Segunda-feira, 10 de Julho de 2000
Eu queria chegar ao escritório cedo porque sabia
que ainda corria o risco de ter que ir para Detroit a correr. E,
todas as minhas previsões se confirmaram quando abri o mail e tinha
umas mensagens do Joe, que me pedia para lhe telefonar para o telemóvel.
Telefonei e o tipo disse-me que ainda não tinha
a certeza se precisava de mim lá, ou não. Ficou de me telefonar
daí a uma hora.
Duas horas depois resolvi telefonar, pois gostava
de saber da minha vida. Pois bem, tinha que estar em Detroit por
volta do meio dia do dia seguinte, que com a diferença horária
ficava a menos de 24 horas. Maravilhoso! Eu que nem roupa lavada
tinha.
Telefonei para o gabinete da EAI que marca as viagens.
Tinha voo às 2h da tarde ou às 10h da noite. Só se eu fosse doido é que
voava daí a cerca de 2h, mas assim, fui doido o suficiente para
ir às 10h da noite... Podia dizer que queria ir apenas no dia seguinte
de manhã, mas preferi despachar a coisa nessa noite, porque ninguém
me garantia se a minha presença não era mesmo necessária cedo.
Combinei com o Ben ir-me apanhar às 7h30m da tarde,
porque queria uma boleia até ao autocarro para o aeroporto e queria
chegar a tempo ao aeroporto. Eu esqueço-me que nesta terra o pessoal
faz o check-in em cima da hora e que podia levar a pequena mala
a bordo.
E, fui para casa lavar a roupa. Passei umas calças
e a camisa do VisConcept, mas os pólos assim que saem da máquina
de secar ficam prontos a serem usados, sem precisar de ferro, desde
que não se enrodilhem enquanto estão quentes.
Às 7h30m, chega o Ben, com quatro Sapporo na mão...
Não sei se já beberam a cerveja japonesa, mas é muito parecida
com Super Bock, a maior diferença está que as latas são de meio
litro. Eu já tinha tudo pronto e estivemos ali na conversa um bom
bocado enquanto bebíamos as cervejas. Eram quase 8h30m quando saímos
de minha casa. Eu já tinha desistido da camioneta das 7h30m e da
das 8h, mas não me interessava perder a das 8h30m, porque de minha
casa ao aeroporto de São Francisco é quase uma hora.
O tipo que me atendeu no guichet da Northwest chamava-se
Gay, Daniel Gay. Não tinha muito ar de ser gay, mas tinha o nome.
Depois da parada já nada me surpreende embora me digam que existe
um festival de rua na Folsom que ainda é pior. Estou à espera.
A Northwest é pior que a American Airlines que me
levou a Los Angeles há umas semanas, e o avião estava igualmente
vazio. Porém, a distância entre bancos é realmente maior na American
Airlines, como eles apregoam na sua publicidade, e para além disso
este avião tinha um ar de mais velho e porco. Mas, não faltavam
os telefones em cada dois bancos, pois estes americanos não podem
viver sem o telefone. Outra diferença era o número de hospedeiras
e ajudantes de voo, que eram muito menos, neste voo. Aliás, as
instruções de segurança eram pré-gravadas e passadas nas televisões.
Fiquei de novo à janela, mas não deve ser difícil,
eu faço o check-in tão cedo, comparado com os locais e além disso,
o avião devia de transportar mais moscas que pessoas. Estou a gozar,
não vi moscas nenhumas, mas pulgas não me admiraria se as houvesse.
Peguei num papel e comecei a tirar umas notas do
que tenho pendente para fazer e que não me posso esquecer. Não
podia ligar o meu Palmtop, porque estávamos na fase de levantar
voo. E, ficámos ali um bocado à espera de um espaço de tempo na
pista.
É surpreendente que a quantidade de aviões a levantar
e pousar é tanta que o avião nem sequer pára para acelerar e fá-lo
em andamento. Não nos apercebemos tanto do coice do arranque.
Lá levantámos voo. Já era noite e Silicon Valley
parecia uma árvore de Natal coberta de luzes amarelas, por causa
da sua forma quase em triângulo e com as ruas e as luzes geometricamente
colocadas em linhas perpendiculares. Pelo menos vista daquele ponto
no céu. A 101 parecia uma gambiarra, com o tráfego de carros, e
as suas luzes vermelhas e brancas em deslocamento. Só faltava a
estrela na ponta.
Mas, assim que nos começámos a aproximar de São
Francisco, o nevoeiro começou a adensar e fazia lembrar o algodão
que se põe na árvore de Natal para fazer a vez da neve. Não consegui
ver o centro da cidade do ar por causa do algodão doce e fofo das
nuvens que a cobriam, mas via-se a Bay Bridge e o seu reflexo nas águas
da baía.
Seguimos para Norte e ainda consegui ver a ponte
de San Rafael e a zona onde vivo. Mas, a dada altura passou tudo
a ser uma mancha negra com um ou outro ponto iluminado e eu dediquei-me à leitura,
para ver se vinha o sono.
Eu estava junto à asa esquerda do avião e o barulho
do motor era um bocado chato, mas ainda passei pelas brasas uma
horita.
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