Quinta-feira, 15 de Junho de 2000
Ensaio geral às 9h30m no Convention Center.
O VisConcept decide crashar às 9h. Num acto de desespero
faço reboot à maquina. Resultado os dois monitores
(estava a usar dois monitores com dois canais diferentes, ou seja,
via metade da imagem em cada um) ficam desconfigurados e não
funcionam, a licença ficou tomada pelo primeiro processo
que não terminou. Num instante, faço uma paragem
do processo e da licença e arranco a nova configuração
dos monitores. Está tudo pronto para o ensaio... Mesmo a
tempo.
Os ensaios correram bem.
Começo a olhar à volta e reparo que
para além de mim só um dos americanos é que
está de sapatilhas. É o Jason o responsável
pelo o áudio e iluminação e que não
tem nada a ver com aquilo e ainda por cima está atrás
das colunas e ninguém o vê. Acho que me estou a portar
como um verdadeiro americano... No dia seguinte já trouxe
sapatos!
Vesti um dos pólos que a ComView gentilmente
me colocou no quarto do hotel, mas foi a primeira e última
vez. Fi-lo por gentileza também, mas não quero confusões,
porque eu estava ali porque estava a demonstrar o VisConcept e
por isso devia de trazer a camisa do VisConcept. Aliás ainda
deu para ouvir uma piada do Amir, um dos bosses ou mesmo o boss
supremo, não percebi... Perguntou-me se eu agora trabalhava
para a ComView. Mas disse-o sem intenção, foi a tentar
ser simpático e como ele até é piadético,
com a sua grande barriga e alto e com cara de quem está sempre
a rir, nem levei a mal... Mas acho que estas piadas são
típicas dos americanos, porque ele até viveu muitos
anos nos Estados Unidos. Os americanos têm a mania de se
refugiarem atrás de umas piadas para verem se quebram o
gelo nas conversas, mas às vezes exageram e a maioria das
vezes não sabem os limites e quando parar.
Mas a verdade é que me senti um bocado ridículo
com o pólo da ComView e não sendo empregado, porque
achei que me estava a tentar passar pelo que não era...
A verdade é que também estava a ficar
farto de me sentir à parte. Eles eram muitos e como estavam
nervosos com a apresentação e a configuração
dos seus sistemas, falavam maioritariamente em hebraico o que já me
estava a dar cabo da paciência. Aquele "rashrrr halarrrr
kumharrr Rasrrr", já me estava a fazer confusão com
o sistema nervoso, além de que há quase três
dias que só falava inglês... Já estava a começar
a falar português comigo!
As portas da exposição abriram às
10h e começou a chegar gente ao mesmo tempo que se fazia
o ultimo ensaio. Correu tudo bem, os sistemas funcionaram em pleno
e o VisConcept esteve à altura. Mas às 11h, na primeira
apresentação, correu tudo mal, a minha apresentação
nem sequer foi projectada, porque o sistema deles crashou a meio...
A lei de Murphy em acção!!!
Mas nada de grave. Nada que não se conseguisse
remediar e mostrar numa mini-apresentação em privado
aos mais interessados. Entre eles estava um tipo da General Motors,
que estava radiante por ver que o VisConcept estava ali e projectámo-lo
só para ele. Aliás depois ele ficou interessado nos
produtos da ComView e andou por ali mais vezes a recolher informações...
Fui dar uma volta. A máquina promocional
americana estava em plena acção. Canetas, sacos,
bolas e até um super herói na Canon, as sheerleaders
dos Lakers e o Elvis, estavam lá. Afinal de contas ele está vivo.
O resto do dia seguiu-se com apresentações
atrás de apresentações. E nos intervalos dava
uma escapadela pelos stands mais interessantes e à hora
do almoço, depois de comer uma pizza, estive a ver o "5º Elemento" num écran
que nunca pensei ser possível existir sem ser em cinemas
e salas de conferência, mas que hoje em dia se pode ter em
casa. Eu ainda hei-de ter uma coisa daquelas para ver cinema em
casa.
Mas voltando ao "5º Elemento", é daqueles
filmes que se falou muito, mas que eu não cheguei a ver.
