C118 SEGUNDA-FEIRA, 31 DE JULHO DE 2000
São Francisco - Fotografia de Rui Gonçalves

Segunda-feira, 10 de Julho de 2000

Eu queria chegar ao escritório cedo porque sabia que ainda corria o risco de ter que ir para Detroit a correr. E, todas as minhas previsões se confirmaram quando abri o mail e tinha umas mensagens do Joe, que me pedia para lhe telefonar para o telemóvel.

Telefonei e o tipo disse-me que ainda não tinha a certeza se precisava de mim lá, ou não. Ficou de me telefonar daí a uma hora.

Duas horas depois resolvi telefonar, pois gostava de saber da minha vida. Pois bem, tinha que estar em Detroit por volta do meio dia do dia seguinte, que com a diferença horária ficava a menos de 24 horas. Maravilhoso! Eu que nem roupa lavada tinha.

Telefonei para o gabinete da EAI que marca as viagens. Tinha voo às 2h da tarde ou às 10h da noite. Só se eu fosse doido é que voava daí a cerca de 2h, mas assim, fui doido o suficiente para ir às 10h da noite... Podia dizer que queria ir apenas no dia seguinte de manhã, mas preferi despachar a coisa nessa noite, porque ninguém me garantia se a minha presença não era mesmo necessária cedo.

Combinei com o Ben ir-me apanhar às 7h30m da tarde, porque queria uma boleia até ao autocarro para o aeroporto e queria chegar a tempo ao aeroporto. Eu esqueço-me que nesta terra o pessoal faz o check-in em cima da hora e que podia levar a pequena mala a bordo.

E, fui para casa lavar a roupa. Passei umas calças e a camisa do VisConcept, mas os pólos assim que saem da máquina de secar ficam prontos a serem usados, sem precisar de ferro, desde que não se enrodilhem enquanto estão quentes.

Às 7h30m, chega o Ben, com quatro Sapporo na mão... Não sei se já beberam a cerveja japonesa, mas é muito parecida com Super Bock, a maior diferença está que as latas são de meio litro. Eu já tinha tudo pronto e estivemos ali na conversa um bom bocado enquanto bebíamos as cervejas. Eram quase 8h30m quando saímos de minha casa. Eu já tinha desistido da camioneta das 7h30m e da das 8h, mas não me interessava perder a das 8h30m, porque de minha casa ao aeroporto de São Francisco é quase uma hora.

O tipo que me atendeu no guichet da Northwest chamava-se Gay, Daniel Gay. Não tinha muito ar de ser gay, mas tinha o nome. Depois da parada já nada me surpreende embora me digam que existe um festival de rua na Folsom que ainda é pior. Estou à espera.

A Northwest é pior que a American Airlines que me levou a Los Angeles há umas semanas, e o avião estava igualmente vazio. Porém, a distância entre bancos é realmente maior na American Airlines, como eles apregoam na sua publicidade, e para além disso este avião tinha um ar de mais velho e porco. Mas, não faltavam os telefones em cada dois bancos, pois estes americanos não podem viver sem o telefone. Outra diferença era o número de hospedeiras e ajudantes de voo, que eram muito menos, neste voo. Aliás, as instruções de segurança eram pré-gravadas e passadas nas televisões.

Fiquei de novo à janela, mas não deve ser difícil, eu faço o check-in tão cedo, comparado com os locais e além disso, o avião devia de transportar mais moscas que pessoas. Estou a gozar, não vi moscas nenhumas, mas pulgas não me admiraria se as houvesse.

Peguei num papel e comecei a tirar umas notas do que tenho pendente para fazer e que não me posso esquecer. Não podia ligar o meu Palmtop, porque estávamos na fase de levantar voo. E, ficámos ali um bocado à espera de um espaço de tempo na pista.

É surpreendente que a quantidade de aviões a levantar e pousar é tanta que o avião nem sequer pára para acelerar e fá-lo em andamento. Não nos apercebemos tanto do coice do arranque.

Lá levantámos voo. Já era noite e Silicon Valley parecia uma árvore de Natal coberta de luzes amarelas, por causa da sua forma quase em triângulo e com as ruas e as luzes geometricamente colocadas em linhas perpendiculares. Pelo menos vista daquele ponto no céu. A 101 parecia uma gambiarra, com o tráfego de carros, e as suas luzes vermelhas e brancas em deslocamento. Só faltava a estrela na ponta.

Mas, assim que nos começámos a aproximar de São Francisco, o nevoeiro começou a adensar e fazia lembrar o algodão que se põe na árvore de Natal para fazer a vez da neve. Não consegui ver o centro da cidade do ar por causa do algodão doce e fofo das nuvens que a cobriam, mas via-se a Bay Bridge e o seu reflexo nas águas da baía.

Seguimos para Norte e ainda consegui ver a ponte de San Rafael e a zona onde vivo. Mas, a dada altura passou tudo a ser uma mancha negra com um ou outro ponto iluminado e eu dediquei-me à leitura, para ver se vinha o sono.

Eu estava junto à asa esquerda do avião e o barulho do motor era um bocado chato, mas ainda passei pelas brasas uma horita.



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