Eu sei que vocês querem é saber as últimas
novidades deste fim-de-semana, mas ainda tenho algumas coisas para
vos contar da semana em que estive em Anaheim, Los Angeles.
Terça-feira, 13 de Junho de 2000
Acordei meio atordoado com o calor e por estranhar
a cama. Acho que ouvi um ar condicionado a trabalhar a noite toda...
Que mais tarde vim a descobrir que era o ar a entrar por debaixo
da porta do quarto, que passei a tapar com uma toalha para minimizar
o barulho.
Fui tomar o pequeno-almoço ao MacDonalds
e fui para o Convention Center. Digamos que do Hotel ao Convention
Cente eram cerca de 20 minutos a pé, por causa do calor
e por causa das passadeiras. Sim! Imaginem o tempo que se demora
a atravessar uma avenida com dez faixas, 6 num sentido e 4 noutro.
Agora multipliquem esse tempo por três... E mais o tempo
de espera que o semáforo mude. Uma maravilha! Ainda por
cima ao sol e com calor.
Quando cheguei ao Convention Center o tipo da Silicon
Graphics ainda não tinha chegado, mas como já tinha
a licença para o VisConcept, instalei o software e pus o
sistema a correr, com o mínimo de resolução
e sem estar ainda ligado aos projectores da ComView (http://www.comview-vs.com/).
E fiquei sem ter nada para fazer...
Os stands ali à volta ainda estavam todos
em fase de montagem. Tirando o da ComView que já tinha quase
ar de acabado, todos os outros estavam ainda em estado embrionário.
Resolvi ir dar uma volta pelas redondezas e ir à loja
da Mile High, que ficava a cerca de 2 quilómetros dali.
A Mile High é uma cadeia de lojas de Banda Desenhada e Comics
que vende livros em segunda mão e de onde já comprei
algumas coisas via Internet, mas queria ver como era uma por dentro.
Que desilusão! É o caos! Não existe um organização
que qualquer cliente seja capaz de reconhecer... É mais
uma técnica de marketing dos americanos. Somos obrigados
a perguntar e eles tentam-nos vender a loja toda, porque têm
comissão. Não perguntei nada, porque não andava à procura
de nada em especial.
Era quase hora do almoço e o calor apertava.
Ainda por cima as únicas árvores que existem no caminho
são palmeiras que como vocês sabem são verdadeiras árvores
de fazer sombra. A paisagem ao longo do caminho também ajudava
a passar o tempo... Se eu andasse de carro! Descampados, casas
térreas, motéis, hotéis, fast-foods, bombas
de gasolina e avenidas com mais faixas que a segunda circular e
CREL juntas.
Passei por um restaurante mexicano chamado Los Sanchez,
que vendia "carnita assada" e que me fez lembrar os meus amigos
Tiagos. Pena que não tivesse a minha máquina comigo,
pois dava uma bela foto. Mais à frente uma pelucaria (cabeleireiro
em espanhol para quem não sabe) dizia que cortava o cabelo
por $5... Em São Francisco não se faz a coisa por
menos de $12.
Além disso a gasolina é muito mais
barata em Los Angeles que em São Francisco. Ali a gasolina
mais cara é ao preço da mais barata de São
Francisco. Eu passo a explicar, aqui há três tipos
de gasolina sem chumbo, a Regular, a Super e a Extra, dependendo
do número de octanas. E além disso, o preço
varia tanto de bomba para bomba que é provável que
hajam duas bombas, ao lado uma da outra, com variações
de $0.30 por galão, ou seja 16$00 por litro. Quem andou
a buzinar por causa da subida da gasolina aí em Portugal
devia de viver aqui em que a gasolina custa mais 22$00/litro que
na Carolina e é mais barata 16$00/litro que em Boston.
Ainda passei por um motel chamado Bicycle e que
achei ser um nome ideal para o motel onde eu teria que dormir no
sábado, mas quando olhei bem para o ar do mesmo, fugiram-me
logo as ideias... Que Nojo! Parecia daqueles motéis de beco
em que vivem só bêbados e low-lifes.
Voltei para o Convention Center, depois de almoçar,
porque apesar do calor lá dentro, não apanhava com
o sol na cabeça e podia beber água de dois em dois
minutos.
O Meir, um dos bosses da ComView, ficou surpreendido
pelo facto de eu ter um saco de computador da Shimano e começámos
a falar de BTT, que ele também faz. Deu-me também
os parabéns pela vitoria portuguesa sobre a Inglaterra,
do dia anterior e desejou que ganhássemos à Alemanha.
Estes israelitas judeus não gostam muito dos alemães,
não. Este Mier é um tipo de meia idade, baixo, com
olhos de carneiro mal morto e quase sempre sorridente e simpático,
além disso tem uma Gary Fisher de suspensão integral
e gosta de futebol.
No entretanto estive a melhorar a apresentação
e a diminuir alguns tempos do processo de maneira a transformá-la
numa coisa mais dinâmica.
