Desculpem, mais uma vez, mas pelos vistos isto
atrasou-se mais uma vez. Por isso não vamos atrasar mais...
Porque já lá vai uma semana.
Domingo, 21 de Maio de 2000
Acordámos com os primeiros raios do dia e
com a barulheira da criançada do alvéolo mais ocupado
do parque de campismo. A Karen e o Tom já tinham tudo arrumado
e foram-se embora. Nós arrumámos tudo também
e fomos tomar o pequeno-almoço com o resto do pessoal, que
tinha ido connosco e que estava num alvéolo mais longe.
A Mónica já só pensava no Centro
de Outlets que tínhamos passado à vinda. E eu confesso
que tinha muita curiosidade em me passear por lá, mas a
ideia de fazer uma curta caminhada de apenas 3 milhas (4,8 km)
passando por umas grutas e ir à represa até que me
agradava... Mas a maioria ganha e fomos os três para os outlets.
O bólide estava carregado, o leitor de CDs
tocava a banda sonora do The Doors. Ouvia-se o "Riders on the Storm" que
me trazia a memória as minhas aventuras com o bólide
sem gasolina na Golden Gate, uma vez que foi esse o tema que ouvi
quando deixei o local do crime e fui para casa, à chuva,
no domingo passado.
A Mónica dormia no banco de trás e
a Rita no banco da frente. A estrada era muito semelhante a muitas
que se vêem no Alentejo. Uma grande recta com pequenas lombas,
a paisagem parecia-se mais com as rectas de Marialva na Beira Alta,
mas as rectas eram mais longas. Vinhas de ambos os lados e umas
montanhas douradas ao fundo. Parei para tirar uma foto e o pessoal
acordou.
Chegámos ao centro de outlets de Gilroy às
10h da manhã. Tomámos café, estava um calor
que não se podia quase respirar. Telefonei à Cláudia
e ela estava a assistir ao Porto-Sporting, à final da taça
de Portugal... Estava tudo empatado a um.
No entretanto a Rita e a Mónica estavam na
Levi's Outlet. E depois All Enterteinment Outlet, depois... depois...
depois... E no entretanto eram horas de almoçar. Havia que
escolher entre o MacDonalds e o In-N-Out, uma cópia aparentemente
mais agradável. Mas o calor apertava e tornava a sobrevivência
quase impossível e para piorar o In-N-Out estava superlotado
e o ar-condicionado mal dava vazão ao calor que entrava
pelas portas sempre abertas.
De volta às compras. Ou para ser mais preciso,
aos ar-condicionados das lojas. Depois de termos estado na secção
A do centro na parte da manhã, mas onde não tínhamos
visto tudo, agora estávamos na secção C. Adidas,
depois Timberland, depois... Depois... Depois secção
B. Esprit, depois Guess?, depois... Depois... Depois Secção
A outra vez. Polo Sport, depois Nike, depois Calvin Klein, depois...
Depois... Depois apanhámos o bólide e passámos
pela Esprit Outlet, porque da primeira vez estava tanta gente que
a Mónica teve que desistir de comprar a camisola de malha
que queria, mas não se calou enquanto não voltámos
lá para ver que a fila tinha diminuído o suficiente
para ganhar vontade de voltar a entrar. E por fim a secção
D. Gap outlet e estava na hora do fecho das outlets...
Eram 18h. Não podia acreditar que tinha estado
naquela vida durante 8h. É verdade que parámos muitas
vezes para beber água, para tomar café (duas vezes)
e para almoçar, mas 8h? 8h? Possa!!!
Depois foi seguir as estradas até São
Francisco. Assim, que começamos a chegar à cidade
a temperatura começou a baixar. Em Gilroy deviam de estar
cerca de 105º F (40º C) e de repente a partir das montanhas
que separam São Francisco de South São Francisco,
a temperatura baixou cerca de 19º F (10º C)... A brisa
fresca era agradável, para quem há dois dias apenas
sentia calor e brisas muito quentes, que depressa estávamos
com frio. Tínhamos chegado a São Francisco.
Quando chegámos a casa da RM&P, elas
foram buscar comida ao novo tailandês da esquina e comemos
um delicioso arroz frito com gambas e outro com frango.
Telefonei à Mariana para ver o que fazia
com o bólide, mas ela estava de saída para ir ter
com uns jornalistas que estavam na cidade. Estava preocupado com
o facto de ela ser operada no dia seguinte, para tirar uns parafusos
de um pé e não ter quem a fosse buscar ao hospital,
mas ela já tinha tudo combinado.
Fui para casa.
Começou-me a dar a melancolia própria
de um fim de tarde de Domingo. Voltar a casa sozinho e preparar-me
mentalmente para mais uma semana de trabalho. As saudades são
muitas e apertam mais nessa altura...
Segunda-feira, 22 de Maio de 2000
Acordei ainda meio abalado com o calor todo que
apanhei no fim-de-semana e com a tristeza do fim do dia anterior...
Estava com saudades e sentia-me só.
Fui para o trabalho no bólide, pois não
estava com muita vontade de pedalar. Isto de ter outra opção
de transporte está-me a fazer mal... Ou começo a
mexer as pernas ou fico enferrujado. Mas depois dos quilómetros
que fiz no fim-de-semana não fazia mal.
