Sábado, 22 de Abril de 2000
O dia amanheceu chuvoso. O telefone tocou bem cedo.
Cerca das 8h30m, o Hugo telefonou para confirmar a morada e o encontro
marcado na vêspera. Ele ia connosco para o Lake Tahoe e Yosemite
durante o fim-de-semana...
Eu e a Cláudia fomos os primeiros a despacharmo-nos.
Fomos tomar café e eu aproveitei para levantar dinheiro,
enquanto o resto do pessoal tomava banho e se despachava.
Mas, o pessoal estava cansado e com o tempo assim,
a vontade de sair de São Francisco esmoreceu. Quando voltei
do café, comunicaram-me que não iam. Ou seja, o Hugo
e a Jacinta, que no entretanto tinham chegado e que estavam à espera
do pessoal, provavelmente tinham vindo em vão. Mas eu e
a Cláudia, queríamos ir, pelo que arranjamos as coisas
e decidimos ir apenas com o Hugo e a Jacinta.
O problema seguinte foi saber se seria seguro para
uma grávida de 7 meses, ir a Tahoe, a cerca de 3000 metros
de altitude. Para que não houvesse dúvidas nem problemas
desse género, optamos por fazer a costa até onde
nos desse na vinheta, uma vez que eles pouco conheciam.
Assim, saímos de casa da RM&P cerca das
11h da manhã e fomos para Sausalito. Parámos o carro
e fomos tomar café ao tasco dos iranianos do costume. Ficámos
ali a tentar conhecermo-nos melhor. O Hugo é um brincalhão
e um divertido, mesmo o típico tripeiro e a Jacinta apesar
de mais calma, tem a genica de uma rapariga que não está grávida
de sete meses.
As nuvens tinham dispersado e estava um sol brilhante
e quente. Andámos, por ali a apreciar as vistas, sem nenhuma
pressa. A cidade ao fundo da baía parece grande vista assim.
Saímos dali e seguimos a marginal, sem planos.
Resolvemos dar uma parada e ver o modelo da baía de São
Francisco. Este modelo, construído pelos militares nos anos
50, simula as marés e rios da zona e foi usado para estudar
os efeitos exteriores e a evolução da baía.
Ocupa um hangar enorme e ajuda a perceber melhor a configuração
da zona. Como é de borla, não se perde muito e só se
ganha em conhecimento se se o visitar.
Vimos um filme sobre a baía e percorremos
o modelo a ver onde vivíamos e onde estávamos. Ainda
vimos mapas de relevo da Califórnia e onde se vê com
perfeição deformações geológicas
como Yosemite.
Dali decidimos ir subir ao topo do monte Tamalpais,
mas não sei antes passarmos pelas casas-barco de Sausalito,
para a Jacinta tirar umas fotos para mostrar aos amigos e família
em Portugal.
Na subida para o monte Tamalpais, a Jacinta começou
a enjoar. também não admira... Aquilo são
mais curvas que a estrada do Douro e com precipícios bastante
fundos... Sem protecções. Quando chegámos
a um sítio com uma vista bonita, o Hugo parou e a Jacinta
saltou do carro. Ficou ali parada a recuperar durante uns minutos,
mas logo a seguir estava de máquina em punho a tirar umas
fotos à paisagem espectacular que dali se vê. Ali
perto um casal recém casado tirava as normais e aborrecidas
fotografias, com São Francisco como pano de fundo...
Descemos e resolvemos parar para comprar uma fruta
num vendedor da beira de estrada que ali estava. Mas além
de vendedor o homem era ladrão, pelos preços...
O vento começou a levantar, mas isso não
fez com que não continuássemos na nossa viagem para
norte, calmamente. Bem, norte é como quem diz, porque dali
fomos para Muir Woods que fica a sul do Tamalpais... Mas isso é irrelevante.
Fomos passear pelo parque de Muir Woods. A última
réstia de sequóias seculares de toda a região.
Pagámos $2 à entrada, mas ninguém me pediu
o bilhete quando passei na porta... Isto em Portugal era origem
de fraude.
Andámos pelo parque a ver as enormes árvores
que o povoam. É impressionante como nas mesmas raízes
nascem tantas árvores e se juntam os troncos no fundo, dando
origem a troncos grossíssimos. E como elas atingem facilmente
os 30 ou 50 metros de altura. A sombra que produzem no parque faz
com que a temperatura ali fosse sensivelmente 3 ou 4 graus abaixo
do exterior, mas para isso também ajudava o facto de passar
um ribeiro e do vale ser profundo. Fizemos o percurso mais curto
por causa da Jacinta, que continuava a aproveitar todos os troncos
para tirar umas fotos. Andámos cerca de 45 minutos, mas
a fome começou a apertar, decidimos ir almoçar-lanchar
a Stinson Beach.
Ainda encontrei à saída o Srikumar
e a Uma, um casal de indianos do meu escritório, que andavam
a passear com os pais ou coisa parecida. Perguntaram-me se andava
ali com a Vaynessa (eles não sabem o nome dela, mas...).
Seguimos na via rápida 1, até Stinson
Beach. O mesmo caminho que já tinha feito na quinta, só com
a Cláudia e com o bólide da Mariana, mas que cada
vez que se faz se gosta mais. Chegámos à praia de
Stinson Beach (parece um pleonasmo, mas Stinson Beach é também
o nome da povoação... É o mesmo que dizer
que fomos à praia de Vila Praia de Âncora) cerca das
4h00m e demos um salto à praia...
