C92 QUARTA-FEIRA, 31 DE MAIO DE 2000
Golden Gate Bridge - Fotografia de Rui Gonçalves

Como já é costume, e estas coisas até se esquecem, esqueci-me de vos dizer que na passada quarta-feira fez quatro meses que vivo com o Singh em Corte Madera e que na quinta-feira fez quatro meses e meio que cheguei aos Estados Unidos, ou seja que o meu estágio chegou a meio.

Talvez seja altura de analisar o bom e o mal deste período... Não! Deixemos isso para daqui a um ano, quando os resultados forem visíveis. No entretanto convém é começar a pensar o que virá a seguir e o que fazer daqui a quatro meses...

Mas no entretanto passemos ao espectáculo porque de treta estão vocês fartos.

Sexta-feira, 26 de Maio de 2000

Que hei-de eu dizer do acordar? Vocês já me conhecem e sabem que é raro eu acordar tarde e que acordo sempre com sono... Mas o que é que isso tem de diferente de mais de metade da população activa mundial? Mas pronto, foi mesmo assim...

Fui para o escritório no bólide. Podem crer, uma semana inteira e a coitada da Vaynessa fechada nos arrumos da garagem. Bem, não é verdade, porque até apanhou algum ar na quinta e até foi confundida com uma Univega rafeira.

Mas, quando cheguei ao escritório e estava a tomar o café da manhã acompanhado com uma Bagel aquecida e com manteiga, entra-me a Mary-Ann pelo gabinete a dentro. Não é o "Estranho Caso da Boazona que me Entrou pelo Escritório Adentro", porque a coitada da Mary-Ann apesar de ser uma tipa espectacular deve muito pouco à beleza física. Acho que já vos falei dela, quando lhe arranjei a bicicleta e que já vos mandei uma descrição em Powerpoint.

Mas voltando ao estranho caso da Mary-Ann que me entrou pelo gabinete adentro. Entrou, sentou-se e perguntou-me se me podia perguntar algo. Detesto estas abordagens. Como engenheiro e supostamente prático gosto que as pessoas tenham uma atitude de frontalidade, o que por aqui é mais que normal. Mas, a Mary-Ann decidiu entrar pela maneira mais simpática, uma vez que não me conhece e como eu venho de uma outra cultura. E no fim, tanta coisa e era para me pedir para fazer testes ao World Up, um produto de software da área da Sense8 na EAI. O World Up permite criar animações 3D e tem uma função parecida com 3D Studio Max, se alguém conhecer.

Que é que eu devia de dizer? Claro que me interessa saber trabalhar com uma ferramenta dessas e claro que faço testes ao World Up... Mas, tenho que conjugar isso com a preparação da minha ida ao Salão InfoComm em Los Angeles, onde supostamente vou apresentar o VisConcept. O Ken e o Ian não se opuseram e estava pronto a aprender uma data de coisas novas... Como sempre!

O Friday Fest não foi grande coisa. Umas pizzas e umas sodas, porque como era fim-de-semana prolongado saiu tudo mais cedo. Combinei as coisas para o fim-de-semana com o Jesse e fui-me embora.

Maldita hora em que vim no bólide para o escritório. O trânsito na 101 estava de tal maneira que não se andava. Quatro faixas e tudo parado. Não é de admirar, num estado em que existem 32 milhões de habitantes, 25 milhões têm carta de condução e cerca de 16 milhões devem ter carro... Na zona da baía vivem 10 milhões de habitantes (embora em São Francisco só vivam 750 mil) e desses muitos estavam a ir de fim-de-semana prolongado para Norte. Imaginem o que é que acontece quando há um fim-de-semana prolongado em Portugal e multipliquem por dois, mas com muito mais civismo e qualidade na condução. Sim! Aqui o pessoal não salta de faixa em faixa à espera que a faixa do lado ande mais depressa e depois voltam à mesma, etc... Etc.

O que interessa é que tive que ir por atalhos. Quem diria que eu alguma vez iria conhecer atalhos para me deslocar nos Estados Unidos? Mas pronto lá fui para casa seguindo o Camino Alto e cheguei a Corte Madera bem depressa.

