Não podia ir de fim-de-semana sem vos deixar com
mais uma crónica. Eu sei que vocês querem é saber das fantásticas
férias, mas, acreditem que antes delas houveram grandes aventuras...
Eu não sei é como é que eu vou escrever as histórias todas das
férias antes de me ir embora, com o atraso que isto já tem. Mas,
não vou deixar de vos contar os pormenores, nem que o tenha que
fazer a partir de território nacional ou no avião... Sempre são
16 horas de viagem e dá montes de tempo para estas coisas.
Sexta-feira, 21 de Julho de 2000
Há pelo menos dois dias que andavam aqui pelo escritório
alguns tipos novos. Ainda não tinha percebido, mas a meio da manhã o
Ken chamou-me para que eu lhes mostra-se a demo do VisConcept que
eu tinha criado. Lá fui eu para a sala dos projectores e abri a
demonstração. Lindo! O VisConcept anda do melhor. Não é que a porra
de um dos BMW ficou sem carroçaria? Sim! Só se viam os interiores
do carro e carroçaria nada... Mas pronto! Aliás, até era numa cena
em que a corraçaria do carro mudava de mapa de reflexos. Nada de
grave. Olhámos para a cena que demorava 10 segundos e não se viu
nada porque não havia carroçaria.
Ah! Os tipos estavam a ter formação. Um era coreano,
um japonês e um era um alemão que vivia no Brasil. Só soube depois,
porque senão tinha falado em português com ele... Ou se calhar
não. Alemão no Brasil? Deve ter fugido na guerra...
Ao fim do dia ao voltar para casa, apanhei mais
uma caloraça na autoestrada. Impressionante como estava calor.
Cheguei a casa e fui dar um mergulho na Piscina.
Tinha combinado com o Ben ir jantar a Castro e depois
iamos ao teatro que o Owen nos tinha dado o flyer há uns dias.
O do comboio de mercadorias carregado de patos.
Tinha-lhe telefonado antes de sair do escritório
para nos encontrarmos junto ao teatro de Castro. O Ben estava com
uma velha amiga/namorada que estava de passagem pela cidade. Ela
era hospedeira de bordo no verão e estava de escala por aqui. Era
também canadiana e chama-se Nathalie, um verdadeiro nome do Quebec.
Ele não trabalhou nesse dia, porque andou a passear com a Nathalie
e ficou de ir levantar os bilhetes para o teatro.
Depois do mergulho fantástico na piscina, vesti
um casaco e fomos para São Francisco. A Cláudia ainda não se habituou
ao facto de que o tempo em São Francisco ser um bocadinho mais
fresco que em Corte Madera. Aliás, bem mais frio.
Digamos que chegámos a Castro com 20 minutos de
atraso e esperámos 25 pelo Ben. Estava um vento do mar, frio e
forte. Ainda por cima Castro é mesmo ali ao lado das montanhas
Twin Peaks e quando dá o frio, dá mesmo. Normalmente as montanhas
até atrasam o nevoeiro que vem do mar, mas já era tarde demais
e o nosso amigo Inverno estava a rondar por ali. Mesmo abraçados
estava mau...
Estar parado é que não ajudava em nada. Telefonei
ao Ben para ver o que se passva e ele estava no sítio onde era
o teatro em vez de estar no Teatro de Castro. Já estava a dizer
mal de nós, como nós estávamos a dizer deles. O frio não ajudava
nada. Mas, como na zona do teatro havia pouco que comer, eles apanharam
um taxi e vieram ter connosco. Ainda não tinham os bilhetes.
No entretanto fui levantar dinheiro a uma caixa
multibanco e como não havia nenhuma da Wells Fargo ali perto, levantei
num banco qualquer. Digamos que o banco da caixa chulou-me $1.50
e a Wells Fargo mais $2.00 pela transação... 700 paus por levantar
dinheiro for a do sítio? Vão roubar para a estrada... Ladrões!
Gatunos... No entretanto eles chegaram e o Ben disse-me que o Darren
ia lá ter ao teatro do comboio dos patos e que ele comprava os
bilhetes. Nós já tinhamos ido a um restaurante em Castro - O Nirvana
- mas estava a abarrutar de maricas e não só, e nós estávamos com
pressa. Acabamos por ir a um japonês... Comemos rápido mas estava
muito bom, assim como a conta. Sim! Não esperava pagar pouco...
