Terça-feira, 25 de Abril de 2000
Como me tinha deitado mais tarde e andava cansado,
resolvi pôr o despertador para duas horas mais tarde do que é normal.
Mas foi só para me enganar a mim mesmo, porque acordei à mesma
hora e fiquei na cama até o despertador tocar. E vocês
sabem bem o que é que acontece quando é assim...
Levantamo-nos com a telha.
Ainda por cima era feriado em Portugal e não
havia ninguém para me mandar umas piadas ou e-mails.
Ao fim da manhã, apareceu-me o Ken no gabinete,
para me perguntar se queria ir com ele a uma regata. Claro que
queria.
A regata era daquele tipo de regata para a tanga,
só para o pessoal se divertir. Chama-se "Beer Can Race" por
isso mesmo e nada melhor para começara a aprender a sério
alguma coisa de vela.
A regata começava às 6h40m da tarde,
mas para não nos atrasarmos saímos do escritório
por volta das 5h15m.
Chegámos ao barco e preparámo-nos
para a saída. Tirei as cobertas todas e preparei as amarras.
Largámos. A princípio foi difícil descobrir
qual era o barco do comité de organização,
porque segundo o Ken deveria ser um barco à vela ancorado
e afinal era um barco a motor.
Ao fundo da baía, São Francisco estava
completamente coberta por uma densa cortina de nevoeiro, fazendo
com que parecesse que estávamos em alto mar vendo o horizonte
com nuvens. Já não sentia nada assim há algum
tempo. E fez-me pensar que aquelas histórias que dizem que
São Francisco é realmente frio, são realmente
verdade. A cidade nem se via, a ponte Golden Gate só se
via a metade norte. E ali onde estávamos estava calor...
Pelos vistos na cidade o mesmo não se podia dizer.
Andámos às voltas a tentar saber qual
eram os significados das bandeiras que continuamente eram içadas
no barco. Primeiro uma cruz amarela num fundo vermelho quadrangular
e uma com uma cruz vermelha sobre um fundo branco triangular. Depois
uma triangular metade vermelha metade amarela... A verdade é que
quando se ouviu o tiro de partida estávamos longe da partida...
Mesmo muito longe e só conseguimos cruzar a linha de partida
quase oito minutos depois dos outros veleiros da nossa classe,
que já estavam quase a dar a volta na primeira bóia.
Rumámos atrás dos outros porque não
conseguimos saber qual dos percursos preestabelecidos é que
era o que devíamos de seguir. Seguimos para a bóia
17, mas nenhum percurso tinha como primeira bóia a 17. Sabíamos
que uma bandeira era o número 7, mas o percurso 7 começava
na bóia 2 e depois é que era para a 17. Além
disso estávamos a passar a bóia a estibordo e no
percurso dizia bombordo.
Mas pronto. O que interessa é participar
e aprender com os outros. Assim, fomos velejando até que
o vento caiu. Como vínhamos com algum balanço e porque
beneficiamos de estarmos numa corrente, conseguimos apanhar o último
dos barcos da classe. Pelos vistos eles também não
perceberam as bandeiras, mas nós já tínhamos
conseguido chegar a uma conclusão. As nossas bandeiras foram
as segundas e significavam que tínhamos que fazer o sétimo
percurso no modo inverso ao que está estabelecido. A bandeira
triangular metade vermelha e metade amarela é um sete e
a bandeira triangular com uma cruz vermelha sob um fundo branco é um ´r´ de
reverse. Agora tudo batia certo.
Andámos a um nó (uma milha marítima
por hora, cerca de 1,85 km/h, ou seja quase parados). Mas depois
de passarmos o último ficámos entusiasmados e resolvemos
acelerar e apanhar mais vento. Mas em vez de melhorarmos as nossas
prestações, parámos ao mexer nas velas e no
leme. Voltámos para últimos. É engraçado
ser ultrapassado àquela velocidade... Quase parados.
Decidimos mudar de rota e afastámo-nos dos
outros numa direcção que pensávamos haver
vento. Além disso a nossa posição em relação
ao vento fazia com que andássemos mais rápido que
os outros. Conseguimos passar quase todos os outros veleiros mesmo
tomando a rota mais longa. Além disso tínhamos umas
velas maiores (que depois é descontado nas contas finais
da classificação através do chamado facto
handicap).
O problema agora era saber por que lado havíamos
de virar a próxima bóia. E se as nossas conclusões
acerca do percurso estavam erradas?
A nossa sorte é que havia um veleiro ainda
há nossa frente e a virar a bóia. Virámos à bóia
e estávamos em segundo quando passámos a segunda
marca da corrida. Mas aí a experiência contou muito.
Curvámos mal e perdemos o momento e por isso perdemos a
velocidade toda, que já era pouca (cerca de 1,5 nós).
Voltámos a procurar o vento e fomos apanhando
uma brisa que nos permitiu chegar a uma zona com vento, aí foi
arrancar (4 nós) e ir até à meta onde chegámos
na sexta posição, porque o barco é pesado
e fomos ultrapassados por dois veleiros mais pequenos. Mas para
quem partiu tão atrasados... Nada mau! Sexto em cerca de
doze veleiros da nossa classe, na primeira corrida.
Voltámos à marina e o Ken foi-me levar
a casa. Ainda passámos pelo escritório porque a coitada
da Vaynessa ficou lá trancada e eu precisava dela na manhã seguinte,
para me fazer chegar ao escritório.
Cheguei a casa por volta das 21h30m. Jantei o resto
do Perú do almoço de segunda, li o mail e fui dormir...
Cansado, mas divertido e feliz por um fim de tarde bem passado.
Venham mais regatas...
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