C138 SEXTA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2000
Eu em Rodeo Beach - Fotografia de Cláudia Fernandes

Isto está realmente com algum atraso, mas, já não vale a pena falar nisso. É aguentar com elas atrasadas e é se querem. Mesmo que não queiram, levam com elas... Sempre podem "des-subrescrever" as crónicas, mas, se fosse a vocês não fazia isso.

Ah! E, se eu me esquecer de contar algum pormenor, já sabem, chamem-me a atenção.

Terça-feira, 1 de Agosto de 2000

Saí de manhã, de novo montado na Vaynessa, e nas calmas fiz os sete quilómetros que separavam a minha casa do escritório. Estava a ficar calor e sabe tão bem passar ali perto da água da baía. Que maravilha.

O dia passou sem grandes sobressaltos. E, voltei para casa tarde, mas, a Cláudia não estava. Eventualmente tinha ido até São Francisco, pois estava a ficar farta de estar em casa e além disso, tirando as férias, já só tinha meia dúzia de dias para andar a passear pela cidade.

Eu aproveitei para pôr o correio mais ou menos em dia e estive a responder a alguns mails. O correio e as crónicas andavam atrasados, porque não andava a levar o portátil para o escritório, para que a Cláudia pudesse comunicar comigo e com os amigos em Portugal.

A Cláudia chegou cerca das 8h45m. Tinha realmente andado a passear pela cidade. Fiquei com inveja, mas, o emprego não deixava muito tempo para passear com ela.

Enquanto ela fazia o jantar, eu fui levar o Magnolia ao clube de vídeo. Ia matando um cão e um gato, ou ia morrendo eu. A luz da frente da bicicleta está sem pilhas e mal funciona. Num caminho que mais parece um túnel de vegetação e sem iluminação é muito fácil não ver nada e se um cão se atravessa... E, atravessou-se, mas eu consegui ver a sobra e ele assustou-se comigo e fugiu.

Voltei mais devagar, para não ter que ser responsabilizado pela morte de um animal de estimação nos Estados Unidos e condenado a prisão perpétua. E, não me magoar se um animal de estimação se atravessar à minha frente, enquanto faz as suas necessidades, num caminho supostamente reservado a ciclistas e peões.

Cheguei bem! Comemos enquanto víamos o Man On the Moon.

Ok! Um filme com o Jim Carrey. Eu não gosto muito do palhaço, pois o humor dele é um bocado básico e se pintasse a cara até podia ser o Batatinha que era o mesmo. Mas, este filme era diferente e era necessário que ele encarnasse o papel do Andy Kaufman, uma das personagens mais inovadoras e por isso enigmáticas do humor americano.

Se a história do filme é completamente verdadeira, não é de surpreender que o verdadeiro Andy Kaufman fosse realmente incompreendido. Pois, o rapaz era um bocado atravessado. Já se viu armar uma cena de pancadaria com o melhor amigo, num programa directo, como piada? Quem é que se riu? Ele e o amigo...

Mas, o filme, que foi realizado pelo Milos Forman, até nem é mau de todo e o Jim Carrey nem se mostra muito palhaço, como é costume e cinge-se ao papel. Está à altura de um Truman Show...

Quarta-feira, 2 de Agosto de 2000

Faltavam dois dias para as férias e o tempo continuava a aquecer. A Vaynessa, companheira de tantas aventuras, levava-me na sua montada para mais um dia de trabalho, pelos trilhos que atravessam o pantanal junto à baía. Os pássaros cantavam e vi um veado no jardim de uma casa, mesmo à saída de casa. A natureza no seu estado bruto rodeava-me... Até a natureza humana, quando atravessava o trilho junto à auto-estrada 101.

O dia no escritório, foi um normal dia de quem espera que o tempo passe para partir de férias. Sem uma nova versão do VisConcept e sem pouco mais para fazer, aproveitei para tentar pôr as Crónicas mais actualizadas. Mas, apenas recuperei os dias que iria atrasar nas férias.

Quando voltei para casa, estava mesmo calor de verão. A Cláudia não estava. Aproveitei já estar suado e o facto de ainda estar luz, para levar o Man On the Moon, ao clube de vídeo. Soei que nem um porco, mas, também é normal... Fui a abrir!

Cheguei a casa, vesti os calções e atirei-me para a piscina. Que luxo! A água estava fresca e custava entrar, mas, depois de lá estar... Custava era sair.

