Segunda-feira, 15 de Maio de 2000
Quando cheguei de manhã, ao escritório,
ainda tive tempo de tomar o pequeno-almoço antes da vídeo
conferência. Às 10h fui ter com o Ken para ver o que
se passava a seguir. Como é normal, aqui e não só em
Portugal, estavam atrasados. Ok! Chamem-me quando estiverem disponíveis.
Azar! Estava ao telefone quando me chamaram... Mas
cheguei lá antes de começarem e preparado para uma
vídeo conferência. Grande Tanga!!! Conferência
tudo bem, mas daí até ser em vídeo... Foi
uma conferência via telefone, entre o escritório em
Ames, Iowa, e Israel.
Digamos que tenho que construir uma demonstração
de 1 minuto e outra de 45 minutos e estar pronto a responder a
perguntas dos clientes acerca do VisConcept. Mas, o melhor é ter
que ir configurar o hardware com o pessoal da Silicon Graphics.
Para isso tenho que lá estar a 12 de Junho, quando o show
só começa a 15... Pode ser que ainda dê para
dar umas voltas por Los Angeles.
Quando acabou a tele-conferência, estive um
bocado a falar com o Ken acerca da viagem a Itália, que
ele tinha acabado de fazer. Tinha ido visitar a Ital Design (www.italdesign.com),
com vista a fazer uma demonstração do VisConcept...
Mas correu tudo muito mal. O homem estava pior que estragado...
A única coisa de bom da viagem foi uma visita a Portofino
e a viagem de barco por lá... Pois, acredito!!!
No fim do dia, acabei de pintar o quadro da bicicleta
do Jesse. Fui às compras para o jantar e fui dormir...
Terça-feira, 16 de Maio de 2000
O dia decorreu como normal, tirado a parte em que
o Ian me viu na cozinha antes das 9h e perguntou-me o que andava
ali a fazer, porque era muito cedo para mim, em tom de gozo...
Só lhe respondi que ele tinha azar e que a única
vez que cheguei tarde, ele andava à minha procura, porque
normalmente chego cedo, é pena que não note!
À hora de saída combinei com o Ben
a hora para ele me ir buscar, a minha casa, para irmos ver os The
The ao The Fillmore, em São Francisco. O Ben deve ter sangue
português, porque ainda não conseguiu cumprir uma
vez que fosse o horário a que se compromete cumprir. Mas
também não chega muito atrasado... Só 15 minutos!!
Mas já estávamos atrasados, porque tinha combinado
com a Mónica, que também ia ao concerto connosco,
estar em frente ao Japan Center às 19h15m, e já eram
19h.
Quando chegámos ao Japan Center estávamos
atrasados 5 ou 6 minutos, mas a Mónica não estava
no lugar combinado e fomos estacionar. Estacionar em São
Francisco é sempre uma dor de cabeça... Digamos que
quando estacionámos o carro, já eram 19h45m, quando
o concerto começava às 20h e ainda não tínhamos
jantado.
Quando chegámos ao local combinado a Mónica
ainda não tinha chegado. Fomos ver à Pizzaria se
ela já estava a comer, mas nada. Quando voltávamos,
a Mónica apareceu a refilar connosco, porque estava um frio
dos diabos e porque nós estávamos atrasados... Ela
estava ali desde as 19h10m, só que tinha andado às
voltas. Azar!!!
Jantámos um pizza e uma cerveja, enquanto
falámos das diferenças de vivência entre os
americanos e os portugueses. Coisas como o facto dos americanos
mudarem de casa e de cidade como quem muda de camisa e perderem
muito facilmente o contacto com os familiares e com as suas raízes.
Mas, fazia-se tarde e fomos para o The Fillmore.
Entrámos e fomos logo carimbados na mão direita com
um dizer qualquer que nos permitia beber álcool. Ao cimo
das escadas estava uma caixa com maçãs e um cartaz
a dizer para as comermos. Já no concerto dos Gomez as havia.
Vai lá uma pessoa perceber estas coisas... Oferecer maçãs
nos concertos em Portugal, só se fosse algum protesto dos
agricultores.
