QUARTA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2000 C131
A Cláudia Em Point Bonita - Fotografia de Rui Gonçalves

Terça-feira, 25 de Julho de 2000

No trabalho não houve nada de especial a assinalar, a não ser o facto do Floyd começar a passar-se com o VisConcept e começar a compreender o facto de eu estar sempre a fugir do gabinete dele, onde estive durante algum tempo a realizar testes.

Depois do trabalho fui buscar a Cláudia a casa, como combinado, e fomos passear. Há que aproveitar os fins de tarde, porque os dias estavam bonitos e porque mesmo estando cá um mês e meio, como ela esteve, não se consegue ver tudo o que eu lhe gostava de mostrar, no tempo livre que eu tive.

Rumámos a Marin Headlands, tomando a 101 em direcção a São Francisco e saindo mesmo antes da ponte, em direcção a oeste, em direcção ao mar.

Primeira paragem, o morro mesmo ao lado do pilar norte da Golden Gate Bridge. Um dos pontos de onde se vê melhor a ponte e onde se tem a verdadeira noção da dimensão da mesma. Dali de cima a ponte é realmente pequena, mas se olharmos com calma e virmos como existem 6 faixas e a quantidade de carros que lá estão... A coisa muda de figura.

Estava uma ventania que quase nos atirava morro abaixo em direcção ao mar, mas era melhor não voar, pois acho que nos emborrachávamos contra a ponte e era um bocado desagradável para quem estava a passar. Pelo que decidimos partir para a segunda paragem, depois das habituais fotografias da praxe com a ponte e a cidade ao fundo... Lá ao fundo, junto à marina de São Francisco viam-se os Windsurfistas a voarem nas suas pranchas e velas...

Segunda paragem, a bateria número 42. Já vos contei numa crónica anterior, mas toda a entrada da baía estava militarizada e protegida contra qualquer tipo de invasão por mar. Isto no início do século. Mas, com os desenvolvimentos tecnológicos em armamento e especialmente na aviação, fez com que a maioria daqueles sítios escondidos dos navios, mas expostos à aviação, se tornassem absoletos. E, depois de concluído que os japoneses não tentariam a ridícula invasão à Califórnia, a maioria daquelas defesas foram desactivadas, abandonadas e mais tarde, todos aqueles terrenos passaram a pertencer a um imenso parque natural que se estende por mais de 30 quilómetros ao longo da costa.

A bateria número 42, era uma dessas máquinas de guerra. Um canhão anti-navio de 16 polegadas, qualquer coisa como 40 centímetros de diâmetro de boca, ou seja, umas bombitas pequeninas. Mas, nunca chegou a disparar, porque se chegou à conclusão, em 1943, que os japoneses nunca tentariam ali chegar. Coisa que o Spielberg tentou desmistificar no seu "1941, Ano Louco em Hollywood", quando um submarino japonês chega à costa de Los Angeles... Bem, mas esse filme é tudo menos uma reprodução histórica da realidade, é mais uma paródia ao mundo hollyodesco da altura.

Mas, voltando à bateria número 42. Atravessámos os túneis que ligam a estrada ao local das baterias. Sim! Haviam duas naquele morro... Uma suponho que funcionou, a 42 é que não.

Junto ao local onde a bateria 42 devia ter existido, existe um banco de jardim sob umas árvores e com uma vista sobre São Francisco e a zona da Ocean Beach. Ao contrário do dia anterior, a vista sobre a cidade estava espectacular e nem ponta de nevoeiro a tapar a visibilidade. Aquele lugar, o banco naquele sítio é uma daquelas coisas que só se vê nos filmes e que julgamos não existir... Mas existe! É pena é que o local seja tão concorrido e a ideia de estarmos sozinhos, num local calmo, sentados num banco, a apreciar a vista, seja realmente coisa de filme.

Pelo que, dali, subimos a Hawk Hill, um posto de vigia e de detecção de navios inimigos, de onde se tem uma vista integral da cidade e da ponte. Principalmente com a claridade daquele fim de tarde.

Já ali tinha estado por duas vezes. A primeira, sozinho, o nevoeiro era tanto, que com a humidade pingava das árvores e da segunda, com a São, o nevoeiro não deixava ver a cidade, mas só estava do meio da Golden Gate para sul, para o lado da cidade. Mas, naquele dia via-se tudo...

Terceira paragem, o Farol de Point Bonita. Desde a bateria 42 até Point Bonita, a estrada é algo do outro mundo. Subitamente estreita, passando a ter apenas um sentido, começa a descer com uma inclinação parecida com algumas descidas de bicicleta em down-hill e serpenteia, junto à encosta escarpada para o mar. É muito bonito, mas, assustador. Nada que o bólide não aguente...

O Farol já estava fechado. Óbvio! O que esperar numa terra onde as coisas encerram às 17h30m? Mas, podia-se caminhar quase até lá. Simplesmente a parte final do trajecto, que atravessa um túnel é que estava fechada.

