Terça-feira, 25 de Julho de 2000
No trabalho não houve nada de especial a
assinalar, a não ser o facto do Floyd começar a passar-se
com o VisConcept e começar a compreender o facto de eu estar
sempre a fugir do gabinete dele, onde estive durante algum tempo
a realizar testes.
Depois do trabalho fui buscar a Cláudia a
casa, como combinado, e fomos passear. Há que aproveitar
os fins de tarde, porque os dias estavam bonitos e porque mesmo
estando cá um mês e meio, como ela esteve, não
se consegue ver tudo o que eu lhe gostava de mostrar, no tempo
livre que eu tive.
Rumámos a Marin Headlands, tomando a 101
em direcção a São Francisco e saindo mesmo
antes da ponte, em direcção a oeste, em direcção
ao mar.
Primeira paragem, o morro mesmo ao lado do pilar
norte da Golden Gate Bridge. Um dos pontos de onde se vê melhor
a ponte e onde se tem a verdadeira noção da dimensão
da mesma. Dali de cima a ponte é realmente pequena, mas
se olharmos com calma e virmos como existem 6 faixas e a quantidade
de carros que lá estão... A coisa muda de figura.
Estava uma ventania que quase nos atirava morro
abaixo em direcção ao mar, mas era melhor não
voar, pois acho que nos emborrachávamos contra a ponte e
era um bocado desagradável para quem estava a passar. Pelo
que decidimos partir para a segunda paragem, depois das habituais
fotografias da praxe com a ponte e a cidade ao fundo... Lá ao
fundo, junto à marina de São Francisco viam-se os
Windsurfistas a voarem nas suas pranchas e velas...
Segunda paragem, a bateria número 42. Já vos
contei numa crónica anterior, mas toda a entrada da baía
estava militarizada e protegida contra qualquer tipo de invasão
por mar. Isto no início do século. Mas, com os desenvolvimentos
tecnológicos em armamento e especialmente na aviação,
fez com que a maioria daqueles sítios escondidos dos navios,
mas expostos à aviação, se tornassem absoletos.
E, depois de concluído que os japoneses não tentariam
a ridícula invasão à Califórnia, a
maioria daquelas defesas foram desactivadas, abandonadas e mais
tarde, todos aqueles terrenos passaram a pertencer a um imenso
parque natural que se estende por mais de 30 quilómetros
ao longo da costa.
A bateria número 42, era uma dessas máquinas
de guerra. Um canhão anti-navio de 16 polegadas, qualquer
coisa como 40 centímetros de diâmetro de boca, ou
seja, umas bombitas pequeninas. Mas, nunca chegou a disparar, porque
se chegou à conclusão, em 1943, que os japoneses
nunca tentariam ali chegar. Coisa que o Spielberg tentou desmistificar
no seu "1941, Ano Louco em Hollywood", quando um submarino
japonês chega à costa de Los Angeles... Bem, mas esse
filme é tudo menos uma reprodução histórica
da realidade, é mais uma paródia ao mundo hollyodesco
da altura.
Mas, voltando à bateria número 42.
Atravessámos os túneis que ligam a estrada ao local
das baterias. Sim! Haviam duas naquele morro... Uma suponho que
funcionou, a 42 é que não.
Junto ao local onde a bateria 42 devia ter existido,
existe um banco de jardim sob umas árvores e com uma vista
sobre São Francisco e a zona da Ocean Beach. Ao contrário
do dia anterior, a vista sobre a cidade estava espectacular e nem
ponta de nevoeiro a tapar a visibilidade. Aquele lugar, o banco
naquele sítio é uma daquelas coisas que só se
vê nos filmes e que julgamos não existir... Mas existe! É pena é que
o local seja tão concorrido e a ideia de estarmos sozinhos,
num local calmo, sentados num banco, a apreciar a vista, seja realmente
coisa de filme.
Pelo que, dali, subimos a Hawk Hill, um posto de
vigia e de detecção de navios inimigos, de onde se
tem uma vista integral da cidade e da ponte. Principalmente com
a claridade daquele fim de tarde.
Já ali tinha estado por duas vezes. A primeira,
sozinho, o nevoeiro era tanto, que com a humidade pingava das árvores
e da segunda, com a São, o nevoeiro não deixava ver
a cidade, mas só estava do meio da Golden Gate para sul,
para o lado da cidade. Mas, naquele dia via-se tudo...
Terceira paragem, o Farol de Point Bonita. Desde
a bateria 42 até Point Bonita, a estrada é algo do
outro mundo. Subitamente estreita, passando a ter apenas um sentido,
começa a descer com uma inclinação parecida
com algumas descidas de bicicleta em down-hill e serpenteia, junto à encosta
escarpada para o mar. É muito bonito, mas, assustador. Nada
que o bólide não aguente...
O Farol já estava fechado. Óbvio!
O que esperar numa terra onde as coisas encerram às 17h30m?
Mas, podia-se caminhar quase até lá. Simplesmente
a parte final do trajecto, que atravessa um túnel é que
estava fechada.
