SEGUNDA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2000 C41
A Ponte do Veleiro - Fotografia de Rui Gonçalves

Sábado, 4 de Março de 2000

Há quase dois meses que não sabia o que era dormir e acordar com a minha esposa. Mas, acordar às 6h da manhã é que não... Eu estava estoirado e ela desperta, eu abri um olho disse bom dia e como um bom marido, virei-me para o outro lado e adormeci. Ela fez o mesmo, porque dormir é com  ela e com o cansaço, é o vira o disco e toca o mesmo.

Mas acordamos às 9h30m. Tomámos o pequeno almoço, conversámos, arrumámos os sacos e fomos passear até ao Centro Comercial de Corte Madera. O CC é parecido com o Forum, assim aberto e com esplanadas. Eu, foi primeira vez que entrei noutra loja para além do Safeway e que lá fui de dia.

Fomos a casa buscar as mochilas e apanhar o autocarro para Sausalito, onde nos íamos encontrar com a RM&P que vinham no ferry que chegava às 12h, e que iam navegar connosco no barco do Ken.

Ainda o ferry não tinha aportado já estavam as malucas a acenar. Estava um dia um bocado frio, com nuvens e com promessas de chuva. Depois das eventuais apresentações fomos para o café comer. O mesmo café que fui com o pessoal da primeira vez que fui navegar. Foi eleito por unanimidade o melhor sítio para comer e beber um expresso em chávena de cerâmica da região. Os donos são iranianos, mas o ambiente é muito à italiano.

Como ainda faltava uma hora para a hora combinada, resolvemos dar uma voltita. Mas não foi muito longa, porque a Mónica entrou na loja da Benetton e já não saímos muito dali. Não é verdade, mas quase. Ainda vimos uma galeria de pintura, que se chamava "Arte que nos faz rir" e é verdade, tinha alguns quadros hilariantes. Na Benetton ficámos a saber que o dono também era iraniano e que gostava dos portugueses e que então fazia um desconto especial... Tretas!!!

Chegamos ao Bliss, o barco do Ken, e recebemos a triste notícia que o tempo ia piorar. Mas ainda dava para darmos uma voltita de uma hora. Ala que se faz tarde.

Se da primeira vez não tivemos vento, desta abusamos. Mal saímos da marina desligámos o motor e içámos a vela principal. E ali fomos nós, a 8 nós, em direcção à Golden Gate. Aí as correntes contrárias fizeram baloiçar o barco e com as velas içadas o barco estava todo adornado a bombordo. Lindo... Eu estava ao leme, parecia um condutor bêbado aos esses. Vento de trás, uma rajada de estibordo e correntes contrárias por todo o lado... Quando passámos a Ponte direitos ao mar, as correntes acabaram. Mas o mar estava lindo.

Ondas de 1,5m a 2m, e nós a curta-las. O barco subia a onda e depois aninhava, para a onda entrar pela proa. Depois do stress inicial das perturbações normais de passar nas correntes, estávamos na entrada da baía ao largo de Ocean Beach.

A Mónica já estava enjoada e começava a ficar irritada com as nossas preocupações com ela. A Rita estava preocupada com a Mónica, a Cláudia curtia as ondas e a Patrícia, que veio vestida apropriadamente para andar de barco, de salto alto e blazer, estava a apreciar a coisa caladinha a um canto. O Ken estava ao leme e eu fazia o trabalho todo (tinhas razão Tiago).

Como ninguém percebia o que o Ken dizia e estavam distraídos, eu tinha que puxar cabos e largar cabos. Mas foi demais, aprendi a fazer piões (tack) e curvar (dive). Andámos a bolinar e a escolher ventos, durante mais de uma hora, com um mar lindo de se ver.

O Ken ao aperceber-se que a Mónica estava enjoada, pô-la ao leme. Dito e feito, em 5 minutos era a Rainha do barco. O facto de se distrair e estar a focar um ponto em terra, fê-la voltar a si. Com a ajuda de umas batatas fritas magníficas, já estava pronta para outra. Eu, a Rita, a Claudia e o Ken, bebemos uma cervejita... Que maravilha.

