Sábado, 15 de Julho de 2000
Acordámos algo tarde. Tomámos o pequeno-almoço nas
calmas e enquanto a Ana saia para ir com o Tim à praia e ir a um
teatro na praia, eu, o Nuno e a Joana decidimos ir tomar café.
Aqui existe muito a mania dos teatros de praia.
Aqui em Stinson Beach a alguns quilómetros de minha casa existem
sempre representações de Shakespeare duramte o verão (http://www.shakespeareatstinson.org/)...
Sim! Porque não deve lá ir muita gente no inverno, pois aquilo
já é frio no verão...
Mal saí de casa tive o primeiro contacto com o jipe
do Nuno. Ainda não o tinha visto desde que teve o acidente a caminho
de San Diego no 4 de Julho. Não está assim tão mau como pintavam.
Tem uma série de escuriações e batidas, mas nada de grave. Claro
que não andei nele, porque acho que o eixo da frente está um bocado
torcido e faz barulho. Mas por falar em carros fantásticos, o da
Joana tinha uma chave de fendas no radiador. E se fosse só a chave
de fendas... Beatas, insectos mortos e borrachas de isolamento
que já não isolavam coisissíma nenhuma. O Nuno lá destruiu uma
cruzeta e conseguí retirar a chave de fendas, pois a Joana andava
a sismar que o carro andava a cheirar a borracha queimada e era
por causa daquilo.
Baixámos a capota do Golf Cabriolet da Joana e fomos
até ao centro Mountain View, tomar café. Mas, primeiro passámos
pela loja de Banda Desenhada lá do burgo e finalmente consegui
encontrar o número 1 da mini-série Faith do Ted Mckeever, que andava à procura
desde que cheguei a esta terra, pois já tinha os outros números
todos e sem o primeiro não podia perceber a história. Diga-se de
passagem que ainda não li a história toda, pois como é costume
o rapaz e os seus ambientes góticos são sempre muito densos e o
tempo tem escasseado.
O centro de Mountain View é muito giro. A rua Castro é muito
diferente da de São Francisco. Os habitantes são menos lavados
e não andam aos pares do mesmo sexo.
Fomos tomar café a uma livraria com cafetaria, muito
engraçada, mesmo no centro. À porta estava uma figura pintada de
madeira simbolizando o Heminghway, só que sem o charuto. Mas, como
amante da leitura e de um bom café, estava bem escolhido. Bebemos
o café e demos uma volta pela livraria, até que eram quase horas
do almoço.
Passeámos rua abaixo e resolvemos entrar num restaurante
indiano, que na primeira passagem tinha activado os nossos sentidos
de uma maneira que era impossível resistir. Era um restaurante
com almoço buffet. Pagava-se $7 e comia-se até não se poder mais.
Foi o que fizemos.
Eu servi-me umas três ou quatro vezes. A minha barriga,
que até é grande, já não podia mais e o melhor era ir devagar até ao
carro, para começar a fazer a digestão. O cordeiro com espinafres
estavam tão bons que apetecia pedir uma caixa, limpar a travessa
e levar tudo para casa... Mas, o melhor era estar quieto, porque
a travessa era de todos os clientes. Aquilo era um buffet!
Telefonei à Cláudia que estava a ultimar as coisas,
porque já só faltava um dia para vir. E, rumámos a casa da Joana
no seu Golf Cabrio... Fumegante! Sim! O bicho estava a deitar fumo
e a cheirar a queimado, quando chegámos a casa dela. Abrimos o
capot e saia fumo de tal maneira que parecia que aquilo estava
a arder. A Joana tem tido azar com o lindo Golf branco. Depois
de ficar sem alternador por duas vezes, agora tem uma máquina de
fumos no próprio carro. Só faltava as luzes e a música alto, para
parecer uma discoteca ao ar livre.
No entretanto já arranjou o carro. Pediram-lhe $900
num mecânico americano e um português fez-lhe a coisa por $80...
A diferença deve estar na fruta!
Com estas tropelias e com a conversa já eram quase
horas de nos pormo-nos a andar para São Francisco. Eu e o Nuno,
porque a Joana quis ficar em casa.
Com tudo o que comemos no Indiano nem jantámos.