Ainda estava a actuar a banda que tinha a responsabilidade
de fazer a primeira parte e que tocava uma música muito
próxima do country americano... Muito interessante... Mas
para surdos!!!
O The Fillmore é uma das mais antigas e prestigiadas
salas de concertos de São Francisco. Por ali já passaram
os The Doors, Janis Joplin, Greatful Dead, Pixies, Beck, No Doubt,
Oasis, Blur, etc, etc, etc... O edifício por fora é um
normal edifício americano, daqueles com janelas altas e
com um rebordo decorativo na parte superior das paredes. Por dentro,
tem o normal mau cheiro das casas da noite se São Francisco,
impregnado na madeira e nas alcatifas, mas quando se entra na sala...
A sala é pequena, deve dar para cerca de 2000 pessoas no
máximo, mas estava esgotado e não estava sequer próxima
de estar a abarrotar. Andava-se à vontade.
A sala tem um pé de dois andares e existe
um mezanino com mesas e cadeiras, que dá para a sala através
de umas janelas altas. As paredes do mezanino estão cobertas
de cartazes de concertos antigos. Cá em baixo, existe um
bar à entrada e outro debaixo do mezanino ao longo de todo
o lado esquerdo da sala. E o tecto da sala são decorados
com candeeiros de cristal enormes. Para aí uns 4 ou 5 de
cada lado e em linha... De cada lado da sala existem umas mesas
e cadeiras, que aquela hora estavam já tomadas...
No entretanto a banda de suporte já tinha
acabado e toda a gente se preparava para ver Matt Johnson e a sua
nova banda... Já sem o Johnny Marr. Eu estava curioso para
ouvir qual seria o novo som deles, apesar de já ter ouvido
as amostras na Internet. Mas ninguém consegue avaliar uma
banda através de 11 amostras de 10 segundos de música...
A sala já estava mais cheia, quando eles
entraram e o público saudou a banda com efusão. As
guitarras começaram e o público começou a
saltar... O Matt Johnson que já tem muitos anos disto, meteu
logo como segunda música o tema "Dogs of Lust" e o público
já estava na mão. Seguiu-se quase 1h de concerto,
passando por temas como "Uncertain Smile" revisitado de uma maneira
surpreendente, quase sem teclados e com muitos sons que eram feitos
pelo sintetizador a serem feitos com a guitarra.
Seguiu-se um encore com cerca de 10 minutos, ao
que se seguiu um maior com quase 30 minutos, que começou
quase sem ser preciso pedir muito, mas com o Matt Johnson sozinho
em palco. O rapaz, com os seus 40 anos e com a cabeça completamente
rapada, como de costume agarrado aos seus três microfones
(dois distorcidos e um normal) e com a guitarra a tiracolo, começou
a falar com o público. O público queria ouvir "Beat(en)
Generation" mas ele resolveu cantar o "Sweet Bird of Truth" de
uma maneira extraordinária e em plena interacção
com o público... A sala por ser pequena permite que os músicos
oiçam o que o público diz.
Ainda tocaram o "Beat(en) Generation" e o público
adorou... Mas antes ainda tocaram um tema novo que podia muito
bem ser do Iggy Pop ou dos Stooges que não me surpreendia.
O concerto acabou calmamente com uma balada do último álbum
e com uma despedida à americana por parte do Matt Johnson
- "Drive safely back home and have a good night sleep". O rapaz
desde que foi viver para Nova Iorque que já não é o
mesmo.
O som do novo álbum é ao mesmo tempo
mais agressivo e mais harmonioso que "Dusk", mas nota-se que o
Matt Johnson está menos escuro e menos depressivo... Isto
de ter filhos muda uma pessoa. Foi um bom concerto e o público
esteve à altura e até ajudou. À saída
deram-nos o cartaz do concerto, como é costume.
Fomos deixar a Mónica a casa, levar os documentos
do bólide à Mariana e à meia-noite estava
em casa a deitar-me... Isto de os concertos serem cedo tem as suas
vantagens para quem trabalha. No dia seguinte esperava-me um concerto
dos Morphine... Orchestra! Ainda mandei um mail à minha
amiga Natália a dar-lhe a novidade...
