Não sei se ainda se lembram onde vos deixei
na última crónica, mas, para vos voltar a colocar
na história, digo-vos que estava acampado com uns amigos
da Mariana em Utica Reservoir, algures entre o Lake Tahoe e Yosemite.
Eu, a Cláudia e a Mariana.
Aliás esta é mais uma crónica
com o valioso patrocínio da Mariana e realizada graças
ao seu soberbo bólide.
Domingo, 30 de Julho de 2000
Apesar da tenda estar à sombra a alvorada
foi cedo demais para quem se deitou tarde. Bem! Não fui
muito tarde, mas... Se bem se lembram a noite anterior tinha sido
dura e rápida, pois à uma da manhã já estava
a dormir e com uns copos a mais. Por isso me pareceu cedo demais
e bem que podia dormir mais um bocado.
Assim que pus a cabeça de fora a nossa amiga
que dorme com os cães perguntou-me se o Volkswagen vermelho
era nosso, porque alguém pediu para o mudar. Mas, também
disse que não era nada de grave e foi tomar banho para o
lago. A Cláudia nem se mexeu e a Mariana ainda estava na
tenda dela.
Era curiosa esta nossa amiga, de quem não
me lembro o nome e que tinha dois cães. Raramente convivia
com o pessoal e passava o tempo quase todo na tenda com os cães
e a ler. Quando ia tomar banho na lago, tanto ela como a Moira,
iam para detrás de uma rochas de maneira que nós
não as víssemos, suponho que por vergonha de se mostrarem
em fato de banho. Acho impressionante como se pode viver uma vida
inteira num corpo e ter-se vergonha de o mostrar.
O melhor da nossa amiga dos cães foi o facto
de permitir que os cães transportassem na coleira as latas
de cerveja vazias e amassadas. Assim, não se sujou o ambiente
e podia-se ter um caixote do lixo ambulante.
Não liguei muito ao assunto relativo a mudar
o carro, aliás porque a paciência era pouca para conduzir.
Deitei-me numa toalha em frente à nossa tenda, mas depressa
perdi as esperanças de voltar a dormir. Aliás porque
no entretanto chegou um velho e entrou pelo acampamento a dentro
a perguntar de quem era um VW vermelho e se o podiam mudar que
ele queria meter o carro dele não sei onde. Não quis
saber mais pormenores acerca do lugar onde ele queria meter a carrinha
dele e tirei o carro do lugar.
Voltei para a sorna. No entretanto o Jerry levantou-se
e agarrou uma Bud Light para o pequeno almoço. Fui até perto
do lago, com ele, e, juntei-me ao grupo que já lá estava
agarrado às suas cadeiras e cervejas. Eu gostei mais das
batatas fritas.
O Joe, o bronco de serviço, passava o tempo
todo de cerveja na mão ou no suporte de latas da sua cadeira
extensível. Quando acabava uma cerveja, dava um arroto e
mergulhava no lago. Era um verdadeiro espectáculo circense
em ciclo infinito.
No entretanto a Cláudia e a Mariana já tinham
acordado e nada melhor para despertar que um mergulho directo no
lago. Eu é que nem estava com muita vontade, mas a Mariana
decidiu que eu precisava de um pequeno empurrão para mergulhar.
Quem me conhece sabe bem que eu tenho pavor a águas
profundas e que não mergulho, nem tomo banho em sítios
sem pé. Aquele sítio era precisamente um desses sítios
e estava com algum receio de me banhar. Mas, com um empurrão
daqueles era difícil não o fazer e entrei na água
em perfeito voo.
Foi da maneira que deixei de ter medo de águas
profundas e me apercebi que afinal sei nadar e sei me safar melhor
do que pensava. Não entrei em pânico e fiz de conta
que aquela situação era normal, mas, na verdade foi
a primeira vez que me aventurei em águas sem pé.
Obrigado Mariana por me teres atirado aos tubarões.
Desde essa altura que me aventurei mais para a parte
sem pé da minha piscina, em Corte Madera. Aliás já nadava
e tocava no fundo com 3 metros de profundidade. Sinto-me muito
mais seguro com essas coisas.
