C24 TERÇA-FEIRA, 8 DE FEVEREIRO DE 2000
Tenesse Valley - Fotografia de Rui Gonçalves

Segunda-feira, 7 de Fevereiro de 2000

A resposta à pergunta de ontem, sobre se há dia pior que uma véspera de segunda-feira, surgiu logo de manhã. CLARO QUE HÁ! É A PRÓPRIA SEGUNDA-FEIRA.

Liguei o ICQ, e estive à conversa com o Ferreirinha, o meu colega do 12º do Fontes, que me ajudou a despachar as malas com excesso de peso, porque trabalha na British Airways (Obrigado e um abraço!).

O dia seguiu o normal de uma segunda-feira.

Tirando o facto de toda a gente ter descoberto que me pode telefonar de borla através do DialPad apenas necessitando de um computador com microfone e som, e por isso ter estado quase meia hora a falar com o "Setúbal", o Luís e o João, e depois ter sido contactado pelo Pisco, mas a chamada caiu. Claro que o melhor foi poder estar a falar calmamente com a Cláudia. Existem algumas falhas na ligação, mas pelo preço de uma chamada local, não se pode exigir muito. Espero que o serviço dure mais algum tempo. Telefonem, mas não abusem. Deixem-me trabalhar, Deixem-me trabalhar... Vá lá, telefonem...

À noite fiz um pacote inteiro de esparguete com carne, que vai dar para cinco refeições. Não dá muito trabalho descongelar no microondas.

Terça-feira, 8 de Fevereiro de 2000

Acordei, ainda pior que ontem. Acho que ano cansado.

Liguei o ICQ e estive à conversa com o Pipa, que está para ser pai pela segunda vez e que se anda a aproveitar dos miúdos da universidade para exprimir a sua raiva do trabalho, nos treinos de rugby. No entretanto estive também à conversa com o meu tutor de estágio, o Pedro Matos, que pelos vistos também faz BTT e orientação. Espero que isso conte na minha nota final de estágio.

Fui trabalhar cheio de vontade, mas o facto de não ter permissões para mexer na minha própria máquina, na empresa pôs-me um bocado decepcionado com a empresa. Fui falar com o Ken, e parece que os tipos não se dão muito bem com os tipos da sede, e aquilo arranjou-se lá um esquema que só foi possível porque o Windows NT é da Microsoft e está cheio de falhas de segurança. Claro que ainda lhes estive a ensinar umas falcatruas.

Resolvi imprimir umas folhas para levar para casa para ler e sair mais cedo para dar uma volta de bicicleta. Estes tipos não gostam muito de imprimir, nem de tirar fotocópias. Acham que poupam árvores por causa disso e depois constróem casas madeira.

Saí às 16h30m e dirigi-me ao Pacífico. Segui por Tennessee Rd. até ao fim, onde começa um trilho chamado Tennesse Valley. Passei a cerca que não permite que passem carros, apesar de logo a seguir me cruzar com um jipe... mas era do parque. Já via uns cavalos e umas estrebarias e quando o alcatrão passou a terra, tive que parar para tirar uma foto ao sol que se punha no Oceano Pacífico, entre dois montes verdes. Um momento bonito, só quebrado por uma tipa que me viu e me veio dizer que estava uma coruja numa árvore ali perto e que com a máquina eu conseguia lhe tirar uma foto. Obrigado, mas não via a coruja, mas encontrei três veados a pastar no cimo de um monte, a luz já era pouca mas espero que se consiga perceber os contornos do veado no branco do céu, quando revelar o rolo.

Comecei a subir Coastal Trail. Não imaginam o que é subir numa bicicleta com pedais automáticos, que têm uma plataforma pequeníssima, sem sapatos com travessas, e ainda por cima de botas, calças de bombazina, forro polar e mochila às costas. Cheguei lá acima a transpirar e com os bofes a saírem pela boca, mas a vista compensou.

Do lado esquerdo viam-se ainda os laranjas e vermelhos do pôr do sol no céu, e o Oceano Pacífico com um barco a passar. À frente viam-se as luzes de Muir Beach, uma terrinha que desce pela montanha até ao mar e os precipícios de cerca de 100 metros até ao mar. Á direita viam-se as luzes de Sausalito, Marin e Pt, Richmond a reflectirem nas águas da baía que àquela hora parecia um espelho e que era cortada pelas luzes da ponte entre San Rafael e Pt, Richmond. Atrás, via-se O Financial District de San Francisco entre dois montes. Além disso havia uma fina camada de nevoeiro que envolvia os cumes dos montes e que parecia algodão. Os cumes dos montes pareciam ilhas no meio do nevoeiro e ao fundo San Francisco. Viam-se ainda as luzes da praia de mar de SF. Com as cores do céu ainda ficava tudo mais deslumbrante. Só pensei que gostaria de estar a compartilhar este momento com a Cláudia... mas sei que o posso fazer e que sei que assim posso poupá-la de trazer a roupa que eu trazia, que não era apropriada para aquelas aventuras.

Afinal isto fica a três quilómetros do escritório e posso fazê-lo mais vezes. Deixem os dias ficarem mais compridos. Só não gostei do facto de haver caminhos vedados a bicicletas e de estar tudo marcado. É muito bonito para quem não anda, mas eu gosto é de me perder e encontrar coisas que sei que não podia ir lá outra vez. Essas aventuras aqui não existem. Eu fiz o resto do caminho sem usar o mapa, quase. Além caminhos de pé posto é só para pedestres.

A melhor parte das subidas são o seu fim, porque isso significa duas coisas: que conseguimos chegar sem morrer e que a seguir vem uma descida. Sem luzes, sem capacete e com aqueles pedais, tive que descer devagar. Apanhei alguma lama e cheguei ao fim da descida com as mãos feitas em caca de tanto travar. Quando cheguei à civilização novamente quase que matei uma americana... coitadinha, apanhou um susto! Eu sem luzes sou um perigo!!!

Fui ao Safeway levantar as primeiras fotos. Não ficaram grande coisa, mas também foram tiradas com pouca luz... esta cidade não é muito fotogénica com tanto nevoeiro. Só depois é que vi que estava com as calças cheias de lama, mas também aqui nesta terra podemos andar de qualquer maneira que ninguém diz nada. A não ser que se ande nu.

Depois de 24 kms, não há nada como um belo banho, um delicioso jantar e uma bela cama.



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