QUINTA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2000 C87
Japonese Center - Fotografia de Rui Gonçalves

Segunda-feira, 15 de Maio de 2000

Quando cheguei de manhã, ao escritório, ainda tive tempo de tomar o pequeno-almoço antes da vídeo conferência. Às 10h fui ter com o Ken para ver o que se passava a seguir. Como é normal, aqui e não só em Portugal, estavam atrasados. Ok! Chamem-me quando estiverem disponíveis.

Azar! Estava ao telefone quando me chamaram... Mas cheguei lá antes de começarem e preparado para uma vídeo conferência. Grande Tanga!!! Conferência tudo bem, mas daí até ser em vídeo... Foi uma conferência via telefone, entre o escritório em Ames, Iowa, e Israel.

Digamos que tenho que construir uma demonstração de 1 minuto e outra de 45 minutos e estar pronto a responder a perguntas dos clientes acerca do VisConcept. Mas, o melhor é ter que ir configurar o hardware com o pessoal da Silicon Graphics. Para isso tenho que lá estar a 12 de Junho, quando o show só começa a 15... Pode ser que ainda dê para dar umas voltas por Los Angeles.

Quando acabou a tele-conferência, estive um bocado a falar com o Ken acerca da viagem a Itália, que ele tinha acabado de fazer. Tinha ido visitar a Ital Design (www.italdesign.com), com vista a fazer uma demonstração do VisConcept... Mas correu tudo muito mal. O homem estava pior que estragado... A única coisa de bom da viagem foi uma visita a Portofino e a viagem de barco por lá... Pois, acredito!!!

No fim do dia, acabei de pintar o quadro da bicicleta do Jesse. Fui às compras para o jantar e fui dormir...

Terça-feira, 16 de Maio de 2000

O dia decorreu como normal, tirado a parte em que o Ian me viu na cozinha antes das 9h e perguntou-me o que andava ali a fazer, porque era muito cedo para mim, em tom de gozo... Só lhe respondi que ele tinha azar e que a única vez que cheguei tarde, ele andava à minha procura, porque normalmente chego cedo, é pena que não note!

À hora de saída combinei com o Ben a hora para ele me ir buscar, a minha casa, para irmos ver os The The ao The Fillmore, em São Francisco. O Ben deve ter sangue português, porque ainda não conseguiu cumprir uma vez que fosse o horário a que se compromete cumprir. Mas também não chega muito atrasado... Só 15 minutos!! Mas já estávamos atrasados, porque tinha combinado com a Mónica, que também ia ao concerto connosco, estar em frente ao Japan Center às 19h15m, e já eram 19h.

Quando chegámos ao Japan Center estávamos atrasados 5 ou 6 minutos, mas a Mónica não estava no lugar combinado e fomos estacionar. Estacionar em São Francisco é sempre uma dor de cabeça... Digamos que quando estacionámos o carro, já eram 19h45m, quando o concerto começava às 20h e ainda não tínhamos jantado.

Quando chegámos ao local combinado a Mónica ainda não tinha chegado. Fomos ver à Pizzaria se ela já estava a comer, mas nada. Quando voltávamos, a Mónica apareceu a refilar connosco, porque estava um frio dos diabos e porque nós estávamos atrasados... Ela estava ali desde as 19h10m, só que tinha andado às voltas. Azar!!!

Jantámos um pizza e uma cerveja, enquanto falámos das diferenças de vivência entre os americanos e os portugueses. Coisas como o facto dos americanos mudarem de casa e de cidade como quem muda de camisa e perderem muito facilmente o contacto com os familiares e com as suas raízes.

Mas, fazia-se tarde e fomos para o The Fillmore. Entrámos e fomos logo carimbados na mão direita com um dizer qualquer que nos permitia beber álcool. Ao cimo das escadas estava uma caixa com maçãs e um cartaz a dizer para as comermos. Já no concerto dos Gomez as havia. Vai lá uma pessoa perceber estas coisas... Oferecer maçãs nos concertos em Portugal, só se fosse algum protesto dos agricultores.

