, numa zona montanhosa e de parque natural. Quem tinha conduzido
até ali poderia eventualmente aguentar mais umas milhas.
Os parques ficavam nas montanhas de Cleveland National Forest e
perto do lago Elsinore. Deviam de ter uma vista porreira.
Metemo-nos à estrada, quase à meia-noite
e meia. Já era tarde e se calhar os parques até estavam
fechados, mas, porque não arriscar? Para portugueses ainda
era cedo.
A estrada era sinuosa, íngreme e a dada altura
com um nevoeiro muito denso, tudo o que um condutor cansado precisava.
Mas, depressa chegámos ao primeiro parque de campismo, que
nem sequer estava assinalado no nosso guia. Depressa é como
quem diz... Em termos de tempo, nem foi muito, mas, para mim estava
a ser uma eternidade. Estava mesmo cansado.
Parei o carro à porta do parque e fui até à caravana
do dono do parque. Um letreiro dizia para bater e foi o que fiz,
apesar de não se ver uma única luz acesa lá dentro.
Ninguém respondia e voltei a bater. Estava para desistir
quando alguém lá de dentro diz que estavam fechados
desde as 11h. Cromos!
Seguimos o nosso caminho pelo nada. Sim! Para além
de nós não havia viva alma naquela estrada e em volta
dela.
Encontrámos outro parque de campismo... Que
também não tinha viva alma. Demos uma volta ao parque,
que aliás era pequeníssimo, e nem uma tenda. Tirando
o quartel dos Rangers e dos Bombeiros que ficavam mesmo do outro
lado da estrada, não se via luz alguma. Nem gente...
Era um típico parque de pernoita de montanha.
Sem chuveiros e que se pagava através de um subscrito à entrada,
que depois de preenchido, levava com $10 lá dentro e confirmava
aos Rangers que estava tudo perfeitamente legal.
Montámos a tenda com a ajuda dos faróis
do carro e das lanternas. E, fomos dormir...
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