Nem comento o atraso da coisa.
Domingo, 25 de Junho de 2000
O dia do Lesbian, Gay, Bi and Transgender pride
parade.
Acordámos cedo pois não queríamos
perder nada do desfile. Enquanto nos preparávamos para sair
apareceu o Tiago e a Joana e logo a seguir a Ana Pinhal e a mãe.
Descemos O'Farrell, porque tínhamos combinado
com o resto do pessoal encontrarmo-nos em frente à Gap de
Powell. Claro, que se já é difícil encontrar
alguém lá num domingo normal, faria no dia do Pride
Parade.
Ainda parámos para beber um café no
Starbuck's e quando chegámos a Powell deparámos com
uma enorme multidão de espectadores que não nos deixava
sequer ver as cabeças dos desfilantes.
Eu queria era um local onde pudesse disparar umas
fotos, e ali não dava. Nem queria saber se não me
encontrava com o resto do pessoal. Falei com o pessoal e começámos
a subir a Market, porque senão acho que tinha ido sozinho.
Parámos perto do Warfield, a sala onde vi
o Peter Murphy há quase quatro meses.
Nós éramos umas verdadeiras ilhas
ali. Seriamos sem dúvidas dos poucos heterossexuais numa área
de cerca de 100 metros. E isto, estou a falar do público
que estava a assistir, porque dos que estavam a desfilar... Já lá vamos!
Ao meu lado esquerdo estava um casal de gays masculinos.
O que aparentemente tomava o papel da "fêmea" na relação,
e que era meio oriental, passou o tempo todo a coçar as
costas do "macho" e tinha um ar tão possessivo que até metia
impressão. A dada altura perguntaram-nos de que nacionalidade é que éramos,
isto já numa altura em que o Rafael, um brasileiro, tinha
aparecido. E, quando dissemos que éramos portugueses, puseram-se
com aquelas infantilidade do "Vês, como eu te disse que era
português" e "Eu disse primeiro".
Ao meu lado direito estava um grupo de gays masculinos.
Deviam ser para aí uns quatro ou cinco, e não
dava para destinguir se aquilo eram casais ou se era mesmo um grupo
de amigos coloridos comuns.
À minha frente estava um tipo e a namorada,
que era outro oásis, naquele mar de gays, maioritariamente
masculinos. O tipo era de origem argentina e também percebia
português do Brasil, estava quase de malas aviadas para ir
a Espanha de férias e convenci-o a dar um salto a Portugal.
Se virem um gajo de cabelo preto encaracolado e uma tipa aloirada
americana, podem dizer que me conhecem...
Mas ao lado deles estava um outro oriental gay,
que aparentemente tinha viajado para ali e estava a tentar encontrar
alguém conhecido na parada.
Mais tarde apareceu uma família de chineses,
pai, mãe e dois filhos que se meteram entre mim e o grupo
de gays. Ela usava um guarda-sol daqueles redondos chineses, cujas
miniaturas se põem nos gelados e que ficou em algumas das
minhas fotos. A dada altura de entre milhares de coisas que eram
atiradas da parada para o público, eu apanhei uma embalagem,
que se assemelhava a um rebuçado e os miúdos chineses
ficaram cheios de pena de não o terem apanhado. Eu gentilmente
ofereci aquilo ao pai chinês, que era o que estava mais próximo.
Ele começou a ver o que era aquilo... E eu também.
Era lubrificante! Uma embalagem de lubrificante... Haviam de ver
o ar do homem a atirar aquilo para o chão. Lindo!
Mais longe de mim estava um homem de bigode vestido
de mulher, com um vestido colorido e com chapéu e tudo.
Eu tirei-lhe uma fotografia, mas quando ele notou que estava a
focar, desviou-se e ficou de costas... Se calhar achava que era
o seu melhor ângulo, não sei!
Mas falemos da parada em si. Os primeiros seres
que eu vi desfilar foram os motards gays. Isto porque as Dykes
on Bikes, já tinham passado. (Para quem não sabe,
dyke é lésbica). Digamos que esses foram quase os
mais normais do desfile, porque tirando um ou outro que estavam
vestidos e pintados de mulher, a maioria não passavam de
motards.
Mas depois veio de tudo. A Rainha do Poly-Esther,
um homem inacreditavelmente mulher. Eu julgo que era um transexual,
mas prefiro continuar na minha ignorância. E nem sei se tem
alguma coisa a ver com a discoteca com o mesmo nome, mas eu já desconfiava
do sítio. No mesmo carro seguia um outro "homem" que cantava
uma música dos Erasure com a voz do Jimmy Summerville. É impressionante
ver como alguém consegue ter uma voz tão aguda e
cantar tão bem ao mesmo tempo.
