C60 SEGUNDA-FEIRA, 10 DE ABRIL DE 2000
Vaynessa e a Bicla Do Jesse - Fotografia de Rui Gonçalves

As crónicas continuam atrasadas... Assim como tudo que é português, as crónicas são feitas quando há tempo para as fazer.

Lamento, mas quero ver se logo arrumo com o atraso.

Mas vamos ao show da semana passada.

Segunda-feira, 3 de Abril de 2000

Com a mudança da hora no domingo, levantar na segunda-feira foi um verdadeiro martírio e o dia foi uma lenta tortura.

Manter os olhos abertos em frente ao monitor, enquanto se faz testes a uma aplicação, que teima em não fazer nada do que se deseja, é um verdadeiro trabalho para o Hércules.

Saí do escritório tarde e com dor de cabeça.

Terça-feira, 4 de Abril de 2000

A mudança da hora ainda me afectou durante a manhã... Mas o dia correu melhor.

O Ken deu-me um modelo 3D com 150 mil triângulos de um motor de um carro, para eu pôr a funcionar numa animação. Fazer com que a combota rode é fácil, mas os pistões subirem e descerem num movimento sinusoidal é uma coisa que a aplicação sabe que existe mas que não quer fazer. Mais 10 bugs para a lista e nada de pôr o motor a andar.

No fim do dia o Ben veio-me perguntar se não queria ir com ele de bicicleta para casa. Ele mora em San Rafael que fica ao dobro da distância de minha casa ao escritório, mas tinha vindo de bicicleta. Ele estava equipado, mas eu não... Mas lá fui na Vaynessa. Resolvemos experimentar um caminho que eu não tinha encontrado um dia à noite, mas como era de dia e tínhamos o mapa...

Chegámos a um sítio onde haviam dois caminhos e não sabíamos qual apanhar... Até que o aparecimento de um coiote ajudou à decisão.

Estávamos a ver o mapa quando alguém de uma janela de uma casa gritou algo que não consegui perceber, mas que um senhor, que estava ali a jogar basquete com o filho, logo traduziu. Um coiote vinha a descer o monte... E ali estava ele a cerca de 20m de nós a passear como se nada fosse... O homem disse-nos logo para tomarmos o outro caminho... Que por acaso era o que nós queríamos tomar.

Cheguei a casa suado e o Ben seguiu.

Combinei com o Singh ir ao cinema onde ele trabalha na quinta, para ir ver o American Beauty.

Quarta-feira, 5 de Abril de 2000

Já consegui acordar mais bem disposto e sem grandes esforços fui para o escritório.

Combinei com o Jesse ir, no dia seguinte, andar de bicicleta enquanto ele corria.

O trabalho continuou na mesma... Bugs! Bugs! E mais bugs...

Quinta-feira, 6 de Abril de 2000

O dia mais interessante da semana, depois de sexta, que já se considera quase fim-de-semana.

Acordei bem disposto, com o cheiro a flores e fim de semana no ar. Peguei no equipamento, uma toalha e o estojo de casa de banho, meti na mochila e arranquei na Vaynessa para o escritório.

À hora do almoço equipei-me e fui chamar o Jesse. Pegámos nas nossas bicicletas e arrancámos para Tennesse Valley.

O Jesse tem uma Raleigh USA Technium Heat de 1991, uma verdadeira beleza dessa altura. Prateada no triângulo da frente e amarela fluorescente no triângulo traseiro e na junção da direcção. E depois com as palavras Raleigh (no tubo inferior) e Technium Heat (no tubo superior) a cor-de-rosa fluorescente. Como qualquer pessoa que se preze o Jesse tem vergonha de andar de bicicleta... Naquela bicicleta. Então anda resolvido a pintá-la e como eu lhe disse que ia pintar a outra, contratou-me para eu lhe pintar a dele e meter-lhe uma suspensão... Na bicicleta claro.