Quarta-feira, 17 de Maio de 2000
Fui na Vaynessa para o emprego, como nos últimos
dias. O bólide está parado na garagem há dois
dias, porque além de me fazer ser preguiçoso, não
tenho os documentos em ordem e já me chegou a aventura da
falta de gasolina na Golden Gate.
A meio da tarde reparei que estava sem mail. A minha
caixa de correio do Contacto na Telepac estava inacessível,
as minhas mensagens da ETC não chegavam ao Yahoo e as mensagens
para o Yahoo chegavam algumas horas atrasadas... Estava quase incomunicável.
Mas lá consegui combinar as coisas com a
Mafalda para nos encontrarmos antes do concerto, no mesmo sítio
que tinha combinado com a Mónica no dia anterior.
Estava com a telha! Peguei no livro sobre os trilhos
do Mt. Tamalpais e fui ler para o banco do jardim, junto ao edifício
dos escritórios. Comecei a ver uma caminhada porreira para
ser feita pelo pessoal... Encontrei uma fantástica e vou
faze-la nem que a faça sozinho. Estive ali a ler as descrições
dos trilhos e das belezas do monte até sentir que a vontade
de trabalhar tinha voltado...
Por volta das 5h peguei na Vaynessa, fui a casa
buscar um casaco e fui apanhar a camioneta para a cidade. Quase
que adormeci na viagem, mas não consegui... Grande disposição
para ir ver Morphine Orchestra.
Cheguei cedo e fui dar uma volta pelas lojas ali
da zona. Entrei numa loja de móveis, que parecia que estava
em obras, mas que mesmo assim pedia $1200 (240 contos) por três
tábuas finas em forma de mesa. Eu compreendo estes preços
quando as madeiras são boas e a mesa tem algo de original,
mas aquilo não tinha nada de original e parecia quase pinho
mal tratado... Posso estar enganado, mas... Vão roubar para
a estrada. Gostei dos tabuleiros de Sushi, mas mesmo esses custavam
$65...
Ainda entrei na Crossroads Trading Co. de Fillmore,
mas estava quase a fechar e eu fui para o Japan Center, onde tinha
combinado com a Mafalda. E onde ela já estava à minha
espera...
Fomos à pizzaria do costume. Pizza puxa cerveja,
cerveja puxa conversa e conversa puxa cerveja e fomos estando ali
na conversa sobre São Francisco, os Estados Unidos, cinema,
críticos de cinema e o passado profissional. A conversa
estava muito interessante, como há algum tempo não
tinha uma, mas estava na hora de ir para o concerto.
Quando entrámos a sala ainda estava vazia.
Sentámo-nos no chão a ver um tipo que tocava algo
parecido com um bandolim (Jimmy Ryan) e outro que tocava violino.
Surpreendente ver um tipo a usar os pedais de efeitos de guitarra
no violino... Mas mais uma vez a música roçava o
country, mas com algumas pitadas de rock pelo meio.
Às 9h entraram os nove elementos que compõem
a banda que anda a promover o novo disco dos Morphine e que já não
conta com a participação de Mark Sandman, porque
este morreu em plena actuação em Itália no
ano passado. Ao centro estava Dana Colley, o saxofonista e por
detrás dele estava Billy Conway o baterista dos Morphine...
O resto da banda era formada por um rapaz novo que tocava baixo
e que se escondia atrás dos outros, um percorsionista que
tinha ar de quem andou na guerra do biafra, um outro saxofonista
que devia ser primo do Maestro Vitorino de Almeida ou do Eistein,
pelo corte de cabelo, um teclista que apesar de não se mostrar
muito, fazia-se sentir, um trompetista com ar de quem vai a rodeos
e pasta vacas enquanto fuma um Marlboro, uma vocalista feminina
acabadinha de sair de uma bar de segunda e um vocalista masculino
que pertencia à banda que tocou na primeira parte. Podem
ver mais em http://www.morphine3.com/night/om.html.
A primeira coisa que Dona disse foi que o concerto
era dedicado à memória do Mark Sandman e que nos
queria mais perto do palco. De repente estava a dois passos do
palco e a dançar ao som dos Morphine.
