C104 DOMINGO, 25 DE JUNHO DE 2000
Fogo de Artifício na Disneyland - Fotografia de Rui Gonçalves

Eu sei que vocês querem é saber as últimas novidades deste fim-de-semana, mas ainda tenho algumas coisas para vos contar da semana em que estive em Anaheim, Los Angeles.

Terça-feira, 13 de Junho de 2000

Acordei meio atordoado com o calor e por estranhar a cama. Acho que ouvi um ar condicionado a trabalhar a noite toda... Que mais tarde vim a descobrir que era o ar a entrar por debaixo da porta do quarto, que passei a tapar com uma toalha para minimizar o barulho.

Fui tomar o pequeno-almoço ao MacDonalds e fui para o Convention Center. Digamos que do Hotel ao Convention Cente eram cerca de 20 minutos a pé, por causa do calor e por causa das passadeiras. Sim! Imaginem o tempo que se demora a atravessar uma avenida com dez faixas, 6 num sentido e 4 noutro. Agora multipliquem esse tempo por três... E mais o tempo de espera que o semáforo mude. Uma maravilha! Ainda por cima ao sol e com calor.

Quando cheguei ao Convention Center o tipo da Silicon Graphics ainda não tinha chegado, mas como já tinha a licença para o VisConcept, instalei o software e pus o sistema a correr, com o mínimo de resolução e sem estar ainda ligado aos projectores da ComView (http://www.comview-vs.com/). E fiquei sem ter nada para fazer...

Os stands ali à volta ainda estavam todos em fase de montagem. Tirando o da ComView que já tinha quase ar de acabado, todos os outros estavam ainda em estado embrionário.

Resolvi ir dar uma volta pelas redondezas e ir à loja da Mile High, que ficava a cerca de 2 quilómetros dali. A Mile High é uma cadeia de lojas de Banda Desenhada e Comics que vende livros em segunda mão e de onde já comprei algumas coisas via Internet, mas queria ver como era uma por dentro. Que desilusão! É o caos! Não existe um organização que qualquer cliente seja capaz de reconhecer... É mais uma técnica de marketing dos americanos. Somos obrigados a perguntar e eles tentam-nos vender a loja toda, porque têm comissão. Não perguntei nada, porque não andava à procura de nada em especial.

Era quase hora do almoço e o calor apertava. Ainda por cima as únicas árvores que existem no caminho são palmeiras que como vocês sabem são verdadeiras árvores de fazer sombra. A paisagem ao longo do caminho também ajudava a passar o tempo... Se eu andasse de carro! Descampados, casas térreas, motéis, hotéis, fast-foods, bombas de gasolina e avenidas com mais faixas que a segunda circular e CREL juntas.

Passei por um restaurante mexicano chamado Los Sanchez, que vendia "carnita assada" e que me fez lembrar os meus amigos Tiagos. Pena que não tivesse a minha máquina comigo, pois dava uma bela foto. Mais à frente uma pelucaria (cabeleireiro em espanhol para quem não sabe) dizia que cortava o cabelo por $5... Em São Francisco não se faz a coisa por menos de $12.

Além disso a gasolina é muito mais barata em Los Angeles que em São Francisco. Ali a gasolina mais cara é ao preço da mais barata de São Francisco. Eu passo a explicar, aqui há três tipos de gasolina sem chumbo, a Regular, a Super e a Extra, dependendo do número de octanas. E além disso, o preço varia tanto de bomba para bomba que é provável que hajam duas bombas, ao lado uma da outra, com variações de $0.30 por galão, ou seja 16$00 por litro. Quem andou a buzinar por causa da subida da gasolina aí em Portugal devia de viver aqui em que a gasolina custa mais 22$00/litro que na Carolina e é mais barata 16$00/litro que em Boston.

Ainda passei por um motel chamado Bicycle e que achei ser um nome ideal para o motel onde eu teria que dormir no sábado, mas quando olhei bem para o ar do mesmo, fugiram-me logo as ideias... Que Nojo! Parecia daqueles motéis de beco em que vivem só bêbados e low-lifes.

Voltei para o Convention Center, depois de almoçar, porque apesar do calor lá dentro, não apanhava com o sol na cabeça e podia beber água de dois em dois minutos.

O Meir, um dos bosses da ComView, ficou surpreendido pelo facto de eu ter um saco de computador da Shimano e começámos a falar de BTT, que ele também faz. Deu-me também os parabéns pela vitoria portuguesa sobre a Inglaterra, do dia anterior e desejou que ganhássemos à Alemanha. Estes israelitas judeus não gostam muito dos alemães, não. Este Mier é um tipo de meia idade, baixo, com olhos de carneiro mal morto e quase sempre sorridente e simpático, além disso tem uma Gary Fisher de suspensão integral e gosta de futebol.

No entretanto estive a melhorar a apresentação e a diminuir alguns tempos do processo de maneira a transformá-la numa coisa mais dinâmica.

