Segunda-feira, 7 de Fevereiro de 2000
A resposta à pergunta de ontem, sobre se
há dia pior que uma véspera de segunda-feira, surgiu
logo de manhã. CLARO QUE HÁ! É A PRÓPRIA
SEGUNDA-FEIRA.
Liguei o ICQ, e estive à conversa com o Ferreirinha,
o meu colega do 12º do Fontes, que me ajudou a despachar as
malas com excesso de peso, porque trabalha na British Airways (Obrigado
e um abraço!).
O dia seguiu o normal de uma segunda-feira.
Tirando o facto de toda a gente ter descoberto que
me pode telefonar de borla através do DialPad apenas
necessitando de um computador com microfone e som, e por isso ter
estado quase meia hora a falar com o "Setúbal", o Luís
e o João, e depois ter sido contactado pelo Pisco, mas a
chamada caiu. Claro que o melhor foi poder estar a falar calmamente
com a Cláudia. Existem algumas falhas na ligação,
mas pelo preço de uma chamada local, não se pode
exigir muito. Espero que o serviço dure mais algum tempo.
Telefonem, mas não abusem. Deixem-me trabalhar, Deixem-me
trabalhar... Vá lá, telefonem...
À noite fiz um pacote inteiro de esparguete
com carne, que vai dar para cinco refeições. Não
dá muito trabalho descongelar no microondas.
Terça-feira, 8 de Fevereiro de 2000
Acordei, ainda pior que ontem. Acho que ano cansado.
Liguei o ICQ e estive à conversa com o Pipa,
que está para ser pai pela segunda vez e que se anda a aproveitar
dos miúdos da universidade para exprimir a sua raiva do
trabalho, nos treinos de rugby. No entretanto estive também à conversa
com o meu tutor de estágio, o Pedro Matos, que pelos vistos
também faz BTT e orientação. Espero que isso
conte na minha nota final de estágio.
Fui trabalhar cheio de vontade, mas o facto de não
ter permissões para mexer na minha própria máquina,
na empresa pôs-me um bocado decepcionado com a empresa. Fui
falar com o Ken, e parece que os tipos não se dão
muito bem com os tipos da sede, e aquilo arranjou-se lá um
esquema que só foi possível porque o Windows NT é da
Microsoft e está cheio de falhas de segurança. Claro
que ainda lhes estive a ensinar umas falcatruas.
Resolvi imprimir umas folhas para levar para casa
para ler e sair mais cedo para dar uma volta de bicicleta. Estes
tipos não gostam muito de imprimir, nem de tirar fotocópias.
Acham que poupam árvores por causa disso e depois constróem
casas madeira.
Saí às 16h30m e dirigi-me ao Pacífico.
Segui por Tennessee Rd. até ao fim, onde começa um
trilho chamado Tennesse Valley. Passei a cerca que não permite
que passem carros, apesar de logo a seguir me cruzar com um jipe... mas
era do parque. Já via uns cavalos e umas estrebarias e quando
o alcatrão passou a terra, tive que parar para tirar uma
foto ao sol que se punha no Oceano Pacífico, entre dois
montes verdes. Um momento bonito, só quebrado por uma tipa
que me viu e me veio dizer que estava uma coruja numa árvore
ali perto e que com a máquina eu conseguia lhe tirar uma
foto. Obrigado, mas não via a coruja, mas encontrei três
veados a pastar no cimo de um monte, a luz já era pouca
mas espero que se consiga perceber os contornos do veado no branco
do céu, quando revelar o rolo.
Comecei a subir Coastal Trail. Não imaginam
o que é subir numa bicicleta com pedais automáticos,
que têm uma plataforma pequeníssima, sem sapatos com
travessas, e ainda por cima de botas, calças de bombazina,
forro polar e mochila às costas. Cheguei lá acima
a transpirar e com os bofes a saírem pela boca, mas a vista
compensou.
Do lado esquerdo viam-se ainda os laranjas e vermelhos
do pôr do sol no céu, e o Oceano Pacífico com
um barco a passar. À frente viam-se as luzes de Muir Beach,
uma terrinha que desce pela montanha até ao mar e os precipícios
de cerca de 100 metros até ao mar. Á direita viam-se
as luzes de Sausalito, Marin e Pt, Richmond a reflectirem nas águas
da baía que àquela hora parecia um espelho e que
era cortada pelas luzes da ponte entre San Rafael e Pt, Richmond.
Atrás, via-se O Financial District de San Francisco entre
dois montes. Além disso havia uma fina camada de nevoeiro
que envolvia os cumes dos montes e que parecia algodão.
Os cumes dos montes pareciam ilhas no meio do nevoeiro e ao fundo
San Francisco. Viam-se ainda as luzes da praia de mar de SF. Com
as cores do céu ainda ficava tudo mais deslumbrante. Só pensei
que gostaria de estar a compartilhar este momento com a Cláudia... mas
sei que o posso fazer e que sei que assim posso poupá-la
de trazer a roupa que eu trazia, que não era apropriada
para aquelas aventuras.
Afinal isto fica a três quilómetros
do escritório e posso fazê-lo mais vezes. Deixem os
dias ficarem mais compridos. Só não gostei do facto
de haver caminhos vedados a bicicletas e de estar tudo marcado. É muito
bonito para quem não anda, mas eu gosto é de me perder
e encontrar coisas que sei que não podia ir lá outra
vez. Essas aventuras aqui não existem. Eu fiz o resto do
caminho sem usar o mapa, quase. Além caminhos de pé posto é só para
pedestres.
A melhor parte das subidas são o seu fim,
porque isso significa duas coisas: que conseguimos chegar sem morrer
e que a seguir vem uma descida. Sem luzes, sem capacete e com aqueles
pedais, tive que descer devagar. Apanhei alguma lama e cheguei
ao fim da descida com as mãos feitas em caca de tanto travar.
Quando cheguei à civilização novamente quase
que matei uma americana... coitadinha, apanhou um susto! Eu sem luzes
sou um perigo!!!
Fui ao Safeway levantar as primeiras fotos. Não
ficaram grande coisa, mas também foram tiradas com pouca
luz... esta cidade não é muito fotogénica com
tanto nevoeiro. Só depois é que vi que estava com
as calças cheias de lama, mas também aqui nesta terra
podemos andar de qualquer maneira que ninguém diz nada.
A não ser que se ande nu.
Depois de 24 kms, não há nada como
um belo banho, um delicioso jantar e uma bela cama.
|