Na terceira música, Dona sai-se com a frase
da noite - "I think we have time for one more song"... Durante
1h30m, tocaram umas músicas a seguir às outras e
passaram o último álbum todo em modo live. Último álbum
que me foi oferecido pela minha amiga virtual Natália, mas
que ainda não ouvi, porque está em Portugal.
A banda agradeceu e fez uma vénia ao público,
mas não chegou a sair porque segundo Dona, "I think we have
time for one more song" e seguiu-se um encore com quase três
quartos de hora em que havia sempre tempo para mais uma... E acabaram
com "Sharks patrol these waters".
O novo álbum, é aparentemente um álbum
dos Morphine... Pois foi isso que eu vi ali durante quase 2h15m.
Mas, é estranho ouvir a música dos Morphine e quando
se está à espera de ouvir a voz rouca do Mark Sandman,
ouvir-se a voz de uma tipa esganiçada que tem o perfil ideal
para nunca deixar de cantar em bares de segunda. Pronto, ela nem
era tão má... Mas o Dona cantava melhor e mais parecido
com o Mark. E o outro vocalista masculino era também muito
mais próximo...
Os Morphine sem o Mark Sandman nunca serão
os mesmos, isso é certo... Ainda bem que eles também
compreendem isso e souberam mudar o nome da banda para esta tournée...
Pelo menos não são acusados de burla. Embora ache
que não há necessidade de serem acusados, porque
são mesmo os Morphine que se ouve ali... Pelo menos em termos
instrumentais foi um concerto excelente e há muito que não
via um concerto tão longo e que parecesse tão curto...
Foi bom! Vai ser difícil não confundir
estes dois bons concertos dos últimos dois dias.
O concerto acabou mesmo a tempo de eu apanhar a
camioneta para casa do outro lado da rua. Só não
gostei do facto de não me darem um cartaz à saída...
Não percebi!
Despedi-me a correr da Mafalda, que foi uma excelente
companhia e corri para a paragem. Cheguei a casa por volta da meia
noite e fui dormir.
Quinta-feira, 18 de Maio de 2000
O Jesse anda todo excitado porque queria ver uma
propriedades no norte da Califórnia e não arranjava
companhia para lá ir com ele e como eu me ofereci ele já anda
a arranjar tudo para irmos acampar à beira rio, beber uns
copos e passar o próximo fim-de-semana no mato. O fim-de-semana
em causa, não é este que se aproxima mas sim o outro
seguinte, que por aqui é fim-de-semana prolongado, porque
segunda-feira é o Memorial Day... Ou seja, o dia dos veteranos
de guerra, que nesta terra são mais que as mães.
Mas mais importante que isso, hoje, era a visita
de dois dos sócios criadores da EAI ao escritórios
de Mill Valley, onde eu trabalho. Eu não fui à reunião
(ainda bem) mas foi-me servido almoço como se tivesse ido...
Comi um salmão com molho de manga que andou às voltas
na barriga quase até à hora de jantar.
Ando a limpar o meu mail no outlook express há quase
uma semana e já apaguei mais de 1200 mails... Poça!
No fim do dia, quando voltei para casa comecei a
montar a bicicleta do Jesse... Já tem caixa de direcção
(metida à pancada) e suspensão... A pintura é que
não é grande coisa, mas ele é que escolheu.
Jantei e vim vos escrever, enquanto via um magnífico
filme de porrada do Arnold Schwarzenegger e as notícias.
A notícia do dia é a prisão
de um estudante de 17 anos que andava a ameaçar os colegas
da escola. Quando o prenderam e revistaram a casa dele, apreenderam
2 espingardas automáticas, uma de canos serrados, vários
revólveres, todas carregadas e ainda muitos carregadores.
Isto tudo na terra onde se sai no comboio para ir para o aeroporto
de São Francisco... Uma verdadeira história de segurança.
Outra história é a do novo vírus
mutante do "I Love you" e que pôs tudo de rastos em Silicon
Valley, hoje. Tenham atenção a um mail cujo subject
comece por FW: e que tenha um attach acabado em .vbs. Não
abram.
Por agora é tudo! Bom fim-de-semana.
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