QUINTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2000 C125
Cláudia Em Point Bonita - Fotografia de Rui Gonçalves

Segunda-feira, 17 de Julho de 2000

Dia da chegada da Cláudia.

Apesar de ter pedido o dia de folga acordei muito cedo, com a saída da Rita, porque precisava de mudar o carro de sítio às 8h. Acerca das folgas, a minha empresa dá um dia e um quarto, por mês, de folga e eu só gozei dois dias desde que cheguei. Por isso suponho que se gozar esses dias como férias ninguém se importa. Aliás como aconteceu há umas semanas.

Mudei o carro de sítio. No mesmo quarteirão, mas de uma rua Este-Oeste, para uma com o sentido Norte-Sul. Porque é que estes gajos andam sempre a obrigar o pessoal a acordar cedo para mudar o carro, só porque querem lavar a rua? E é se eleas fossem muito limpas... Ali no Tinderloin são tudo menos limpas.

Voltei a casa da RM&P e fui ver o atraso do voo da Cláudia na Internet. Arrumei as coisas e fui para Haight.

É tão bom ir assim a Haight de manhã e não andar aos encontrões às pessoas nos passeios. Estava quase deserto. Entrei numa loja que vende contas e missangas e comprei umas contas para fazer dois colares. Na mesma altura na loja estavam uns miúdos de um jardim infantil com as educadoras e estavam a escolher contas até um valor pré-estipulado... Bem, à quantidade de contas e missangas que eu vi serem espalhadas pelo chão da loja e por debaixo dos móveis, de certeza que o valor foi em muito ultrapassado, pelo menos em prejuízo para a loja.

Mas, os empregados da loja não se importaram muito. Ela devia de pesar mais de cem quilos, tinha o cabelo côr-de-rosa e vestia-se quase como a Madonna no Like a Virgin e a Siouxsie nos seus tempos mais góticos. Ele... Não há palavras... Cabelo verde aniz ou azul-turquesa, não sei, e com um piercing em forma de pirâmide com cerca de um centimetro a sair do queixo mesmo abaixo do lábio inferior, da mesma cor do cabelo e dos brincos. Mas, com um ar de mau e de macho que só visto. Até parecia que não estava em São Francisco... Lá comprei as minhas coisinhas e pús-me a andar.

Segui a rua até ao fim e depois de passar pela Amoeba, como é normal, fui almoçar ao MacDonalds. Sentei-me a fazer um dos colares e a comer. Na mesa ao meu lado esquerdo estava um tipo de uma empresa de segurança a ser entrevistado pela gerente do Mac, porque pelos vistos os hippies andam agressivos ali pela rua e ela anda a sentir-se pouco segura. É engraçado, em Portugal normalmente neste tipo de reuniões tem-se sempre um copito de alguma bebida alcoólica para servir, mas ali... Uma Coca-Cola é a bebida oficial... E o homem lá bebeu a sua cola enquanto era entrevistado.

Na mesa à minha frente estava um casal com uma filha muito pequena. Pequena demais até para o ambiente decadente de um MacDonalds... Mas, já estava a ser embebida na cultura americana, apesar de não estar a gostar muito, pois de vez em quando chorava e os pais tinham que lhe dar colo. Quem não estava a gostar do barulho era uma trituradora de comida, género betoneira-frigorífico, que mal cabia entra a cadeira e a mesa que estava mais do lado esquerdo, ao lado do casal com a filha pequena choramingona. Levantou-se toda nervosa, agarrou no jornal que estava a ler e no seu hambúrguer e afins e olhou em direcção ao casal com a filha choramingas e foi-se embora para o outro lado da sala. O casal riu-se e continuou a comer.

Eu continuei entretido com o meu colar de contas, que ficou curto... Tenho que lá ir comprar mais contas.

Voltei ao fantástico bólide e rumei ao Aeroporto. Corto sempre no sítio errado e acabo sempre por atravessar o Golden Gate Park que é muito bonito, mas que só me faz perder tempo. Mas lá consegui das com a autoestrada 1.

Cheguei ao Aeroporto atrasado, como é costume, mas mesma assim tive que esperar uma hora... Tinham chegado para aí três voos de Londres e dois de Paris, mais um da India e sei lá que mais. Estava uma confusão e um calor que me estava a mexer com os nervos.

Mas, finalmente a Cláudia chegou. Vinha com um vestido verde e azul, muito colorido, com o cabelo em tons avermelhados e com uns lindos e grandes olhos azuis. Já tinham passado 3 meses desde que a tinha visto da última vez. Sorrimos. Abraçamo-nos e beijamo-nos de saudades... E... Tivemos que sair dali porque senão éramos atropelados pela multidão que vinha da zona da alfândega.

Meti tudo no bólide e fomos para São Francisco.

Ainda era cedo e eu receava que assim que chegasse a casa, ela se punha a dormir e depois não entrava nos horários locais, pelo que fomos até casa da RM&P, para fazer um bocado de tempo e jantar. Mas, não estava ninguém em casa e fomos beber um copo ao bar do Diogo e matar saudades. Não é que a zona delas seja tão má, mas não convinha deixar a mala no carro à vista. Pedi ao segurança do prédio para deixar a mala na recepção e fomos à cervejinha.

Ficámos ali ao balcão na conversa. A contar histórias e aventuras dos últimos três meses que estivemos separados. Pôr em dia as novidades da terra e a beber uma cerveja. Claro, que como é costume nos pediram a identificação para provarmos que tínhamos mais que 21 anos e podíamos beber álcool. É impressionante! Mas, a empregada do bar diz que a ela também pedem... Mas, ela tem mais que 40 e olha-se para a cara dela e pode-se garantir que bebe desde pequenina.

Voltámos a casa da RM&P. A Rita e a Patrícia já tinham chegado e estivémos na conversa. A Mónica chegou pouco depois e vinha meio alterada pelo dia de trabalho. Só dizia parvoices e estava muito divertida. Isto de trabalhar com computadores mata qualquer um devagar.

Decidimos ir jantar ao tailandês novo da esquina e a Cláudia começou a sentir o frio de São Francisco. O vestido era muito fininho para o verão de São Francisco, que é mais frio que o Inverno em algumas zonas de Portugal. Especialmente ao fim da tarde.

Era ainda muito cedo para jantar e ninguém estava com muita fome. A Cláudia jantou no avião e só provou do meu prato, a Mónica e a Rita dividiram um prato e a Patrícia pediu o costume... Que não me lembro o nome!

Acabámos de comer e como tinha o bólide do outro lado da rua, arranquei para Corte Madera. A Cláudia adormeceu antes de chegar a casa. Aesar de eu ter apostado que o faria antes de atravessar a Golden Gate Bridge, ela conseguiu aguentar um pouco mais. E, eu esqueci-me do painel do autorádio em casa da RM&P.



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