Arrumei as coisas e pus-me a caminho de São Francisco. Mas o trânsito para Sul estava tão mau como para Norte. Nada demais, mas parado. Assim que saí do túnel e comecei a descer para a ponte, comecei a ver uma razão mais para aquela confusão. Não se via a cidade. Estava coberta de nevoeiro e mesmo a ponte estava meia visível. Apenas se via a ponta superior do pilar sul e o tabuleiro desaparecia no meio do nevoeiro. Vocês já devem ter visto fotografias disto, mas ao vivo tem um sabor diferente.

Saí da auto-estrada e parei o bólide num parque que tem quando se vai em direcção ao mar. Agarrei a câmara e subi o morro. Estava um monte de turistas a tirar fotos e a apreciar a vista. Nunca ali tinha ido e agora sei o que andei a perder. A ponte é descomunalmente grande vista dali. O morro é quase em cima do pilar Norte da ponte e têm-se uma vista espectacular sobre a ponte e sobre a cidade. Mas naquela altura da cidade não se via nada. Tirei umas fotos que quando reveladas, já sabem que envio.

Estava uma tal ventania que, com a objectiva grande, era difícil manter a câmara estática. E eu de manga curta, como manda o meu termómetro avariado. Tive que fugir de novo para o carro e fui para casa da RM&P.

Telefonei à Mariana para saber o que fazer com o bólide. Ela ainda estava nos escritórios do ICEP e como estava com gesso no pé precisava de boleia para casa. Fui buscá-la a ela e a um carburador e fui levar o Nuno à estação do Caltrain, para ir ter a Mountain View, com os amigos, que acabavam de chegar do Grand Canyon.

Quando chegámos a casa da Mariana, já lá estava o Jaime. Telefonei à Patrícia que era a única que estava em casa da RM&P e combinei uma telefonadela quando o resto do malta chegasse. No entretanto o Jorge ficou de dizer alguma coisa acerca da saída nocturna e estava com a linha ocupada e a Mariana proibiu-me de ver o meu mail, porque supostamente ando viciado.

No entretanto a Mónica telefonou e o chofer no bólide da Mariana foi buscar a RM&P. O Jaime foi comprar o jantar, o Jorge desligou o telefone e o Ben telefonou... A noite estava em marcha. Os amigos dos jornalistas, amigos da Mariana apareceram e jantaram connosco. O Alexandre e o Mário.

Quando acabámos de jantar, já o Ben estava à nossa espera no Make-Out Room e o Jorge no entretanto tinha aparecido por lá. A saída estava eminente. Mas, a Mariana como estava coxa não quis abusar e ficou por casa.

Quando cheguei ao Make-Out Room já o pessoal estava todo lá. A noite por ali já estava a acabar. Era quase meia-noite e havia montes de lugares para estacionar. O Ben estava lá com a colega de apartamento. Sim! O Ben vive com uma tipa... E não é nada de deitar fora! O Jorge já salivava em cima da rapariga quando eu entrei, mas estava à espera que eu a apresentasse... E iniciativa, Jorge?

No entretanto andava por lá um tipo completamente bêbado a armar confusão e a Patrícia decidiu tirar as teimas e foi perguntar se não era português. Não que os portugueses só armem confusão, mas porque tinha mesmo cara de português. Afinal o tipo era de Rhode Island e lá o número de portugueses é alto, mas não sabia falar português "per supuosto" como ele disse.

Mas o Make-Out Room tem destas coisas e enquanto a colega de apartamento do Ben se foi embora e se bebia uma cerveja, apareceu uma tipa vindo de não se sabe bem de onde e agarrou-se ao Jorge e decidiu que ele era o par de dança dela, para essa noite.

A tipa era assim de meia idade, à primeira vista e pela maneira como se vestia, mas depois de se olhar bem, não devia de ser muito mais velha que eu. Vestia um lindo vestido cor-de-rosa, vermelho e preto e calçava umas lindas botas até ao tornozelo que condiziam provavelmente com a mala que não cheguei a ver, mas ainda bem. O Jorge tentou fugir, uma vez... Outra vez... Mas teve que dançar um bocado com ela, até que um amigo dela que estava tão ou mais bêbado que ela a levasse dali para fora.

Estava na hora de ir embora dormir, porque esperava-nos um longo dia de conferências no dia seguinte, em Berkeley.

O Jaime e as meninas tinham saído mais cedo e eu depois de deixar o Ben próximo do carro dele fui para casa da Mariana. Esta estava a ver o filme "Havana" e a sonhar com as férias em Cuba...

Quando o filme acabou, meti-me no saco-cama e adormeci...



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