O Toam, o técnico de hardware da ComView andava a ficar preocupado com o facto do tipo da Silicon Graphics não aparecer e veio-me perguntar se eu tinha maneira de o contactar. Eu? Eu só vim ver a bola... Vocês é que são a parte interessada e não pensaram nisso antes? Mas ele disse que do escritório só atendiam secretárias e que o tipo andava por fora. Lindo serviço! Trocam a máquina e ainda por cima fogem de a configurar... Viva a América! Estes tipos fogem sempre quando são precisos.

No entretanto o Toam, como é um tipo muito calmo, continuou à espera do tipo da Silicon Graphics.

A ComView tinha contratado um escritor de guiões para a apresentação dos seus produtos e pelos vistos também tinha contratado uma tipa para fazer a dita apresentação. As coisas estavam a encaixar na minha cabeça. Então havia mesmo uma representação do processo de demonstração dos produtos com guião e tudo.

O tal escritor chamava-se Tim Armstrong e tinha ar daqueles tipos que se vêm nos filmes que não trabalham e que, de vez em quando, fazem destas coisas para ganharem umas massas, para poderem viver mais uns tempos sem fazer nada Era do tipo Big Lebowski, mas inteligente. Era um tipo porreiro e procurava saber tudo sobre o VisConcept, para poder escrever exactamente as suas potencialidades, no guião. Vestia uns calções e uma havaina e tinha um ar descontraído, apesar de passar o tempo todo a telefonar à mulher. Ainda falámos de Machu Pichu, uma vez que era uma das imagens que estava a ser projectada no écran e ele perguntou-me se não queria lá ir com uma amiga dele, com tudo pago... Eu disse que sim, claro... Mas ele estava a gozar, porque a tipa era uma daquelas velhas solteiras que queria era companhia para ter na cama enquanto viajava, segundo me explicou. Estou a ver o tipo de amigos que o tipo tem.

Ao fim da tarde e como não estava ali a fazer nada voltei para o hotel e jantei muito cedo numa tasca de comida chinesa, que até nem era má... Bem, ao pé da comida americana até era muito boa.

Quando estava a chegar ao Hotel estava o Ido, outro israelita, à porta do MacDonalds. O Ido é o mais religioso de todos, muito reservado e muito magro e até usa aquele pano na nuca, próprio da religião judaica, e não me pareceu que fosse comer no MacDonalds... Depois vim a saber que a religião judaica não permite comer carne com leite e que em Israel o MacDonalds tem menus próprios para os mais religiosos e que não têm queijo. Mas na apresentação da ComView aperece uma publicidade, que julgo ser fictícia, ao MacDavid.

Eu fui para o quarto fazer o trabalho temático do ICEP e dormir.

Quarta-feira, 14 de Junho de 2000

Acordei e fui tomar o pequeno-almoço ao MacDonalds, que já começava a enjoar.

Cheguei ao Convention Center e o Toam estava a cortar cabos de vídeo porque o sistema da Silicon Graphics tem um pino trocado em relação ao sistema deles e então tinha que andar a fazer ajustes à boa maneira do sul da Europa, ou seja à MacGuyver.

Eu sentei-me a escrever-vos uma crónica e depois fui dar uma volta pela feira a ver o que me esperava nos próximos três dias. Estava lá a Sony, Sanyo, Hitachi, JBL, Tannoy, Canon, Epson, Texas Instruments, Philips, OSRAM e sei lá quem mais. Comecei a ver quais os stands que queria mais ver e a arranjar um esquema de os ver entre apresentações. Os stands já estavam quase todos de pé e já se viam bastantes écrans e filmes e já se ouvia muita música e barulho...

A meio da tarde começámos a fazer os primeiros ensaios com o VisConcept no sistema da ComView e começaram a aparecer os problemas. O sistema deles não apanhava o sinal de sincronização dos canais da máquina da Silicon Graphics... Mas depois de alguns testes e mudanças no canal de sincronização, lá se conseguiu ver alguma coisa. A imagem do VisConcept ocupava cerca de 2/3 do sistema e dividia-se por 6 projectores, sem que se notasse nenhuma imperfeição... Fiquei parvinho!

Para variar fui jantar no mexicano, e apetecia-me beber uma cerveja mas a única coisa que tinham era root beer, que eu já tinha ouvido falar, mas que nunca tinha provado. Pois bem, mais valia que o não tivesse feito... Aquilo sabe a pasta de dentes e ainda por cima provoca umas reacções esquisitas no estômago com efeitos imprevisíveis.

Quando cheguei ao hotel fui à portaria por causa do telefone, pois andava a fazer chamadas para o servidor da Internet da zona, mas não sabia se eram chamadas locais e se eram de borla... Mas eram. Ainda bem, porque na noite anterior por causa do trabalho do ICEP estive muito tempo ligado.

Fui dormir, porque estava cansado e entediado, e nem sequer peguei no trabalho temático. Mas ainda tive tempo de ver mais uma vez o fogo de artifício da Disneyland.



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