Enquanto me secava aproveitei para pegar na câmara
e tirar uma fotografias à praia e ao grupo. Entre as visadas
estavam a Cláudia e a Mariana, que por sinal eram as únicas
raparigas de biquini na praia. Claro, que o Jerry começou
logo a gozar com o facto e a dizer que eu tinha um site na Internet
chamado www.portuguese_girls_in_action.com.
O Jerry dizia que o que mais temia se alguma vez
fizesse nudismo era o facto de lhe divulgarem a imagem dele nu
na Internet. Esta obsessão com mostrar o corpo é realmente
um problema para os americanos, aliás porque ao contrário
de Portugal e na Europa, nunca e em lado nenhum se vê um
corpo nu. Em Portugal, qualquer comercial de sabonete ou champô tem
pelo menos um mamilo ou um corpo semi nu.
Aliás por falar em ter vergonha de mostrar
o corpo e ver corpos nus, eu protagonizei uma cena de nudismo pouco
depois. Ali em Utica Reservoir, já vos tinha dito que existiam
casas de banho, mas estavam demasiado longe e quando me senti apertado
tive que fazer como toda a gente e como se fazia em tempos idos.
Fui ao monte mesmo por detrás de uma pedra.
Digo-vos que a vista era fantástica. Por
detrás de umas árvores com vista sobre o lago e coberto
por uma pedra enorme, conseguia ver as pessoas a passarem de kayak
pelo lago. Fiz o que tinha a fazer, mas, a dada altura comecei
a ouvir passos e assustei-me. Alguém estava a descer a encosta
por detrás das pedras. Felizmente, falavam alto e eu já estava
a acabar. Levantei-me para ver de onde e para onde iam... Pois,
estava uma tipa a descer a pedra mesmo nas minhas costas, logo
seguida do namorado que transportava uma geleira maior que ele,
como é normal nos Estados Unidos.
Se eu me assustei, imaginem a carinha da miúda.
Pedi desculpa e eles desviaram a sua rota para o outro lado. Azar,
mas eu senti-me muito melhor quando saí de detrás
da pedra.
Aliás, quando voltava para o acampamento
resolvi subir a um pedregulho enorme que tinha cerca de 4 metros
de altura e tinha uma escarpa vertical. Uma verdadeira parede de
escalada, mas, eu subi do lado menos íngreme e não
tive que usar as mãos. A vista sobre o lago lá de
cima era soberba e consegui ver que não era o único
que naquele momento estava apertado e tinha recorrido ao método
tradicional. Já tinha notado que a casa de banho ali era
do limite da imaginação, para a maior parte do pessoal
do acampamento, mas, bem que podiam se esconder um bocadinho mais.
Eu, a Cláudia e a Mariana resolvemos preparar
o almoço e acabar com o salmão do dia anterior, para
além de uns chilis verdes. A Mariana tinha comprado uma
mão cheia deles, mas ainda não os tínhamos
cozinhado. Decidimos assá-los só com sal sobre uma
placa de folha de alumínio. E fomos provando... Ainda bem
que ainda tínhamos cerveja e ainda bem que estava fresca
porque até a respiração cortava. Chorei de
cada vez que tentei comer um chili. Juntámo-lhe um bocado
de cerveja e deixámos aquilo assar bem. Ao fim de um bom
bocado já se conseguiam comer sem que nos viessem lágrimas
aos olhos, ficássemos sem respirar e tivéssemos que
beber uma cerveja quase toda. Mas, mesmo assim poucos foram os
que lhe tocaram e ficaram lá imensos...
No fim do almoço, eu e a Cláudia resolvemos
arrumar as nossas coisas, como já alguns tinham feito. Aliás,
o Charlie e o Dillan já tinham ido embora, assim como a
nossa amiga dos cães e a amiga Moira.
Não estava com pressa, mas não me
apetecia estar a conduzir o bólide só com um farol à noite.
Principalmente num domingo à noite à chegada a São
Francisco.
Ainda fomos conversar um bocado para ao pé da água,
mas, convenci a Mariana a irmos cedo. Ajudámo-la a desmontar
a tenda, arrumar as coisas e fizemo-nos à estrada, depois
de nos termos despedido do grupo.
Foi um fim-de-semana muito fixe. Foi o primeiro
com a Cláudia fora de São Francisco e o grupo era
bastante heterogéneo o que permitia ter diferentes conversas
sem nunca cair em rotinas. Mas, também num fim-de-semana
de dois dias como é que se pode falar de muita coisa se
se anda sempre de lata de cerveja na mão?
