TERÇA-FEIRA, 22 DE AGOSTO DE 2000 C123
Pernas Na Janela em Haight - Fotografia de Rui Gonçalves

Sábado, 15 de Julho de 2000

Acordámos algo tarde. Tomámos o pequeno-almoço nas calmas e enquanto a Ana saia para ir com o Tim à praia e ir a um teatro na praia, eu, o Nuno e a Joana decidimos ir tomar café.

Aqui existe muito a mania dos teatros de praia. Aqui em Stinson Beach a alguns quilómetros de minha casa existem sempre representações de Shakespeare duramte o verão (http://www.shakespeareatstinson.org/)... Sim! Porque não deve lá ir muita gente no inverno, pois aquilo já é frio no verão...

Mal saí de casa tive o primeiro contacto com o jipe do Nuno. Ainda não o tinha visto desde que teve o acidente a caminho de San Diego no 4 de Julho. Não está assim tão mau como pintavam. Tem uma série de escuriações e batidas, mas nada de grave. Claro que não andei nele, porque acho que o eixo da frente está um bocado torcido e faz barulho. Mas por falar em carros fantásticos, o da Joana tinha uma chave de fendas no radiador. E se fosse só a chave de fendas... Beatas, insectos mortos e borrachas de isolamento que já não isolavam coisissíma nenhuma. O Nuno lá destruiu uma cruzeta e conseguí retirar a chave de fendas, pois a Joana andava a sismar que o carro andava a cheirar a borracha queimada e era por causa daquilo.

Baixámos a capota do Golf Cabriolet da Joana e fomos até ao centro Mountain View, tomar café. Mas, primeiro passámos pela loja de Banda Desenhada lá do burgo e finalmente consegui encontrar o número 1 da mini-série Faith do Ted Mckeever, que andava à procura desde que cheguei a esta terra, pois já tinha os outros números todos e sem o primeiro não podia perceber a história. Diga-se de passagem que ainda não li a história toda, pois como é costume o rapaz e os seus ambientes góticos são sempre muito densos e o tempo tem escasseado.

O centro de Mountain View é muito giro. A rua Castro é muito diferente da de São Francisco. Os habitantes são menos lavados e não andam aos pares do mesmo sexo.

Fomos tomar café a uma livraria com cafetaria, muito engraçada, mesmo no centro. À porta estava uma figura pintada de madeira simbolizando o Heminghway, só que sem o charuto. Mas, como amante da leitura e de um bom café, estava bem escolhido. Bebemos o café e demos uma volta pela livraria, até que eram quase horas do almoço.

Passeámos rua abaixo e resolvemos entrar num restaurante indiano, que na primeira passagem tinha activado os nossos sentidos de uma maneira que era impossível resistir. Era um restaurante com almoço buffet. Pagava-se $7 e comia-se até não se poder mais. Foi o que fizemos.

Eu servi-me umas três ou quatro vezes. A minha barriga, que até é grande, já não podia mais e o melhor era ir devagar até ao carro, para começar a fazer a digestão. O cordeiro com espinafres estavam tão bons que apetecia pedir uma caixa, limpar a travessa e levar tudo para casa... Mas, o melhor era estar quieto, porque a travessa era de todos os clientes. Aquilo era um buffet!

Telefonei à Cláudia que estava a ultimar as coisas, porque já só faltava um dia para vir. E, rumámos a casa da Joana no seu Golf Cabrio... Fumegante! Sim! O bicho estava a deitar fumo e a cheirar a queimado, quando chegámos a casa dela. Abrimos o capot e saia fumo de tal maneira que parecia que aquilo estava a arder. A Joana tem tido azar com o lindo Golf branco. Depois de ficar sem alternador por duas vezes, agora tem uma máquina de fumos no próprio carro. Só faltava as luzes e a música alto, para parecer uma discoteca ao ar livre.

No entretanto já arranjou o carro. Pediram-lhe $900 num mecânico americano e um português fez-lhe a coisa por $80... A diferença deve estar na fruta!

Com estas tropelias e com a conversa já eram quase horas de nos pormo-nos a andar para São Francisco. Eu e o Nuno, porque a Joana quis ficar em casa.

