Lembram-se do bar country em Petaluma que vos
falei na última crónica? Pois bem chama-se Kodiak
Jack's Honky Tonk & Saloon (um nome aliás bem original
e eu próprio nunca me lembraria de tal coisa) e podem ver
em http://www.kodiakjacks.com/ como
aquilo é mesmo como eu contei.
Domingo, 28 de Maio de 2000
Acordei com os primeiros raios de sol como é normal,
quando se dorme no sofá numa sala em que não há persianas
ou mesmo cortinas. Lembram-se que vos deixei, quando estava a deitar-me
em Petaluma, em casa do Jesse, com o Darren a vomitar, depois de
ter bebido demais?
Pois bem, o Darren dormiu de luz acesa... Eu com
problemas com a luz e o bêbado dorme-me de luz acesa, mesmo
depois do Jesse a apagar quando se deitou na noite anterior. Pelos
vistos o Darren levantou-se para ir à casa de banho e voltou
a esquecer-se de apagar a luz.
O Jesse acordou bem cedo, também. Esperava-nos
uma longa viagem para Norte na 101. Eu nem sequer sabia qual era
o destino, estava tudo nas mãos do Jesse. Arrumámos
tudo o que um americano acha necessário para o campismo,
na carrinha do Jesse, e ficou quase cheia. O Jesse tem uma daquelas
pick-ups antigas americanas e grandes, mas levar barbecue, tendas,
sacos, cadeiras, comida e bebida não é fácil.
Fomos buscar o carro do Darren ao centro de Petaluma.
Passámos pelo MacDonalds para comprar o pequeno-almoço
e às 10h30m estávamos a caminho.
O Darren dormia de olhos abertos e o Jesse só gozava
com o pessoal ou tentava mudar de rádio a cada música,
porque nenhuma agradava. Se a minha disposição de
ir ter com eles na noite anterior era pouca, a de ir acampar também
não era grande coisa. O Jesse é um tipo porreiro,
mas acho que com o Darren por perto, toma certas atitudes mais
infantis e gosta de se mostrar. Daí que a dada altura já não
o conseguia ouvir. Acho que se tivéssemos ido só os
dois ele tinha-se portado melhor, não que o Darren tenha
culpa, mas sabem que três homens juntos pode resultar num
cocktail explusivo... Eu também mal conhecia o Darren e
o melhor era gozar a aventura e as vistas.
As vistas eram espectaculares. Os montes descampados
ou com erva, que nesta altura já começa a ficar dourada,
deram espaço à montanha com árvores de copa
triangular e com uma altura apreciável. No vale profundo
corria o South Fork Eel River, ou seja o braço sul do rio
enguia. A água era verde límpida e o rio serpenteava
pelas margens que nesta altura eram largas demais para a água
que ele levava. Estávamos a chegar a Humboltd Redwood Park,
aquele que era afinal o nosso destino.
Para cada lado que olhava só via a Cláudia.
Este é o tipo de férias e fins-de-semana que fazia
com ela quando estava em Portugal. Agarrar no carro e partir à procura
de sítios novos, ver novas coisas e sem dúvida a
companhia dela era melhor nesta ocasião e no estado em que
estava. E tocava na rádio o tema "There's Always Something
There To Remide Me"...
A dada altura uma tabuleta indicava a Drive Thru
Tree, uma árvore tão grande que lhe fizeram um buraco
na base que permite a passagem de automóveis. Eles os dois
perguntaram-me se queria ir ver e eu como já não
estava com muita paciência encolhi os ombros, mas eles queriam
tanto que me chatearam e fomos. Não que eu não tivesse
vontade, mas simplesmente estava com a cabeça noutro lado.
Entrámos no parque da tal Drive Thru Tree
e como todos os parques por aqui pagámos $2 à entrada.
Saí do carro e fui tirar umas fotos... Vocês não
estão a imaginar a carrinha do Jesse a passar no buraco
da agulha com ele e o Derren a rirem-se à gargalhada lá dentro
e a entrarem em pânico, porque não tinham percepção
das dimensões da árvore e da direcção
a tomar. Digamos que o Jesse sentia as rodas bloqueadas e virava
demasiado o guiador e estava preso dentro da árvore... Só visto.
Eu estava de fora e finalmente comecei a achar mais piada ao divertimento.
