SEGUNDA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2000 C55
Primeira Volta em Napa Valley - Fotografia de Rui Gonçalves

Uma coisa que me esqueci de vos dizer acerca de Stinson Beach e que alguns já sabem, é que a praia é mesmo sobre a falha de S. André. Já não chegava ter tubarões... Mas vale a pena, compreendo como estes tipos arriscam a vida assim...

De volta à novela...

Domingo, 26 de Março de 2000

Acordámos cedo com a luz do sol a bater nos estores. Não compreendo como é que estes americanos não usam persianas.

Liguei o PC para ver o mail e o Windows 98 avisa-me que hora mudou... Trengo! Ele não sabe que os americanos são anormais e têm a mania da diferença e que aqui só muda para a semana? Deve ser uma versão europeia do Windows 98.

De repente chega o Carlos, que com a aparente mudança da hora se julga atrasado quase uma hora... Lá lhe mostrei que aqui só acontecia para a semana e ele riu-se, porque tinham avisado a porteira do prédio da RM&P. A porteira alterou todos os relógios e ficou toda contente porque trabalhava menos uma hora nesse dia... Azar! Era tudo mentira.

Comemos o resto da pizza do jantar de sábado e estivemos a beber um chocolate quente na varanda... Enquanto o Nuno matava as saudades da caixinha que mudou o mundo... Dele!!!

Telefonei ao Ben a dizer que passávamos em casa dele em meia hora e fomos tomar o café da manhã ao Tully's.

Apanhámos o Ben e o seu Volkswagen Jetta VR6 vermelho Ferrari em San Rafael e rumámos a Napa, para ir ver a primeira prova da Taça do Mundo em BTT.

Passámos por Sonoma e entrámos em Napa Valley. A paisagem é deslumbrante, mas nada de especial para quem vem de Portugal e está habituado a ver vinhas. Mas é bonito ver aquelas estruturas repetitivas por quilómetros e quilómetros de extensão, apenas cortada por um pasto ou uma casa. A diferença entre aquilo e o Doure é que é menos montanhoso e mais verde... Muito mais verde.

Chegámos às caves Domaine Chandon, onde estava instalada a zona de chegada e de exposição, a tempo de ver as últimas mulheres a cortarem a meta. O público não era muito, mas o calor era... O sol queimava e estava um excelente dia.

Das mulheres pouco mais sei do que ganhou a Mary Grigson da equipa Gary Fisher/SAAB, uma australiana que ficou em segundo no Campeonato do Mundo em Sydney e que só espera pelos Jogos Ólimpicos. Mas se quiserem saber mais vão ver em http://www.uci.ch/english/mtb/mtbwc2000/xc1/result_f.htm.

Andámos pela área de exposição e a ver as vistas da zona até que eram quase horas da partida dos homens. A área de exposição foi realmente a única diferença positiva que eu notei na prova. Mesmo comparando com Madrid, aquela foi a maior área de exposição que eu vi, também porque estava mais ou menos misturada com a área das equipas oficias, mas também porque os maiores nomes dos componentes de BTT são dos Estados Unidos e grande parte da Califórnia.

Para os fãs do BTT (os outros passem este parágrafo, se quiserem): Estava lá a Rock Shox com um stand enorme, o nosso amigo palhaço Gary Fisher que está quase careca, mas que pinta o pouco cabelo que lhe resta de azul... Parece mesmo o Batatinha!!! Mas a verdade é que estava com a boa da Paola Pezzo, que ostentava o seu belo calção prateado... Já não é dourado... O Zapata Espinoza, estava no stand da Giant, com a sua bela argola na orelha esquerda igual àquelas usadas pelos Aztecas e que se colocam dentro do bolbo da orelha. Mas de resto estava quase tudo... Manitou, Tioga, Grip Shift (SRAM), Shimano, WTB, Yakima, e sei lá que mais...