Ainda estava a actuar a banda que tinha a responsabilidade de fazer a primeira parte e que tocava uma música muito próxima do country americano... Muito interessante... Mas para surdos!!!

O The Fillmore é uma das mais antigas e prestigiadas salas de concertos de São Francisco. Por ali já passaram os The Doors, Janis Joplin, Greatful Dead, Pixies, Beck, No Doubt, Oasis, Blur, etc, etc, etc... O edifício por fora é um normal edifício americano, daqueles com janelas altas e com um rebordo decorativo na parte superior das paredes. Por dentro, tem o normal mau cheiro das casas da noite se São Francisco, impregnado na madeira e nas alcatifas, mas quando se entra na sala... A sala é pequena, deve dar para cerca de 2000 pessoas no máximo, mas estava esgotado e não estava sequer próxima de estar a abarrotar. Andava-se à vontade.

A sala tem um pé de dois andares e existe um mezanino com mesas e cadeiras, que dá para a sala através de umas janelas altas. As paredes do mezanino estão cobertas de cartazes de concertos antigos. Cá em baixo, existe um bar à entrada e outro debaixo do mezanino ao longo de todo o lado esquerdo da sala. E o tecto da sala são decorados com candeeiros de cristal enormes. Para aí uns 4 ou 5 de cada lado e em linha... De cada lado da sala existem umas mesas e cadeiras, que aquela hora estavam já tomadas...

No entretanto a banda de suporte já tinha acabado e toda a gente se preparava para ver Matt Johnson e a sua nova banda... Já sem o Johnny Marr. Eu estava curioso para ouvir qual seria o novo som deles, apesar de já ter ouvido as amostras na Internet. Mas ninguém consegue avaliar uma banda através de 11 amostras de 10 segundos de música...

A sala já estava mais cheia, quando eles entraram e o público saudou a banda com efusão. As guitarras começaram e o público começou a saltar... O Matt Johnson que já tem muitos anos disto, meteu logo como segunda música o tema "Dogs of Lust" e o público já estava na mão. Seguiu-se quase 1h de concerto, passando por temas como "Uncertain Smile" revisitado de uma maneira surpreendente, quase sem teclados e com muitos sons que eram feitos pelo sintetizador a serem feitos com a guitarra.

Seguiu-se um encore com cerca de 10 minutos, ao que se seguiu um maior com quase 30 minutos, que começou quase sem ser preciso pedir muito, mas com o Matt Johnson sozinho em palco. O rapaz, com os seus 40 anos e com a cabeça completamente rapada, como de costume agarrado aos seus três microfones (dois distorcidos e um normal) e com a guitarra a tiracolo, começou a falar com o público. O público queria ouvir "Beat(en) Generation" mas ele resolveu cantar o "Sweet Bird of Truth" de uma maneira extraordinária e em plena interacção com o público... A sala por ser pequena permite que os músicos oiçam o que o público diz.

Ainda tocaram o "Beat(en) Generation" e o público adorou... Mas antes ainda tocaram um tema novo que podia muito bem ser do Iggy Pop ou dos Stooges que não me surpreendia. O concerto acabou calmamente com uma balada do último álbum e com uma despedida à americana por parte do Matt Johnson - "Drive safely back home and have a good night sleep". O rapaz desde que foi viver para Nova Iorque que já não é o mesmo.

O som do novo álbum é ao mesmo tempo mais agressivo e mais harmonioso que "Dusk", mas nota-se que o Matt Johnson está menos escuro e menos depressivo... Isto de ter filhos muda uma pessoa. Foi um bom concerto e o público esteve à altura e até ajudou. À saída deram-nos o cartaz do concerto, como é costume.

Fomos deixar a Mónica a casa, levar os documentos do bólide à Mariana e à meia-noite estava em casa a deitar-me... Isto de os concertos serem cedo tem as suas vantagens para quem trabalha. No dia seguinte esperava-me um concerto dos Morphine... Orchestra! Ainda mandei um mail à minha amiga Natália a dar-lhe a novidade...

