C130 QUARTA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2000
Pôr-do-sol em Belvedere - Fotografia de Rui Gonçalves

Se isto já estava atrasado, o facto de não ter tido muita vontade de escrever e muito pouco tempo para o fazer, fizeram com que nos últimos dias a situação se complicasse.

Para além disso os últimos tempos trouxeram bastantes novidades e a verdade é que muita coisa está a mudar e vai mudar nos próximos tempos. Como devem saber a minha volta a Portugal está para breve, está marcada para 27 de Setembro, ou mais propriamente a minha chegada está marcada para 28 de Setembro. De volta a casa e à vida simples de uma cidade pequena, mas, de volta à calma e ao conforto do meu lar. À boa comida e à boa companhia... Muita coisa fica para trás, mas, a vida é assim não se pode viver em dois sítios ao mesmo tempo e se tivéssemos tudo no mesmo sítio provavelmente nunca sairíamos de lá, e se calhar, lá, viviam só pessoas iguais a nós próprios, o que tornaria a vida um bocado monótona. Há que viver o melhor de cada lugar, é o que tenho tentado fazer nestes últimos dias da minha estada em terras de Uncle Sam.

Mas, depois da saída do Ken da empresa, que aconteceu na semana em que cheguei de férias, ontem a empresa foi adquirida por outra. Sim, deixei de trabalhar para a EAI e passei a trabalhar para a Unigraphics. Assim, da noite para o dia.

Porém, essas histórias ficam para depois...

Segunda-feira, 24 de Julho de 2000

Fui trabalhar, mas não estava quase ninguém. Estávamos para aí uns cinco no escritório, onde normalmente somos vinte e muitos. Eu, o Floyd, o Jesse, o Robert e o Gavin... O resto do pessoal tinha ido em massa para New Orleans para a Syggraph, uma feira de Computação Gráfica e Realidade Virtual.

O Floyd estava a começar a testar o VisConcept. Apareceu no meu gabinete para eu lhe explicar umas coisas... Começou a aperceber-se que aquilo não faz exactamente o que se pretende que faça e que às vezes faz coisas que não se lhe pede para fazer... Coisas da vida.

"Patrão fora, dia santo na loja" já diz o povinho e foi o que aconteceu. Era segunda-feira e não estava para grandes problemas. Saí às 17h. Quando cheguei a casa a Cláudia não estava. Tinha ido passear para o centro comercial do outro lado da auto-estrada e eu aproveitei e estive a responder a uns e-mails... Estive quase uma hora sentado na cama com o portátil a responder a alguns mails atrasados, e, mesmo assim acho que ficaram muitos por responder.

No entretanto a Cláudia chegou e resolvemos ir a Tiburon. Ela ainda não conhecia e eu sinceramente só lá tinha ido uma vez. Estávamos com o bólide da Mariana e portanto o melhor era aproveitar.

Apanhámos a Paradise Dr. que como o nome diz é uma estrada muito bonita. Serpenteia pela berma da água desde Corte Madera até Tiburon, do lado leste da península de Tiburon. Ao longe vê-se a ponte de Richmond - San Rafael com a sua forma esquisita e com a luz de fim de tarde fica ainda mais esquisita. A água parada da baía e os reflexos dos barcos davam à cena um ar mesmo de paraíso.

Passámos por uma marina, cujas ruas têm nomes tão sugestivos como Martinique e Antilhes. As pessoas que vivem naquela marina devem ter uma qualidade de vida... E ao longo da estrada existem casas viradas à baía que nem se conseguem ver, por causa da vegetação, mas que a nossa imaginação faz o favor de as colocar entre aquelas dos nossos sonhos.

Por fim chegámos a Tiburon. Se os nossos sonhos fossem realidade, eu vivia em Tiburon. Sim! Acho que é um dos sítios mais bem cuidados e mais bonitos de todo o Marin County e é de certeza a zona mais cara dos Estados Unidos, para se viver, logo a seguir a Beverly Hills.

