C72 SEGUNDA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2000
Cláudia em Muir Woods - Fotografia de Rui Gonçalves

Sábado, 22 de Abril de 2000

O dia amanheceu chuvoso. O telefone tocou bem cedo. Cerca das 8h30m, o Hugo telefonou para confirmar a morada e o encontro marcado na vêspera. Ele ia connosco para o Lake Tahoe e Yosemite durante o fim-de-semana...

Eu e a Cláudia fomos os primeiros a despacharmo-nos. Fomos tomar café e eu aproveitei para levantar dinheiro, enquanto o resto do pessoal tomava banho e se despachava.

Mas, o pessoal estava cansado e com o tempo assim, a vontade de sair de São Francisco esmoreceu. Quando voltei do café, comunicaram-me que não iam. Ou seja, o Hugo e a Jacinta, que no entretanto tinham chegado e que estavam à espera do pessoal, provavelmente tinham vindo em vão. Mas eu e a Cláudia, queríamos ir, pelo que arranjamos as coisas e decidimos ir apenas com o Hugo e a Jacinta.

O problema seguinte foi saber se seria seguro para uma grávida de 7 meses, ir a Tahoe, a cerca de 3000 metros de altitude. Para que não houvesse dúvidas nem problemas desse género, optamos por fazer a costa até onde nos desse na vinheta, uma vez que eles pouco conheciam.

Assim, saímos de casa da RM&P cerca das 11h da manhã e fomos para Sausalito. Parámos o carro e fomos tomar café ao tasco dos iranianos do costume. Ficámos ali a tentar conhecermo-nos melhor. O Hugo é um brincalhão e um divertido, mesmo o típico tripeiro e a Jacinta apesar de mais calma, tem a genica de uma rapariga que não está grávida de sete meses.

As nuvens tinham dispersado e estava um sol brilhante e quente. Andámos, por ali a apreciar as vistas, sem nenhuma pressa. A cidade ao fundo da baía parece grande vista assim.

Saímos dali e seguimos a marginal, sem planos. Resolvemos dar uma parada e ver o modelo da baía de São Francisco. Este modelo, construído pelos militares nos anos 50, simula as marés e rios da zona e foi usado para estudar os efeitos exteriores e a evolução da baía. Ocupa um hangar enorme e ajuda a perceber melhor a configuração da zona. Como é de borla, não se perde muito e só se ganha em conhecimento se se o visitar.

Vimos um filme sobre a baía e percorremos o modelo a ver onde vivíamos e onde estávamos. Ainda vimos mapas de relevo da Califórnia e onde se vê com perfeição deformações geológicas como Yosemite.

Dali decidimos ir subir ao topo do monte Tamalpais, mas não sei antes passarmos pelas casas-barco de Sausalito, para a Jacinta tirar umas fotos para mostrar aos amigos e família em Portugal.

Na subida para o monte Tamalpais, a Jacinta começou a enjoar. também não admira... Aquilo são mais curvas que a estrada do Douro e com precipícios bastante fundos... Sem protecções. Quando chegámos a um sítio com uma vista bonita, o Hugo parou e a Jacinta saltou do carro. Ficou ali parada a recuperar durante uns minutos, mas logo a seguir estava de máquina em punho a tirar umas fotos à paisagem espectacular que dali se vê. Ali perto um casal recém casado tirava as normais e aborrecidas fotografias, com São Francisco como pano de fundo...

Descemos e resolvemos parar para comprar uma fruta num vendedor da beira de estrada que ali estava. Mas além de vendedor o homem era ladrão, pelos preços...

O vento começou a levantar, mas isso não fez com que não continuássemos na nossa viagem para norte, calmamente. Bem, norte é como quem diz, porque dali fomos para Muir Woods que fica a sul do Tamalpais... Mas isso é irrelevante.

Fomos passear pelo parque de Muir Woods. A última réstia de sequóias seculares de toda a região. Pagámos $2 à entrada, mas ninguém me pediu o bilhete quando passei na porta... Isto em Portugal era origem de fraude.

Andámos pelo parque a ver as enormes árvores que o povoam. É impressionante como nas mesmas raízes nascem tantas árvores e se juntam os troncos no fundo, dando origem a troncos grossíssimos. E como elas atingem facilmente os 30 ou 50 metros de altura. A sombra que produzem no parque faz com que a temperatura ali fosse sensivelmente 3 ou 4 graus abaixo do exterior, mas para isso também ajudava o facto de passar um ribeiro e do vale ser profundo. Fizemos o percurso mais curto por causa da Jacinta, que continuava a aproveitar todos os troncos para tirar umas fotos. Andámos cerca de 45 minutos, mas a fome começou a apertar, decidimos ir almoçar-lanchar a Stinson Beach.

Ainda encontrei à saída o Srikumar e a Uma, um casal de indianos do meu escritório, que andavam a passear com os pais ou coisa parecida. Perguntaram-me se andava ali com a Vaynessa (eles não sabem o nome dela, mas...).

Seguimos na via rápida 1, até Stinson Beach. O mesmo caminho que já tinha feito na quinta, só com a Cláudia e com o bólide da Mariana, mas que cada vez que se faz se gosta mais. Chegámos à praia de Stinson Beach (parece um pleonasmo, mas Stinson Beach é também o nome da povoação... É o mesmo que dizer que fomos à praia de Vila Praia de Âncora) cerca das 4h00m e demos um salto à praia...