Ficámos na primeira curva para ver a partida, como de costume... E os homens deram duas voltas curtas de apresentação, a uma velocidade que na memória quase só fica o borrão colorido da passagem pelo sítio onde estávamos... A confusão de cores e a velocidade nem permitia ver quem é que ia à frente, mas também ainda faltavam 7 longas voltas...

Uns decidiram comer e fomos para o primeiro sítio tecnicamente bom para se ver a corrida. E que por acaso era o único.

Quando chegámos ao sopé do monte via-se um monte de gente que se acotovelava para ver uma zona de alta inclinação no topo do monte. Imaginem, uma descida com cerca de 25-30% de inclinação com uma curva à direita, e com a inclinação a atirar os atletas para fora da curva... E com terra seca e escorregadia. Era uma festa ver quem é que ia ao chão.

Começámos por ver o fim da descida em singletrack (caminho de pé posto) sinuoso e acabar numa inclinação engraçada. O terreno estava seco, o pó levantado era muito e a passagem dos atletas punha a descoberto as pedras debaixo da terra. Primeiro furo de um alemão, aparentemente sem equipa, mas que tinha um Cratoni igual ao meu... Mas o rapaz estava nervoso e demorou quase 5 minutos para mudar a câmara de ar...

Fomos ver a subida que ficava do outro lado da encosta e que era feita na pedaleira grande como se de uma descida se tratasse... Em estradão largo, mas com uma inclinação apreciável e com o sol pelas costas.

E fomos vê-los cair na tal descida... Ainda deu para ver o Filip Meirhaeghe enfiar-se de cara directo ao chão. Um verdadeiro Face Plant aos pés do Nuno e do Carlos. É impressionante como alguns se cagavam de medo a descer aquilo... Eu acho que fazia o mesmo, mas eles são profissionais.

Andámos à procura de outros sítios, mas não havia quase mais nada a não ser estradões largos... Estes tipos deviam de ir andar para Marialva ou para a Lousã, acho que estavam sempre a desmontar com medo. Aquilo parecia uma prova de estrada em caminhos de terra. Fiquei mesmo decepcionado... Agora é que eu vejo aquilo que se fala sempre entre as diferenças de técnica entre os euros e os americanos.

Arranjei uma garrafa da Yahoo, mas sinceramente é feia... E fomos ver a chegada!!! Estávamos adiantados uma volta e fui ver o novo material... Ah! Esqueci-me de vos contar que arranjei o autografo da nossa vizinha Marga Fullana, enquanto esperava pela partida.

O pessoal ficou a deslumbrar um Ferrari enquanto se dava a última volta. Ganhou o Bas Van Dooren depois de ter andado à frente mais de metade da prova, acompanhado pelo Miguel Martinez. Mas na penúltima já tinha 30 segundos de avanço sobre o minorca francês e chegou com quase 1 minuto de avanço. O terceiro e quarto qualificados usaram suspensões integrais na prova... Fiquei surpreendido, que numa prova tão rápida e tão pouco dura (em termos de terreno) usassem aquilo, mas deviam estar com pouquíssimo curso.

Mas o melhor da chegada foi o despique entre o Bart Brentjens o espanhol Roberto Lezaun da Orbea, e o despique entre o Thomas Frischknecht e um alemão, que deu direito a cotovelada e tudo na linha de chegada.

Mas quem viu isto em Madrid... Sai dali desanimado... E cansado. Fomos a Napa ver se comíamos alguma coisa antes de ir para casa.

Mas não encontrámos nada e decidimo-nos despedir. Eu fui com o Ben e o TN&J e o Carlos foram-se embora.

Fui jantar (às 6h da tarde) com o Ben em San Rafael, numa (outra) cervejaria com fabrico próprio. A cerveja era boa, a comida nem por isso... Comida tipicamente americana, que se pode esperar...

O Ben é um bacano. É canadiano, e parava num bar português em Montreal... Conhece bem alguns dos nossos bons vícios, o Café expresso e o Porto (vinho). Estivemos a falar de música, BTT e trabalho, antes de me levar a casa.

Deitei-me comecei a escrever a crónica de sexta,... Bem o resto já sabem.



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