Imaginem, se conseguirem, um sítio com umas casas de madeira numa encosta abaixo até à berma de água, algumas mesmo suspensas sobre a água, cada uma com um pontão e um veleiro parado na frente. A algumas, não existe outra maneira de lá chegar sem ser de barco. Depois estão viradas a sudoeste, apanham sol o dia todo e como vista têm a baía e São Francisco ao fundo.

Bem, depende, porque naquele dia de São Francisco não se via nada. Estávamos nós ali a passear na berma de água e ao fundo onde era suposto ver-se São Francisco, apenas se via um nevoeiro tão denso, que nem Alcatraz se via. Alcatraz fica mais ou menos a meio caminho entre São Francisco e Tiburon.

Mas, estava a descrever Tiburon. As casas que estava a descrever são somente as casas mais caras da região e nem sei bem quanto custam, mas já ouvi falar em 750 mil contos... Mas, não tenho a certeza, nem noção se será esse o valor.

O centro de Tiburon é mais normal. Existem uma série de casa de madeira... Mas, porque é que eu digo que são de madeira? Aqui as casas são todas de madeira, até os prédios de 11 andares como o do apartamento da RM&P. Mas pronto, aquelas são visivelmente de madeira, todas iguais, com um lago com repuxos entre elas e um jardim verdejante até bem perto da água, onde existe um passeio.

Eu e a Cláudia andámos pelo passeio a passear e a ver as montras. Não se via São Francisco é verdade, mas ali andava-se tão bem e as luzes do pôr-do-sol tornavam o momento mais especial.

A rua principal de Tiburon é muito sui generis. Faz lembrar uma antiga cidade americana dos filmes de cowboys, mas rendida ao comercialismo próprio da cultura americana e transformada em centro comercial de lojas de recordações, restaurantes e galerias de arte. Mas, mesmo assim a beleza do lugar estava intacta... Embora um dos edifícios se parecesse mais com uma casa típica do norte gelado do Canadá ou do Alasca e nada tenha a ver com aquilo.

Saímos dali ainda antes de escurecer, porque eu tinha combinado com os meus colegas de grupo de trabalho geográfico, ir discutir uns assuntos comuns via ICQ. Mais um daqueles trabalhos da treta que o ICEP nos aponta para fazermos e que nem sei bem para que servem. Mas pronto...

Íamos embora de Tiburon quando ao passar numa das zonas perto da baía tive que parar para tirar uma fotografia. O pôr-do-sol estava tão espectacular que tive que me deitar no passeio para o fotografar. É o que dá a falta de um tripé... Aliás, eu já vos mandei a fotografia. Aquela da gaivota a voar com o céu em tons de roxos e violetas ao fundo. Pois o nevoeiro que vêm ao fundo... É São Francisco... Eu mando-vos outra vez.

Ah! A Gaivota apareceu vinda não sei de onde e ficou na foto por sorte. Sim! Eu quando vi um vulto a entrar na janela, carreguei no botão... E saiu aquilo que podem ver.

Mas é difícil descrever aquele pôr-do-sol e mesmo a fotografia não transmite a beleza do momento, apesar de estar muito próxima. As cores eram tão fortes e tão acentuadas... E além disso, poder estar com a Cláudia ali naquele momento, tão bonito, só melhorou ainda mais a beleza do mesmo.

Voltámos para casa, seguindo sempre à borda de água. Mostrei à Cláudia onde eram os escritórios da EAI e ainda parámos para apreciar o céu e as suas cores do outro lado da península. Estava um fim do dia esplendido é pena que tivesse que ir trabalhar na treta do ICQ.

Fui comprar cerveja para melhorar o desempenho no trabalho e liguei-me no ICQ. O Nuno, a Rita e a Patrícia já lá estavam à minha espera. Só o Tiago faltou.

Discutimos uns pontos até que mais de uma hora depois, resolvemos adiar a coisa para a quarta-feira e eu ia ter com eles a São Francisco.

No entretanto já tinha jantado e estava na hora de dormir.



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