C136 SEXTA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2000
www.portuguese_girls_in_action.com - Fotografia de Rui Gonçalves

Não sei se ainda se lembram onde vos deixei na última crónica, mas, para vos voltar a colocar na história, digo-vos que estava acampado com uns amigos da Mariana em Utica Reservoir, algures entre o Lake Tahoe e Yosemite. Eu, a Cláudia e a Mariana.

Aliás esta é mais uma crónica com o valioso patrocínio da Mariana e realizada graças ao seu soberbo bólide.

Domingo, 30 de Julho de 2000

Apesar da tenda estar à sombra a alvorada foi cedo demais para quem se deitou tarde. Bem! Não fui muito tarde, mas... Se bem se lembram a noite anterior tinha sido dura e rápida, pois à uma da manhã já estava a dormir e com uns copos a mais. Por isso me pareceu cedo demais e bem que podia dormir mais um bocado.

Assim que pus a cabeça de fora a nossa amiga que dorme com os cães perguntou-me se o Volkswagen vermelho era nosso, porque alguém pediu para o mudar. Mas, também disse que não era nada de grave e foi tomar banho para o lago. A Cláudia nem se mexeu e a Mariana ainda estava na tenda dela.

Era curiosa esta nossa amiga, de quem não me lembro o nome e que tinha dois cães. Raramente convivia com o pessoal e passava o tempo quase todo na tenda com os cães e a ler. Quando ia tomar banho na lago, tanto ela como a Moira, iam para detrás de uma rochas de maneira que nós não as víssemos, suponho que por vergonha de se mostrarem em fato de banho. Acho impressionante como se pode viver uma vida inteira num corpo e ter-se vergonha de o mostrar.

O melhor da nossa amiga dos cães foi o facto de permitir que os cães transportassem na coleira as latas de cerveja vazias e amassadas. Assim, não se sujou o ambiente e podia-se ter um caixote do lixo ambulante.

Não liguei muito ao assunto relativo a mudar o carro, aliás porque a paciência era pouca para conduzir. Deitei-me numa toalha em frente à nossa tenda, mas depressa perdi as esperanças de voltar a dormir. Aliás porque no entretanto chegou um velho e entrou pelo acampamento a dentro a perguntar de quem era um VW vermelho e se o podiam mudar que ele queria meter o carro dele não sei onde. Não quis saber mais pormenores acerca do lugar onde ele queria meter a carrinha dele e tirei o carro do lugar.

Voltei para a sorna. No entretanto o Jerry levantou-se e agarrou uma Bud Light para o pequeno almoço. Fui até perto do lago, com ele, e, juntei-me ao grupo que já lá estava agarrado às suas cadeiras e cervejas. Eu gostei mais das batatas fritas.

O Joe, o bronco de serviço, passava o tempo todo de cerveja na mão ou no suporte de latas da sua cadeira extensível. Quando acabava uma cerveja, dava um arroto e mergulhava no lago. Era um verdadeiro espectáculo circense em ciclo infinito.

No entretanto a Cláudia e a Mariana já tinham acordado e nada melhor para despertar que um mergulho directo no lago. Eu é que nem estava com muita vontade, mas a Mariana decidiu que eu precisava de um pequeno empurrão para mergulhar.

Quem me conhece sabe bem que eu tenho pavor a águas profundas e que não mergulho, nem tomo banho em sítios sem pé. Aquele sítio era precisamente um desses sítios e estava com algum receio de me banhar. Mas, com um empurrão daqueles era difícil não o fazer e entrei na água em perfeito voo.

Foi da maneira que deixei de ter medo de águas profundas e me apercebi que afinal sei nadar e sei me safar melhor do que pensava. Não entrei em pânico e fiz de conta que aquela situação era normal, mas, na verdade foi a primeira vez que me aventurei em águas sem pé. Obrigado Mariana por me teres atirado aos tubarões.

Desde essa altura que me aventurei mais para a parte sem pé da minha piscina, em Corte Madera. Aliás já nadava e tocava no fundo com 3 metros de profundidade. Sinto-me muito mais seguro com essas coisas.