Chegámos a São Francisco e fomos convencer as meninas a ir beber
um copo. Esteve difícil, mas como era sábado, lá conseguímos decolá-las
de casa e fomos ao The Mad Dog In The Fog. Estava um ambiente porreiro
e o pessoal era giro, embora a média de altura fosse um bocado
grande. A Mónica sentia-se a mulher mais pequena do mundo... E
nós estávamos um bocado deslocados. Bebemos a cervejinha e fomos
embora.
Deixei o Nuno em casa da Ana Pinhal e fui tentar
estacionar perto da casa da RM&P. Estava uma noite quente o que
não é normal nesta cidade do diabo em que os verões são mais frios
que os invernos. Estávamos de janelas abertas.
Encontrei um lugar mesmo em frente ao bar de strip
no quarteirão ao lado do de casa delas. Mas, assim que estacionei
o carro, reparei porque razão o local estava vago... Era proibido
estacionar ali a partir das 6h da manhã por causa das obras no
jardim infatil. Sim! Um jardim infantil em frente a um bar de strip-tease,
só na américa. Lindo!
Mas, mais lindo foi querer sair do lugar e reparar
que um carro estava-me a barrar o caminho. Um tipo tinha parado
o carro ao lado do meu e estava a olhar muito fixamente para dentro
do bólide, onde estávamos com as janelas abertas a curtir o calorzinha
anormal daquela noite. Puxei o carro à frente e o tipo fez o mesmo,
para me barrar a saída. Não podia ir mais porque tinha uma casa
de banho pública, tipo quiosque, na esquina do passeio, que eu
pensei subir. Estava a entrar um tipo de bicicleta na casa de banho,
mas nem tive muito tempo para sorrir com a situação.
Para trás não havia hipótese, pois tinha um carro
estacionado mesmo atrás. Ok! Nada a fazer senão esperar que o tipo
se decidisse a ir embora. Mas, o tipo queria mesmo problemas. De
repente, grita para dentro do carro, na minha direcção e a apontar
o dedo - "You fucked my wife, man!". O gajo não devia de estar
muito bem. Eu com umas miúdas tão giras dentro do carro ia agora
meter-me com alguma deslavada na rua?
Respondi-lhe que devia de estar enganado, que nem
sequer sabia quem era a mulher dele. Mas, o rapaz insistia "You
fucked my wife, man!". Ok! Lá voltei a insitir com o tipo que nem
sequer fazia ideia de quem era a mulher dele.
No entretanto disse-lhe para ele acalmar e que não
sabia de nada acerca da mulher de ninguém. Nessa altura em vez
de se acalmar o tipo abre a porta do carro e dá a sensação que
vai sair do carro. Nessa altura a Mónica que estava ao meu lado
e mais próxima do carro dele, que estava parado do lado direito
do bólide, paralizou completamente. Ela já não dizia uma palavra
desde o início da troca de palavras e mal se mexia, mas naquele
momento congelou. Eu não sei como mantive-me calmo e só pensei
que as coisas se iriam resolver e que tudo não passava de algum
mal entendido.
Voltei a insistir que havia alguma confusão por
ali e que não sabia quem era a mulher dele. O tipo fechou a porta
sem sair do carro e no entretanto entrou um amigo para o lado dele.
Trocaram umas palavras e o tipo disse em tom de despedida que eu
não tocasse na mulher dele e que não dissesse aquele tipo de palavrões
acerca da mulher dele e num carro com mulheres. E, arrancou.
Mas, que porra! Ele é que disse "fuck"... Nunca
percebi bem a história, mas a mulher devia de ter fugido de casa
e vivia de favores ali na zona. Era a única explicação para tal
história.
A Mónica fechou o vidro. Respirou fundo e voltou à vida.
Eu e a Rita também.
Saímos dali antes que o tipo se lembrasse de voltar à carga.
E dois quarteirões à frente parei para estacionar... E, um transexual
virou o rabo gordo para o carro e levantou a saia. Lindo! Era só o
que me faltava... Será que aquele(a) era a mulher do outro? Se
era a coisa tinha rabo para dar e vender...
Rimo-nos e fomos parar o carro mais à frente.
Voltámos para casa e fui dormir. |