Isto está realmente com algum atraso, mas,
já não vale a pena falar nisso. É aguentar
com elas atrasadas e é se querem. Mesmo que não queiram,
levam com elas... Sempre podem "des-subrescrever" as
crónicas, mas, se fosse a vocês não fazia isso.
Ah! E, se eu me esquecer de contar algum pormenor,
já sabem, chamem-me a atenção.
Terça-feira, 1 de Agosto de 2000
Saí de manhã, de novo montado na Vaynessa,
e nas calmas fiz os sete quilómetros que separavam a minha
casa do escritório. Estava a ficar calor e sabe tão
bem passar ali perto da água da baía. Que maravilha.
O dia passou sem grandes sobressaltos. E, voltei
para casa tarde, mas, a Cláudia não estava. Eventualmente
tinha ido até São Francisco, pois estava a ficar
farta de estar em casa e além disso, tirando as férias,
já só tinha meia dúzia de dias para andar
a passear pela cidade.
Eu aproveitei para pôr o correio mais ou menos
em dia e estive a responder a alguns mails. O correio e as crónicas
andavam atrasados, porque não andava a levar o portátil
para o escritório, para que a Cláudia pudesse comunicar
comigo e com os amigos em Portugal.
A Cláudia chegou cerca das 8h45m. Tinha realmente
andado a passear pela cidade. Fiquei com inveja, mas, o emprego
não deixava muito tempo para passear com ela.
Enquanto ela fazia o jantar, eu fui levar o Magnolia
ao clube de vídeo. Ia matando um cão e um gato, ou
ia morrendo eu. A luz da frente da bicicleta está sem pilhas
e mal funciona. Num caminho que mais parece um túnel de
vegetação e sem iluminação é muito
fácil não ver nada e se um cão se atravessa...
E, atravessou-se, mas eu consegui ver a sobra e ele assustou-se
comigo e fugiu.
Voltei mais devagar, para não ter que ser
responsabilizado pela morte de um animal de estimação
nos Estados Unidos e condenado a prisão perpétua.
E, não me magoar se um animal de estimação
se atravessar à minha frente, enquanto faz as suas necessidades,
num caminho supostamente reservado a ciclistas e peões.
Cheguei bem! Comemos enquanto víamos o Man
On the Moon.
Ok! Um filme com o Jim Carrey. Eu não gosto
muito do palhaço, pois o humor dele é um bocado básico
e se pintasse a cara até podia ser o Batatinha que era o
mesmo. Mas, este filme era diferente e era necessário que
ele encarnasse o papel do Andy Kaufman, uma das personagens mais
inovadoras e por isso enigmáticas do humor americano.
Se a história do filme é completamente
verdadeira, não é de surpreender que o verdadeiro
Andy Kaufman fosse realmente incompreendido. Pois, o rapaz era
um bocado atravessado. Já se viu armar uma cena de pancadaria
com o melhor amigo, num programa directo, como piada? Quem é que
se riu? Ele e o amigo...
Mas, o filme, que foi realizado pelo Milos Forman,
até nem é mau de todo e o Jim Carrey nem se mostra
muito palhaço, como é costume e cinge-se ao papel.
Está à altura de um Truman Show...
Quarta-feira, 2 de Agosto de 2000
Faltavam dois dias para as férias e o tempo
continuava a aquecer. A Vaynessa, companheira de tantas aventuras,
levava-me na sua montada para mais um dia de trabalho, pelos trilhos
que atravessam o pantanal junto à baía. Os pássaros
cantavam e vi um veado no jardim de uma casa, mesmo à saída
de casa. A natureza no seu estado bruto rodeava-me... Até a
natureza humana, quando atravessava o trilho junto à auto-estrada
101.
O dia no escritório, foi um normal dia de
quem espera que o tempo passe para partir de férias. Sem
uma nova versão do VisConcept e sem pouco mais para fazer,
aproveitei para tentar pôr as Crónicas mais actualizadas.
Mas, apenas recuperei os dias que iria atrasar nas férias.
Quando voltei para casa, estava mesmo calor de verão.
A Cláudia não estava. Aproveitei já estar
suado e o facto de ainda estar luz, para levar o Man On the Moon,
ao clube de vídeo. Soei que nem um porco, mas, também é normal...
Fui a abrir!
Cheguei a casa, vesti os calções e
atirei-me para a piscina. Que luxo! A água estava fresca
e custava entrar, mas, depois de lá estar... Custava era
sair.