Seguiu-se de tudo. Os polícias, bombeiros
e enfermeiros gays e lésbicas, a desfilarem nos carros oficiais
das corporações, junto com alguns amigos e familiares
a mostrarem cartazes a dizerem "Orgulhosamente irmã de uma
bombeira lésbica" ou coisas semelhantes.
Seguiram-se a associação de pais e
amigos dos gays e lésbicas e a associação
dos gays e lésbicas pais. Com cartazes como "Lésbica
de terceira geração", "Qual deles é o meu
pai?" e "Tenho duas mães". Lindo! Slogans fantásticos
para pôr em qualquer t-shirt e levar para a escola... Isto
havia de ser em Portugal e os miúdos nem sequer voltavam à escola.
Ainda houve tempo para aparecer um tipo vestido
com a bandeira do arco-íris, símbolo dos gays, e
com um cartaz a dizer "God is Gay" e outro que eu tenho uma fotografia
da Haight St. Fair, completamente nú e com um cartaz a dizer "Vamos
fazer do 4 de Julho o dia do orgulho nú". Outro com um cartaz
a dizer "No Special Rights for Straights" e um grupo deles com
t-shirts a dizer "Ass Master Fan Club- We are Everywhere..." na
frente e "... Except Korea" nas costas. Não percebi se era
um grupo de veteranos da guerra da coreia, que não pareciam,
pela idade e por estarem inteiros, ou se tinham alguma coisa contra
os coreanos... Amigos na Coreia, existe algum problema aí contra
os homossexuais?
Mas para mim o mais impressionante foi quando desfilou
um grupo de mulheres cujo um dos peitos tinha sido amputado devido
ao cancro da mama. Não é muito bonito de se ver e
tenho uma foto disso, que vou colocar no eGroups, mas que não
vou enviar, porque prefiro não chocar... E daí! Acho
que por vezes o choque é melhor, para que as pessoas se
apercebam dos problemas. Depois eu vejo, mas de qualquer maneira
vai para o eGroups.
A dada altura as figuras começaram a repetir-se.
Casais de homens, uns vestidos de noivas e outros de noivo, seres
saídos de não sei onde e completamente deformados
por causa das hormonas, até lésbicas de tronco nú a
mostrarem que têm os mesmos direitos dos homens. Valia tudo...
E começou a cansar. O Tiago estava completamente
enojado e já nem sequer ligava a quem desfilava. A crença
na continuidade da espécie ficava ali seriamente abalada.
E, era impressionante ver como cerca de um milhão de pessoas
desfilava e não sei quantos mais assistiam, alguns vindos
da outra costa dos Estados Unidos, só para se juntarem aos
Gays no dia do Orgulho Gay na cidade mais Gay do Mundo.
Ainda houve tempo para um Gay dar uma palmada na
mãe da Ana Pinhal com uma palmatória, em tom de gozo.
Depois, soube que o Mário chegou a ser apalpado... Mas também
não admira, foi ver a parada com a roupa que levou à festa
do J&J.
Decidimos ir almoçar porque por ali estava
tudo visto. E, também estava difícil de arranjar
onde comer, pois já começava a ser tarde, mas conseguimos
ir comer a mais restaurante de comida americana. O habitual hambúrguer
e batatas fritas.
Fui buscar as coisas a casa da RM&P e decidi
ir-me embora. Elas ainda deram um salto à festa gay, no
fim da tarde. Sim! Porque o desfile ou parada acabava na zona central
da cidade, onde existia uma festa a tarde toda. As festas aqui
começam cedo e acabam ainda mais cedo. Por volta das sete
da tarde já está tudo arrumado e despachado. Mas,
mesmo assim houve quem se divertisse na festa...
Eu carreguei o PC, câmara e mochila durante
sete quarteirões para chegar ao sítio onde tinha
deixado o bólide, com algumas paragens pelo meio para tirar
umas fotos a umas casas e igrejas...
Cheguei ao carro calmamente e fui-me embora de São
Francisco. Estava cansado e com o sol que tinha apanhado na moleirinha
estava mole.
Mas, quem estava mole também era o bólide
porque não andava como deveria de ser. Acelerava e o rapaz
parecia que estava a rolar em seco, como se a embraiagem estivesse
metida. Ele andava, mas demorava a desenvolver e nunca passava
das 40 milhas por hora.
Comecei a ficar preocupado na subida antes do túnel
da 101, após a Golden Gate, pois aí e como a inclinação é grande,
não passava das 30 mph. Ainda pensei em sair em Sausalito
e ver o que se passava, mas na descida embalou e consegui chegar
a casa sem problemas.
Tentei ver se seria o cabo da embraiagem que tinha
encolhido, mas não dava para desapertar um parafuso que
tinha lá, para testar e não mexi muito. No dia seguinte
pedia uma chave a alguém e tentava.
Nem jantei. Comi qualquer coisa enquanto acabava
de compilar as crónicas e as passava para as páginas
da web, que já devem conhecer.
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