Estava muito vento, mas mesmo assim a praia estava
bonita. Fomos ver a temperatura da água e passeamos uns
metros junto à água... Até que a fome era
mais que a vontade de recordar as praias que conhecemos.
Parámos o carro no centro de Stinson Beach
e fomos procurar um sítio para comer. Cheirava a grelhados,
mas os preços eram também de esturricar... A Jacinta
viu um sítio com cachorros quentes e como estava com apetites
fomos lá. O Hugo já estava com uma fome e quase sem
olhar para o menu fez o pedido. Quando nós nos decidimos,
a menina da caixa diz-nos que já tinha fechado. "O quê???
Então o meu marido come e eu não" diz a Jacinta com
a sua atitude Nova Iorquina (eles antes de virem para cá estiveram
dois anos em NY), pelo que a empregado pediu desculpa e serviu-nos...
Ainda bem que ela aprendeu algo assim por lá, senão
passávamos fome.
Pegámos nos cachorros e fomo-nos sentar no
parque junto à praia. Quase no mesmo sítio onde parámos
o carro da primeira vez. Ou seja, podíamos nem sequer ter
ido para o centro de Stinson Beach estacionar. Mas também
aquilo é pequenino...
Ficámos ali na conversa e rirmo-nos da atitude
da Jacinta, enquanto apreciávamos um cachorro, o sol e o
facto de estarmos juntos. É bom conhecer pessoal assim,
com outros interesses e com outro tipo de conversa. Com coisas
em comum e que no fundo são parecidas connosco. Ela é da
Gafanha da Nazaré e ele trabalhou em Aveiro durante algum
tempo, pelo que os sítios e alguns amigos são os
mesmos...
Fomos ficando até que a tarde foi acabando
e decidimos ir mais um bocado para norte. Passámos a Lagoa
de Bolinas, onde parámos para tirar umas fotos aos leões-marinhos
quase ao pôr-do-sol e fomos ao Poit Reyes National Seashore.
Mas a recepção já tinha fechado, pelo que
não deu para nos informarmos muito. Mas deu para ver que
dali ao farol, que é a ponta mais ocidental do parque, eram
30 quilómetros e já era tarde para lá ir.
Pelo que fomos fazer o Earthquake trail, que como o nome diz é o
trilho do terramoto. Ou seja, é um trilho que explica o
fenómeno que é o terramoto e os efeitos do terramoto
de 1906 que quase apagou São Francisco do mapa e que começou
ali.
O trilho tem cerca de 600 metros de comprimento
e passa junto à falha de S. André. Os placares vão
mostrando o fenómeno e a dada altura existe uma cerca, que
segundo o placar é original da altura do terramoto e que
se deslocou naquele ponto cerca de 3 metros. Então existem
duas extremidades da cerca, uma a 3 metros da outra... Mas aquilo
parece tão forjado que até dá para rir. Posso
estar enganado, mas escusavam de fazer as coisas tão artificiais.
Mas é bom para que as pessoas tenham consciência do
verdadeiro poder de um terramoto.
Mas pronto, a envolvente é tão verde,
natural e bonita que compensa qualquer tentativa de enganar o público...
Mas, chegou a hora de voltarmos. Decidimos voltar
para São Francisco, porque estávamos muito perto
e não valia a pena estar a dormir fora de casa. Ainda ofereci
a minha cama de Corte Madera, para ficarmos por ali, mas a Jacinta
naquele estado só quer o colchão dela. Não
a condeno.
Fomos todo o caminho na conversa. O Hugo tem uma
vida profissional de início de carreira muito semelhante à minha
e viemos a discutir alguma gestão de empresas em Portugal
e a gestão das empresas e a maneira de pensar dos norte-americanos.
De repente já estávamos em São Francisco,
depois de um dia excelentemente bem passado, pela companhia e pelas
vistas... Acho que vou fazer uma página na Internet, pois é um
passeio excelente e fácil de se fazer a partir de São
Francisco.
Quando chegámos a casa da RM&P ficaram
todos surpreendidos em nos verem ali, pois julgavam que só voltávamos
no dia seguinte. Mas nem tivemos tempo de explicar o que se passou,
porque fomos logo arrastados para um restaurante Vietnamita.
A maralha toda resolveu se juntar para jantar. Exceptuando
os casais que ficaram a matar saudades, todos os outros fomos jantar.
E dali para o bar do Diogo. O bar ao lado de casa do Diogo e que
já é conhecido como sendo o bar dele...
O pessoal estava numa de ir à discoteca,
mas eu depois da última sessão de música da
tanga que lá apanhei, resolvi descansar... Uns meses!!!
Alguns queriam ir beber um copo a um sítio diferente, coisa
que me agradava bem mais. Mas ninguém se decidia e eu e
a Cláudia fomos ficando por ali na conversa... E quando
afinal já não tínhamos disposição
para ir a lado nenhum, foram todos para a Poly-Esther. Todos não,
porque o Tiago e a Sofia alugaram um filme e ficámos os
quatro a vê-lo...
O "Big Lobwski" visto do chão da sala e com
os olhos a fecharem de vez em quando, não é um filme
muito famoso, mas é divertido.
Um minuto depois do filme acabar já estava
a refilar com o Tiago por causa do som da televisão. Nem
dei conta do resto do pessoal chegar, tal era o cansaço.
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