Mas, que se lixe era sexta e estava a celebrar o facto de ter a
Cláudia comigo. Iamos ver juntos algo que ainda não tinha visto
por aqui. Um peça underground, um lado da cidade que ainda não
conhecia e que gostava de estar bem acompanhado para o fazer.
Agarrei no bólide e fomos a correr para a Galeria
não-sei-das-quantas, onde ia decorrer o tal teatro dos patos no
comboio, e que ficava ali para os lados da Mission. Deixei a Cláudia
e o Ben à porta e a Nathalie foi estacionar o carro comigo, pois
sabia onde era a galeria. O Darren já tinha os bilhetes e estava
a ficar impaciente porque nunca mais vinhamos. O Ben comprou umas
cervejas de meio litro e entrámos para a Galeria.
O Darren guardou lugar para todos o que suscitou
algumas piadas, pois a sala era minúscula e as cadeiras eram poucas,
apesar de algumas parecerem autenticos sofás. Digamos que aquilo
parecia a garagem lá de casa, com o chão pintado e umas paredes
brancas com uns quadros pintados. Por cima da casa de banho, que
ficava à esquerda do palco, estava o técnico de som e diskjockey.
O palco era pouco maior que dez caixas de fruta viradas ao contrário
e pintadas de branco. Quando entrei estava lá um tipo de brico,
a perguntar quem eram os amigos do Darren e que se sentassem. Dito
e feito.
O teatro era extraordinário. Bué de underground
e cómico. A primeira parte foi excelente e a segunda algo pobre,
mas o ambiente... A apresentadora era uma tipa de cabelo azul,
mini-saia vermelha e bota até ao joelho a contar piadas sobre sexo
virtual e os instrumentos usados para prazer via internet. Só visto...
Hilariante!
Os seguintes foram quatro tipos que se davam pelo
nome de Robots de não-sei-onde que só gozavam com os pobres coitados
dos ricos de Weelnut Creek e de Fresno, duas cidades do outro lado
da baía, a leste. Um deles fazia de apresentador de um suposto
documentário sobre a vida desses estranhos seres que tinham medo
de fazer duas pontes e um túnel (a bay bridge tem duas partes suspensas
e passa por um túnel dentro de Treasure Island, para quem não sabe)para
virem beber um copo a São Francisco, e fazia cada cara que só visto.
Até me doeu a barriga a dada altura.
Depois do intervalo, para a mijinha e para ir buscar
mais cerveja, veio um tipo com ar de atrasado mental que com um
projector de slides contou a fantástica história da galinha e do
perú que lhe massacraram a vida e que acabaram condenados em tribunal.
Segundo a cyber apresentadora de cabelo azul e virtual, tinham
conhecido o gajo no bar ao lado e não sabiam o que se ia passar.
Talvez tenha sido o melhor do espectáculo... Original e hilariante.
Por fim os "please leave the bronx" que apesarem
de terem um ar mais elaborado faziam sketches mais difíceis de
atingir e com menos piada... Sofreram um pouco o facto de andarem
a contar piadas demasiado pessoais e private jokes. Sinceramente
foram o pior do espectáculo, mas tiveram alguns momentos bons...
Principalmente quando gozaram com os Duran Duran e as Boys Band.
De seguida fomos para o bar ao lado da garagem/galeria/teatro
e encontrámos o Owen, que era amigo do Please Leave The Bronx.
Claro que não lhes dissemos a verdade, mas que gostámos muito deles...
Mas, gostei bem mais dos outros.
Bebemos uns copos e estivemos a jogar pinball. A
Cláudia esteve na conversa com um tipo que só dizia que tinha que
arranjar um emprego melhor, tal era a cardina. Coitado do homem.
Ali ao lado da mesa de bilhar e mal se aguentava sentado. A preocupação
dele era se eu não gostava da conversa e ainda lhe arreava porrada
em cima. Já estávamos todos alegres. O Darren começou a pensar
que os portugueses são tão malucos como os espanhóis, pois ele
já tinha estado em Espanha. Diz que vai no Natal a Portugal para
poder comparar.
Já estava a ficar tarde para quem tinha que acordar
cedo no dia seguinte para ir andar de barco, com o Ken, o Mário
e a Sá. Pegámos no bólide e fiz-me à viagem para casa.
A Cláudia adormeceu antes de chegar ao túnel. |