Sábado, 11 de Março de 2000
Não sei se foi alguma coisa que eu comi,
mas deve ter sido o caril que estava estragado, mas acordei com
uma dor de cabeça e a língua seca como se tivesse
andado a lamber papel... Ou terá sido o vinho, caipiroska,
vodka e afins?
Sei que o sol estava muito forte de manha e abrir
os olhos foi tarefa difícil. Mas depois de um café no
Starbuck's e uma coca-cola no Mac estava pronto para outra... Ou
quase!!!
Decidimos (Eu e a Cláudia) ir ao Macy's comprar
um tapete para a casa de banho de nossa casa, uma vez que estava
em saldos... Achávamos nós, porque quando decidimos
ir pagar, o tapete e umas toalhas Ralph Lauren (que luxo!!!) afinal
em vez dos $80 que pensava, pediram-me $125. Depois de uma conversita
com a empregada, que era russa e media aproximadamente 2m e vestia
uma linda camisa de renda com uma rosa nas costas, que só mesmo
na Rússia é que devem gostar daquilo, me explicou
que os saldos só começavam na terça e que
os preços que lá estavam afixados só entravam
em vigor na terça, mas que se pagasse já e só levantasse
as coisas na terça que pagava já com o preço
de saldo. Alguém me explica porquê? Eu paguei no sábado
o preço que só entra em vigor na terça, com
a condição de só ir buscar a mercadoria na
terça... Ah! Americanos malucos...
Com estas e com outras já estávamos
atrasados para ir embora... Tinha que levar a Cláudia ao
Aeroporto, porque infelizmente ela tinha que ir para Portugal.
Ela queria ficar e eu queria ir com ela... Acho
que se assim fosse, ficávamos separados à mesma.
Não?
O trânsito estava infernal e o comboio só de
hora a hora, pelo que chegamos ao SFO às 17h30m. O voo saia às
18h30m... A Cláudia se não foi a última a
fazer o check-in, foi quase. Mal acabou de fazer o check-in estava
na hora de embarcar e mal tivemos tempo de nos despedirmos. Se
na altura a pressa era muita e não pensámos muito
nisso, agora sinto a falta disso. Mas não há que
ficar triste, daqui a um mês está cá outra
vez e por mais tempo.
Foi uma semana fantástica. Se penso que foi
curta, por outro lado quando me lembro da chegada dela, parece
que foi há muito tempo. A semana foi realmente curta, mas
os momentos bons e que irei recordar foram imensos, pelo que parece
que foi mais tempo que passou muito depressa. É esquisita
esta sensação...
Voltei para casa da RM&P, onde só cheguei às
8h da noite. Compramos uns burritos e comemos em casa.
Estava tudo estoirado da noite anterior e da voltita
a Ocean Beach e Golden Gate Park... O espirito geral era "Se nao
formos à festa do Martin ele vai ficar triste", "E se não
aparece ninguém, coitado do Martin"... Lá fomos para
casa do Martin no Presidio.
Claro que quem ia à frente e dizia que sabia
o caminho, perdeu-se. Depois de duas inversões de marcha
numa rua inclinada e com semáforos a meio, já tínhamos
perdido o Juan e o Carlos. Depois de algumas voltas mais, demos
com a casa e fomos tentar encontrar os perdidos.
Quando chegámos todos a casa do Martin, a
ambiente era de sossego. O Martin também me confessou que
quando telefonámos a dizer que estávamos a ir, teve
uns pensamentos do género "Mas porque raio eu marquei a
festa" porque ele próprio estava estoirado, também.
Mas a Mónica decidiu dar ânimo ao pessoal
e pôs uns CDs mais animados. Umas Rumbas e uns Merengues
e o pessoal estava a dançar. Depressa o vinho começou
a rolar e a cerveja a esvaziar. A musica mudou para umas colectâneas
de musica dos 80's e o pessoal já saltava por cima do sofá em
voos directos ao tapete.
De repente chegaram duas alemãs. Uma loira
e uma ruiva. Os nossos machos de serviço, Carlos e Juan,
decidiram rondar as presas e atacar frontalmente aquilo que aparentemente
poderia ser uma boa caça... Mas não sei porque as
miúdas preferiram dançar.
Eu e o André estávamos cá fora
a conversar e a beber uma cervejita e elas juntaram-se na conversa.
As miúdas, sim, uma tinha 19 e a outra 20, estavam a trabalhar
como babysitters aqui em SF há 5 meses, e como não
tinham idade nunca tinham quase saído à noite. Aqui é preciso
ter 21 para ir a um bar ou discoteca. Vinham do leste da Alemanha
e foram as primeiras não portuguesas que conseguiram manter
uma conversa por mais de uma hora, desde que cheguei aos EU.
A casa do Martin é muito porreira. Fica no
meio do Presidio, uma grande área florestada junto à Golden
Gate e que pertencia ao exército. A zona é muito
sossegada e as casas parecem britânicas, separadas, em cerâmica
vermelha e com chaminé. A meio da conversa apareceram dois
racoons, uma espécie de doninhas fedorentas, mas fugiram
com o barulho.
Depois de umas cervejas, alguma dança e de
muita conversa, o pessoal decidiu bazar e ir para casa. Afinal
de contas eram quase 3h da manhã e duas festas seguidas
matam qualquer um.
Quando cheguei a casa da RM&P, ainda fui ver
o mail, mas era impossível ter alguma coisa da Cláudia,
porque ela ainda devia de estar sobre o Atlântico. Mas tinha
uma triste notícia de uns amigos. Um colega da universidade
tinha morrido num acidente na IP5 e ia a enterrar nesse dia. Tinha
26 anos, era filho único e namorava, também, com
uma colega nossa. Estava tudo um bocado abalado... Eu próprio
fiquei!!! Sonhei com o Cunha e com enterros... O que não
foi nada agradável, no mesmo dia em que a Cláudia
partiu...
Mas pronto a vida segue e a lei da vida é esta...
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