SEGUNDA-FEIRA, 31 DE JULHO DE 2000 C117
Eu Em Fillmore - Fotografia de Rui Gonçalves

Sábado, 8 de Julho de 2000

Tinha combinado com o Ken ir andar de veleiro e eu tinha convidado a São, o Mário e a Sá para me acompanharem. Mas, o Mário e a Sá, como já me tinham avisado, não puderam vir e com uns atrasos nas mensagens e algumas confusões pelo meio, não veio ninguém no lugar deles. Então, estava só eu e a São... 

Ia a sair de casa para ir ao Safeway quando apareceu a São e foi comigo. Comprámos umas sandes e umas coisas para beber, pois partíamos de manhã, mas, almoçávamos na baía.

Chegámos ao veleiro a tempo, mas ainda tivemos que esperar pela Sarah, um blind-date do Ken. Aparentemente o Ken anda a sentir-se sozinho e andou a tentar arranjar companhia nuns anúncios quaisquer... Assim como ela! Espero não ter estragado nada... Mas, acho que não.

A Sarah era muito porreira e a São fez logo amizade com ela, pois a tipa era advogada e trabalhava numa área de registo de patentes e a São está muito interessada no assunto.

Saímos de Sausalito um bocado depois das 11h e só parámos numa pequena baía junto ao farol de Point Bonita. Aí, estivemos a almoçar, semi-parados, uma vez que não se largou âncora e a ondulação e a maré fazia com que o veleiro sempre fugisse um bocado do ponto onde parámos. Estávamos virados de frente, ao pouco vento que se fazia sentir naquela pequena baía, para que não tivéssemos que baixar as velas e assim o efeito do vento era quase nulo.

Como só éramos quatro e os conhecimentos mútuos eram vagos, foi fácil começarmos a falar de coisas simples. Assim, estivemos ali a conversar sobre Las Vegas, o jogo e o casamento fácil, que serve muitas vezes, aos estrangeiros, para adquirirem o direito de permanência em território norte-americano.

Estava algum frio quando saímos do Golden Gate, mas o sol começou a abrir e quando voltámos a entrar na baía, tive que pôr algum protector solar, porque bem sei o que me aconteceu à cara da última vez que por ali andei. Ainda cheguei a temer precisar do casaco, que com a pressa me tinha esquecido de trazer, mas a t-shirt serviu muito bem durante todo o tempo.

Rumámos à direita de Alcatraz e demos a volta por detrás da ilha. Se aquilo de longe já parece um monte de casas em ruínas, de perto não é mais do que dois ou três edifícios em ruínas, um farol, um depósito de água, um cais de desembarque e muita porcaria de gaivota. Aliás, há partes da ilha que são brancas... Não imaginam porquê?

Mas, quando estávamos a passar por trás da ilha, o vento caiu e fomos com o balanço até à outra ponta, onde tivemos que virar a estibordo para apanhar o vento. Eu estava ao leme e estupidamente segui o vento, para obter uma velocidade mais rápida... Mas, não estava a olhar qual era o destino, mas sim a agulha na ponta do mastro e de repente oiço o Ken a perguntar-me o que é que eu estava a fazer, porque já tinha feito quase 180 graus a bombordo com o barco... Que não era o pretendido, pois estávamos a ir direitos à Golden Gate outra vez. Eu estava distraído, coisa que não se deve fazer num veleiro, mas qual era o mal de irmos passear mais um bocado?

Lá endireitei a rota e fomos para Sausalito. Atracámos, arrumámos as velas e o Ken ficou a dar banho ao barco. Despedimo-nos e fomos no bólide até Marin Headlands.

Quando chegámos ao ponto onde estavam os tais canhões anti-navio da Segunda Grande Guerra, não se via quase nada da baía e da ponte apenas se via o pilar Norte. Timidamente andava um veleiro no meio do Golden Gate, mesmo em frente ao ponto onde estávamos.

Atravessámos o túnel que leva ao ponto de onde se avista as Marin Headlands, mas o nosso velho amigo nevoeiro não ajudou muito. Seguimos a estrada até ao farol de Point Bonita, que aquela hora já estava fechado e fomos até ao miradouro, mais a norte.

Quando parei o carro, um tipo com um sotaque serrado e quase de certeza australiano pediu-me para lhe tirar uma fotografia com o farol de Point Bonita por detrás. Lá tirei a foto ao rapaz, com a sua máquina digital e ele agradeceu, entrou para um Ford Mustang vermelho, descapotável e com matrícula da Flórida. Eu e a São, comentámos e perguntámo-lhe se ele tinha feito a costa a costa desde a Flórida. Ele sorriu, disse que sim e que demorou três semanas. Imagino quanto deve ter ele gasto para alugar um Ford Mustang cabrio por três semanas, e com uma entrega na costa contrária. Há tipos com sorte!

