Sexta-feira, 30 de Junho de 2000
Ok! O dia de trabalho foi... Uma banal sexta-feira
de trabalho. Com o normal lanche das 4h da tarde.
Porém, o Ben convidou-me para ir a um barbecue
a casa de uma amiga dele. Amiga é como quem diz, foi uma
tipa que quis alugar o quarto disponível em casa dela, mas
que no fim acabou por não querer ficar com o quarto, mas
disse ao Ben que não se importava de sair umas vezes com
ele. E assim foi, ele saiu uma vez com ela. Só que na vez
que combinaram sair, ela apareceu com o namorado com quem tinha
acabado de fazer as pazes e o Ben ficou mal.
Mas pelos vistos a tipa tinha voltado à carga
e desta vez ele não queria ficar mal e então levava
companhia para o caso de ter que sair a meio do barbecue. Eu como
queria era sair e conhecer mais gente, aceitei. Ainda por cima
o barbecue era na Treasure Island, uma ilha que fica a meio da
baía mesmo de frente ao centro de São Francisco e
que é cortada pela Bay Bridge. Devia de ser giro.
Eu ainda fui a casa buscar uns casacos, porque de
noite esfria bastante por aqui e além disso a ilha é muito
plana e no meio da baía, o que significa muito vento. Trouxe
um casaco para o Ben, porque ele estava a acabar um trabalho e
com o trânsito que estava para San Rafael, era impraticável
uma ida a casa dele.
Saímos dos escritórios tardissimo
para quem tinha que chegar às 7h a Treasure Island e ainda
tinha que atravessar São Francisco. Ainda parámos
no Safeway para comprar comida e bebida.
Chegámos a casa da amiga do Ben, uma horita
atrasados. A casa ficava a cerca de 50 metros da água, mas
não se conseguia ver, porque estava rodeada de casas por
todo o lado.
Estavam lá uns amigos da tipa, que nem o
Ben conhecia, o que seria de esperar. Uma senhora mais ou menos
de idade, mas com um ar muito jovial acompanhada de um senhor também
de idade, mas que aparentemente não tinha nenhuma afinidade.
Ela era a professora de arte da amiga do Ben e ele um vizinho.
Estavam encostados a um canto da mesa a beber champanhe.
Além desse par de meia idade, estava um tipo
que não percebi quem era e que afinidades tinha com as donas
da casa. Era negro e gay. Tinha mais tiques e era mais flexível
que a cabeleireira da Cláudia. O rapazinho era uma verdadeira
bichona, mas simpático e nunca se mostrou muito interessado
em nos pôr desagradavelmente à vontade.
Depois ainda havia a colega de casa da amiga do
Ben, que era uma loira gorda americana, mas divertida e conversadora.
Tinha estado em Barcelona e estava fascinada com a movida da cidade.
E a amiga do Ben, que tinha mais buço que o Óscar,
o gato dos meus pais. Mas não era loiro como o do Óscar,
porque senão até disfarçava. E, como ela fazia
beicinho ainda se notava mais.
Comecei a gozar com o Ben. Estas tipas de artes
americanas que têm a mania que o interior compensa a falta
de beleza e que depois nem interior têm. Mas, a rapariga
era simpática e pôs-nos à vontade. Bebemos
champanhe e começámos a cozinhar um bife que tínhamos
comprado.
Mas as luzes do pôr-do-sol estavam demasiadas
convidativas para estar em casa e consegui convencer os outros
a darmos um salto à borda de água e ver o pôr-do-sol
com São Francisco ao fundo.
A imagem era linda, mas o vento soprava mesmo forte.
Ainda tirei uma foto, mas sem tripé e com o vento que estava
ficou toda tremida... Fica para a próxima.
A água azul da baía, o recorte do
Tamalpais ao longe e as luzes da cidade a começarem a ficar
mais fortes com o sol a pôr-se por detrás era lindo,
visto ali de tão perto das ondas. Mas, o frio era mais forte
e voltámos para o nosso bife.
