Como já é costume, e estas coisas
até se esquecem, esqueci-me de vos dizer que na passada
quarta-feira fez quatro meses que vivo com o Singh em Corte Madera
e que na quinta-feira fez quatro meses e meio que cheguei aos Estados
Unidos, ou seja que o meu estágio chegou a meio.
Talvez seja altura de analisar o bom e o mal deste
período... Não! Deixemos isso para daqui a um ano,
quando os resultados forem visíveis. No entretanto convém é começar
a pensar o que virá a seguir e o que fazer daqui a quatro
meses...
Mas no entretanto passemos ao espectáculo
porque de treta estão vocês fartos.
Sexta-feira, 26 de Maio de 2000
Que hei-de eu dizer do acordar? Vocês já me
conhecem e sabem que é raro eu acordar tarde e que acordo
sempre com sono... Mas o que é que isso tem de diferente
de mais de metade da população activa mundial? Mas
pronto, foi mesmo assim...
Fui para o escritório no bólide. Podem
crer, uma semana inteira e a coitada da Vaynessa fechada nos arrumos
da garagem. Bem, não é verdade, porque até apanhou
algum ar na quinta e até foi confundida com uma Univega
rafeira.
Mas, quando cheguei ao escritório e estava
a tomar o café da manhã acompanhado com uma Bagel
aquecida e com manteiga, entra-me a Mary-Ann pelo gabinete a dentro.
Não é o "Estranho Caso da Boazona que me Entrou pelo
Escritório Adentro", porque a coitada da Mary-Ann apesar
de ser uma tipa espectacular deve muito pouco à beleza física.
Acho que já vos falei dela, quando lhe arranjei a bicicleta
e que já vos mandei uma descrição em Powerpoint.
Mas voltando ao estranho caso da Mary-Ann que me
entrou pelo gabinete adentro. Entrou, sentou-se e perguntou-me
se me podia perguntar algo. Detesto estas abordagens. Como engenheiro
e supostamente prático gosto que as pessoas tenham uma atitude
de frontalidade, o que por aqui é mais que normal. Mas,
a Mary-Ann decidiu entrar pela maneira mais simpática, uma
vez que não me conhece e como eu venho de uma outra cultura.
E no fim, tanta coisa e era para me pedir para fazer testes ao
World Up, um produto de software da área da Sense8 na EAI.
O World Up permite criar animações 3D e tem uma função
parecida com 3D Studio Max, se alguém conhecer.
Que é que eu devia de dizer? Claro que me
interessa saber trabalhar com uma ferramenta dessas e claro que
faço testes ao World Up... Mas, tenho que conjugar isso
com a preparação da minha ida ao Salão InfoComm
em Los Angeles, onde supostamente vou apresentar o VisConcept.
O Ken e o Ian não se opuseram e estava pronto a aprender
uma data de coisas novas... Como sempre!
O Friday Fest não foi grande coisa. Umas
pizzas e umas sodas, porque como era fim-de-semana prolongado saiu
tudo mais cedo. Combinei as coisas para o fim-de-semana com o Jesse
e fui-me embora.
Maldita hora em que vim no bólide para o
escritório. O trânsito na 101 estava de tal maneira
que não se andava. Quatro faixas e tudo parado. Não é de
admirar, num estado em que existem 32 milhões de habitantes,
25 milhões têm carta de condução e cerca
de 16 milhões devem ter carro... Na zona da baía
vivem 10 milhões de habitantes (embora em São Francisco
só vivam 750 mil) e desses muitos estavam a ir de fim-de-semana
prolongado para Norte. Imaginem o que é que acontece quando
há um fim-de-semana prolongado em Portugal e multipliquem
por dois, mas com muito mais civismo e qualidade na condução.
Sim! Aqui o pessoal não salta de faixa em faixa à espera
que a faixa do lado ande mais depressa e depois voltam à mesma,
etc... Etc.
O que interessa é que tive que ir por atalhos.
Quem diria que eu alguma vez iria conhecer atalhos para me deslocar
nos Estados Unidos? Mas pronto lá fui para casa seguindo
o Camino Alto e cheguei a Corte Madera bem depressa.
Arrumei as coisas e pus-me a caminho de São
Francisco. Mas o trânsito para Sul estava tão mau
como para Norte. Nada demais, mas parado. Assim que saí do
túnel e comecei a descer para a ponte, comecei a ver uma
razão mais para aquela confusão. Não se via
a cidade. Estava coberta de nevoeiro e mesmo a ponte estava meia
visível. Apenas se via a ponta superior do pilar sul e o
tabuleiro desaparecia no meio do nevoeiro. Vocês já devem
ter visto fotografias disto, mas ao vivo tem um sabor diferente.
