As crónicas continuam atrasadas... Assim
como tudo que é português, as crónicas são
feitas quando há tempo para as fazer.
Lamento, mas quero ver se logo arrumo com o atraso.
Mas vamos ao show da semana passada.
Segunda-feira, 3 de Abril de 2000
Com a mudança da hora no domingo, levantar
na segunda-feira foi um verdadeiro martírio e o dia foi
uma lenta tortura.
Manter os olhos abertos em frente ao monitor, enquanto
se faz testes a uma aplicação, que teima em não
fazer nada do que se deseja, é um verdadeiro trabalho para
o Hércules.
Saí do escritório tarde e com dor
de cabeça.
Terça-feira, 4 de Abril de 2000
A mudança da hora ainda me afectou durante
a manhã... Mas o dia correu melhor.
O Ken deu-me um modelo 3D com 150 mil triângulos
de um motor de um carro, para eu pôr a funcionar numa animação.
Fazer com que a combota rode é fácil, mas os pistões
subirem e descerem num movimento sinusoidal é uma coisa
que a aplicação sabe que existe mas que não
quer fazer. Mais 10 bugs para a lista e nada de pôr o motor
a andar.
No fim do dia o Ben veio-me perguntar se não
queria ir com ele de bicicleta para casa. Ele mora em San Rafael
que fica ao dobro da distância de minha casa ao escritório,
mas tinha vindo de bicicleta. Ele estava equipado, mas eu não...
Mas lá fui na Vaynessa. Resolvemos experimentar um caminho
que eu não tinha encontrado um dia à noite, mas como
era de dia e tínhamos o mapa...
Chegámos a um sítio onde haviam dois
caminhos e não sabíamos qual apanhar... Até que
o aparecimento de um coiote ajudou à decisão.
Estávamos a ver o mapa quando alguém
de uma janela de uma casa gritou algo que não consegui perceber,
mas que um senhor, que estava ali a jogar basquete com o filho,
logo traduziu. Um coiote vinha a descer o monte... E ali estava
ele a cerca de 20m de nós a passear como se nada fosse...
O homem disse-nos logo para tomarmos o outro caminho... Que por
acaso era o que nós queríamos tomar.
Cheguei a casa suado e o Ben seguiu.
Combinei com o Singh ir ao cinema onde ele trabalha
na quinta, para ir ver o American Beauty.
Quarta-feira, 5 de Abril de 2000
Já consegui acordar mais bem disposto e sem
grandes esforços fui para o escritório.
Combinei com o Jesse ir, no dia seguinte, andar
de bicicleta enquanto ele corria.
O trabalho continuou na mesma... Bugs! Bugs! E mais
bugs...
Quinta-feira, 6 de Abril de 2000
O dia mais interessante da semana, depois de sexta,
que já se considera quase fim-de-semana.
Acordei bem disposto, com o cheiro a flores e fim
de semana no ar. Peguei no equipamento, uma toalha e o estojo de
casa de banho, meti na mochila e arranquei na Vaynessa para o escritório.
À hora do almoço equipei-me e fui
chamar o Jesse. Pegámos nas nossas bicicletas e arrancámos
para Tennesse Valley.
O Jesse tem uma Raleigh USA Technium Heat de 1991,
uma verdadeira beleza dessa altura. Prateada no triângulo
da frente e amarela fluorescente no triângulo traseiro e
na junção da direcção. E depois com
as palavras Raleigh (no tubo inferior) e Technium Heat (no tubo
superior) a cor-de-rosa fluorescente. Como qualquer pessoa que
se preze o Jesse tem vergonha de andar de bicicleta... Naquela
bicicleta. Então anda resolvido a pintá-la e como
eu lhe disse que ia pintar a outra, contratou-me para eu lhe pintar
a dele e meter-lhe uma suspensão... Na bicicleta claro.
