C112 TERÇA-FEIRA, 25 DE JULHO DE 2000
Ben - Fotografia de Rui Gonçalves

Sexta-feira, 30 de Junho de 2000

Ok! O dia de trabalho foi... Uma banal sexta-feira de trabalho. Com o normal lanche das 4h da tarde.

Porém, o Ben convidou-me para ir a um barbecue a casa de uma amiga dele. Amiga é como quem diz, foi uma tipa que quis alugar o quarto disponível em casa dela, mas que no fim acabou por não querer ficar com o quarto, mas disse ao Ben que não se importava de sair umas vezes com ele. E assim foi, ele saiu uma vez com ela. Só que na vez que combinaram sair, ela apareceu com o namorado com quem tinha acabado de fazer as pazes e o Ben ficou mal.

Mas pelos vistos a tipa tinha voltado à carga e desta vez ele não queria ficar mal e então levava companhia para o caso de ter que sair a meio do barbecue. Eu como queria era sair e conhecer mais gente, aceitei. Ainda por cima o barbecue era na Treasure Island, uma ilha que fica a meio da baía mesmo de frente ao centro de São Francisco e que é cortada pela Bay Bridge. Devia de ser giro.

Eu ainda fui a casa buscar uns casacos, porque de noite esfria bastante por aqui e além disso a ilha é muito plana e no meio da baía, o que significa muito vento. Trouxe um casaco para o Ben, porque ele estava a acabar um trabalho e com o trânsito que estava para San Rafael, era impraticável uma ida a casa dele.

Saímos dos escritórios tardissimo para quem tinha que chegar às 7h a Treasure Island e ainda tinha que atravessar São Francisco. Ainda parámos no Safeway para comprar comida e bebida.

Chegámos a casa da amiga do Ben, uma horita atrasados. A casa ficava a cerca de 50 metros da água, mas não se conseguia ver, porque estava rodeada de casas por todo o lado.

Estavam lá uns amigos da tipa, que nem o Ben conhecia, o que seria de esperar. Uma senhora mais ou menos de idade, mas com um ar muito jovial acompanhada de um senhor também de idade, mas que aparentemente não tinha nenhuma afinidade. Ela era a professora de arte da amiga do Ben e ele um vizinho. Estavam encostados a um canto da mesa a beber champanhe.

Além desse par de meia idade, estava um tipo que não percebi quem era e que afinidades tinha com as donas da casa. Era negro e gay. Tinha mais tiques e era mais flexível que a cabeleireira da Cláudia. O rapazinho era uma verdadeira bichona, mas simpático e nunca se mostrou muito interessado em nos pôr desagradavelmente à vontade.

Depois ainda havia a colega de casa da amiga do Ben, que era uma loira gorda americana, mas divertida e conversadora. Tinha estado em Barcelona e estava fascinada com a movida da cidade. E a amiga do Ben, que tinha mais buço que o Óscar, o gato dos meus pais. Mas não era loiro como o do Óscar, porque senão até disfarçava. E, como ela fazia beicinho ainda se notava mais.

Comecei a gozar com o Ben. Estas tipas de artes americanas que têm a mania que o interior compensa a falta de beleza e que depois nem interior têm. Mas, a rapariga era simpática e pôs-nos à vontade. Bebemos champanhe e começámos a cozinhar um bife que tínhamos comprado.

Mas as luzes do pôr-do-sol estavam demasiadas convidativas para estar em casa e consegui convencer os outros a darmos um salto à borda de água e ver o pôr-do-sol com São Francisco ao fundo.

A imagem era linda, mas o vento soprava mesmo forte. Ainda tirei uma foto, mas sem tripé e com o vento que estava ficou toda tremida... Fica para a próxima.

A água azul da baía, o recorte do Tamalpais ao longe e as luzes da cidade a começarem a ficar mais fortes com o sol a pôr-se por detrás era lindo, visto ali de tão perto das ondas. Mas, o frio era mais forte e voltámos para o nosso bife.