Mas saímos por volta da 1h da tarde e seguimos o caminho que já foi uma linha de comboio e que eu faço todos os dias, até entrarmos num caminho de terra de pé posto, junto a um braço de rio. Seguimos o caminho por cerca de 800m sempre ao lado do rio ou ribeiro até entrarmos na estrada que segue até à entrada do parque Golden Gate a cerca de 2 km do escritório. Aí o Jesse pousou a bicicleta encostada a uma vedação, sem cadeado, mas quem é que ia roubar aquele OVNI?

Seguimos eu na Vaynessa e o Jesse a correr a pé. Ele foi por um caminho de pé posto que parece paradisíaco, mas que a Vaynessa não tem autorização de percorrer. Aqui estes marmanjos acham que a coitada é muito brava e pode magoar os peões. Pelo que segui com a coitada pelo caminho mais longe e mais difícil, mas cheguei primeiro que o Jesse à praia.

Já fui três vezes até à praia, mas nunca fui mesmo ao pé da água. Pousei a Vaynessa num sítio visível e andei na areia até à borda da água. A praia é fantástica. Muito pequena, e com paredes de cada lado para aí com cerca de 50m de altura, mas a entrada é um vale com cerca de 50m de largura que depois dá para uma praia de 100m de largura... Na parede de rocha que limita a praia à esquerda existe um buraco que deixa ver o céu entre a pedra... Porque é que não levei a câmara? Os maiores problemas da praia são as ondas, a água gelada e a areia castanha... Parece suja... Mas é mesmo castanha.

No entretanto o Jesse apareceu e sem parar voltou para trás, desta vez pelo caminho que a Vaynessa podia fazer, e que tem uma subida fantástica, em que no sentido contrário (a descer) a doida da Vaynessa foi aos 63 km/h.

Apanhei a marota e segui o Jesse, que já estava a subir a ravina. Parecia que corria para trás, mas não o consegui apanhar. Só já na descida... O Jesse estava a morrer, mas não desistiu até chegar ao portão do parque onde tinha deixado a nave espacial dele.

Quando cheguei ao portão, reparei num letreiro que dizia que o Chaparral Trail estava fechado para manutenção... Olhei bem e não vi nenhum chaparro. Já estava a pensar numa açorda a alentejana quando perguntei ao Jesse se sabia o que era um Chaparro. Ele pensava que tinha alguma coisa a ver com capela...

Voltámos para o escritório, onde chegámos depois de uma voltita de 10km. Coisa pouca mas divertida... Tomei banho e voltei ao trabalho.

Ao fim da tarde arrumei tudo o que precisava na mochila e fui para Sausalito, para ir ao cinema.

Cheguei 10 minutos antes do filme começar e vi o Singh na bilheteira enquanto eu amarrava a montada Vaynessa a um poste.

O Singh no entretanto desapareceu e eu entrei no cinema. No bar, que vende pipocas e afins trabalham dois tipos que pela envergadura comem muitas pipocas, apesar de terem menos de 20 anos... E quase sem pelos na cara. Nem vi bem a cara deles, e além disso acho que já não me impressiono tanto com as alarvices destes americanos.

Perguntei pelo Singh. Eles não sabiam dele, mas perguntaram-me se eu era o amigo dele que vinha ver o filme. Eu disse que sim e mandaram-me entrar... Luxo! Uma sala de cinema só para mim... Bem! Depois vieram mais uns ruminantes de pipocas.

O cinema não é nada de especial. É como ver vídeo em écran gigante e mesmo assim há pessoas com melhores sistemas de vídeo e som que aquele cinema. Mas é de borla... E não é assim tão mau.

Em relação ao filme... Toda a cultura americana actual está naquelas 10 personagens e muita dos problemas de todas as culturas são retractados no filme. A mensagem a extrair do filme é da responsabilidade de cada um, mas há muito a aprender no mesmo. Se ainda não viram, vejam.

Quando acabou o filme, cerca das 9h da noite, esperava-me uma viagem de volta a casa na Vaynessa. Mas com os treinos dos últimos dias, fiz aquilo em meia hora à bolina...



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