O Ben não estava no escritório. Mas
o Sri decidiu que eu podia lhe ensinar espanhol e português.
Cada dia ensino-lhe uma coisa nova... Ficámos pelo "iHasta
lá vista!".
O meu pai telefonou-me a dar-me a novidade de que
o Sporting e o Porto tinham empatado e que o jogo iria ser repetido
na quinta... Já se adivinhava qual o desfecho! A minha tia
Sara fazia anos e mandei-lhe os parabéns pelos meus pais.
A meio tarde telefonei à Mariana para ver
como tinha corrido a operação. Aparentemente estava
tudo bem e os parafusos tinham ficado de fora da perna... E estava
com os tais jornalistas. Estava tudo bem...
Voltei a casa no fim do dia, fiz umas moelas para
o jantar.
Acabei as páginas das Crónicas da
Califórnia, que estavam quase acabadas e incluí mais
uma crónica. Anunciei o lançamento experimental e
fui dormir.
Terça-feira, 23 de Maio de 2000
Passei a roupa para ir à recepção
no Consulado. Não vos falei ainda disso, mas fomos todos,
os estagiários, convidados para uma recepção
no Consulado de Portugal em São Francisco. Não sabia
bem o que me esperava, apesar de ter sido anunciada como sendo
uma recepção informal, não queria fazer figura
de maltrapilho e vestir-me à vontade como os americanos
em vez de dar um toque português à minha roupa.
Fui no bólide para o trabalho mais uma vez,
porque depois seguia para São Francisco directo, uma vez
que a recepção era às 18h30m.
O dia de trabalho seguiu o que é normal e
esperado e no fim do dia peguei no bólide e segui para sul.
A manhã anunciava um calor insuportável,
quando saí de casa, mas quando me dirigia para São
Francisco via que se aproximava mais uma tempestade do pacífico.
Na subida antes do túnel apanhei uma rabanada de vento que
o carro quase mudou de faixa de rodagem sozinho. Nessa altura pensei
no Ken que devia de estar na baía a tentar fazer uma regata
e como eu o invejava, naquele momento. Eu estava ali de sapatos
apertados e a magoarem-me os pés a ir para aquilo que normalmente
se chama de fazer sala, e ele estava num veleiro no meio da baía,
numa regata. Mas a inveja passou quando cheguei à ponte
Golden Gate. Não só estava um vento demasiado forte
e com rajadas, como estava a chover e o mar estava mesmo mau...
Deviam de estar a passar uns bons momentos de vela, mas um mau
tempo.
Quando cheguei à zona do consulado resolvi
procurar um lugar para estacionar, apesar de haver o que aqui se
chama de Valet Parking. Ou seja, havia uns meninos à porta
a quem entregávamos a chave e eles arrumavam o carro...
Mas gostava de ver quem é que conseguia conduzir o magnífico
bólide sem problemas. Quem é que conseguia acertar
na primeira e não na marcha-atrás, logo da primeira
vez, isto sem falar no facto de que será que alguém
ali sabia usar uma caixa de velocidades? Pelo que resolvi arranjar
eu mesmo um lugar, porque afinal estava adiantado.
Quando entrei no consulado apenas estava lá a
Helena Brito e mais alguns convidados do Cônsul, que passeia
a conhecer. Dei os parabéns à Helena que tinha feito
anos no dia anterior que estava a ver se passava despercebida.
Começaram a chegar os outros convidados e
de repente estavam 40 pessoas na casa do Cônsul a comer Bacalhau
com Natas e a beber Charamba. Não estava nenhuma maravilha,
mas para quem não comia o peixe sagrado há quase
5 meses, foi como uma lufada de ar fresco no meu universo culinário.
Estavam lá quase todos os estagiários
e o ambiente estava alegre e a conversa interessante. Uns tiraram
o fato do armário e outros nem se importaram nada com isso.
Seguiram-se as sobremesas e um Porto. Conversa puxa
conversa e só saímos de lá, já próximo
das 10h da noite. E fomos (eu, o Nuno e a RM&P) beber um copo
a casa da Mariana, com os jornalistas, depois de nos perdermos
na cidade e quase irmos parar a Ocean Beach.
Os jornalistas estavam ocupados com o seu trabalho
e eu estive a conversar com um amigo deles, chamado Mário
e que também fazia BTT. Falámos de amigos comuns
que no mundo da BTT em Portugal, não é difícil
de ter. Falámos em bicicletas e de experiências de
adrenalina no próprio sangue... Outra coisa que não
fazia há quase 5 meses, falar de BTT com um aficcionado
em português.
No entretanto eram horas de ir para casa.
A Patrícia estava a sentir-se mal desde o
dia anterior. Ela tinha chegado de Los Angeles e foi directa para
o jantar, nesse mesmo dia. A Mariana tentou encontrar uns amigos
que a ajudassem, mas à hora que saímos de casa dela,
ainda não tinha conseguido nada e depois de passar em casa
da RM&P, fui levá-las ao Hospital.
Deixei-as lá e fui arranjar um jornal para
ler enquanto esperava. Cerca das 2h da manhã a Rita veio-me
dar ordem de marcha e mandou-me para casa. Sem hipóteses...
Cheguei a casa cerca das 2h30m. Mudei o despertador
para mais tarde e fui dormir.
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