Sábado, 4 de Março de 2000
Há quase dois meses que não sabia
o que era dormir e acordar com a minha esposa. Mas, acordar às
6h da manhã é que não... Eu estava estoirado
e ela desperta, eu abri um olho disse bom dia e como um bom marido,
virei-me para o outro lado e adormeci. Ela fez o mesmo, porque
dormir é com ela e com o cansaço, é o
vira o disco e toca o mesmo.
Mas acordamos às 9h30m. Tomámos o
pequeno almoço, conversámos, arrumámos os
sacos e fomos passear até ao Centro Comercial de Corte Madera.
O CC é parecido com o Forum, assim aberto e com esplanadas.
Eu, foi primeira vez que entrei noutra loja para além do
Safeway e que lá fui de dia.
Fomos a casa buscar as mochilas e apanhar o autocarro
para Sausalito, onde nos íamos encontrar com a RM&P
que vinham no ferry que chegava às 12h, e que iam navegar
connosco no barco do Ken.
Ainda o ferry não tinha aportado já estavam
as malucas a acenar. Estava um dia um bocado frio, com nuvens e
com promessas de chuva. Depois das eventuais apresentações
fomos para o café comer. O mesmo café que fui com
o pessoal da primeira vez que fui navegar. Foi eleito por unanimidade
o melhor sítio para comer e beber um expresso em chávena
de cerâmica da região. Os donos são iranianos,
mas o ambiente é muito à italiano.
Como ainda faltava uma hora para a hora combinada,
resolvemos dar uma voltita. Mas não foi muito longa, porque
a Mónica entrou na loja da Benetton e já não
saímos muito dali. Não é verdade, mas quase.
Ainda vimos uma galeria de pintura, que se chamava "Arte que nos
faz rir" e é verdade, tinha alguns quadros hilariantes.
Na Benetton ficámos a saber que o dono também era
iraniano e que gostava dos portugueses e que então fazia
um desconto especial... Tretas!!!
Chegamos ao Bliss, o barco do Ken, e recebemos a
triste notícia que o tempo ia piorar. Mas ainda dava para
darmos uma voltita de uma hora. Ala que se faz tarde.
Se da primeira vez não tivemos vento, desta
abusamos. Mal saímos da marina desligámos o motor
e içámos a vela principal. E ali fomos nós,
a 8 nós, em direcção à Golden Gate.
Aí as correntes contrárias fizeram baloiçar
o barco e com as velas içadas o barco estava todo adornado
a bombordo. Lindo... Eu estava ao leme, parecia um condutor bêbado
aos esses. Vento de trás, uma rajada de estibordo e correntes
contrárias por todo o lado... Quando passámos a Ponte
direitos ao mar, as correntes acabaram. Mas o mar estava lindo.
Ondas de 1,5m a 2m, e nós a curta-las. O
barco subia a onda e depois aninhava, para a onda entrar pela proa.
Depois do stress inicial das perturbações normais
de passar nas correntes, estávamos na entrada da baía
ao largo de Ocean Beach.
A Mónica já estava enjoada e começava
a ficar irritada com as nossas preocupações com ela.
A Rita estava preocupada com a Mónica, a Cláudia
curtia as ondas e a Patrícia, que veio vestida apropriadamente
para andar de barco, de salto alto e blazer, estava a apreciar
a coisa caladinha a um canto. O Ken estava ao leme e eu fazia o
trabalho todo (tinhas razão Tiago).
Como ninguém percebia o que o Ken dizia e
estavam distraídos, eu tinha que puxar cabos e largar cabos.
Mas foi demais, aprendi a fazer piões (tack) e curvar (dive).
Andámos a bolinar e a escolher ventos, durante mais de uma
hora, com um mar lindo de se ver.
O Ken ao aperceber-se que a Mónica estava
enjoada, pô-la ao leme. Dito e feito, em 5 minutos era a
Rainha do barco. O facto de se distrair e estar a focar um ponto
em terra, fê-la voltar a si. Com a ajuda de umas batatas
fritas magníficas, já estava pronta para outra. Eu,
a Rita, a Claudia e o Ken, bebemos uma cervejita... Que maravilha.