A casa das tipas era fixe. A zona era calma e a decoração era tipo o-que-encontras-e-gostas-levas-para-casa, ou seja, havia de tudo misturado na decoração da casa. Desde um sofá, que não tinha nada a ver com os cadeirões e cuja coberta disfarçava a velhice do mesmo, até uma balalaica empoleirada num boneco de madeira africano. O que gostei mais foi da ideia de colocar nas paredes quase tudo o que ela tinha pintado, mesmo as coisas que eu não teria coragem de dizer que tinha sido a pintar. Mas na cozinha tinha um quadro enorme de dois por dois metros, só em vermelho e preto, que retractava uma mulher a gritar e que estava fantástico.

No pátio havia uma rede e houve quem tivesse coragem de estar lá quase o princípio da noite. Isto, porque no entretanto tinham chegado mais uns amigos. Uma venezuelana que não percebia quase nada de inglês, que coitada, estava a um canto, e ficou toda contente quando lhe dirigi a palavra em espanhol. Mas depressa vi que a conversa não era muita e era proporcional à quantidade de cérebro que ela deveria carregar no crânio. O namorado era um malaio que tinha um Porche, estava tudo dito. Ainda tive que ouvir música popular da Malásia como se fosse a melhor coisa do mundo, mas ele como dotcomer (trabalhava numa dot.com) que era, até trazia um CD de boa música que tinha sacado do Napster.

Depois chegaram os amigos artistas. Não há paciência, para tipos que por andarem numa escola de arte, julgam-se artistas. Tivemos direito a poses e andares sumptuosos, mas o melhor era a roupa. Um vestia um casaco de pelo até aos pés que lhe dava um ar de quem ia ou vinha da Sibéria. Outra usava um t-shirt da coca-cola rasgada de tal maneira que ficou com a forma de um top e ela amarrou à cintura e atrás do pescoço. Criativa!

Mas a tipa mais fixe de todas era uma australiana. Que tinha um ar normal, tirando o sotaque que era serrado. Não parou de dançar um bocado e curtia qualquer coisa que tocasse sem peneiras, nem preconceitos. Os outros dedicavam-se a fumar erva na cozinha.

E eu e o Ben estávamos a ficar fartos de nos sentirmos uns seres normais e de nos sentirmos à parte. Fomos embora beber um copo a um bar qualquer na cidade.

Fomos para Haight com Fillmore a um bar cuja empregada era amiga do Ben. Conhecer duas amigas do Ben na mesma noite era obra. Ele estacionou o carro numa rua escura e ainda tivemos que dar uns trocados a um arrumador em troca do lugar e de um cigarro. Não fosse o rapaz tentar alguma coisa com o carro do Ben.

À porta do bar/club/discoteca estavam dois matulões negros que com um estalo punham-me KO no outro lado da rua, mas assim que o Ben disse o nome da amiga, já lá estávamos dentro. Eu já lá tinha estado à porta uma vez, mas pediram-me cinco dólares e eu achei que não valia a pena. Tenho que saber o nome da amiga do Ben para entrar sem pagar, pelos vistos.

A amiga do Ben é engraçada. Magra, com umas tatuagens e uns piercings no umbigo, nariz e no lábio. Bem mais bonita e interessante que a primeira que conheci no barbecue e que tinha a mania que tirava fotografias e pintava. Comentei o facto com o Ben e a resposta dele foi "É verdade mas o melhor é esquecer! Ela é lésbica e feliz!"... Que desperdício!

Ali ficámos na conversa, a beber uma cerveja e a ouvir rap/hip-hop do pior, até nos dar a vontade de ir embora.

Foi-me levar ao parque de estacionamento dos escritórios porque o bólide tinha ficado lá. E estivemos ali na conversa em frente ao escritório e a falar de relações humanas e diferenças culturais, até nos dar o sono. Eram quase duas da manhã quando peguei no bólide e muito, mesmo muito, devagar segui para casa.



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