Mas, quando já estava a ficar com a pele
enrugada pela água, lá saí e pus-me um bocado
ao sol, que felizmente ainda teimava em não descer por detrás
do Tamalpais. Estava no céu... Um Colibri aproveitava para
ir comer na flor mesmo ao lado da minha cabeça. Esta estava
ainda meia atordoada com a quantidade de mergulhos, braçadas
e voltas dentro de água, que faziam com que pensasse que
estava dentro de um barco.
O Colibri fugiu quando viu que afinal eu me mexia
e o Singh decidiu fazer-me companhia. Pela primeira vez aventurou-se
e trouxe duas cervejas. Sim, era a primeira vez que o Singh tomava
banho na piscina. Ao fim de dois anos a viver naquela casa.
Estivemos ali a beber umas Coronas, através
de canecas de leite e cujas garrafas estavam embrulhadas em papel
e escondidas entre a vegetação, para não dar
nas vistas à gestora do condomínio. Isto cabe na
cabeça de alguém? Numa terra em que todos se emborracham à grande,
depois tem que se andar a beber às escondidas, porque simplesmente é proibido
beber na rua.
Ainda falámos, mais uma vez, dos portugueses
de Goa, mais uma vez e de como os Sikhs são um povo forte
e o Punjab tem tanta riqueza e gente inteligente. Mas, depressa
os assuntos se repetiram e eu fui para cima, para casa.
Mas, a Cláudia não chegava e quem
chegou foi o Ben. Aproveitando o facto de que estava calor e porque
andava mais sozinho, o rapaz resolveu surpreender-nos. Fomos para
a piscina novamente.
Só saí da piscina quase às
8h da noite. Estava mesmo um dia extraordinário e a noite
avizinhava-se quente, também.
Eu e o Ben, estivemos na conversa com o Singh, mais
uma vez, acerca dos Judeus da área da Índia de onde
o Singh vinha. O Ben é judeu, mas, não praticante
e até discorda com algumas coisas da religião. Mas,
o Singh insiste em massacrar-lhe a cabeça, porque teve um
companheiro de apartamento judeu que lhe fez a vida negra.
Felizmente, o Ben não lhe dá muita
bola e a Cláudia, no entretanto, chegou. Descobriu a zona
de SOMA onde existem as lojas de decoração e o Singh
desistiu de nos perceber e foi-se deitar. O Ben lá nos aturou
a falar em português, acerca disto ou daquilo que ficava
melhor na nossa casa.
Esse dia era o dia da festa de despedida do Nuno
Moura que ia para São Paulo no dia seguinte. Mas, não
tínhamos nenhuma hipótese de ir aquela hora para
Mountain View e nem sequer tínhamos combinado nada.
Até, que resolvemos ir comer a Fairfax. A
Cláudia tinha lido acerca de um restaurante bom e barato
por lá. Mas, como já eram quase 9h30m, já estava
fechado. Como é que alguém fecha um restaurante às
9h30m? Só num país em que se janta às 6h30m.
Ainda tentámos a cervejaria de Fairfax, mas mesmo essa estava
com a cozinha fechada. Estes meninos têm que ir à Capa
Negra e ver até que horas é que se come e como se
come, neste nosso Portugal.
Fomos ao café Amsterdam, onde pudemos apreciar
um concerto enquanto comíamos. A comida estava óptima,
mas o mesmo não se pode dizer do concerto. Eu comi uma maravilhosa
massa com amêijoas... Estava óptimo... Só é pena
que o tipo que estava tocar, parecia que estava sempre a tocar
a mesma música e que esta fosse quase tão má como
a música do Luís Represas, tocadas só com
guitarra. Além disso, e como a cozinha estava quase a fechar
quando entrámos e a única mesa posta era a junto
ao palco, tínhamos que gramar com o amplificador mesmo ali
ao lado, o que nos deixava como tempo para conversar os intervalos
das músicas.
Mas, o café Amsterdam é engraçado.
Tem um ar de coffe-shop de Amsterdão, mas adulterada pela
visão dos americanos, para ter um tipo a cantar country
ao vivo...
Ficámos um bocado, bem servidos, para quem
se queixava de jantar tão cedo. E, resolvemos passear pela
zona. Lojas Zen, espiritualidades, bebidas purificadoras e rejuvenescestes,
escolas de yoga, muito incenso e vestidos hippies. Fairfax é mesmo
assim... A terra dos hippies.
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