Enquanto me secava aproveitei para pegar na câmara e tirar uma fotografias à praia e ao grupo. Entre as visadas estavam a Cláudia e a Mariana, que por sinal eram as únicas raparigas de biquini na praia. Claro, que o Jerry começou logo a gozar com o facto e a dizer que eu tinha um site na Internet chamado www.portuguese_girls_in_action.com.

O Jerry dizia que o que mais temia se alguma vez fizesse nudismo era o facto de lhe divulgarem a imagem dele nu na Internet. Esta obsessão com mostrar o corpo é realmente um problema para os americanos, aliás porque ao contrário de Portugal e na Europa, nunca e em lado nenhum se vê um corpo nu. Em Portugal, qualquer comercial de sabonete ou champô tem pelo menos um mamilo ou um corpo semi nu.

Aliás por falar em ter vergonha de mostrar o corpo e ver corpos nus, eu protagonizei uma cena de nudismo pouco depois. Ali em Utica Reservoir, já vos tinha dito que existiam casas de banho, mas estavam demasiado longe e quando me senti apertado tive que fazer como toda a gente e como se fazia em tempos idos. Fui ao monte mesmo por detrás de uma pedra.

Digo-vos que a vista era fantástica. Por detrás de umas árvores com vista sobre o lago e coberto por uma pedra enorme, conseguia ver as pessoas a passarem de kayak pelo lago. Fiz o que tinha a fazer, mas, a dada altura comecei a ouvir passos e assustei-me. Alguém estava a descer a encosta por detrás das pedras. Felizmente, falavam alto e eu já estava a acabar. Levantei-me para ver de onde e para onde iam... Pois, estava uma tipa a descer a pedra mesmo nas minhas costas, logo seguida do namorado que transportava uma geleira maior que ele, como é normal nos Estados Unidos.

Se eu me assustei, imaginem a carinha da miúda. Pedi desculpa e eles desviaram a sua rota para o outro lado. Azar, mas eu senti-me muito melhor quando saí de detrás da pedra.

Aliás, quando voltava para o acampamento resolvi subir a um pedregulho enorme que tinha cerca de 4 metros de altura e tinha uma escarpa vertical. Uma verdadeira parede de escalada, mas, eu subi do lado menos íngreme e não tive que usar as mãos. A vista sobre o lago lá de cima era soberba e consegui ver que não era o único que naquele momento estava apertado e tinha recorrido ao método tradicional. Já tinha notado que a casa de banho ali era do limite da imaginação, para a maior parte do pessoal do acampamento, mas, bem que podiam se esconder um bocadinho mais.

Eu, a Cláudia e a Mariana resolvemos preparar o almoço e acabar com o salmão do dia anterior, para além de uns chilis verdes. A Mariana tinha comprado uma mão cheia deles, mas ainda não os tínhamos cozinhado. Decidimos assá-los só com sal sobre uma placa de folha de alumínio. E fomos provando... Ainda bem que ainda tínhamos cerveja e ainda bem que estava fresca porque até a respiração cortava. Chorei de cada vez que tentei comer um chili. Juntámo-lhe um bocado de cerveja e deixámos aquilo assar bem. Ao fim de um bom bocado já se conseguiam comer sem que nos viessem lágrimas aos olhos, ficássemos sem respirar e tivéssemos que beber uma cerveja quase toda. Mas, mesmo assim poucos foram os que lhe tocaram e ficaram lá imensos...

No fim do almoço, eu e a Cláudia resolvemos arrumar as nossas coisas, como já alguns tinham feito. Aliás, o Charlie e o Dillan já tinham ido embora, assim como a nossa amiga dos cães e a amiga Moira.

Não estava com pressa, mas não me apetecia estar a conduzir o bólide só com um farol à noite. Principalmente num domingo à noite à chegada a São Francisco.

Ainda fomos conversar um bocado para ao pé da água, mas, convenci a Mariana a irmos cedo. Ajudámo-la a desmontar a tenda, arrumar as coisas e fizemo-nos à estrada, depois de nos termos despedido do grupo.

Foi um fim-de-semana muito fixe. Foi o primeiro com a Cláudia fora de São Francisco e o grupo era bastante heterogéneo o que permitia ter diferentes conversas sem nunca cair em rotinas. Mas, também num fim-de-semana de dois dias como é que se pode falar de muita coisa se se anda sempre de lata de cerveja na mão?

