Peço as mais sinceras desculpas a quem
não tenho respondido pessoalmente nas últimas semanas,
mas parece que a vida acelerou e o tempo é sempre pouco. É um
bom sinal... Mas desculpem.
De qualquer maneira vou continuando a tentar compartilhar
convosco as minhas melhores aventuras na terra das oportunidades.
Espero que continuem a ler esta novela, que ainda não está dobrada
em espanhol, mas que não falta muito...
Domingo, 23 de Abril de 2000
Acordámos com o normal despertador da casa
da RM&P - o telefonema do João - e com o Nuno a voar
sobre as cabeças dos seres, que dormitavam no chão
da sala, na tentativa de atender o mesmo. Lá respondeu com
voz de quem ainda estava a dormir e voltou tudo ao normal... Dormitar!
Mas depois de estar acordado é difícil
não ficar entediado ali no chão e com o sol a bater
nas janelas, principalmente quando na sala existe alguém
que decide marcar a sua presença e ressona o suficiente
para acordar toda a gente da casa. Pois bem, depois do telefone,
do Nuno voador, tivemos que contar com a Raquel ronca.
Em pouco tempo estava toda a gente acordada e pronta
a sair de casa. E como não seria de esperar outra coisa,
fomos ao Starbuck's de O'Farrell tomar café. Depois de alguns
momentos de indecisão e de espera por mais algumas pessoas
e alguma confusão, lá se conseguiu chegar a um consenso
e combinamos nos encontrar em Castro à hora do almoço.
Uns seguiram para Chinatown, outros para Mission
e eu e a Cláudia fomos dar uma volta, fazer tempo e gozar
o pouco tempo que nos restava para estarmos juntos antes da volta
dela. Descemos ao Financial District, que é a zona de escritórios
da cidade e que se parece mais com uma normal cidade de prédios
norte-americana, com alguns prédios com 20 ou 30 andares.
Mas era domingo de Páscoa e estava tudo fechado, pelo que
só andámos por ali a ver montras e a olhar os arranha-céus
e a sentirmo-nos pequeninos. Acabámos junto ao Ferry Building
no fim da Market, onde andámos a passear na fonte que vos
falei há dias que não tem repetição
de formas e que jorra água em todos os sentidos.
Apanhámos o eléctrico do Flash Gordon
até Castro e ainda apanhamos uma garage sale à saída
do mesmo. Era um casal de lésbicas que decidiu ver-se livre
das bugigangas que tinha na caixa de jóias. Posso-vos dizer
que havia brincos e alfinetes de peito para todos os gostos...
Mas nenhum para o da Cláudia, e como ainda não furei
nenhuma orelha, não estou a ver onde podia usar aquelas
coisas... Bem os alfinetes podia usar, mas ainda não estou
a pensar ir viver para a zona e portanto não penso em usar
tal coisa.
O resto da gangada já estava em frente ao
Teatro de Castro, a apreciar a normal azáfama de uma tarde
na terra dos gays, lésbica, bissexuais e afins. O Paulo
agarrou-se a mim como se fossemos também um casal de gays,
mas acho que ninguém nos viu como tal, porque não
estávamos lavadinhos e depilados...
Seguimos rua abaixo em direcção às
esquinas mais homossexuais do mundo, como eles lhe chamam - Castro
St. com 18th St. O mundo tem uma cor diferente naquelas ruas, aliás
porque naquele dia haviam vários gays transvestidos e outros
com orelhas de coelho, para comemorarem a Páscoa... Não
percebi o ritual, mas acho que pelos vistos no domingo de Páscoa é costume
vestirem a sua melhor roupa de gueisha e irem para a rua passear
a sua linda provocação... Sempre dá um colorido
ao ambiente. Aliás porque as cores da zona são as
cores do arco-íris. Onde existe uma bandeira com faixas
com as cores do arco-íris é porque moram os orgulhosos
homossexuais.
Depois veio a normal confusão de tentar arranjar
sítio para almoçar que agrade a todos. Obviamente
que estas coisas já estavam a mexer com a minha paciência
e resolvi procurar algo que me agradasse a mim e não ir
comer umas pizzas quaisquer. Consegui arrastar alguns comigo que
também não estavam interessados nas pizzas e fomos
a um restaurante chamado Nirvana e que servia uma espécie
de comida indiana misturada com comida mexicana e vietnamita. Talvez
ainda não saibam, mas estas devem ser os tipos de comida
mais populares em São Francisco, mas misturar os três é obra...
Ainda mais quando é bem servido e sabe tão bem como
ali. Aconselho!
