SEXTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2000 C127
Chamas Na Casa De Banho - Fotografia de Rui Gonçalves

Não podia ir de fim-de-semana sem vos deixar com mais uma crónica. Eu sei que vocês querem é saber das fantásticas férias, mas, acreditem que antes delas houveram grandes aventuras... Eu não sei é como é que eu vou escrever as histórias todas das férias antes de me ir embora, com o atraso que isto já tem. Mas, não vou deixar de vos contar os pormenores, nem que o tenha que fazer a partir de território nacional ou no avião... Sempre são 16 horas de viagem e dá montes de tempo para estas coisas.

Sexta-feira, 21 de Julho de 2000

Há pelo menos dois dias que andavam aqui pelo escritório alguns tipos novos. Ainda não tinha percebido, mas a meio da manhã o Ken chamou-me para que eu lhes mostra-se a demo do VisConcept que eu tinha criado. Lá fui eu para a sala dos projectores e abri a demonstração. Lindo! O VisConcept anda do melhor. Não é que a porra de um dos BMW ficou sem carroçaria? Sim! Só se viam os interiores do carro e carroçaria nada... Mas pronto! Aliás, até era numa cena em que a corraçaria do carro mudava de mapa de reflexos. Nada de grave. Olhámos para a cena que demorava 10 segundos e não se viu nada porque não havia carroçaria.

Ah! Os tipos estavam a ter formação. Um era coreano, um japonês e um era um alemão que vivia no Brasil. Só soube depois, porque senão tinha falado em português com ele... Ou se calhar não. Alemão no Brasil? Deve ter fugido na guerra...

Ao fim do dia ao voltar para casa, apanhei mais uma caloraça na autoestrada. Impressionante como estava calor. Cheguei a casa e fui dar um mergulho na Piscina.

Tinha combinado com o Ben ir jantar a Castro e depois iamos ao teatro que o Owen nos tinha dado o flyer há uns dias. O do comboio de mercadorias carregado de patos.

Tinha-lhe telefonado antes de sair do escritório para nos encontrarmos junto ao teatro de Castro. O Ben estava com uma velha amiga/namorada que estava de passagem pela cidade. Ela era hospedeira de bordo no verão e estava de escala por aqui. Era também canadiana e chama-se Nathalie, um verdadeiro nome do Quebec. Ele não trabalhou nesse dia, porque andou a passear com a Nathalie e ficou de ir levantar os bilhetes para o teatro.

Depois do mergulho fantástico na piscina, vesti um casaco e fomos para São Francisco. A Cláudia ainda não se habituou ao facto de que o tempo em São Francisco ser um bocadinho mais fresco que em Corte Madera. Aliás, bem mais frio.

Digamos que chegámos a Castro com 20 minutos de atraso e esperámos 25 pelo Ben. Estava um vento do mar, frio e forte. Ainda por cima Castro é mesmo ali ao lado das montanhas Twin Peaks e quando dá o frio, dá mesmo. Normalmente as montanhas até atrasam o nevoeiro que vem do mar, mas já era tarde demais e o nosso amigo Inverno estava a rondar por ali. Mesmo abraçados estava mau...

Estar parado é que não ajudava em nada. Telefonei ao Ben para ver o que se passva e ele estava no sítio onde era o teatro em vez de estar no Teatro de Castro. Já estava a dizer mal de nós, como nós estávamos a dizer deles. O frio não ajudava nada. Mas, como na zona do teatro havia pouco que comer, eles apanharam um taxi e vieram ter connosco. Ainda não tinham os bilhetes.

No entretanto fui levantar dinheiro a uma caixa multibanco e como não havia nenhuma da Wells Fargo ali perto, levantei num banco qualquer. Digamos que o banco da caixa chulou-me $1.50 e a Wells Fargo mais $2.00 pela transação... 700 paus por levantar dinheiro for a do sítio? Vão roubar para a estrada... Ladrões! Gatunos... No entretanto eles chegaram e o Ben disse-me que o Darren ia lá ter ao teatro do comboio dos patos e que ele comprava os bilhetes. Nós já tinhamos ido a um restaurante em Castro - O Nirvana - mas estava a abarrutar de maricas e não só, e nós estávamos com pressa. Acabamos por ir a um japonês... Comemos rápido mas estava muito bom, assim como a conta. Sim! Não esperava pagar pouco... Mas, que se lixe era sexta e estava a celebrar o facto de ter a Cláudia comigo. Iamos ver juntos algo que ainda não tinha visto por aqui. Um peça underground, um lado da cidade que ainda não conhecia e que gostava de estar bem acompanhado para o fazer.