O Toam, o técnico de hardware da ComView
andava a ficar preocupado com o facto do tipo da Silicon Graphics
não aparecer e veio-me perguntar se eu tinha maneira de
o contactar. Eu? Eu só vim ver a bola... Vocês é que
são a parte interessada e não pensaram nisso antes?
Mas ele disse que do escritório só atendiam secretárias
e que o tipo andava por fora. Lindo serviço! Trocam a máquina
e ainda por cima fogem de a configurar... Viva a América!
Estes tipos fogem sempre quando são precisos.
No entretanto o Toam, como é um tipo muito
calmo, continuou à espera do tipo da Silicon Graphics.
A ComView tinha contratado um escritor de guiões
para a apresentação dos seus produtos e pelos vistos
também tinha contratado uma tipa para fazer a dita apresentação.
As coisas estavam a encaixar na minha cabeça. Então
havia mesmo uma representação do processo de demonstração
dos produtos com guião e tudo.
O tal escritor chamava-se Tim Armstrong e tinha
ar daqueles tipos que se vêm nos filmes que não trabalham
e que, de vez em quando, fazem destas coisas para ganharem umas
massas, para poderem viver mais uns tempos sem fazer nada Era do
tipo Big Lebowski, mas inteligente. Era um tipo porreiro e procurava
saber tudo sobre o VisConcept, para poder escrever exactamente
as suas potencialidades, no guião. Vestia uns calções
e uma havaina e tinha um ar descontraído, apesar de passar
o tempo todo a telefonar à mulher. Ainda falámos
de Machu Pichu, uma vez que era uma das imagens que estava a ser
projectada no écran e ele perguntou-me se não queria
lá ir com uma amiga dele, com tudo pago... Eu disse que
sim, claro... Mas ele estava a gozar, porque a tipa era uma daquelas
velhas solteiras que queria era companhia para ter na cama enquanto
viajava, segundo me explicou. Estou a ver o tipo de amigos que
o tipo tem.
Ao fim da tarde e como não estava ali a fazer
nada voltei para o hotel e jantei muito cedo numa tasca de comida
chinesa, que até nem era má... Bem, ao pé da
comida americana até era muito boa.
Quando estava a chegar ao Hotel estava o Ido, outro
israelita, à porta do MacDonalds. O Ido é o mais
religioso de todos, muito reservado e muito magro e até usa
aquele pano na nuca, próprio da religião judaica,
e não me pareceu que fosse comer no MacDonalds... Depois
vim a saber que a religião judaica não permite comer
carne com leite e que em Israel o MacDonalds tem menus próprios
para os mais religiosos e que não têm queijo. Mas
na apresentação da ComView aperece uma publicidade,
que julgo ser fictícia, ao MacDavid.
Eu fui para o quarto fazer o trabalho temático
do ICEP e dormir.
Quarta-feira, 14 de Junho de 2000
Acordei e fui tomar o pequeno-almoço ao MacDonalds,
que já começava a enjoar.
Cheguei ao Convention Center e o Toam estava a cortar
cabos de vídeo porque o sistema da Silicon Graphics tem
um pino trocado em relação ao sistema deles e então
tinha que andar a fazer ajustes à boa maneira do sul da
Europa, ou seja à MacGuyver.
Eu sentei-me a escrever-vos uma crónica e
depois fui dar uma volta pela feira a ver o que me esperava nos
próximos três dias. Estava lá a Sony, Sanyo,
Hitachi, JBL, Tannoy, Canon, Epson, Texas Instruments, Philips,
OSRAM e sei lá quem mais. Comecei a ver quais os stands
que queria mais ver e a arranjar um esquema de os ver entre apresentações.
Os stands já estavam quase todos de pé e já se
viam bastantes écrans e filmes e já se ouvia muita
música e barulho...
A meio da tarde começámos a fazer
os primeiros ensaios com o VisConcept no sistema da ComView e começaram
a aparecer os problemas. O sistema deles não apanhava o
sinal de sincronização dos canais da máquina
da Silicon Graphics... Mas depois de alguns testes e mudanças
no canal de sincronização, lá se conseguiu
ver alguma coisa. A imagem do VisConcept ocupava cerca de 2/3 do
sistema e dividia-se por 6 projectores, sem que se notasse nenhuma
imperfeição... Fiquei parvinho!
Para variar fui jantar no mexicano, e apetecia-me
beber uma cerveja mas a única coisa que tinham era root
beer, que eu já tinha ouvido falar, mas que nunca tinha
provado. Pois bem, mais valia que o não tivesse feito...
Aquilo sabe a pasta de dentes e ainda por cima provoca umas reacções
esquisitas no estômago com efeitos imprevisíveis.
Quando cheguei ao hotel fui à portaria por
causa do telefone, pois andava a fazer chamadas para o servidor
da Internet da zona, mas não sabia se eram chamadas locais
e se eram de borla... Mas eram. Ainda bem, porque na noite anterior
por causa do trabalho do ICEP estive muito tempo ligado.
Fui dormir, porque estava cansado e entediado, e
nem sequer peguei no trabalho temático. Mas ainda tive tempo
de ver mais uma vez o fogo de artifício da Disneyland.
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