Claro que os clientes das pizzas se despacharam
primeiro, mas fomos ter com eles para tomar café ao mesmo
café do costume. O empregado já nos conhece e já sabe
o que queremos e já sabe da exigência portuguesa em
termos de café. Não gostou muito foi da gorjeta que
lhe demos... Apenas $0.07. Azar! Para a próxima há mais...
Ali ficámos na esplanada na conversa. Eu,
a Cláudia, o Tiago, a Sofia, o Paulo, a Rita, a Mónica,
a Joana, a Raquel e o Nuno, isto porque no entretanto a Patrícia,
o João e a Ana Pinhal tinham ido algures a Mission trocar
uma roupa qualquer, numa loja qualquer. Eles estavam na dúvida
sobre o que fazer, e eu e a Cláudia já tínhamos
decidido ficar por ali e andar a ver as lojas (as únicas
abertas em São Francisco, naquele dia) e a zona, coisa que
não lhes agradava muito. Então disse-lhes para irem
a pé até ao cimo de Coronas Height e apreciarem uma
das mais bonitas vistas da cidade e daí para Buena Vista
Park e descer até Haight St. Pelos vistos adoraram o passeio.
Ainda bem, porque estava preocupado que a caminhada fosse algo
dolorosa para algumas que usavam saltos altos.
Eu e a Cláudia ficámos por Castro
e resolvemos passar um domingo descansados a passear. Castro é uma
zona porreira para comprar coisas para a casa, e como a minha casa
em Aveiro ainda está um bocado vazia, andámos por
ali a ver o que encaixava na nossa mobília e que não
esvaziasse muito a nossa carteira. Digamos que o tempo foi passando
sem muitas pressas e andámos quase em todas as lojas...
Até numa de T-Shirts com dizeres cómicos e de orgulho
homossexual, onde hei-de comprar uma T-Shirt a dizer "Lesbian with
Pride".
Dali resolvemos ir até Divisadero com Haight,
onde existem umas lojas de acessórios de cozinha em segunda
mão e antigos, mas caríssimos. Mas ver não
nos deixa mais pobres e além disso é curioso ver
algumas das raridades que lá existem, para além de
que ao lado dessa loja existe uma outra de móveis muito
kitch.
Mas era domingo de Páscoa e estavam ambas
fechadas. Ainda tocámos na casa da Mariana, mas essa também
tinha saído. Pelo que decidimos descer Lower Haight, que é como
quem diz a parte baixa da rua Haight.
Mal começámos a descer, apanhámos
uma garage sale e uma loja de velharias em que todos os objectos
eram verdadeiras... Velharias? Sim! Havia um objecto bastante curioso
para pôr revistas ou jornais e que tinha uma manivela para
ir enrolando os jornais... Acho que no fim se se cortasse o rolo
do jornal em faixas mais estreitas obtinham-se rolos de papel higiénico,
mas não perguntei. Só comprava uns bancos de pé alto
em ferro que lá estavam, mas depois levá-los para
Portugal era complicado...
Seguimos rua abaixo, até Fillmore. Passámos
por uma outra venda de garagem que era no mínimo impressionante
ver como alguém tem tanta tralha sem utilidade num espaço
tão pequeno. É mesmo surpreendente ver as coisas
que as pessoas vão deixando acumular na garagem. Vimos também
uma verdadeira loja de hippies dos anos 60. Vendiam tudo o que
fosse indígena de qualquer parte do mundo e tinham ar de
quem ainda fumava umas coisas, mesmo com aquele ar de terem a idade
dos meus pais.
Os bares em Haight com Fillmore estavam quase todos
fechados e parámos num em Fillmore, um bloco abaixo de Haight.
Era aquilo que em Portugal se chamaria de café, mas que
não vendia café. Mesas dispostas na sala como um
normal tasco, mas com cadeiras de estofo e alguns bancos-sofá junto à parede
de fundo. Espelhos na parede e um balcão à saloon,
como quase todos os bares nesta terra. A cerveja não era
má e o ambiente calmo. Descansámos, bebemos e comemos
uns aperitivos oferecidos pela casa, enquanto falámos sobre
tanta coisa que tínhamos para falar. Sem pressas fomos ficando
ali até o dia acabar...
Apanhámos o autocarro e fomos para casa da
RM&P. Ao chegar a casa, ainda encontrámos a Raquel e
a Joana, que tinha sido multada por ter deixado, durante dois dias,
o carro estacionado num sítio em que era só permitido
o estacionamento até 3 horas... Nada de surpreender, não é Joaninha?
O Diogo, a quem tinha emprestado o bólide
da Mariana, para ir buscar os pais ao aeroporto, já tinha
voltado. Arrumámos tudo e fomos no bólide para Corte
Madera.
Cansados, deitámo-nos cedo...
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