TERÇA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 2000 C105
A ComView - Fotografia de Rui Gonçalves

Quinta-feira, 15 de Junho de 2000

Ensaio geral às 9h30m no Convention Center. O VisConcept decide crashar às 9h. Num acto de desespero faço reboot à maquina. Resultado os dois monitores (estava a usar dois monitores com dois canais diferentes, ou seja, via metade da imagem em cada um) ficam desconfigurados e não funcionam, a licença ficou tomada pelo primeiro processo que não terminou. Num instante, faço uma paragem do processo e da licença e arranco a nova configuração dos monitores. Está tudo pronto para o ensaio... Mesmo a tempo.

Os ensaios correram bem.

Começo a olhar à volta e reparo que para além de mim só um dos americanos é que está de sapatilhas. É o Jason o responsável pelo o áudio e iluminação e que não tem nada a ver com aquilo e ainda por cima está atrás das colunas e ninguém o vê. Acho que me estou a portar como um verdadeiro americano... No dia seguinte já trouxe sapatos!

Vesti um dos pólos que a ComView gentilmente me colocou no quarto do hotel, mas foi a primeira e última vez. Fi-lo por gentileza também, mas não quero confusões, porque eu estava ali porque estava a demonstrar o VisConcept e por isso devia de trazer a camisa do VisConcept. Aliás ainda deu para ouvir uma piada do Amir, um dos bosses ou mesmo o boss supremo, não percebi... Perguntou-me se eu agora trabalhava para a ComView. Mas disse-o sem intenção, foi a tentar ser simpático e como ele até é piadético, com a sua grande barriga e alto e com cara de quem está sempre a rir, nem levei a mal... Mas acho que estas piadas são típicas dos americanos, porque ele até viveu muitos anos nos Estados Unidos. Os americanos têm a mania de se refugiarem atrás de umas piadas para verem se quebram o gelo nas conversas, mas às vezes exageram e a maioria das vezes não sabem os limites e quando parar.

Mas a verdade é que me senti um bocado ridículo com o pólo da ComView e não sendo empregado, porque achei que me estava a tentar passar pelo que não era...

A verdade é que também estava a ficar farto de me sentir à parte. Eles eram muitos e como estavam nervosos com a apresentação e a configuração dos seus sistemas, falavam maioritariamente em hebraico o que já me estava a dar cabo da paciência. Aquele "rashrrr halarrrr kumharrr Rasrrr", já me estava a fazer confusão com o sistema nervoso, além de que há quase três dias que só falava inglês... Já estava a começar a falar português comigo!

As portas da exposição abriram às 10h e começou a chegar gente ao mesmo tempo que se fazia o ultimo ensaio. Correu tudo bem, os sistemas funcionaram em pleno e o VisConcept esteve à altura. Mas às 11h, na primeira apresentação, correu tudo mal, a minha apresentação nem sequer foi projectada, porque o sistema deles crashou a meio... A lei de Murphy em acção!!!

Mas nada de grave. Nada que não se conseguisse remediar e mostrar numa mini-apresentação em privado aos mais interessados. Entre eles estava um tipo da General Motors, que estava radiante por ver que o VisConcept estava ali e projectámo-lo só para ele. Aliás depois ele ficou interessado nos produtos da ComView e andou por ali mais vezes a recolher informações...

Fui dar uma volta. A máquina promocional americana estava em plena acção. Canetas, sacos, bolas e até um super herói na Canon, as sheerleaders dos Lakers e o Elvis, estavam lá. Afinal de contas ele está vivo.

O resto do dia seguiu-se com apresentações atrás de apresentações. E nos intervalos dava uma escapadela pelos stands mais interessantes e à hora do almoço, depois de comer uma pizza, estive a ver o "5º Elemento" num écran que nunca pensei ser possível existir sem ser em cinemas e salas de conferência, mas que hoje em dia se pode ter em casa. Eu ainda hei-de ter uma coisa daquelas para ver cinema em casa.