Saí da auto-estrada e parei o bólide
num parque que tem quando se vai em direcção ao mar.
Agarrei a câmara e subi o morro. Estava um monte de turistas
a tirar fotos e a apreciar a vista. Nunca ali tinha ido e agora
sei o que andei a perder. A ponte é descomunalmente grande
vista dali. O morro é quase em cima do pilar Norte da ponte
e têm-se uma vista espectacular sobre a ponte e sobre a cidade.
Mas naquela altura da cidade não se via nada. Tirei umas
fotos que quando reveladas, já sabem que envio.
Estava uma tal ventania que, com a objectiva grande,
era difícil manter a câmara estática. E eu
de manga curta, como manda o meu termómetro avariado. Tive
que fugir de novo para o carro e fui para casa da RM&P.
Telefonei à Mariana para saber o que fazer
com o bólide. Ela ainda estava nos escritórios do
ICEP e como estava com gesso no pé precisava de boleia para
casa. Fui buscá-la a ela e a um carburador e fui levar o
Nuno à estação do Caltrain, para ir ter a
Mountain View, com os amigos, que acabavam de chegar do Grand Canyon.
Quando chegámos a casa da Mariana, já lá estava
o Jaime. Telefonei à Patrícia que era a única
que estava em casa da RM&P e combinei uma telefonadela quando
o resto do malta chegasse. No entretanto o Jorge ficou de dizer
alguma coisa acerca da saída nocturna e estava com a linha
ocupada e a Mariana proibiu-me de ver o meu mail, porque supostamente
ando viciado.
No entretanto a Mónica telefonou e o chofer
no bólide da Mariana foi buscar a RM&P. O Jaime foi
comprar o jantar, o Jorge desligou o telefone e o Ben telefonou...
A noite estava em marcha. Os amigos dos jornalistas, amigos da
Mariana apareceram e jantaram connosco. O Alexandre e o Mário.
Quando acabámos de jantar, já o Ben
estava à nossa espera no Make-Out Room e o Jorge no entretanto
tinha aparecido por lá. A saída estava eminente.
Mas, a Mariana como estava coxa não quis abusar e ficou
por casa.
Quando cheguei ao Make-Out Room já o pessoal
estava todo lá. A noite por ali já estava a acabar.
Era quase meia-noite e havia montes de lugares para estacionar.
O Ben estava lá com a colega de apartamento. Sim! O Ben
vive com uma tipa... E não é nada de deitar fora!
O Jorge já salivava em cima da rapariga quando eu entrei,
mas estava à espera que eu a apresentasse... E iniciativa,
Jorge?
No entretanto andava por lá um tipo completamente
bêbado a armar confusão e a Patrícia decidiu
tirar as teimas e foi perguntar se não era português.
Não que os portugueses só armem confusão,
mas porque tinha mesmo cara de português. Afinal o tipo era
de Rhode Island e lá o número de portugueses é alto,
mas não sabia falar português "per supuosto" como
ele disse.
Mas o Make-Out Room tem destas coisas e enquanto
a colega de apartamento do Ben se foi embora e se bebia uma cerveja,
apareceu uma tipa vindo de não se sabe bem de onde e agarrou-se
ao Jorge e decidiu que ele era o par de dança dela, para
essa noite.
A tipa era assim de meia idade, à primeira
vista e pela maneira como se vestia, mas depois de se olhar bem,
não devia de ser muito mais velha que eu. Vestia um lindo
vestido cor-de-rosa, vermelho e preto e calçava umas lindas
botas até ao tornozelo que condiziam provavelmente com a
mala que não cheguei a ver, mas ainda bem. O Jorge tentou
fugir, uma vez... Outra vez... Mas teve que dançar um bocado
com ela, até que um amigo dela que estava tão ou
mais bêbado que ela a levasse dali para fora.
Estava na hora de ir embora dormir, porque esperava-nos
um longo dia de conferências no dia seguinte, em Berkeley.
O Jaime e as meninas tinham saído mais cedo
e eu depois de deixar o Ben próximo do carro dele fui para
casa da Mariana. Esta estava a ver o filme "Havana" e a sonhar
com as férias em Cuba...
Quando o filme acabou, meti-me no saco-cama e adormeci...
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