Se isto já estava atrasado, o facto de não
ter tido muita vontade de escrever e muito pouco tempo para o fazer,
fizeram com que nos últimos dias a situação
se complicasse.
Para além disso os últimos tempos
trouxeram bastantes novidades e a verdade é que muita coisa
está a mudar e vai mudar nos próximos tempos. Como
devem saber a minha volta a Portugal está para breve, está marcada
para 27 de Setembro, ou mais propriamente a minha chegada está marcada
para 28 de Setembro. De volta a casa e à vida simples de
uma cidade pequena, mas, de volta à calma e ao conforto
do meu lar. À boa comida e à boa companhia... Muita
coisa fica para trás, mas, a vida é assim não
se pode viver em dois sítios ao mesmo tempo e se tivéssemos
tudo no mesmo sítio provavelmente nunca sairíamos
de lá, e se calhar, lá, viviam só pessoas
iguais a nós próprios, o que tornaria a vida um bocado
monótona. Há que viver o melhor de cada lugar, é o
que tenho tentado fazer nestes últimos dias da minha estada
em terras de Uncle Sam.
Mas, depois da saída do Ken da empresa, que
aconteceu na semana em que cheguei de férias, ontem a empresa
foi adquirida por outra. Sim, deixei de trabalhar para a EAI e
passei a trabalhar para a Unigraphics. Assim, da noite para o dia.
Porém, essas histórias ficam para
depois...
Segunda-feira, 24 de Julho de 2000
Fui trabalhar, mas não estava quase ninguém.
Estávamos para aí uns cinco no escritório,
onde normalmente somos vinte e muitos. Eu, o Floyd, o Jesse, o
Robert e o Gavin... O resto do pessoal tinha ido em massa para
New Orleans para a Syggraph, uma feira de Computação
Gráfica e Realidade Virtual.
O Floyd estava a começar a testar o VisConcept.
Apareceu no meu gabinete para eu lhe explicar umas coisas... Começou
a aperceber-se que aquilo não faz exactamente o que se pretende
que faça e que às vezes faz coisas que não
se lhe pede para fazer... Coisas da vida.
"Patrão fora, dia santo na loja" já diz
o povinho e foi o que aconteceu. Era segunda-feira e não
estava para grandes problemas. Saí às 17h. Quando
cheguei a casa a Cláudia não estava. Tinha ido passear
para o centro comercial do outro lado da auto-estrada e eu aproveitei
e estive a responder a uns e-mails... Estive quase uma hora sentado
na cama com o portátil a responder a alguns mails atrasados,
e, mesmo assim acho que ficaram muitos por responder.
No entretanto a Cláudia chegou e resolvemos
ir a Tiburon. Ela ainda não conhecia e eu sinceramente só lá tinha
ido uma vez. Estávamos com o bólide da Mariana e
portanto o melhor era aproveitar.
Apanhámos a Paradise Dr. que como o nome
diz é uma estrada muito bonita. Serpenteia pela berma da água
desde Corte Madera até Tiburon, do lado leste da península
de Tiburon. Ao longe vê-se a ponte de Richmond - San Rafael
com a sua forma esquisita e com a luz de fim de tarde fica ainda
mais esquisita. A água parada da baía e os reflexos
dos barcos davam à cena um ar mesmo de paraíso.
Passámos por uma marina, cujas ruas têm
nomes tão sugestivos como Martinique e Antilhes. As pessoas
que vivem naquela marina devem ter uma qualidade de vida... E ao
longo da estrada existem casas viradas à baía que
nem se conseguem ver, por causa da vegetação, mas
que a nossa imaginação faz o favor de as colocar
entre aquelas dos nossos sonhos.
Por fim chegámos a Tiburon. Se os nossos
sonhos fossem realidade, eu vivia em Tiburon. Sim! Acho que é um
dos sítios mais bem cuidados e mais bonitos de todo o Marin
County e é de certeza a zona mais cara dos Estados Unidos,
para se viver, logo a seguir a Beverly Hills.