Quando saímos do parque e à medida
que continuávamos a seguir para Norte, as árvores
que nos cercavam começavam a ser cada vez mais altas e os
troncos cada vez mais grossos. A estrada serpenteava por entre
as árvores. Acho que algumas árvores eram mais grossas
que o camião do Jesse e tinham mais de 50 metros de altura,
perfeitamente verticais. Os troncos destas sequóias da costa
são avermelhados, daí o nome de Redwoods.
Finalmente chegámos ao Parque dos Bosques
Vermelhos de Humboldt (http://www.humboldtredwoods.org/) e dirigimo-nos
ao Parque de Campismo das Fontes Escondidas (Hidden Springs Coumpground
em americano, como diria o nosso amigo Lauro Dérnio). O
Jesse já tinha reservado um alvéolo para nós
no parque e vinha-nos a dizer que uma vez foi a um parque em que
o método de atribuição dos alvéolos
era dos mais estúpidos que alguma vez tinha visto. Acho
que era do género de que se ia procurar um lugar vago e
depois voltava-se à portaria para reserva-lo. Ou seja se
houvesse alguém a caminho da portaria quando alguém
desse com o mesmo lugar dos primeiros, tinham que voltar a encontrar
outro lugar... Uma estupidez tão grande...
Parámos na portaria e o Jesse pediu a confirmação
do alvéolo. O Darren no entretanto arrotou tão alto,
que eu e o Jesse ficámos a olhar para ele e pedimos desculpa à recepcionista
quase ao mesmo tempo. O Darren ainda não estava a funcionar
muito bem e se tivesse um buraco ali tinha-se lá enfiado.
Estupidez por estupidez, descobrimos que o parque
que o Jesse falava antes era mesmo aquele... E fomos procurar um
lugar vago e rezar para que ninguém o tivesse encontrado
e estivesse a registá-lo enquanto nós nos dirigíamos
para a portaria para o fazer. Registamos o alvéolo e fomos
para o rio... Não estava muito calor, mas estávamos
ali para nos divertirmos...
O rio era mesmo bonito... Era daqueles rios que
só se vêem nos filmes. Esta cultura cinematográfica
americana cria-nos imaginários que só julgamos serem
possíveis na tela, mas afinal elas existem mesmo. Em todos
os sentidos. Só aqui me apercebi que muitas coisas que vemos
nos filmes existem mesmo... Mesmo as personagens dos filmes do
David Lynch são reais... E as do Woody Allen, são
mesmo reais e há tantas repetidas que até faz impressão.
Mas, estava a falar do rio, não era? Pois
bem... O rio é daqueles rios selvagens que no inverno devem
ter um caudal tal que levam tudo à frente, mas que nesta
altura não têm muita agua. Mas há zonas sem
pé e zonas que dá para mergulhar de alturas apreciáveis.
Quem me conhece sabe bem que eu nado que nem um prego e mergulhar é como
uma pedra... Pelo que vi apenas os outros a fazê-lo.
No meio do rio havia um tronco trazido pela corrente,
que tinha ficado preso nas pedras e que uma família de mexicanos
usava para mergulhar. O tronco devia ter cerca de um metro de diâmetro
e sai da água para aí cerca de três metros
da borda da água. Como o rio trazia menos água as
margens actuais eram o normal leito de inverno e o rio serpenteava
por entre as normais margens de inverno. Assim, havia umas zonas
com areia onde se acumulava algum pessoal a apanhar sol e a piquenicar.
Ficámos ali a conversar, beber uma cerveja
e mergulhar até a fome apertar. Não tínhamos
almoçado e eram mais que horas de lanchar. Levantou-se uma
brisa fresca, começava a ficar impossível estar na água
e resolvemos ir para o parque fazer o barbecue.
Enquanto o carvão pegava, montei a minha
tenda e a do Jesse. O Darren zombiava entre a casa de banho e as
cadeiras de campismo.
A comida começou a rolar nas brasas cerca
das 17h30m e acendemos a fogueira pouco depois. Aqui todos os parques
de campismo têm um reservatório de metal por alvéolo
para se fazer a fogueira. É um bem essencial para estes
americanos... E ainda bem , porque soube bem estar ali sentado à volta
da fogueira, a comer e a beber.
No entretanto eles estiveram a jogar às cartas
e eu já não conseguia com os olhos abertos. Duas
noites seguidas a dormir tão pouco, não mata mas
mói.
Podem não acreditar, mas eram 9h da noite
quando nos decidimos deitar e ninguém estava com cabeça
para arrumar fosse o que fosse. Ficou tudo espalhado na mesa...
Que viessem os esquilos e comessem.
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