Mas voltando ao "5º Elemento", é daqueles filmes que se falou muito, mas que eu não cheguei a ver. Os cenários e personagens são todos baseados em desenhos do Moebius, ou aliás foram imaginados por ele e desenhados pelo Jean-Paul Gaultier, além disso o Tricky é um dos actores, coisa que eu não sabia. Sem falar na Milla Jovovich...

Fiquei surpreendido por ver num dos slides do show da ComView um mapa com alarmes de telecomunicações em que se via uma Igreja de Sta Rita e Igreja da Candeleria. Julgo que é no Brasil, mas ninguém sabia. Além disso, vi numa caixa, algures no stand, o nome Paul Gomes, que era um dos vendedores americanos da empresa e com quem depois falei e que era 100% português, segundo ele, mas que não falava uma palavra de português e nunca tinha estado na Madeira, terra natal dos pais. 100% português, portanto... Eu devo ser 500% porque nasci em Portugal Ultramar, em Moçambique... Porque se tivesse nascido em território nacional devia de ser 1000%, por comparação com o tal Paul Gomes.

Dos israelitas, conheci mais alguns. Ou aliás consegui falar com mais alguns, porque eles falam mal inglês ou têm medo de falar. Conheci outro Amir, que era o responsável pela demonstração do ViewScreen, o tal painel com seis projectores frontais e que era um tipo de cabelo encaracolado, sempre com os óculos de sol na cabeça e depois de estar à vontade, já mandava umas piadas e tudo. O Asaf, que se não nasceu em Espanha, parecia, com um rabo de cavalo e o cabelo rapado dos lados e os óculos de sol na testa seguros por um fio... Parecia o Banderas no seu ar mais machão e mais piroso. A Sventa, uma russa muito sorridente, mas muito pouco à vontade e muito pouco faladora, mas que andava atrás dos brindes dos outros stands como se fizesse colecção.

Ainda conheci o americano que tratou de tudo para eu ir para Los Angeles e que se chama Tom. Digamos que é um típico americano, grande, gordo, loiro, meio careca à frente mas com o cabelo comprido atrás... O género do Michael "Bay Watch", nos seus anos de namoro com o Kit, mas mais gordo.

Mas ainda haviam muitos para conhecer... Eles eram mais que as mães.

Ao fim da tarde, voltei para o hotel, vesti os calções e fui para a piscina. Era a primeira vez que tinha voltado ainda com luz e como estava tudo bem, podia desfrutar de um refrescante banho na piscina do Hotel... Pensei eu! Porque de refrescante não teve nada, porque a água da piscina estava mais quente que o ar cá fora... Refrescante foi quando eu saí da sopinha e vim para os bancos... O vento que até era quente, antes de eu entrar na piscina, era agora gelado.

Fartei-me daquele banho turco e dos miúdos que não se calavam, fui tomar banho e resolvi ir dar uma volta pela zona, para levantar dinheiro e para ver as vistas.

Mas eu não aprendo! Que vistas? Mas há lá alguma coisa para ver ali? Só hotéis, avenidas e auto-estradas... Nem uma casa de jeito e pior de tudo, nem um restaurante de jeito. Juro-vos que andei quase duas horas e estava tudo fechado às 9h da noite.

Ainda passei por um bar perdido no meio de um descampado, mesmo ao lado da auto-estrada em que os frequentadores pareciam saídos de um filme dos anos 60. O Grease deve ter sido filmado ali mesmo, porque pelas palas no cabelo e pela idade dos carros, ainda estavam a filmar. Mas tinham um ar de poucos amigos e eu segui o meu caminho.

Por falar em Grease, lembram-se da cena da corrida de carros? Pois eu quando era miúdo sempre me questionei acerca do sítio onde a corrida decorria... Acho que era no Grease, em que eles iam fazer uma corrida... Ou não? Não interessa... Era uma corrida entre dois carros numa zona de um leito de um rio seco e com paredes de segurança... Pois existem muitas dessas coisas em Los Angeles.

Voltei a ir ao Millies, o tal restaurante americano à porta do Hotel... Que nojo!!!

E fui dormir.



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