A casa das tipas era fixe. A zona era calma e a
decoração era tipo o-que-encontras-e-gostas-levas-para-casa,
ou seja, havia de tudo misturado na decoração da
casa. Desde um sofá, que não tinha nada a ver com
os cadeirões e cuja coberta disfarçava a velhice
do mesmo, até uma balalaica empoleirada num boneco de madeira
africano. O que gostei mais foi da ideia de colocar nas paredes
quase tudo o que ela tinha pintado, mesmo as coisas que eu não
teria coragem de dizer que tinha sido a pintar. Mas na cozinha
tinha um quadro enorme de dois por dois metros, só em vermelho
e preto, que retractava uma mulher a gritar e que estava fantástico.
No pátio havia uma rede e houve quem tivesse
coragem de estar lá quase o princípio da noite. Isto,
porque no entretanto tinham chegado mais uns amigos. Uma venezuelana
que não percebia quase nada de inglês, que coitada,
estava a um canto, e ficou toda contente quando lhe dirigi a palavra
em espanhol. Mas depressa vi que a conversa não era muita
e era proporcional à quantidade de cérebro que ela
deveria carregar no crânio. O namorado era um malaio que
tinha um Porche, estava tudo dito. Ainda tive que ouvir música
popular da Malásia como se fosse a melhor coisa do mundo,
mas ele como dotcomer (trabalhava numa dot.com) que era, até trazia
um CD de boa música que tinha sacado do Napster.
Depois chegaram os amigos artistas. Não há paciência,
para tipos que por andarem numa escola de arte, julgam-se artistas.
Tivemos direito a poses e andares sumptuosos, mas o melhor era
a roupa. Um vestia um casaco de pelo até aos pés
que lhe dava um ar de quem ia ou vinha da Sibéria. Outra
usava um t-shirt da coca-cola rasgada de tal maneira que ficou
com a forma de um top e ela amarrou à cintura e atrás
do pescoço. Criativa!
Mas a tipa mais fixe de todas era uma australiana.
Que tinha um ar normal, tirando o sotaque que era serrado. Não
parou de dançar um bocado e curtia qualquer coisa que tocasse
sem peneiras, nem preconceitos. Os outros dedicavam-se a fumar
erva na cozinha.
E eu e o Ben estávamos a ficar fartos de
nos sentirmos uns seres normais e de nos sentirmos à parte.
Fomos embora beber um copo a um bar qualquer na cidade.
Fomos para Haight com Fillmore a um bar cuja empregada
era amiga do Ben. Conhecer duas amigas do Ben na mesma noite era
obra. Ele estacionou o carro numa rua escura e ainda tivemos que
dar uns trocados a um arrumador em troca do lugar e de um cigarro.
Não fosse o rapaz tentar alguma coisa com o carro do Ben.
À porta do bar/club/discoteca estavam dois
matulões negros que com um estalo punham-me KO no outro
lado da rua, mas assim que o Ben disse o nome da amiga, já lá estávamos
dentro. Eu já lá tinha estado à porta uma
vez, mas pediram-me cinco dólares e eu achei que não
valia a pena. Tenho que saber o nome da amiga do Ben para entrar
sem pagar, pelos vistos.
A amiga do Ben é engraçada. Magra,
com umas tatuagens e uns piercings no umbigo, nariz e no lábio.
Bem mais bonita e interessante que a primeira que conheci no barbecue
e que tinha a mania que tirava fotografias e pintava. Comentei
o facto com o Ben e a resposta dele foi "É verdade mas o
melhor é esquecer! Ela é lésbica e feliz!"...
Que desperdício!
Ali ficámos na conversa, a beber uma cerveja
e a ouvir rap/hip-hop do pior, até nos dar a vontade de
ir embora.
Foi-me levar ao parque de estacionamento dos escritórios
porque o bólide tinha ficado lá. E estivemos ali
na conversa em frente ao escritório e a falar de relações
humanas e diferenças culturais, até nos dar o sono.
Eram quase duas da manhã quando peguei no bólide
e muito, mesmo muito, devagar segui para casa. |