Com a chuva a aproximar-se os outros barcos, começaram
a retornar a porto seguro e nós fizemos o mesmo. Rumámos
ao pilar do lado de SF da Golden Gate de modo a aproveitarmos os
ventos de Oeste e perto da ponte virávamos a Sausalito...
Mas decidimos passar entre o Pilar e Fort Point, onde um grupo
de surfistas desafiava a morte numa zona de rochas, mas sem grande
perigo, porque não vi nenhum deles a surfar... Eram para
aí uns 20, mas nenhum deles apanhou uma onde sequer... Mas
estava muita gente a assistir. As gaivotas e patos estavam a super
povoar a base do pilar da ponte e eu ainda vi um golfinho a mergulhar
e uma foca à distância... Mas o mar estava muito bravo.
Ainda ouve tempo para a Patrícia e a Rita
experimentarem o leme e rumamos ao Iate Club de Sausalito. Começou
a chover por volta das 5h. A entrada no cais do clube foi uma aventura.
A maré estava a subir, e as correntes puxavam o barco para
fora. Então o Ken resolveu estacionar do outro lado... Só que
foi literalmente empurrado contra o cais... O barco não
teve nada, mas como ele disse, foi uma aventura um bocado demais
para o que ele desejava.
Entrámos no clube e fomos para a lareira.
Estávamos molhados e frios. Bebemos um fantástico
café com licor de mentol quente e ficamos ali na conversa
por mais de uma hora. Decidimos esperar que a maré mudasse
para tirar o barco. Nós decidimos, ir embora mais tarde
para ficar a ajudar o Ken e assim não fomos no ultimo ferry.
Mas também não faz mal, o tempo estava tão
feio que não devia valer a pena.
O Ken esteve ali a tentar saber coisas sobre Portugal
e sobre a nossa maneira de viver. Afinal de contas ele é meio
português.
Por volta das 6h30m, resolvemos ir embora. O Barco
saiu na perfeição e sem problemas. Apenas ficaram
uns riscos da aportagem, mas como diz o Ken, são problemas
de cosmética.
Fomos para a marina e correu tudo bem até...
Eu fiquei responsável por saltar para o cais e aguentar
o barco para não bater com a proa. Tudo bem, até ter
que passar o cabo à Rita para prender o barco ao cais...
Mas o cabo que eu tinha estava preso onde a Rita devia prender
o outro. Eu tentei explicar à Rita como prender. Eu no cais
e ela na proa... Mas o barco começou a fugir para estibordo
e eu sem saber como caí à agua.
Vocês não imaginam. A Rita a olhar
para mim e eu enfiado na água até à cintura
e agarrado ao cabo, que por sorte não acabei de desprender,
e o Ken a correr a ver o que se passava e sem saberem o que fazer.
Eu estiquei uma mão ao Ken e este no mesmo momento em que
eu me impulsionava puxa-me para fora de água. Estava ensopado
até aos ossos. Lindo!!! Já não chegava a chuva
e eu tinha que tomar banho no Pacífico!!!
Finalmente o meu terceiro Oceano. Depois do Índico,
do Atlântico, foi a vez do Pacífico me receber.
Deitei-me no cais a rir e o Ken só dizia
que queria ter uma câmara para filmar aquilo. A Cláudia,
a Mónica e a Patrícia, não viram, porque estavam
dentro do veleiro a abrigarem-se da chuva.
O que vale é que eu tinha uma muda de roupa
para o fim de semana, uma vez que ia para SF. O problema foram
os sapatos... Mas o Ken emprestou-me um par de sapatos de vela
dele...
Uma vez que não havia mais ferries, fomos
de autocarro para SF. Saímos quase à porta delas,
subimos para casa e depois de um banho bem tomado, fomos jantar
ao tailandês do costume.
O Juan telefonou a dizer que aparecia, mas por azar
apareceu quando nos estávamos a jantar, e o Carlos apareceu
para apanhar o bilhete para ir para o Carnaval brasileiro.
Nós alugámos uns filmes e depois de
um dia passado em cheio, ficámos em casa a ouvir a chuva
a cair e a ver um filme com o Nicolas Cage chamado "Guarding Tess".
A ver é como quem diz, porque a Cláudia deve ter
visto 10 minutos, a Patrícia meia-hora, o Mónica
viu alguns bocados e outros perdeu e a Rita foi vendo enquanto
trocava de olho. Eu vi-o todo e fui dormir.
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