Nós fomo-nos embora, mas ainda esperámos uns minutos no semáforo do túnel que vai dar a Sausalito e que anuncia cinco minutos de vermelho.

A São foi-se embora e eu fiquei em casa a pôr o site das crónicas em dia.

Domingo, 9 de Julho de 2000

Acordei e decidi ir até São Francisco comprar os bilhetes, para mim e para a Cláudia, para ver os Eisturzende Neubaten no The Fillmore. Ainda telefonei ao Ben a dizer que se eu não telefonasse antes das 2h30m, é porque já não ia andar de bicicleta. Tínhamos falado em ir andar de bicicleta novamente, mas desta vez para o sítio certo, mas eu estava um bocado preguiçoso.

Cheguei a Fillmore com Geary e arranjei logo estacionamento. Obra! Parece que só ao domingo e à tarde, é que consigo estas coisas. E, ainda por cima a dois passos do The Fillmore.

Comprei os bilhetes e fui passear para a Fillmore St. Existe uma loja de móveis modernos logo no início, junto ao Japan Center, que eu gosto muito, mas que os preços são muito, mesmo muito exagerados. Mas, sempre se podem tirar umas ideias e depois mandar fazer no serralheiro lá da esquina.

Comecei a subir a rua e entrei no Crossroads Trading Co. uma loja que compra e vende roupa usada. Se a loja em Haight é grande, esta está muito mais bem recheada. Há uns tempos que andava a querer comprar uns calções na Gap que custavam $25 e ali em dois minutos comprei uns da O'Neill e uma t-shirt da Gap por menos de $20.

Ainda subi um bocado mais a rua até a uma loja que só vende produtos de decoração japoneses. Vocês não devem imaginar quantos tipos diferentes de pauzinhos é que se vendem naquela loja. Mas, uma mesinha para o Bonsai é que nem vi uma de jeito. Ainda passei por mais uma loja de móveis que tinha umas caixas quadradas de todas as cores, para pôr CDs que davam bem para a minha colecção... Mas, não gostei muito do preço e além disso, como é que eu levava aquilo para minha casa em Portugal?

Almocei numa pizzaria e ainda passei por uma cópia da Notre Dame de Paris, que existe ali perto. É a igreja de St. Dominique e é feita em cimento o que é raro nesta terra. Mas, imaginem que faziam a Notre Dame e depois nas paredes ficavam as formas da madeira e das formas da cofragem. Eu acho bastante rústico... Mas, só visto de longe.

Fui ver o Japan Center. Fiquei deveras decepcionado. Já me tinham dito que não valia a pena, mas não era preciso exagerar. Aquilo não é mais que um supermercado, uns cinemas do AMC e pouco mais. A melhor coisa é a torre que parece realmente japonesa.

O melhor da vista do Japan Center era o nevoeiro baixo e a Sutro Tower que fica nos montes perto de Twin Peaks. Acontece que como o nevoeiro estava tão baixo, que não se via o monte e parecia que a torre estava assente no nevoeiro. Resolvi aproximar-me mais da Sutro Tower, porque ali apanhava uns edifícios e umas árvores, na objectiva da câmara. Andei, andei e parecia que não conseguia apanhar apenas a torre. Havia sempre alguma coisa à frente.

Só quando cheguei a Alamo Square, o jardim mais fotografado de São Francisco é que consegui fotografar a torre. Estava um frio do caraças e tinha andado quase dez quarteirões. Merecia um café quentinho.

Fui a um dos meus cafés preferidos de São Francisco, o Abir Café em Fulton. Ali a dois quarteirões, mas para quem já tinha andado tanto.

Só um aparte: Eu acho que nunca expliquei, mas aqui na maioria das terras as distâncias medem-se em quarteirões, porque as ruas são todas perpendiculares ou paralelas, dependendo do ponto de vista, mas vocês percebem. Aqui em São Francisco os quarteirões têm cerca de 300 metros.

Pedi um single express, mas a tipa serviu-me um double expresso. Se o single é o duplo português imaginem um duplo expresso à americana. É como uma chávena de meia de leite cheia de café cremoso e espuma.

Fiquei completamente alterado, aquilo mexeu com o meu sistema nervoso e ainda bem que ainda andei uns dez quarteirões para chegar ao bólide, porque senão ia a tremer a conduzir. Aproveitei para ir devagar e acalmar. Parei em Alamo Square e desci pela Fulton, porque havia um aviso de uma garage sale.

Não vi garage sale nenhuma, mas encontrei uma raquete de ténis encostada no passei.

Ainda parei para tirar uma fotografia a mim mesmo num teatro de rua, cuja parte de trás do palco era feita com pequenas pedras pintadas de todas as cores. O efeito ficou bem na fotografia.

Fui para casa, quase às sete da tarde, para quem pensava voltar a tempo de ir andar de bicicleta com o Ben...



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