Sábado, 8 de Julho de 2000
Tinha combinado com o Ken ir andar de veleiro e
eu tinha convidado a São, o Mário e a Sá para
me acompanharem. Mas, o Mário e a Sá, como já me
tinham avisado, não puderam vir e com uns atrasos nas mensagens
e algumas confusões pelo meio, não veio ninguém
no lugar deles. Então, estava só eu e a São...
Ia a sair de casa para ir ao Safeway quando apareceu
a São e foi comigo. Comprámos umas sandes e umas
coisas para beber, pois partíamos de manhã, mas,
almoçávamos na baía.
Chegámos ao veleiro a tempo, mas ainda tivemos
que esperar pela Sarah, um blind-date do Ken. Aparentemente o Ken
anda a sentir-se sozinho e andou a tentar arranjar companhia nuns
anúncios quaisquer... Assim como ela! Espero não
ter estragado nada... Mas, acho que não.
A Sarah era muito porreira e a São fez logo
amizade com ela, pois a tipa era advogada e trabalhava numa área
de registo de patentes e a São está muito interessada
no assunto.
Saímos de Sausalito um bocado depois das
11h e só parámos numa pequena baía junto ao
farol de Point Bonita. Aí, estivemos a almoçar, semi-parados,
uma vez que não se largou âncora e a ondulação
e a maré fazia com que o veleiro sempre fugisse um bocado
do ponto onde parámos. Estávamos virados de frente,
ao pouco vento que se fazia sentir naquela pequena baía,
para que não tivéssemos que baixar as velas e assim
o efeito do vento era quase nulo.
Como só éramos quatro e os conhecimentos
mútuos eram vagos, foi fácil começarmos a
falar de coisas simples. Assim, estivemos ali a conversar sobre
Las Vegas, o jogo e o casamento fácil, que serve muitas
vezes, aos estrangeiros, para adquirirem o direito de permanência
em território norte-americano.
Estava algum frio quando saímos do Golden
Gate, mas o sol começou a abrir e quando voltámos
a entrar na baía, tive que pôr algum protector solar,
porque bem sei o que me aconteceu à cara da última
vez que por ali andei. Ainda cheguei a temer precisar do casaco,
que com a pressa me tinha esquecido de trazer, mas a t-shirt serviu
muito bem durante todo o tempo.
Rumámos à direita de Alcatraz e demos
a volta por detrás da ilha. Se aquilo de longe já parece
um monte de casas em ruínas, de perto não é mais
do que dois ou três edifícios em ruínas, um
farol, um depósito de água, um cais de desembarque
e muita porcaria de gaivota. Aliás, há partes da
ilha que são brancas... Não imaginam porquê?
Mas, quando estávamos a passar por trás
da ilha, o vento caiu e fomos com o balanço até à outra
ponta, onde tivemos que virar a estibordo para apanhar o vento.
Eu estava ao leme e estupidamente segui o vento, para obter uma
velocidade mais rápida... Mas, não estava a olhar
qual era o destino, mas sim a agulha na ponta do mastro e de repente
oiço o Ken a perguntar-me o que é que eu estava a
fazer, porque já tinha feito quase 180 graus a bombordo
com o barco... Que não era o pretendido, pois estávamos
a ir direitos à Golden Gate outra vez. Eu estava distraído,
coisa que não se deve fazer num veleiro, mas qual era o
mal de irmos passear mais um bocado?
Lá endireitei a rota e fomos para Sausalito.
Atracámos, arrumámos as velas e o Ken ficou a dar
banho ao barco. Despedimo-nos e fomos no bólide até Marin
Headlands.
Quando chegámos ao ponto onde estavam os
tais canhões anti-navio da Segunda Grande Guerra, não
se via quase nada da baía e da ponte apenas se via o pilar
Norte. Timidamente andava um veleiro no meio do Golden Gate, mesmo
em frente ao ponto onde estávamos.
Atravessámos o túnel que leva ao ponto
de onde se avista as Marin Headlands, mas o nosso velho amigo nevoeiro
não ajudou muito. Seguimos a estrada até ao farol
de Point Bonita, que aquela hora já estava fechado e fomos
até ao miradouro, mais a norte.
Quando parei o carro, um tipo com um sotaque serrado
e quase de certeza australiano pediu-me para lhe tirar uma fotografia
com o farol de Point Bonita por detrás. Lá tirei
a foto ao rapaz, com a sua máquina digital e ele agradeceu,
entrou para um Ford Mustang vermelho, descapotável e com
matrícula da Flórida. Eu e a São, comentámos
e perguntámo-lhe se ele tinha feito a costa a costa desde
a Flórida. Ele sorriu, disse que sim e que demorou três
semanas. Imagino quanto deve ter ele gasto para alugar um Ford
Mustang cabrio por três semanas, e com uma entrega na costa
contrária. Há tipos com sorte!