Mas, foi porreiro a Mariana ter-nos levado, o bólide
ter-nos carregado e estar ali junto a um lago tão bonito
com uma companhia verdadeiramente americana, a apreciar um dos
pôr-do-sol mais bonitos que já vi, estar com a Cláudia
e uma amiga como a Mariana. Só faltava o garrafão
do vinho e o bacalhau para melhorar a coisa, mas tivemos salmão,
a versão americana do nosso peixe mais famoso.
Saímos de lá por volta das 4h e a
viagem de volta fez-se sem sobressaltos e calmamente.
Pelo caminho parámos em Angel's Camp, uma
das povoações que é falada em revistas de
BTT e que suponho já recebeu uma prova da Taça do
Mundo. Mas, parámos lá por outros motivos, bem menos
desportistas. Parámos para tomar café, porque aqui
o condutor estava meio ensonado. Na verdade, não tinha tomado
um café durante os últimos dias, o que explicava
o facto de andar sempre com sono... Apesar de não explicar
o facto de ter ido dormir tão cedo na noite anterior.
Entrámos na Scott's Tavern, depois de apanharmos
um verdadeiro bafo de calor até lá chegar. Não
havia mais nada aberto na povoação. Era domingo e
com mais de 40 graus na rua quem é que se aguentava? Foi
mais ou menos a resposta que nos foi dada pelo Scott (o dono da
Scott's Tavern e que gostava de pescar, pelas fotos na parede)
quando lhe perguntámos se havia café. "Café com
120 graus (49º C) lá fora?"... Pois sim, lá por
estar frio não se deixam de se comer gelados...
Aproveitámos para provar uma cerveja, que
de cerveja não tinha nada. Já não me lembra
o nome daquilo, mas era completamente transparente. Aliás,
parecia e sabia a limonada, mas, aparentemente tinha álcool.
Vimos uma mulher a beber aquilo e achámos piada à garrafa
e perguntámos o que era. A curiosidade ainda aumentou mais
e o Scott ao servir outra à tipa, pôs um pouco num
outro copo e deu-nos a provar.
Não sei se tem a ver com o processo de fabrico
ser semelhante, mas aquilo de cerveja não tem nada. Aliás
como a Root Beer, um tipo de bebida que eu decidi provar quando
estive em Los Angeles, a trabalhar em colaboração
com a ComView. Não haviam bebidas alcoólicas num
restaurante mexicano e com o calor que estava naquele dia, apetecia-me
uma cerveja. Como para mim Beer é cerveja, nem perguntei à mexicana
e pensei que era uma cerveja sem álcool. Na falta de melhor.
Além de que se perguntasse ficava na mesma, à quantidade
de inglês que ela devia de falar.
Pois bem, essa tal Root Beer, devia de se chamar
Rotten (podre), porque para além de saber a chicletes de
mentol misturado com sola de sapato, os efeitos nefastos nos intestinos
no dia seguinte são proporcionais ao seu bom sabor. Os nossos
intestinos habituados a feijão, enchidos e afins não
consegue fazer frente ao poder desentupidor do produto. Uma verdadeira
soda caustica intestinal.
Mas, aquela que bebemos em Angel's Camp era bem
menos agressiva ou pela quantidade bebida não fez tanto
efeito.
Deixámos Angel's Camp, a montanha e depois
o vale de San Joaquin para trás e fomos para a cidade. De
volta à cidade dos eternos nevoeiros, que nos começou
a engolir ainda estávamos em Oakland, na parte leste da
baía.
Atravessámos a ponte de Richmond-San Rafael
e fomos directos para Corte Madera. Descarregámos as nossas
coisas e a Mariana seguiu para São Francisco. As irmãs
dela chegavam na semana seguinte, além de que nós
também íamos de férias e ela precisava do
bólide.
Arrumámos tudo, lavei a geleira porque o
Singh é um bocado chato com isso e além disso, nem
sequer tínhamos pedido autorização para a
usar. Tomei banho, enquanto fazia um caril com a galinha que tínhamos
comprado para o fim-de-semana e que tinha receio que se estragasse,
e que ficou uma maravilha com um arroz congelado que lá havia.
E, fomos dormir. Cansados mas felizes com um fantástico
fim-de-semana.
Obrigado Mariana.
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