Com tudo o que comemos no Indiano nem jantámos. Chegámos a São Francisco e fomos convencer as meninas a ir beber um copo. Esteve difícil, mas como era sábado, lá conseguímos decolá-las de casa e fomos ao The Mad Dog In The Fog. Estava um ambiente porreiro e o pessoal era giro, embora a média de altura fosse um bocado grande. A Mónica sentia-se a mulher mais pequena do mundo... E nós estávamos um bocado deslocados. Bebemos a cervejinha e fomos embora.

Deixei o Nuno em casa da Ana Pinhal e fui tentar estacionar perto da casa da RM&P. Estava uma noite quente o que não é normal nesta cidade do diabo em que os verões são mais frios que os invernos. Estávamos de janelas abertas.

Encontrei um lugar mesmo em frente ao bar de strip no quarteirão ao lado do de casa delas. Mas, assim que estacionei o carro, reparei porque razão o local estava vago... Era proibido estacionar ali a partir das 6h da manhã por causa das obras no jardim infatil. Sim! Um jardim infantil em frente a um bar de strip-tease, só na américa. Lindo!

Mas, mais lindo foi querer sair do lugar e reparar que um carro estava-me a barrar o caminho. Um tipo tinha parado o carro ao lado do meu e estava a olhar muito fixamente para dentro do bólide, onde estávamos com as janelas abertas a curtir o calorzinha anormal daquela noite. Puxei o carro à frente e o tipo fez o mesmo, para me barrar a saída. Não podia ir mais porque tinha uma casa de banho pública, tipo quiosque, na esquina do passeio, que eu pensei subir. Estava a entrar um tipo de bicicleta na casa de banho, mas nem tive muito tempo para sorrir com a situação.

Para trás não havia hipótese, pois tinha um carro estacionado mesmo atrás. Ok! Nada a fazer senão esperar que o tipo se decidisse a ir embora. Mas, o tipo queria mesmo problemas. De repente, grita para dentro do carro, na minha direcção e a apontar o dedo - "You fucked my wife, man!". O gajo não devia de estar muito bem. Eu com umas miúdas tão giras dentro do carro ia agora meter-me com alguma deslavada na rua?

Respondi-lhe que devia de estar enganado, que nem sequer sabia quem era a mulher dele. Mas, o rapaz insistia "You fucked my wife, man!". Ok! Lá voltei a insitir com o tipo que nem sequer fazia ideia de quem era a mulher dele.

No entretanto disse-lhe para ele acalmar e que não sabia de nada acerca da mulher de ninguém. Nessa altura em vez de se acalmar o tipo abre a porta do carro e dá a sensação que vai sair do carro. Nessa altura a Mónica que estava ao meu lado e mais próxima do carro dele, que estava parado do lado direito do bólide, paralizou completamente. Ela já não dizia uma palavra desde o início da troca de palavras e mal se mexia, mas naquele momento congelou. Eu não sei como mantive-me calmo e só pensei que as coisas se iriam resolver e que tudo não passava de algum mal entendido.

Voltei a insistir que havia alguma confusão por ali e que não sabia quem era a mulher dele. O tipo fechou a porta sem sair do carro e no entretanto entrou um amigo para o lado dele. Trocaram umas palavras e o tipo disse em tom de despedida que eu não tocasse na mulher dele e que não dissesse aquele tipo de palavrões acerca da mulher dele e num carro com mulheres. E, arrancou.

Mas, que porra! Ele é que disse "fuck"... Nunca percebi bem a história, mas a mulher devia de ter fugido de casa e vivia de favores ali na zona. Era a única explicação para tal história.

A Mónica fechou o vidro. Respirou fundo e voltou à vida. Eu e a Rita também.

Saímos dali antes que o tipo se lembrasse de voltar à carga. E dois quarteirões à frente parei para estacionar... E, um transexual virou o rabo gordo para o carro e levantou a saia. Lindo! Era só o que me faltava... Será que aquele(a) era a mulher do outro? Se era a coisa tinha rabo para dar e vender...

Rimo-nos e fomos parar o carro mais à frente.

Voltámos para casa e fui dormir.



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