Agarrei no bólide e fomos a correr para a Galeria não-sei-das-quantas, onde ia decorrer o tal teatro dos patos no comboio, e que ficava ali para os lados da Mission. Deixei a Cláudia e o Ben à porta e a Nathalie foi estacionar o carro comigo, pois sabia onde era a galeria. O Darren já tinha os bilhetes e estava a ficar impaciente porque nunca mais vinhamos. O Ben comprou umas cervejas de meio litro e entrámos para a Galeria.

O Darren guardou lugar para todos o que suscitou algumas piadas, pois a sala era minúscula e as cadeiras eram poucas, apesar de algumas parecerem autenticos sofás. Digamos que aquilo parecia a garagem lá de casa, com o chão pintado e umas paredes brancas com uns quadros pintados. Por cima da casa de banho, que ficava à esquerda do palco, estava o técnico de som e diskjockey. O palco era pouco maior que dez caixas de fruta viradas ao contrário e pintadas de branco. Quando entrei estava lá um tipo de brico, a perguntar quem eram os amigos do Darren e que se sentassem. Dito e feito.

O teatro era extraordinário. Bué de underground e cómico. A primeira parte foi excelente e a segunda algo pobre, mas o ambiente... A apresentadora era uma tipa de cabelo azul, mini-saia vermelha e bota até ao joelho a contar piadas sobre sexo virtual e os instrumentos usados para prazer via internet. Só visto... Hilariante!

Os seguintes foram quatro tipos que se davam pelo nome de Robots de não-sei-onde que só gozavam com os pobres coitados dos ricos de Weelnut Creek e de Fresno, duas cidades do outro lado da baía, a leste. Um deles fazia de apresentador de um suposto documentário sobre a vida desses estranhos seres que tinham medo de fazer duas pontes e um túnel (a bay bridge tem duas partes suspensas e passa por um túnel dentro de Treasure Island, para quem não sabe)para virem beber um copo a São Francisco, e fazia cada cara que só visto. Até me doeu a barriga a dada altura.

Depois do intervalo, para a mijinha e para ir buscar mais cerveja, veio um tipo com ar de atrasado mental que com um projector de slides contou a fantástica história da galinha e do perú que lhe massacraram a vida e que acabaram condenados em tribunal. Segundo a cyber apresentadora de cabelo azul e virtual, tinham conhecido o gajo no bar ao lado e não sabiam o que se ia passar. Talvez tenha sido o melhor do espectáculo... Original e hilariante.

Por fim os "please leave the bronx" que apesarem de terem um ar mais elaborado faziam sketches mais difíceis de atingir e com menos piada... Sofreram um pouco o facto de andarem a contar piadas demasiado pessoais e private jokes. Sinceramente foram o pior do espectáculo, mas tiveram alguns momentos bons... Principalmente quando gozaram com os Duran Duran e as Boys Band.

De seguida fomos para o bar ao lado da garagem/galeria/teatro e encontrámos o Owen, que era amigo do Please Leave The Bronx. Claro que não lhes dissemos a verdade, mas que gostámos muito deles... Mas, gostei bem mais dos outros.

Bebemos uns copos e estivemos a jogar pinball. A Cláudia esteve na conversa com um tipo que só dizia que tinha que arranjar um emprego melhor, tal era a cardina. Coitado do homem. Ali ao lado da mesa de bilhar e mal se aguentava sentado. A preocupação dele era se eu não gostava da conversa e ainda lhe arreava porrada em cima. Já estávamos todos alegres. O Darren começou a pensar que os portugueses são tão malucos como os espanhóis, pois ele já tinha estado em Espanha. Diz que vai no Natal a Portugal para poder comparar.

Já estava a ficar tarde para quem tinha que acordar cedo no dia seguinte para ir andar de barco, com o Ken, o Mário e a Sá. Pegámos no bólide e fiz-me à viagem para casa.

A Cláudia adormeceu antes de chegar ao túnel.



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