E, foi o que fizemos... Bem, com um pequeno desvio!
Eu resolvi que queria descer a escarpa, para chegar mais perto
da água e ver umas casas que ali existem no penhasco. Queria
tirar uma fotografia à cerca na escarpa.
Lá me meti por um caminho que em tempos ligava as tais casas
a um pequeno pontão. As casas foram, em tempos idos, o local
onde viviam um grupo de salva-vidas que salvavam os pescadores
e os navios que ao entrarem na boca do Golden Gate, naufragavam
ou se perdiam no nevoeiro ou em noites de tempestade. O pontão
era o local onde as barcarolas usadas para o efeito se faziam ao
mar. É impressionante ver como homens se metiam nuns barcos,
não muito maiores que Dóris, e se metiam no mar bravo
para salvar outros que na sua imprudência ou infortúnio,
se metiam em trabalhos.
E, quem por pouco se meteu em trabalhos, fomos nós,
graças à nossa imprudência. Digamos que o caminho
a dada altura tinha desaparecido. Com a força do mar contra
a escarpa, esta tinha-se desfeito, levando consigo parte do caminho.
Mas, isso não chegou para nos demover da nossa aventura
em chegar mais longe... E, a sorte é que conseguimos passar
sem problemas, porque uma escorregadela e íamos fazer companhia às
focas que estavam, tão bem, a descansar num rochedo a cerca
de 20 metros abaixo de nós.
Chegámos a um pequeno ponto com árvores
junto ao pontão, mas, ao contrário do que pensávamos
não havia nenhum ponto de ligação ao caminho
que levava ao farol. Havia sim uma escarpa escorregadia e íngreme
com cerca de 20 metros até ao dito caminho. Tínhamos
que voltar pelo mesmo caminho que tínhamos feito para ali
chegar.
Lá passámos a escarpa maldita, com
a calma e o cuidado, que a nossa vida merece, e voltámos
ao caminho, do qual era suposto não sairmos, mas que nos
vedava a visão de um grupo de focas em perfeito descanso
e uma quantidade de adrenalina extra nas veias.
Descemos o caminho até ao tal túnel
que nos levaria ao farol, mas, que estava fechado. O caminho passa
entre dois rochedos que aparentemente estão desligados e
que nesse ponto nos permite ver os dois lados do oceano. Fora e
dentro da entrada do Golden Gate. Claro, que como estamos nos Estados
Unidos, todos os pontos mais perigosos estão cercados por
uma linda cerca de madeira branca. Do lado de fora, um pequeno
ponto liso com chorões vermelhos, permitia-nos ver como
o mar do lado exterior da boca, castigava as rochas que suportavam
o farol. Isto, com a luzes amarelas de fim de tarde fazia com que
tudo se tornasse ainda mais belo...
O farol de Point Bonita tem uma daquelas histórias
curiosas que todos nós já vimos num qualquer documentário.
Originalmente o farol foi construído no morro mais alto
e mais visível do mar, mas para além dele, na direcção
da boca, existiam uma série de rochas, que levaram alguns
navios a naufragarem. Então, decidiu-se levar o farol para
a ponta dessas rochas e foi aí que se construiu o caminho,
o túnel que atravessa uma das rochas e uma ponte que o liga
ao último rochedo. E o farol foi deslocado para lá,
onde ainda resiste às cargas contínuas das ondas.
Quarta paragem: O miradouro para a Bird Island e
o farol de Point Bonita. A verdade é que do caminho que
liga o farol a terra, não se consegue ver o dito cujo. E,
tem-se que ir até ao Miradouro. Pelo caminho passámos
por mais umas ruínas militares de uns canhões e morteiros.
Do miradouro vê-se perfeitamente o farol,
se o tempo deixar e vê-se a nossa quinta paragem a praia
e a lagoa de Rodeo. O parque natural de Marin Headlands.
E descemos para a nossa quinta e última paragem
turística. Passámos por mais umas ruínas militares
e entre elas uma antiga base de mísseis terra-ar NIKE.
A praia de Rodeo Lagoon é uma praia de areia
castanha e com restos dos troncos trazidos pela corrente por todo
o lado. Nós aproveitámos um deles e sentámo-nos
na praia a contemplar o fim de mais um dia. Estava um vento frio,
apesar de estar uma perfeita tarde em termos de luz. A Cláudia
começou a passar-se com o vento na cara e pôs uma
camisa vermelha à volta da cara. Parecia a miúda
da mais famosa fotografia do National Geographic, com aqueles lindos
olhos azuis a sobressaírem do vermelho e do amarelo reflectido
do pôr-do-sol.
Ficámos ali na praia abraçados, encostados
ao tronco, de frente para o mar e a apreciar o sol esconder-se
atrás da montanha à nossa direita. As nuvens altas
começaram a ficar iluminadas por baixo, as suas cores começaram
a mudar e ficaram laranjas, vermelhas e roxas. E o sol calmamente
na sua rotina diária, desapareceu...
Nós voltámos para casa, comprámos
uns burritos, bebemos uma cervejita e fomos dormir.
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