Com a chuva a aproximar-se os outros barcos, começaram a retornar a porto seguro e nós fizemos o mesmo. Rumámos ao pilar do lado de SF da Golden Gate de modo a aproveitarmos os ventos de Oeste e perto da ponte virávamos a Sausalito... Mas decidimos passar entre o Pilar e Fort Point, onde um grupo de surfistas desafiava a morte numa zona de rochas, mas sem grande perigo, porque não vi nenhum deles a surfar... Eram para aí uns 20, mas nenhum deles apanhou uma onde sequer... Mas estava muita gente a assistir. As gaivotas e patos estavam a super povoar a base do pilar da ponte e eu ainda vi um golfinho a mergulhar e uma foca à distância... Mas o mar estava muito bravo.

Ainda ouve tempo para a Patrícia e a Rita experimentarem o leme e rumamos ao Iate Club de Sausalito. Começou a chover por volta das 5h. A entrada no cais do clube foi uma aventura. A maré estava a subir, e as correntes puxavam o barco para fora. Então o Ken resolveu estacionar do outro lado... Só que foi literalmente empurrado contra o cais... O barco não teve nada, mas como ele disse, foi uma aventura um bocado demais para o que ele desejava.

Entrámos no clube e fomos para a lareira. Estávamos molhados e frios. Bebemos um fantástico café com licor de mentol quente e ficamos ali na conversa por mais de uma hora. Decidimos esperar que a maré mudasse para tirar o barco. Nós decidimos, ir embora mais tarde para ficar a ajudar o Ken e assim não fomos no ultimo ferry. Mas também não faz mal, o tempo estava tão feio que não devia valer a pena.

O Ken esteve ali a tentar saber coisas sobre Portugal e sobre a nossa maneira de viver. Afinal de contas ele é meio português.

Por volta das 6h30m, resolvemos ir embora. O Barco saiu na perfeição e sem problemas. Apenas ficaram uns riscos da aportagem, mas como diz o Ken, são problemas de cosmética.

Fomos para a marina e correu tudo bem até... Eu fiquei responsável por saltar para o cais e aguentar o barco para não bater com a proa. Tudo bem, até ter que passar o cabo à Rita para prender o barco ao cais... Mas o cabo que eu tinha estava preso onde a Rita devia prender o outro. Eu tentei explicar à Rita como prender. Eu no cais e ela na proa... Mas o barco começou a fugir para estibordo e eu sem saber como caí à agua.

Vocês não imaginam. A Rita a olhar para mim e eu enfiado na água até à cintura e agarrado ao cabo, que por sorte não acabei de desprender, e o Ken a correr a ver o que se passava e sem saberem o que fazer. Eu estiquei uma mão ao Ken e este no mesmo momento em que eu me impulsionava puxa-me para fora de água. Estava ensopado até aos ossos. Lindo!!! Já não chegava a chuva e eu tinha que tomar banho no Pacífico!!!

Finalmente o meu terceiro Oceano. Depois do Índico, do Atlântico, foi a vez do Pacífico me receber.

Deitei-me no cais a rir e o Ken só dizia que queria ter uma câmara para filmar aquilo. A Cláudia, a Mónica e a Patrícia, não viram, porque estavam dentro do veleiro a abrigarem-se da chuva.

O que vale é que eu tinha uma muda de roupa para o fim de semana, uma vez que ia para SF. O problema foram os sapatos... Mas o Ken emprestou-me um par de sapatos de vela dele...

Uma vez que não havia mais ferries, fomos de autocarro para SF. Saímos quase à porta delas, subimos para casa e depois de um banho bem tomado, fomos jantar ao tailandês do costume.

O Juan telefonou a dizer que aparecia, mas por azar apareceu quando nos estávamos a jantar, e o Carlos apareceu para apanhar o bilhete para ir para o Carnaval brasileiro.

Nós alugámos uns filmes e depois de um dia passado em cheio, ficámos em casa a ouvir a chuva a cair e a ver um filme com o Nicolas Cage chamado "Guarding Tess". A ver é como quem diz, porque a Cláudia deve ter visto 10 minutos, a Patrícia meia-hora, o Mónica viu alguns bocados e outros perdeu e a Rita foi vendo enquanto trocava de olho. Eu vi-o todo e fui dormir.



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