Quarta-feira, 17 de Maio de 2000

Fui na Vaynessa para o emprego, como nos últimos dias. O bólide está parado na garagem há dois dias, porque além de me fazer ser preguiçoso, não tenho os documentos em ordem e já me chegou a aventura da falta de gasolina na Golden Gate.

A meio da tarde reparei que estava sem mail. A minha caixa de correio do Contacto na Telepac estava inacessível, as minhas mensagens da ETC não chegavam ao Yahoo e as mensagens para o Yahoo chegavam algumas horas atrasadas... Estava quase incomunicável.

Mas lá consegui combinar as coisas com a Mafalda para nos encontrarmos antes do concerto, no mesmo sítio que tinha combinado com a Mónica no dia anterior.

Estava com a telha! Peguei no livro sobre os trilhos do Mt. Tamalpais e fui ler para o banco do jardim, junto ao edifício dos escritórios. Comecei a ver uma caminhada porreira para ser feita pelo pessoal... Encontrei uma fantástica e vou faze-la nem que a faça sozinho. Estive ali a ler as descrições dos trilhos e das belezas do monte até sentir que a vontade de trabalhar tinha voltado...

Por volta das 5h peguei na Vaynessa, fui a casa buscar um casaco e fui apanhar a camioneta para a cidade. Quase que adormeci na viagem, mas não consegui... Grande disposição para ir ver Morphine Orchestra.

Cheguei cedo e fui dar uma volta pelas lojas ali da zona. Entrei numa loja de móveis, que parecia que estava em obras, mas que mesmo assim pedia $1200 (240 contos) por três tábuas finas em forma de mesa. Eu compreendo estes preços quando as madeiras são boas e a mesa tem algo de original, mas aquilo não tinha nada de original e parecia quase pinho mal tratado... Posso estar enganado, mas... Vão roubar para a estrada. Gostei dos tabuleiros de Sushi, mas mesmo esses custavam $65...

Ainda entrei na Crossroads Trading Co. de Fillmore, mas estava quase a fechar e eu fui para o Japan Center, onde tinha combinado com a Mafalda. E onde ela já estava à minha espera...

Fomos à pizzaria do costume. Pizza puxa cerveja, cerveja puxa conversa e conversa puxa cerveja e fomos estando ali na conversa sobre São Francisco, os Estados Unidos, cinema, críticos de cinema e o passado profissional. A conversa estava muito interessante, como há algum tempo não tinha uma, mas estava na hora de ir para o concerto.

Quando entrámos a sala ainda estava vazia. Sentámo-nos no chão a ver um tipo que tocava algo parecido com um bandolim (Jimmy Ryan) e outro que tocava violino. Surpreendente ver um tipo a usar os pedais de efeitos de guitarra no violino... Mas mais uma vez a música roçava o country, mas com algumas pitadas de rock pelo meio.

Às 9h entraram os nove elementos que compõem a banda que anda a promover o novo disco dos Morphine e que já não conta com a participação de Mark Sandman, porque este morreu em plena actuação em Itália no ano passado. Ao centro estava Dana Colley, o saxofonista e por detrás dele estava Billy Conway o baterista dos Morphine... O resto da banda era formada por um rapaz novo que tocava baixo e que se escondia atrás dos outros, um percorsionista que tinha ar de quem andou na guerra do biafra, um outro saxofonista que devia ser primo do Maestro Vitorino de Almeida ou do Eistein, pelo corte de cabelo, um teclista que apesar de não se mostrar muito, fazia-se sentir, um trompetista com ar de quem vai a rodeos e pasta vacas enquanto fuma um Marlboro, uma vocalista feminina acabadinha de sair de uma bar de segunda e um vocalista masculino que pertencia à banda que tocou na primeira parte. Podem ver mais em http://www.morphine3.com/night/om.html.

A primeira coisa que Dona disse foi que o concerto era dedicado à memória do Mark Sandman e que nos queria mais perto do palco. De repente estava a dois passos do palco e a dançar ao som dos Morphine.

