C46 SEGUNDA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2000
Cláudia - Fotografia de Rui Gonçalves

Sábado, 11 de Março de 2000

Não sei se foi alguma coisa que eu comi, mas deve ter sido o caril que estava estragado, mas acordei com uma dor de cabeça e a língua seca como se tivesse andado a lamber papel... Ou terá sido o vinho, caipiroska, vodka e afins?

Sei que o sol estava muito forte de manha e abrir os olhos foi tarefa difícil. Mas depois de um café no Starbuck's e uma coca-cola no Mac estava pronto para outra... Ou quase!!!

Decidimos (Eu e a Cláudia) ir ao Macy's comprar um tapete para a casa de banho de nossa casa, uma vez que estava em saldos... Achávamos nós, porque quando decidimos ir pagar, o tapete e umas toalhas Ralph Lauren (que luxo!!!) afinal em vez dos $80 que pensava, pediram-me $125. Depois de uma conversita com a empregada, que era russa e media aproximadamente 2m e vestia uma linda camisa de renda com uma rosa nas costas, que só mesmo na Rússia é que devem gostar daquilo, me explicou que os saldos só começavam na terça e que os preços que lá estavam afixados só entravam em vigor na terça, mas que se pagasse já e só levantasse as coisas na terça que pagava já com o preço de saldo. Alguém me explica porquê? Eu paguei no sábado o preço que só entra em vigor na terça, com a condição de só ir buscar a mercadoria na terça... Ah! Americanos malucos...

Com estas e com outras já estávamos atrasados para ir embora... Tinha que levar a Cláudia ao Aeroporto, porque infelizmente ela tinha que ir para Portugal.

Ela queria ficar e eu queria ir com ela... Acho que se assim fosse, ficávamos separados à mesma. Não?

O trânsito estava infernal e o comboio só de hora a hora, pelo que chegamos ao SFO às 17h30m. O voo saia às 18h30m... A Cláudia se não foi a última a fazer o check-in, foi quase. Mal acabou de fazer o check-in estava na hora de embarcar e mal tivemos tempo de nos despedirmos. Se na altura a pressa era muita e não pensámos muito nisso, agora sinto a falta disso. Mas não há que ficar triste, daqui a um mês está cá outra vez e por mais tempo.

Foi uma semana fantástica. Se penso que foi curta, por outro lado quando me lembro da chegada dela, parece que foi há muito tempo. A semana foi realmente curta, mas os momentos bons e que irei recordar foram imensos, pelo que parece que foi mais tempo que passou muito depressa. É esquisita esta sensação...

Voltei para casa da RM&P, onde só cheguei às 8h da noite. Compramos uns burritos e comemos em casa.

Estava tudo estoirado da noite anterior e da voltita a Ocean Beach e Golden Gate Park... O espirito geral era "Se nao formos à festa do Martin ele vai ficar triste", "E se não aparece ninguém, coitado do Martin"... Lá fomos para casa do Martin no Presidio.

Claro que quem ia à frente e dizia que sabia o caminho, perdeu-se. Depois de duas inversões de marcha numa rua inclinada e com semáforos a meio, já tínhamos perdido o Juan e o Carlos. Depois de algumas voltas mais, demos com a casa e fomos tentar encontrar os perdidos.

Quando chegámos todos a casa do Martin, a ambiente era de sossego. O Martin também me confessou que quando telefonámos a dizer que estávamos a ir, teve uns pensamentos do género "Mas porque raio eu marquei a festa" porque ele próprio estava estoirado, também.

Mas a Mónica decidiu dar ânimo ao pessoal e pôs uns CDs mais animados. Umas Rumbas e uns Merengues e o pessoal estava a dançar. Depressa o vinho começou a rolar e a cerveja a esvaziar. A musica mudou para umas colectâneas de musica dos 80's e o pessoal já saltava por cima do sofá em voos directos ao tapete.

De repente chegaram duas alemãs. Uma loira e uma ruiva. Os nossos machos de serviço, Carlos e Juan, decidiram rondar as presas e atacar frontalmente aquilo que aparentemente poderia ser uma boa caça... Mas não sei porque as miúdas preferiram dançar.

Eu e o André estávamos cá fora a conversar e a beber uma cervejita e elas juntaram-se na conversa. As miúdas, sim, uma tinha 19 e a outra 20, estavam a trabalhar como babysitters aqui em SF há 5 meses, e como não tinham idade nunca tinham quase saído à noite. Aqui é preciso ter 21 para ir a um bar ou discoteca. Vinham do leste da Alemanha e foram as primeiras não portuguesas que conseguiram manter uma conversa por mais de uma hora, desde que cheguei aos EU.

A casa do Martin é muito porreira. Fica no meio do Presidio, uma grande área florestada junto à Golden Gate e que pertencia ao exército. A zona é muito sossegada e as casas parecem britânicas, separadas, em cerâmica vermelha e com chaminé. A meio da conversa apareceram dois racoons, uma espécie de doninhas fedorentas, mas fugiram com o barulho.

Depois de umas cervejas, alguma dança e de muita conversa, o pessoal decidiu bazar e ir para casa. Afinal de contas eram quase 3h da manhã e duas festas seguidas matam qualquer um.

Quando cheguei a casa da RM&P, ainda fui ver o mail, mas era impossível ter alguma coisa da Cláudia, porque ela ainda devia de estar sobre o Atlântico. Mas tinha uma triste notícia de uns amigos. Um colega da universidade tinha morrido num acidente na IP5 e ia a enterrar nesse dia. Tinha 26 anos, era filho único e namorava, também, com uma colega nossa. Estava tudo um bocado abalado... Eu próprio fiquei!!! Sonhei com o Cunha e com enterros... O que não foi nada agradável, no mesmo dia em que a Cláudia partiu...

Mas pronto a vida segue e a lei da vida é esta...



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