Nós fomo-nos embora, mas ainda esperámos
uns minutos no semáforo do túnel que vai dar a Sausalito
e que anuncia cinco minutos de vermelho.
A São foi-se embora e eu fiquei em casa a
pôr o site das crónicas em dia.
Domingo, 9 de Julho de 2000
Acordei e decidi ir até São Francisco
comprar os bilhetes, para mim e para a Cláudia, para ver
os Eisturzende Neubaten no The Fillmore. Ainda telefonei ao Ben
a dizer que se eu não telefonasse antes das 2h30m, é porque
já não ia andar de bicicleta. Tínhamos falado
em ir andar de bicicleta novamente, mas desta vez para o sítio
certo, mas eu estava um bocado preguiçoso.
Cheguei a Fillmore com Geary e arranjei logo estacionamento.
Obra! Parece que só ao domingo e à tarde, é que
consigo estas coisas. E, ainda por cima a dois passos do The Fillmore.
Comprei os bilhetes e fui passear para a Fillmore
St. Existe uma loja de móveis modernos logo no início,
junto ao Japan Center, que eu gosto muito, mas que os preços
são muito, mesmo muito exagerados. Mas, sempre se podem
tirar umas ideias e depois mandar fazer no serralheiro lá da
esquina.
Comecei a subir a rua e entrei no Crossroads Trading
Co. uma loja que compra e vende roupa usada. Se a loja em Haight é grande,
esta está muito mais bem recheada. Há uns tempos
que andava a querer comprar uns calções na Gap que
custavam $25 e ali em dois minutos comprei uns da O'Neill e uma
t-shirt da Gap por menos de $20.
Ainda subi um bocado mais a rua até a uma
loja que só vende produtos de decoração japoneses.
Vocês não devem imaginar quantos tipos diferentes
de pauzinhos é que se vendem naquela loja. Mas, uma mesinha
para o Bonsai é que nem vi uma de jeito. Ainda passei por
mais uma loja de móveis que tinha umas caixas quadradas
de todas as cores, para pôr CDs que davam bem para a minha
colecção... Mas, não gostei muito do preço
e além disso, como é que eu levava aquilo para minha
casa em Portugal?
Almocei numa pizzaria e ainda passei por uma cópia
da Notre Dame de Paris, que existe ali perto. É a igreja
de St. Dominique e é feita em cimento o que é raro
nesta terra. Mas, imaginem que faziam a Notre Dame e depois nas
paredes ficavam as formas da madeira e das formas da cofragem.
Eu acho bastante rústico... Mas, só visto de longe.
Fui ver o Japan Center. Fiquei deveras decepcionado.
Já me tinham dito que não valia a pena, mas não
era preciso exagerar. Aquilo não é mais que um supermercado,
uns cinemas do AMC e pouco mais. A melhor coisa é a torre
que parece realmente japonesa.
O melhor da vista do Japan Center era o nevoeiro
baixo e a Sutro Tower que fica nos montes perto de Twin Peaks.
Acontece que como o nevoeiro estava tão baixo, que não
se via o monte e parecia que a torre estava assente no nevoeiro.
Resolvi aproximar-me mais da Sutro Tower, porque ali apanhava uns
edifícios e umas árvores, na objectiva da câmara.
Andei, andei e parecia que não conseguia apanhar apenas
a torre. Havia sempre alguma coisa à frente.
Só quando cheguei a Alamo Square, o jardim
mais fotografado de São Francisco é que consegui
fotografar a torre. Estava um frio do caraças e tinha andado
quase dez quarteirões. Merecia um café quentinho.
Fui a um dos meus cafés preferidos de São
Francisco, o Abir Café em Fulton. Ali a dois quarteirões,
mas para quem já tinha andado tanto.
Só um aparte: Eu acho que nunca expliquei,
mas aqui na maioria das terras as distâncias medem-se em
quarteirões, porque as ruas são todas perpendiculares
ou paralelas, dependendo do ponto de vista, mas vocês percebem.
Aqui em São Francisco os quarteirões têm cerca
de 300 metros.
Pedi um single express, mas a tipa serviu-me um
double expresso. Se o single é o duplo português imaginem
um duplo expresso à americana. É como uma chávena
de meia de leite cheia de café cremoso e espuma.
Fiquei completamente alterado, aquilo mexeu com
o meu sistema nervoso e ainda bem que ainda andei uns dez quarteirões
para chegar ao bólide, porque senão ia a tremer a
conduzir. Aproveitei para ir devagar e acalmar. Parei em Alamo
Square e desci pela Fulton, porque havia um aviso de uma garage
sale.
Não vi garage sale nenhuma, mas encontrei
uma raquete de ténis encostada no passei.
Ainda parei para tirar uma fotografia a mim mesmo
num teatro de rua, cuja parte de trás do palco era feita
com pequenas pedras pintadas de todas as cores. O efeito ficou
bem na fotografia.
Fui para casa, quase às sete da tarde, para
quem pensava voltar a tempo de ir andar de bicicleta com o Ben... |