Na terceira música, Dona sai-se com a frase da noite - "I think we have time for one more song"... Durante 1h30m, tocaram umas músicas a seguir às outras e passaram o último álbum todo em modo live. Último álbum que me foi oferecido pela minha amiga virtual Natália, mas que ainda não ouvi, porque está em Portugal.

A banda agradeceu e fez uma vénia ao público, mas não chegou a sair porque segundo Dona, "I think we have time for one more song" e seguiu-se um encore com quase três quartos de hora em que havia sempre tempo para mais uma... E acabaram com "Sharks patrol these waters".

O novo álbum, é aparentemente um álbum dos Morphine... Pois foi isso que eu vi ali durante quase 2h15m. Mas, é estranho ouvir a música dos Morphine e quando se está à espera de ouvir a voz rouca do Mark Sandman, ouvir-se a voz de uma tipa esganiçada que tem o perfil ideal para nunca deixar de cantar em bares de segunda. Pronto, ela nem era tão má... Mas o Dona cantava melhor e mais parecido com o Mark. E o outro vocalista masculino era também muito mais próximo...

Os Morphine sem o Mark Sandman nunca serão os mesmos, isso é certo... Ainda bem que eles também compreendem isso e souberam mudar o nome da banda para esta tournée... Pelo menos não são acusados de burla. Embora ache que não há necessidade de serem acusados, porque são mesmo os Morphine que se ouve ali... Pelo menos em termos instrumentais foi um concerto excelente e há muito que não via um concerto tão longo e que parecesse tão curto...

Foi bom! Vai ser difícil não confundir estes dois bons concertos dos últimos dois dias.

O concerto acabou mesmo a tempo de eu apanhar a camioneta para casa do outro lado da rua. Só não gostei do facto de não me darem um cartaz à saída... Não percebi!

Despedi-me a correr da Mafalda, que foi uma excelente companhia e corri para a paragem. Cheguei a casa por volta da meia noite e fui dormir.

Quinta-feira, 18 de Maio de 2000

O Jesse anda todo excitado porque queria ver uma propriedades no norte da Califórnia e não arranjava companhia para lá ir com ele e como eu me ofereci ele já anda a arranjar tudo para irmos acampar à beira rio, beber uns copos e passar o próximo fim-de-semana no mato. O fim-de-semana em causa, não é este que se aproxima mas sim o outro seguinte, que por aqui é fim-de-semana prolongado, porque segunda-feira é o Memorial Day... Ou seja, o dia dos veteranos de guerra, que nesta terra são mais que as mães.

Mas mais importante que isso, hoje, era a visita de dois dos sócios criadores da EAI ao escritórios de Mill Valley, onde eu trabalho. Eu não fui à reunião (ainda bem) mas foi-me servido almoço como se tivesse ido... Comi um salmão com molho de manga que andou às voltas na barriga quase até à hora de jantar.

Ando a limpar o meu mail no outlook express há quase uma semana e já apaguei mais de 1200 mails... Poça!

No fim do dia, quando voltei para casa comecei a montar a bicicleta do Jesse... Já tem caixa de direcção (metida à pancada) e suspensão... A pintura é que não é grande coisa, mas ele é que escolheu.

Jantei e vim vos escrever, enquanto via um magnífico filme de porrada do Arnold Schwarzenegger e as notícias.

A notícia do dia é a prisão de um estudante de 17 anos que andava a ameaçar os colegas da escola. Quando o prenderam e revistaram a casa dele, apreenderam 2 espingardas automáticas, uma de canos serrados, vários revólveres, todas carregadas e ainda muitos carregadores. Isto tudo na terra onde se sai no comboio para ir para o aeroporto de São Francisco... Uma verdadeira história de segurança.

Outra história é a do novo vírus mutante do "I Love you" e que pôs tudo de rastos em Silicon Valley, hoje. Tenham atenção a um mail cujo subject comece por FW: e que tenha um attach acabado em .vbs. Não abram.

Por agora é tudo! Bom fim-de-semana.



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