Depois de quase uma semana sem crónicas, aqui voltam elas. Desculpem, mas para além de ter tido pouco tempo para as escrever, por razões óbvias, não me tenho sentido com a inspiração necessária à difícil escrita de uma novela tão importante como a minha vida na terra das oportunidades.

Julgo que a maioria notou que me enganei na última crónica e em vez de dizer que o Citröen se parecia com o Ford Ka, disse Kia. É óbvio que a maioria sabia que não há nenhum Ford Kia... Seria mais uma joint-venture? Agora que é a moda...

Mas voltemos às crónicas que se faz tarde e há muito que contar.

Sexta-feira, 14 de Abril de 2000 (Cont.)

Depois de vos deixar, fui lanchar com o resto do pessoal aqui da empresa, no que normalmente se chama de Friday Fest... Não sei se será um festival, mas que parece, parece.

Depois de uns copitos de vinho Cabournet Sauvignon de Napa e de um Brie verdadeiramente francês, comecei me a sentir à parte. Toda a gente tinha conversas com os vizinhos, mas eu como estava mais afastado física e mentalmente não me incluí em nenhum grupo.

Fui na Vaynessa para casa nas calmas. Não havia pressas e além disso gosto de sentir as plantas e os animais pelo caminho. Ver as pessoas que passam e observar o ambiente que me rodeia, como se ali estivesse invisível e ninguém se apercebesse que estava a ser observado.

Preparei o saco para o fim-de-semana e apanhei a camioneta para São Francisco. Adormeci antes de chegar à Golden Gate... Eu ando mesmo cansado, não sei porquê, mas por outro lado ando relaxado porque senão não conseguia dormir ali. Acordei quando entramos na Van Ness.

Quando cheguei a casa da RM&P a campainha estava desimpedida e consegui entrar sem ter que esperar uma meia hora para alguém poder telefonar. Não me conformo com esta mania de ligar a campainha ao telefone...

No entretanto chegou o Jaime, Diogo, o TN&J, o João e a Helena Franco... A Helena Brito estava para LA. Jantámos uma magnífica carne à bolonhesa, confeccionada pela Rita e bebemos uma garrafita de Charamba, nas calmas e na conversa.

Enquanto se decidia onde ir na sala, procuravam-se informações na Internet sobre alguns bares e perguntava-se à Mariana pelo ICQ. Ela ainda estava a trabalhar àquela hora...

De repente toda a gente ficou com pressa de sair. O Diogo e o João decidiram sair ainda quando ainda nada estava verdadeiramente combinado, e por causa disso perderam-se do pessoal. Eles foram para Haight com Fillmore e nós fomos para a zona da Mission. Digamos que é quase como ir para a Foz em vez de ir para a Ribeira... No Porto, claro!!!

Eu e os outros todos fomos para o Make-Out Room, que é como quem diz o Quarto de Engate. Fica na 22a entre Valencia e a Mission. É longe para ir a pé, mas de carro chegou-se lá num instante...

O bar é assim como diz o nome. Um bar agradável, apesar do inicial cheiro a mofo que é característica de todos os bares nesta cidade. À entrada pediram-nos a identificação, como é costume e entramos. Do lado esquerdo um balcão corrido com bancos, iluminado por umas gambiarras das obras mas com luzes vermelhas (lembram-se do nome?) e por de trás um armário também corrido com todo o tipo de bebidas e umas luzes de natal em cima, que é normal em todo o lado nesta terra. Do lado direito do longo e estreito corredor, que acompanhava o balcão, estavam uma série de mesas cheias de gente que conversava alto. Ao fundo, o balcão acabava e o corredor abria para uma sala relativamente larga que terminava à esquerda num palco com umas cortinas acetinadas vermelhas (qual era o nome?), à direita numa mesa de bilhar e entre as colunas que sustentavam o alto e velho tecto, haviam mesas que estavam povoadas de seres que exprimiam as suas extravagâncias das mais diferentes maneiras.

Adorei o ambiente. Finalmente vejo outro sítio da noite em que não me sinta o único ocidental e onde se pode estar e conversar à vontade. A música estava naquele nível em que se ouvia mas que também não se ouvia, em que se podia falar mas para isso tinha-se que levantar a voz... Daí se ouvir mais burburinho que o bossa nova que enchia o ar.

Mas aqui a moda é a cerveja caseira e todos os bares têm a sua própria produção caseira de cerveja. Então pode-se beber e provar cervejas em todos os bares. Ando a aprender muito acerca de cervejas e ficar um aficcionado. Bebi uma Pale Ale que é a que mais ando a gostar, que é uma cerveja amarga originária de Inglaterra, com algum corpo, mas clara. Aquela era boa...

Ficámos ali na conversa quase até o bar fechar. O Nuno foi-se embora para Mountain View e os restantes foram na Carrinha, tipicamente americana, do Jaime, para casa da RM&P. O Jaime já estava quase a dormir, mas ainda deixámos a Helena em casa... Subir aquelas ruas de São Francisco aquela hora é dose.

O cansaço era enorme. Estiquei o saco-cama e...