Mas, foi porreiro a Mariana ter-nos levado, o bólide ter-nos carregado e estar ali junto a um lago tão bonito com uma companhia verdadeiramente americana, a apreciar um dos pôr-do-sol mais bonitos que já vi, estar com a Cláudia e uma amiga como a Mariana. Só faltava o garrafão do vinho e o bacalhau para melhorar a coisa, mas tivemos salmão, a versão americana do nosso peixe mais famoso.

Saímos de lá por volta das 4h e a viagem de volta fez-se sem sobressaltos e calmamente.

Pelo caminho parámos em Angel's Camp, uma das povoações que é falada em revistas de BTT e que suponho já recebeu uma prova da Taça do Mundo. Mas, parámos lá por outros motivos, bem menos desportistas. Parámos para tomar café, porque aqui o condutor estava meio ensonado. Na verdade, não tinha tomado um café durante os últimos dias, o que explicava o facto de andar sempre com sono... Apesar de não explicar o facto de ter ido dormir tão cedo na noite anterior.

Entrámos na Scott's Tavern, depois de apanharmos um verdadeiro bafo de calor até lá chegar. Não havia mais nada aberto na povoação. Era domingo e com mais de 40 graus na rua quem é que se aguentava? Foi mais ou menos a resposta que nos foi dada pelo Scott (o dono da Scott's Tavern e que gostava de pescar, pelas fotos na parede) quando lhe perguntámos se havia café. "Café com 120 graus (49º C) lá fora?"... Pois sim, lá por estar frio não se deixam de se comer gelados...

Aproveitámos para provar uma cerveja, que de cerveja não tinha nada. Já não me lembra o nome daquilo, mas era completamente transparente. Aliás, parecia e sabia a limonada, mas, aparentemente tinha álcool. Vimos uma mulher a beber aquilo e achámos piada à garrafa e perguntámos o que era. A curiosidade ainda aumentou mais e o Scott ao servir outra à tipa, pôs um pouco num outro copo e deu-nos a provar.

Não sei se tem a ver com o processo de fabrico ser semelhante, mas aquilo de cerveja não tem nada. Aliás como a Root Beer, um tipo de bebida que eu decidi provar quando estive em Los Angeles, a trabalhar em colaboração com a ComView. Não haviam bebidas alcoólicas num restaurante mexicano e com o calor que estava naquele dia, apetecia-me uma cerveja. Como para mim Beer é cerveja, nem perguntei à mexicana e pensei que era uma cerveja sem álcool. Na falta de melhor. Além de que se perguntasse ficava na mesma, à quantidade de inglês que ela devia de falar.

Pois bem, essa tal Root Beer, devia de se chamar Rotten (podre), porque para além de saber a chicletes de mentol misturado com sola de sapato, os efeitos nefastos nos intestinos no dia seguinte são proporcionais ao seu bom sabor. Os nossos intestinos habituados a feijão, enchidos e afins não consegue fazer frente ao poder desentupidor do produto. Uma verdadeira soda caustica intestinal.

Mas, aquela que bebemos em Angel's Camp era bem menos agressiva ou pela quantidade bebida não fez tanto efeito.

Deixámos Angel's Camp, a montanha e depois o vale de San Joaquin para trás e fomos para a cidade. De volta à cidade dos eternos nevoeiros, que nos começou a engolir ainda estávamos em Oakland, na parte leste da baía.

Atravessámos a ponte de Richmond-San Rafael e fomos directos para Corte Madera. Descarregámos as nossas coisas e a Mariana seguiu para São Francisco. As irmãs dela chegavam na semana seguinte, além de que nós também íamos de férias e ela precisava do bólide.

Arrumámos tudo, lavei a geleira porque o Singh é um bocado chato com isso e além disso, nem sequer tínhamos pedido autorização para a usar. Tomei banho, enquanto fazia um caril com a galinha que tínhamos comprado para o fim-de-semana e que tinha receio que se estragasse, e que ficou uma maravilha com um arroz congelado que lá havia.

E, fomos dormir. Cansados mas felizes com um fantástico fim-de-semana.

Obrigado Mariana.



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