Os cenários e personagens são todos baseados em desenhos
do Moebius, ou aliás foram imaginados por ele e desenhados
pelo Jean-Paul Gaultier, além disso o Tricky é um
dos actores, coisa que eu não sabia. Sem falar na Milla
Jovovich...
Fiquei surpreendido por ver num dos slides do show
da ComView um mapa com alarmes de telecomunicações
em que se via uma Igreja de Sta Rita e Igreja da Candeleria. Julgo
que é no Brasil, mas ninguém sabia. Além disso,
vi numa caixa, algures no stand, o nome Paul Gomes, que era um
dos vendedores americanos da empresa e com quem depois falei e
que era 100% português, segundo ele, mas que não falava
uma palavra de português e nunca tinha estado na Madeira,
terra natal dos pais. 100% português, portanto... Eu devo
ser 500% porque nasci em Portugal Ultramar, em Moçambique...
Porque se tivesse nascido em território nacional devia de
ser 1000%, por comparação com o tal Paul Gomes.
Dos israelitas, conheci mais alguns. Ou aliás
consegui falar com mais alguns, porque eles falam mal inglês
ou têm medo de falar. Conheci outro Amir, que era o responsável
pela demonstração do ViewScreen, o tal painel com
seis projectores frontais e que era um tipo de cabelo encaracolado,
sempre com os óculos de sol na cabeça e depois de
estar à vontade, já mandava umas piadas e tudo. O
Asaf, que se não nasceu em Espanha, parecia, com um rabo
de cavalo e o cabelo rapado dos lados e os óculos de sol
na testa seguros por um fio... Parecia o Banderas no seu ar mais
machão e mais piroso. A Sventa, uma russa muito sorridente,
mas muito pouco à vontade e muito pouco faladora, mas que
andava atrás dos brindes dos outros stands como se fizesse
colecção.
Ainda conheci o americano que tratou de tudo para
eu ir para Los Angeles e que se chama Tom. Digamos que é um
típico americano, grande, gordo, loiro, meio careca à frente
mas com o cabelo comprido atrás... O género do Michael "Bay
Watch", nos seus anos de namoro com o Kit, mas mais gordo.
Mas ainda haviam muitos para conhecer... Eles eram
mais que as mães.
Ao fim da tarde, voltei para o hotel, vesti os calções
e fui para a piscina. Era a primeira vez que tinha voltado ainda
com luz e como estava tudo bem, podia desfrutar de um refrescante
banho na piscina do Hotel... Pensei eu! Porque de refrescante não
teve nada, porque a água da piscina estava mais quente que
o ar cá fora... Refrescante foi quando eu saí da
sopinha e vim para os bancos... O vento que até era quente,
antes de eu entrar na piscina, era agora gelado.
Fartei-me daquele banho turco e dos miúdos
que não se calavam, fui tomar banho e resolvi ir dar uma
volta pela zona, para levantar dinheiro e para ver as vistas.
Mas eu não aprendo! Que vistas? Mas há lá alguma
coisa para ver ali? Só hotéis, avenidas e auto-estradas...
Nem uma casa de jeito e pior de tudo, nem um restaurante de jeito.
Juro-vos que andei quase duas horas e estava tudo fechado às
9h da noite.
Ainda passei por um bar perdido no meio de um descampado,
mesmo ao lado da auto-estrada em que os frequentadores pareciam
saídos de um filme dos anos 60. O Grease deve ter sido filmado
ali mesmo, porque pelas palas no cabelo e pela idade dos carros,
ainda estavam a filmar. Mas tinham um ar de poucos amigos e eu
segui o meu caminho.
Por falar em Grease, lembram-se da cena da corrida
de carros? Pois eu quando era miúdo sempre me questionei
acerca do sítio onde a corrida decorria... Acho que era
no Grease, em que eles iam fazer uma corrida... Ou não?
Não interessa... Era uma corrida entre dois carros numa
zona de um leito de um rio seco e com paredes de segurança...
Pois existem muitas dessas coisas em Los Angeles.
Voltei a ir ao Millies, o tal restaurante americano à porta
do Hotel... Que nojo!!!
E fui dormir.
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