Mas saímos por volta da 1h da tarde e seguimos
o caminho que já foi uma linha de comboio e que eu faço
todos os dias, até entrarmos num caminho de terra de pé posto,
junto a um braço de rio. Seguimos o caminho por cerca de
800m sempre ao lado do rio ou ribeiro até entrarmos na estrada
que segue até à entrada do parque Golden Gate a cerca
de 2 km do escritório. Aí o Jesse pousou a bicicleta
encostada a uma vedação, sem cadeado, mas quem é que
ia roubar aquele OVNI?
Seguimos eu na Vaynessa e o Jesse a correr a pé.
Ele foi por um caminho de pé posto que parece paradisíaco,
mas que a Vaynessa não tem autorização de
percorrer. Aqui estes marmanjos acham que a coitada é muito
brava e pode magoar os peões. Pelo que segui com a coitada
pelo caminho mais longe e mais difícil, mas cheguei primeiro
que o Jesse à praia.
Já fui três vezes até à praia,
mas nunca fui mesmo ao pé da água. Pousei a Vaynessa
num sítio visível e andei na areia até à borda
da água. A praia é fantástica. Muito pequena,
e com paredes de cada lado para aí com cerca de 50m de altura,
mas a entrada é um vale com cerca de 50m de largura que
depois dá para uma praia de 100m de largura... Na parede
de rocha que limita a praia à esquerda existe um buraco
que deixa ver o céu entre a pedra... Porque é que
não levei a câmara? Os maiores problemas da praia
são as ondas, a água gelada e a areia castanha...
Parece suja... Mas é mesmo castanha.
No entretanto o Jesse apareceu e sem parar voltou
para trás, desta vez pelo caminho que a Vaynessa podia fazer,
e que tem uma subida fantástica, em que no sentido contrário
(a descer) a doida da Vaynessa foi aos 63 km/h.
Apanhei a marota e segui o Jesse, que já estava
a subir a ravina. Parecia que corria para trás, mas não
o consegui apanhar. Só já na descida... O Jesse estava
a morrer, mas não desistiu até chegar ao portão
do parque onde tinha deixado a nave espacial dele.
Quando cheguei ao portão, reparei num letreiro
que dizia que o Chaparral Trail estava fechado para manutenção...
Olhei bem e não vi nenhum chaparro. Já estava a pensar
numa açorda a alentejana quando perguntei ao Jesse se sabia
o que era um Chaparro. Ele pensava que tinha alguma coisa a ver
com capela...
Voltámos para o escritório, onde chegámos
depois de uma voltita de 10km. Coisa pouca mas divertida... Tomei
banho e voltei ao trabalho.
Ao fim da tarde arrumei tudo o que precisava na
mochila e fui para Sausalito, para ir ao cinema.
Cheguei 10 minutos antes do filme começar
e vi o Singh na bilheteira enquanto eu amarrava a montada Vaynessa
a um poste.
O Singh no entretanto desapareceu e eu entrei no
cinema. No bar, que vende pipocas e afins trabalham dois tipos
que pela envergadura comem muitas pipocas, apesar de terem menos
de 20 anos... E quase sem pelos na cara. Nem vi bem a cara deles,
e além disso acho que já não me impressiono
tanto com as alarvices destes americanos.
Perguntei pelo Singh. Eles não sabiam dele,
mas perguntaram-me se eu era o amigo dele que vinha ver o filme.
Eu disse que sim e mandaram-me entrar... Luxo! Uma sala de cinema
só para mim... Bem! Depois vieram mais uns ruminantes de
pipocas.
O cinema não é nada de especial. É como
ver vídeo em écran gigante e mesmo assim há pessoas
com melhores sistemas de vídeo e som que aquele cinema.
Mas é de borla... E não é assim tão
mau.
Em relação ao filme... Toda a cultura
americana actual está naquelas 10 personagens e muita dos
problemas de todas as culturas são retractados no filme.
A mensagem a extrair do filme é da responsabilidade de cada
um, mas há muito a aprender no mesmo. Se ainda não
viram, vejam.
Quando acabou o filme, cerca das 9h da noite, esperava-me
uma viagem de volta a casa na Vaynessa. Mas com os treinos dos últimos
dias, fiz aquilo em meia hora à bolina...
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