Imaginem, se conseguirem, um sítio com umas
casas de madeira numa encosta abaixo até à berma
de água, algumas mesmo suspensas sobre a água, cada
uma com um pontão e um veleiro parado na frente. A algumas,
não existe outra maneira de lá chegar sem ser de
barco. Depois estão viradas a sudoeste, apanham sol o dia
todo e como vista têm a baía e São Francisco
ao fundo.
Bem, depende, porque naquele dia de São Francisco
não se via nada. Estávamos nós ali a passear
na berma de água e ao fundo onde era suposto ver-se São
Francisco, apenas se via um nevoeiro tão denso, que nem
Alcatraz se via. Alcatraz fica mais ou menos a meio caminho entre
São Francisco e Tiburon.
Mas, estava a descrever Tiburon. As casas que estava
a descrever são somente as casas mais caras da região
e nem sei bem quanto custam, mas já ouvi falar em 750 mil
contos... Mas, não tenho a certeza, nem noção
se será esse o valor.
O centro de Tiburon é mais normal. Existem
uma série de casa de madeira... Mas, porque é que
eu digo que são de madeira? Aqui as casas são todas
de madeira, até os prédios de 11 andares como o do
apartamento da RM&P. Mas pronto, aquelas são visivelmente
de madeira, todas iguais, com um lago com repuxos entre elas e
um jardim verdejante até bem perto da água, onde
existe um passeio.
Eu e a Cláudia andámos pelo passeio
a passear e a ver as montras. Não se via São Francisco é verdade,
mas ali andava-se tão bem e as luzes do pôr-do-sol
tornavam o momento mais especial.
A rua principal de Tiburon é muito sui generis.
Faz lembrar uma antiga cidade americana dos filmes de cowboys,
mas rendida ao comercialismo próprio da cultura americana
e transformada em centro comercial de lojas de recordações,
restaurantes e galerias de arte. Mas, mesmo assim a beleza do lugar
estava intacta... Embora um dos edifícios se parecesse mais
com uma casa típica do norte gelado do Canadá ou
do Alasca e nada tenha a ver com aquilo.
Saímos dali ainda antes de escurecer, porque
eu tinha combinado com os meus colegas de grupo de trabalho geográfico,
ir discutir uns assuntos comuns via ICQ. Mais um daqueles trabalhos
da treta que o ICEP nos aponta para fazermos e que nem sei bem
para que servem. Mas pronto...
Íamos embora de Tiburon quando ao passar
numa das zonas perto da baía tive que parar para tirar uma
fotografia. O pôr-do-sol estava tão espectacular que
tive que me deitar no passeio para o fotografar. É o que
dá a falta de um tripé... Aliás, eu já vos
mandei a fotografia. Aquela da gaivota a voar com o céu
em tons de roxos e violetas ao fundo. Pois o nevoeiro que vêm
ao fundo... É São Francisco... Eu mando-vos outra
vez.
Ah! A Gaivota apareceu vinda não sei de onde
e ficou na foto por sorte. Sim! Eu quando vi um vulto a entrar
na janela, carreguei no botão... E saiu aquilo que podem
ver.
Mas é difícil descrever aquele pôr-do-sol
e mesmo a fotografia não transmite a beleza do momento,
apesar de estar muito próxima. As cores eram tão
fortes e tão acentuadas... E além disso, poder estar
com a Cláudia ali naquele momento, tão bonito, só melhorou
ainda mais a beleza do mesmo.
Voltámos para casa, seguindo sempre à borda
de água. Mostrei à Cláudia onde eram os escritórios
da EAI e ainda parámos para apreciar o céu e as suas
cores do outro lado da península. Estava um fim do dia esplendido é pena
que tivesse que ir trabalhar na treta do ICQ.
Fui comprar cerveja para melhorar o desempenho no
trabalho e liguei-me no ICQ. O Nuno, a Rita e a Patrícia
já lá estavam à minha espera. Só o
Tiago faltou.
Discutimos uns pontos até que mais de uma
hora depois, resolvemos adiar a coisa para a quarta-feira e eu
ia ter com eles a São Francisco.
No entretanto já tinha jantado e estava na
hora de dormir.
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