Segunda-feira, 17 de Julho de 2000
Dia da chegada da Cláudia.
Apesar de ter pedido o dia de folga acordei muito
cedo, com a saída da Rita, porque precisava de mudar o carro de
sítio às 8h. Acerca das folgas, a minha empresa dá um dia e um
quarto, por mês, de folga e eu só gozei dois dias desde que cheguei.
Por isso suponho que se gozar esses dias como férias ninguém se
importa. Aliás como aconteceu há umas semanas.
Mudei o carro de sítio. No mesmo quarteirão, mas
de uma rua Este-Oeste, para uma com o sentido Norte-Sul. Porque é que
estes gajos andam sempre a obrigar o pessoal a acordar cedo para
mudar o carro, só porque querem lavar a rua? E é se eleas fossem
muito limpas... Ali no Tinderloin são tudo menos limpas.
Voltei a casa da RM&P e fui ver o atraso do voo
da Cláudia na Internet. Arrumei as coisas e fui para Haight.
É tão bom ir assim a Haight de manhã e não andar
aos encontrões às pessoas nos passeios. Estava quase deserto. Entrei
numa loja que vende contas e missangas e comprei umas contas para
fazer dois colares. Na mesma altura na loja estavam uns miúdos
de um jardim infantil com as educadoras e estavam a escolher contas
até um valor pré-estipulado... Bem, à quantidade de contas e missangas
que eu vi serem espalhadas pelo chão da loja e por debaixo dos
móveis, de certeza que o valor foi em muito ultrapassado, pelo
menos em prejuízo para a loja.
Mas, os empregados da loja não se importaram muito.
Ela devia de pesar mais de cem quilos, tinha o cabelo côr-de-rosa
e vestia-se quase como a Madonna no Like a Virgin e a Siouxsie
nos seus tempos mais góticos. Ele... Não há palavras... Cabelo
verde aniz ou azul-turquesa, não sei, e com um piercing em forma
de pirâmide com cerca de um centimetro a sair do queixo mesmo abaixo
do lábio inferior, da mesma cor do cabelo e dos brincos. Mas, com
um ar de mau e de macho que só visto. Até parecia que não estava
em São Francisco... Lá comprei as minhas coisinhas e pús-me a andar.
Segui a rua até ao fim e depois de passar pela Amoeba,
como é normal, fui almoçar ao MacDonalds. Sentei-me a fazer um
dos colares e a comer. Na mesa ao meu lado esquerdo estava um tipo
de uma empresa de segurança a ser entrevistado pela gerente do
Mac, porque pelos vistos os hippies andam agressivos ali pela rua
e ela anda a sentir-se pouco segura. É engraçado, em Portugal normalmente
neste tipo de reuniões tem-se sempre um copito de alguma bebida
alcoólica para servir, mas ali... Uma Coca-Cola é a bebida oficial...
E o homem lá bebeu a sua cola enquanto era entrevistado.
Na mesa à minha frente estava um casal com uma filha
muito pequena. Pequena demais até para o ambiente decadente de
um MacDonalds... Mas, já estava a ser embebida na cultura americana,
apesar de não estar a gostar muito, pois de vez em quando chorava
e os pais tinham que lhe dar colo. Quem não estava a gostar do
barulho era uma trituradora de comida, género betoneira-frigorífico,
que mal cabia entra a cadeira e a mesa que estava mais do lado
esquerdo, ao lado do casal com a filha pequena choramingona. Levantou-se
toda nervosa, agarrou no jornal que estava a ler e no seu hambúrguer
e afins e olhou em direcção ao casal com a filha choramingas e
foi-se embora para o outro lado da sala. O casal riu-se e continuou
a comer.
Eu continuei entretido com o meu colar de contas,
que ficou curto... Tenho que lá ir comprar mais contas.
Voltei ao fantástico bólide e rumei ao Aeroporto.
Corto sempre no sítio errado e acabo sempre por atravessar o Golden
Gate Park que é muito bonito, mas que só me faz perder tempo. Mas
lá consegui das com a autoestrada 1.
Cheguei ao Aeroporto atrasado, como é costume, mas
mesma assim tive que esperar uma hora... Tinham chegado para aí três
voos de Londres e dois de Paris, mais um da India e sei lá que
mais. Estava uma confusão e um calor que me estava a mexer com
os nervos.
Mas, finalmente a Cláudia chegou. Vinha com um vestido
verde e azul, muito colorido, com o cabelo em tons avermelhados
e com uns lindos e grandes olhos azuis. Já tinham passado 3 meses
desde que a tinha visto da última vez. Sorrimos. Abraçamo-nos e
beijamo-nos de saudades... E... Tivemos que sair dali porque senão éramos
atropelados pela multidão que vinha da zona da alfândega.
Meti tudo no bólide e fomos para São Francisco.
Ainda era cedo e eu receava que assim que chegasse
a casa, ela se punha a dormir e depois não entrava nos horários
locais, pelo que fomos até casa da RM&P, para fazer um bocado de
tempo e jantar. Mas, não estava ninguém em casa e fomos beber um
copo ao bar do Diogo e matar saudades. Não é que a zona delas seja
tão má, mas não convinha deixar a mala no carro à vista. Pedi ao
segurança do prédio para deixar a mala na recepção e fomos à cervejinha.
Ficámos ali ao balcão na conversa. A contar histórias
e aventuras dos últimos três meses que estivemos separados. Pôr
em dia as novidades da terra e a beber uma cerveja. Claro, que
como é costume nos pediram a identificação para provarmos que tínhamos
mais que 21 anos e podíamos beber álcool. É impressionante! Mas,
a empregada do bar diz que a ela também pedem... Mas, ela tem mais
que 40 e olha-se para a cara dela e pode-se garantir que bebe desde
pequenina.
Voltámos a casa da RM&P. A Rita e a Patrícia já tinham
chegado e estivémos na conversa. A Mónica chegou pouco depois e
vinha meio alterada pelo dia de trabalho. Só dizia parvoices e
estava muito divertida. Isto de trabalhar com computadores mata
qualquer um devagar.
Decidimos ir jantar ao tailandês novo da esquina
e a Cláudia começou a sentir o frio de São Francisco. O vestido
era muito fininho para o verão de São Francisco, que é mais frio
que o Inverno em algumas zonas de Portugal. Especialmente ao fim
da tarde.
Era ainda muito cedo para jantar e ninguém estava
com muita fome. A Cláudia jantou no avião e só provou do meu prato,
a Mónica e a Rita dividiram um prato e a Patrícia pediu o costume...
Que não me lembro o nome!
Acabámos de comer e como tinha o bólide do outro
lado da rua, arranquei para Corte Madera. A Cláudia adormeceu antes
de chegar a casa. Aesar de eu ter apostado que o faria antes de
atravessar a Golden Gate Bridge, ela conseguiu aguentar um pouco
mais. E, eu esqueci-me do painel do autorádio em casa da RM&P. |