Estava muito vento, mas mesmo assim a praia estava bonita. Fomos ver a temperatura da água e passeamos uns metros junto à água... Até que a fome era mais que a vontade de recordar as praias que conhecemos.

Parámos o carro no centro de Stinson Beach e fomos procurar um sítio para comer. Cheirava a grelhados, mas os preços eram também de esturricar... A Jacinta viu um sítio com cachorros quentes e como estava com apetites fomos lá. O Hugo já estava com uma fome e quase sem olhar para o menu fez o pedido. Quando nós nos decidimos, a menina da caixa diz-nos que já tinha fechado. "O quê??? Então o meu marido come e eu não" diz a Jacinta com a sua atitude Nova Iorquina (eles antes de virem para cá estiveram dois anos em NY), pelo que a empregado pediu desculpa e serviu-nos... Ainda bem que ela aprendeu algo assim por lá, senão passávamos fome.

Pegámos nos cachorros e fomo-nos sentar no parque junto à praia. Quase no mesmo sítio onde parámos o carro da primeira vez. Ou seja, podíamos nem sequer ter ido para o centro de Stinson Beach estacionar. Mas também aquilo é pequenino...

Ficámos ali na conversa e rirmo-nos da atitude da Jacinta, enquanto apreciávamos um cachorro, o sol e o facto de estarmos juntos. É bom conhecer pessoal assim, com outros interesses e com outro tipo de conversa. Com coisas em comum e que no fundo são parecidas connosco. Ela é da Gafanha da Nazaré e ele trabalhou em Aveiro durante algum tempo, pelo que os sítios e alguns amigos são os mesmos...

Fomos ficando até que a tarde foi acabando e decidimos ir mais um bocado para norte. Passámos a Lagoa de Bolinas, onde parámos para tirar umas fotos aos leões-marinhos quase ao pôr-do-sol e fomos ao Poit Reyes National Seashore. Mas a recepção já tinha fechado, pelo que não deu para nos informarmos muito. Mas deu para ver que dali ao farol, que é a ponta mais ocidental do parque, eram 30 quilómetros e já era tarde para lá ir. Pelo que fomos fazer o Earthquake trail, que como o nome diz é o trilho do terramoto. Ou seja, é um trilho que explica o fenómeno que é o terramoto e os efeitos do terramoto de 1906 que quase apagou São Francisco do mapa e que começou ali.

O trilho tem cerca de 600 metros de comprimento e passa junto à falha de S. André. Os placares vão mostrando o fenómeno e a dada altura existe uma cerca, que segundo o placar é original da altura do terramoto e que se deslocou naquele ponto cerca de 3 metros. Então existem duas extremidades da cerca, uma a 3 metros da outra... Mas aquilo parece tão forjado que até dá para rir. Posso estar enganado, mas escusavam de fazer as coisas tão artificiais. Mas é bom para que as pessoas tenham consciência do verdadeiro poder de um terramoto.

Mas pronto, a envolvente é tão verde, natural e bonita que compensa qualquer tentativa de enganar o público...

Mas, chegou a hora de voltarmos. Decidimos voltar para São Francisco, porque estávamos muito perto e não valia a pena estar a dormir fora de casa. Ainda ofereci a minha cama de Corte Madera, para ficarmos por ali, mas a Jacinta naquele estado só quer o colchão dela. Não a condeno.

Fomos todo o caminho na conversa. O Hugo tem uma vida profissional de início de carreira muito semelhante à minha e viemos a discutir alguma gestão de empresas em Portugal e a gestão das empresas e a maneira de pensar dos norte-americanos. De repente já estávamos em São Francisco, depois de um dia excelentemente bem passado, pela companhia e pelas vistas... Acho que vou fazer uma página na Internet, pois é um passeio excelente e fácil de se fazer a partir de São Francisco.

Quando chegámos a casa da RM&P ficaram todos surpreendidos em nos verem ali, pois julgavam que só voltávamos no dia seguinte. Mas nem tivemos tempo de explicar o que se passou, porque fomos logo arrastados para um restaurante Vietnamita.

A maralha toda resolveu se juntar para jantar. Exceptuando os casais que ficaram a matar saudades, todos os outros fomos jantar. E dali para o bar do Diogo. O bar ao lado de casa do Diogo e que já é conhecido como sendo o bar dele...

O pessoal estava numa de ir à discoteca, mas eu depois da última sessão de música da tanga que lá apanhei, resolvi descansar... Uns meses!!! Alguns queriam ir beber um copo a um sítio diferente, coisa que me agradava bem mais. Mas ninguém se decidia e eu e a Cláudia fomos ficando por ali na conversa... E quando afinal já não tínhamos disposição para ir a lado nenhum, foram todos para a Poly-Esther. Todos não, porque o Tiago e a Sofia alugaram um filme e ficámos os quatro a vê-lo...

O "Big Lobwski" visto do chão da sala e com os olhos a fecharem de vez em quando, não é um filme muito famoso, mas é divertido.

Um minuto depois do filme acabar já estava a refilar com o Tiago por causa do som da televisão. Nem dei conta do resto do pessoal chegar, tal era o cansaço.



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