E, foi o que fizemos... Bem, com um pequeno desvio! Eu resolvi que queria descer a escarpa, para chegar mais perto da água e ver umas casas que ali existem no penhasco. Queria tirar uma fotografia à cerca na escarpa.
Lá me meti por um caminho que em tempos ligava as tais casas a um pequeno pontão. As casas foram, em tempos idos, o local onde viviam um grupo de salva-vidas que salvavam os pescadores e os navios que ao entrarem na boca do Golden Gate, naufragavam ou se perdiam no nevoeiro ou em noites de tempestade. O pontão era o local onde as barcarolas usadas para o efeito se faziam ao mar. É impressionante ver como homens se metiam nuns barcos, não muito maiores que Dóris, e se metiam no mar bravo para salvar outros que na sua imprudência ou infortúnio, se metiam em trabalhos.

E, quem por pouco se meteu em trabalhos, fomos nós, graças à nossa imprudência. Digamos que o caminho a dada altura tinha desaparecido. Com a força do mar contra a escarpa, esta tinha-se desfeito, levando consigo parte do caminho. Mas, isso não chegou para nos demover da nossa aventura em chegar mais longe... E, a sorte é que conseguimos passar sem problemas, porque uma escorregadela e íamos fazer companhia às focas que estavam, tão bem, a descansar num rochedo a cerca de 20 metros abaixo de nós.

Chegámos a um pequeno ponto com árvores junto ao pontão, mas, ao contrário do que pensávamos não havia nenhum ponto de ligação ao caminho que levava ao farol. Havia sim uma escarpa escorregadia e íngreme com cerca de 20 metros até ao dito caminho. Tínhamos que voltar pelo mesmo caminho que tínhamos feito para ali chegar.

Lá passámos a escarpa maldita, com a calma e o cuidado, que a nossa vida merece, e voltámos ao caminho, do qual era suposto não sairmos, mas que nos vedava a visão de um grupo de focas em perfeito descanso e uma quantidade de adrenalina extra nas veias.

Descemos o caminho até ao tal túnel que nos levaria ao farol, mas, que estava fechado. O caminho passa entre dois rochedos que aparentemente estão desligados e que nesse ponto nos permite ver os dois lados do oceano. Fora e dentro da entrada do Golden Gate. Claro, que como estamos nos Estados Unidos, todos os pontos mais perigosos estão cercados por uma linda cerca de madeira branca. Do lado de fora, um pequeno ponto liso com chorões vermelhos, permitia-nos ver como o mar do lado exterior da boca, castigava as rochas que suportavam o farol. Isto, com a luzes amarelas de fim de tarde fazia com que tudo se tornasse ainda mais belo...

O farol de Point Bonita tem uma daquelas histórias curiosas que todos nós já vimos num qualquer documentário. Originalmente o farol foi construído no morro mais alto e mais visível do mar, mas para além dele, na direcção da boca, existiam uma série de rochas, que levaram alguns navios a naufragarem. Então, decidiu-se levar o farol para a ponta dessas rochas e foi aí que se construiu o caminho, o túnel que atravessa uma das rochas e uma ponte que o liga ao último rochedo. E o farol foi deslocado para lá, onde ainda resiste às cargas contínuas das ondas.

Quarta paragem: O miradouro para a Bird Island e o farol de Point Bonita. A verdade é que do caminho que liga o farol a terra, não se consegue ver o dito cujo. E, tem-se que ir até ao Miradouro. Pelo caminho passámos por mais umas ruínas militares de uns canhões e morteiros.

Do miradouro vê-se perfeitamente o farol, se o tempo deixar e vê-se a nossa quinta paragem a praia e a lagoa de Rodeo. O parque natural de Marin Headlands.

E descemos para a nossa quinta e última paragem turística. Passámos por mais umas ruínas militares e entre elas uma antiga base de mísseis terra-ar NIKE.

A praia de Rodeo Lagoon é uma praia de areia castanha e com restos dos troncos trazidos pela corrente por todo o lado. Nós aproveitámos um deles e sentámo-nos na praia a contemplar o fim de mais um dia. Estava um vento frio, apesar de estar uma perfeita tarde em termos de luz. A Cláudia começou a passar-se com o vento na cara e pôs uma camisa vermelha à volta da cara. Parecia a miúda da mais famosa fotografia do National Geographic, com aqueles lindos olhos azuis a sobressaírem do vermelho e do amarelo reflectido do pôr-do-sol.

Ficámos ali na praia abraçados, encostados ao tronco, de frente para o mar e a apreciar o sol esconder-se atrás da montanha à nossa direita. As nuvens altas começaram a ficar iluminadas por baixo, as suas cores começaram a mudar e ficaram laranjas, vermelhas e roxas. E o sol calmamente na sua rotina diária, desapareceu...

Nós voltámos para casa, comprámos uns burritos, bebemos uma cervejita e fomos dormir.



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