Mas, quando já estava a ficar com a pele enrugada pela água, lá saí e pus-me um bocado ao sol, que felizmente ainda teimava em não descer por detrás do Tamalpais. Estava no céu... Um Colibri aproveitava para ir comer na flor mesmo ao lado da minha cabeça. Esta estava ainda meia atordoada com a quantidade de mergulhos, braçadas e voltas dentro de água, que faziam com que pensasse que estava dentro de um barco.

O Colibri fugiu quando viu que afinal eu me mexia e o Singh decidiu fazer-me companhia. Pela primeira vez aventurou-se e trouxe duas cervejas. Sim, era a primeira vez que o Singh tomava banho na piscina. Ao fim de dois anos a viver naquela casa.

Estivemos ali a beber umas Coronas, através de canecas de leite e cujas garrafas estavam embrulhadas em papel e escondidas entre a vegetação, para não dar nas vistas à gestora do condomínio. Isto cabe na cabeça de alguém? Numa terra em que todos se emborracham à grande, depois tem que se andar a beber às escondidas, porque simplesmente é proibido beber na rua.

Ainda falámos, mais uma vez, dos portugueses de Goa, mais uma vez e de como os Sikhs são um povo forte e o Punjab tem tanta riqueza e gente inteligente. Mas, depressa os assuntos se repetiram e eu fui para cima, para casa.

Mas, a Cláudia não chegava e quem chegou foi o Ben. Aproveitando o facto de que estava calor e porque andava mais sozinho, o rapaz resolveu surpreender-nos. Fomos para a piscina novamente.

Só saí da piscina quase às 8h da noite. Estava mesmo um dia extraordinário e a noite avizinhava-se quente, também.

Eu e o Ben, estivemos na conversa com o Singh, mais uma vez, acerca dos Judeus da área da Índia de onde o Singh vinha. O Ben é judeu, mas, não praticante e até discorda com algumas coisas da religião. Mas, o Singh insiste em massacrar-lhe a cabeça, porque teve um companheiro de apartamento judeu que lhe fez a vida negra.

Felizmente, o Ben não lhe dá muita bola e a Cláudia, no entretanto, chegou. Descobriu a zona de SOMA onde existem as lojas de decoração e o Singh desistiu de nos perceber e foi-se deitar. O Ben lá nos aturou a falar em português, acerca disto ou daquilo que ficava melhor na nossa casa.

Esse dia era o dia da festa de despedida do Nuno Moura que ia para São Paulo no dia seguinte. Mas, não tínhamos nenhuma hipótese de ir aquela hora para Mountain View e nem sequer tínhamos combinado nada.

Até, que resolvemos ir comer a Fairfax. A Cláudia tinha lido acerca de um restaurante bom e barato por lá. Mas, como já eram quase 9h30m, já estava fechado. Como é que alguém fecha um restaurante às 9h30m? Só num país em que se janta às 6h30m. Ainda tentámos a cervejaria de Fairfax, mas mesmo essa estava com a cozinha fechada. Estes meninos têm que ir à Capa Negra e ver até que horas é que se come e como se come, neste nosso Portugal.

Fomos ao café Amsterdam, onde pudemos apreciar um concerto enquanto comíamos. A comida estava óptima, mas o mesmo não se pode dizer do concerto. Eu comi uma maravilhosa massa com amêijoas... Estava óptimo... Só é pena que o tipo que estava tocar, parecia que estava sempre a tocar a mesma música e que esta fosse quase tão má como a música do Luís Represas, tocadas só com guitarra. Além disso, e como a cozinha estava quase a fechar quando entrámos e a única mesa posta era a junto ao palco, tínhamos que gramar com o amplificador mesmo ali ao lado, o que nos deixava como tempo para conversar os intervalos das músicas.

Mas, o café Amsterdam é engraçado. Tem um ar de coffe-shop de Amsterdão, mas adulterada pela visão dos americanos, para ter um tipo a cantar country ao vivo...

Ficámos um bocado, bem servidos, para quem se queixava de jantar tão cedo. E, resolvemos passear pela zona. Lojas Zen, espiritualidades, bebidas purificadoras e rejuvenescestes, escolas de yoga, muito incenso e vestidos hippies. Fairfax é mesmo assim... A terra dos hippies.



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